
Clima vira sinal vermelho para o tráfego em pontes precárias de Minas
Travessias de madeira e "passagens molhadas" chegam a sumir no período chuvoso, impondo riscos e prejuízos a cidades mineiras
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Siga noSujeitas a intempéries, pequenas pontes de madeira e “travessias molhadas” dificultam a vida de mineiros e alongam caminhos, especialmente no período chuvoso. Em alguns trechos, a subida das águas equivale a um sinal fechado para o trânsito, prejudicando escoamento da produção agrícola, o comércio local e até a saúde de quem vive no entorno dessas estruturas, mostra a segunda e última parte da reportagem iniciada ontem sobre a situação das pontes em rodovias federais e estaduais que cruzam Minas Gerais.
Há décadas, a população dos municípios do Vale do Jequitinhonha luta pela conclusão do asfaltamento da BR-367, ligação da região com o Litoral Sul da Bahia, prometida por sucessivos governos e que nunca termina. Da mesma forma, as lideranças da região cobram a melhoria das antigas pontes de madeira existentes ao longo da rodovia, que continuam em mau estado de conservação, colocando motoristas e passageiros em risco. Somente no trecho entre Berilo e Virgem da Lapa, são quatro pontes em condições precárias. Uma delas, a estrutura sobre o Ribeirão das Gangorras, terminou arrancada pela força da correnteza, durante as intensas chuvas na região em 16 de janeiro.
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Os pilares da ponte também foram derrubados. No momento do episódio, por sorte, ninguém passava pela estrutura e não houve vítimas. Porém, o desabamento da ponte trouxe muitos transtornos para a população de Berilo, de 9,8 mil habitantes. A cidade fica a 28 quilômetros de Virgem da Lapa, passando pela BR-367. Mas com a destruição da estrutura sobre o Ribeirão das Gangorras, para se deslocar até o município vizinho, os moradores de Berilo precisam pegar uma rota que vai até Francisco Badaró, depois Araçuaí, até chegar a Virgem da Lapa, percorrendo um total de 95 quilômetros.
A triplicação da distância trouxe graves consequências, especialmente para moradores da zona rural de Berilo que precisam se deslocar até Virgem da Lapa para tratamento médico, para vender a produção agrícola ou fazer compras, observa o vereador José Edmilson Vieira da Silva (União Brasil), o Edmilson Despachante. Dessa maneira, o desabamento da estrutura veio acompanhado também de prejuízos para o comércio das duas cidades.
O vereador encaminhou ofício ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) cobrando providências imediatas para a recuperação da ponte sobre o Ribeirão das Gangorras para viabilizar a passagem pelo local. Ele lembra que aquele trecho da BR-367 é muito usado por carros de serviços de saúde e por veículos de carga que atendem ao comércio regional.
As pontes da BR-367 não são extensas como as estruturas sobre o Rio das Velhas, na BR-365, e sobre o Rio Paracatu, em Brasilândia de Minas, na MG-181, cujos problemas foram mostrados na edição de ontem. Elas são antigas e feitas de madeira. Há lugar na rodovia federal que passa pelo Vale do Jequitinhonha em que a ponte foi arrancada há tempos, e a passagem é feita dentro do leito do córrego.
No trecho da BR-367 entre Chapada do Norte, Berilo e Virgem da Lapa há seis pontes em condições precárias. Nos 23 quilômetros entre Chapada do Norte e Berilo, os motoristas precisam atravessar duas pontes de madeira, sobre o Rio Capivari e sobre o Córrego Água Suja. Já nos 28 quilômetros entre Berilo e Virgem da Lapa, além da estrutura sobre o Ribeirão das Gangorras – que foi destruída no dia 16 –, existem as travessias de outros três cursos d água: Rio Araçuaí, Córrego Benquerer e Córrego Barbos.
Como outras na região, a ponte sobre o Rio Araçuaí, com 154 metros de extensão, é antiga, feita de madeira e sem a segurança de um guarda-corpo lateral, expondo os motoristas e passageiros ao medo e a riscos durante travessia. Em setembro de 2023, um caminhão despencou de cima da estrutura e caiu dentro do leito do rio, ocasionando a morte do motorista do veículo. Depois do acidente, a estrutura passou por uma reforma, com a substituição de tábuas quebradas.
A professora Iris do Rosário Amaral Eleutério, moradora de Berilo, relata que a ponte sobre o Córrego dos Barbosa desabou em 2004 e, desde então, os motorista atravessam dentro do leito do manancial, ficando impedida a passagem nos períodos de enchentes e de chuvas intensas. “A população pede que sejam construídas de concreto, em substituição às pontes de madeira, para garantir a nossa segurança”, defende Iris do Rosário.
SUBSTITUIÇÃO EM ESTUDO
Procurado pela reportagem, o Dnit informou que, atualmente, elabora estudos para a substituição de oito pontes na BR-367 em Minas. Segundo o órgão, o projeto de implantação da BR-367 prevê 410 obras de arte especiais, entre pontes, viadutos e passarelas, ao longo de mais de 410 quilômetros ao longo da rodovia no Vale do Jequitinhonha.
O Dnit informou ainda que o trecho da BR-367 entre Berilo e Virgem da Lapa tem “cobertura por contrato de conservação, mantendo a pista e as pontes em boas condições de tráfego” e anunciou que está em fase de estudos a implantação de duas estruturas pré-moldadas de concreto, para as travessias dos córregos Ribeirão das Gangoras e Barbosa.
“SEMÁFORO DE ÁGUA”
A situação vivida por motoristas que cruzam o Córrego dos Barbosa na BR-367 não é exclusiva de rodovias federais. Piorada pelas chuvas intensas do fim de dezembro e deste mês, que provocaram danos em pontes, aterros e galeirais nas passagens sobre rios e córregos, ela se repete em estradas estaduais mineiras. Um desses pontos é a travessia sobre o Córrego das Pedras, na MG-202, entre Urucuia e Pintópolis, no Norte de Minas. A ponte que existia no local caiu há algum tempo. Em seu lugar, foi feita uma construção de cimento, pedras e tubulação, e os carros atravessam a “passagem molhada”, no leito do córrego. Mas, com o aumento do volume do curso d água durante precipitações mais fortes, a travessia fica impedida.
“Dependendo do volume de chuva, as pessoas ficam paradas até três horas esperando o nível da água abaixar”, relata Josimar Aparecido Caixeta, servidor da Prefeitura de Urucuia. Ele reclama que o problema traz transtorno, principalmente, para pacientes que saem de Urucuia em busca de tratamento de saúde em outras cidades da região, como Montes Claros.
INTERDIÇÕES
A cena se repete em outros municípios, com prejuízos também econômicos. A LMG-655, também no Norte de Minas, foi interditada no fim de dezembro depois de o aterro em cima da galeria do Rio Ponte Alta ter sido arrancado pelas chuvas. O trecho fechado fica entre Grão Mogol e Botumirim. Com a interdição, conta o prefeito de Botumirim, Eder Rios (PP), para chegar até sua cidade, é preciso usar um “desvio” em uma antiga estrada de terra, de 37,5 quilômetros, partindo de Barrocão, distrito de Grão Mogol, junto à BR-251.
O maior obstáculo, reclama o prefeito, é que a estrada está em más condições, e distribuidoras de alimentos e bebidas se recusam a colocar os seus veículos no trecho de terra para fazer entregas em Botumirim, prejudicando o comércio da cidade. Eder Rios pediu à Secretaria de Estado e Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) e ao Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-MG) que seja feita uma obra emergencial no Rio Ponte Alta, para a volta imediata da passagem de veículos no local.
Na MCG-122, entre Mato Verde e Monte Azul, a galeria do Rio Barreiro da Raposa não está sendo suficiente para escoar o grande volume de água. Por isso, durante as chuvas intensas, a água do rio invade a pista, impedindo a passagem de veículos, transtorno verificado em meados deste mês. O coordenador de Defesa Civil de Monte Azul, Juarez Xavier da Silva, disse que, para resolver o problema, a prefeitura cobra do DER a construção de uma ponte no local, que fica distante quatro quilômetros da área urbana.
MEDIDAS DO DER
Questionado sobre a situação no Córrego das Pedras, na MG-202, o DER informou existia ali “um bueiro triplo que foi danificado pelas águas”. E que, “tendo em vista a previsão de pavimentação do trecho, o órgão optou por construir uma passagem provisória onde o alto volume de precipitação neste período chuvoso tem ocasionado interrupções temporárias do tráfego. A conclusão das obras de pavimentação trará a solução definitiva para o trecho”.
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Sobre o problema na LMG-655, no acesso a Botumirim, o DER disse que iniciou estudos para recuperar o aterro na passagem sobre o Rio Ponte Alta. Em relação ao Rio Barreiro da Raposa, na MGC-122, o órgão estadual salienta que existe no local uma galeria com dimensão de 3,0x2,5 metros, “que, normalmente, atende à vazão”, mas que, em 12 de janeiro, ocorreu uma chuva na região “muito acima normal”, de cerca de 120 milímetros, “que fez com que o nível do córrego subisse e passasse sobre a rodovia, sem interrupção de tráfego”.