
Tão longe, tão perto do coração mineiro
Por que não trazer a Belo Horizonte a exposição que celebra, no Rio de Janeiro, o centenário da artesã Dona Izabel, do Vale do Jequitinhonha?
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Siga noRio de Janeiro – Um belo casarão na Praça Tiradentes, no Centro da capital fluminense, guarda um pedaço da alma mineira. Dá orgulho ver, na fachada do Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), o nome de Izabel Mendes da Cunha (1924-2014), a Dona Izabel, famosa pelas bonecas de cerâmica que “nasceram” em suas mãos e se multiplicaram pela sua região natal. Em homenagem ao centenário da artesã, está em cartaz a exposição “Dona Izabel: 100 anos da mestra do Vale do Jequitinhonha”.
Com apresentação de 300 peças, a mostra irá até abril, apenas no Rio, e, por isso, a coluna Nossa História/Nosso Patrimônio faz um apelo às autoridades estaduais e municipais: por que não trazer a exposição a Belo Horizonte? Ao sair maravilhado do Crab, fiquei pensando que os mineiros precisam conhecer melhor a arte de Dona Izabel, o talento de seus discípulos, a força do estilo criado por ela com o barro, a imaginação, o refinamento.
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Foi a partir de muito trabalho, competência e criatividade que a mestra-artesã recebeu o Prêmio Unesco de Artesanato Popular para a América Latina e Caribe (2004), e a Ordem do Mérito Cultural (2005) e Prêmio Culturas Populares (2009), ambos do Ministério da Cultura. Nascida na Fazenda Córrego Novo, em Itinga, no Vale do Jequitinhonha, Dona Izabel aprendeu a trabalhar o barro com a mãe dela, Vitalina – mais tarde, já em Ponto dos Volantes, transmitiu o conhecimento aos filhos.
Também artesã, a filha Glória Maria conta que Dona Izabel, que ficou viúva muito cedo, com quatro filhos, nunca copiou ninguém: “À noite, amassava o barro, e dizia, antes de dormir, que faria seu trabalho na manhã seguinte. Então, compenetrada, começava a fazer as bonecas. Adorava fazê-las vestidas de noiva, talvez porque não tenha se casado na igreja. Era um sonho dela se vestir de branco, de véu e grinalda.”
CENÁRIO MÁGICO
Ocupando oito salas do Crab, a exposição apresenta peças criadas por Dona Izabel, descendentes e outros artistas, muitas delas pertencentes a colecionadores. Logo na entrada, o visitante será conduzido a um ambiente que remete ao Vale do Jequitinhonha. No piso, foi recriado o chão de terra batida, enquanto, mais adiante, flores marcam o caminho. Já nas paredes, há quadros de santos, retratos coloridos de casais e objetos típicos de casas do interior mineiro. Na cozinha, por exemplo, vê-se um porta-talheres feito em tecido de algodão.
Toda essa atmosfera conduz às entranhas de Minas Gerais, à história de homens e mulheres que conduzem seu ofício e tiram o sustento da mais pura arte, na forma de bonecas, panelas, vasos, borboletas e flores. Vale lembrar que a atividade se tornou, em 2018, Patrimônio Imaterial de Minas, com o registro de Saberes, Ofício e Expressões Artísticas sob proteção do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
Para quem está no Rio de Janeiro de férias ou a passeio, está aqui o endereço. O Crab fica na Praça Tiradentes, 69/71, no Centro, e fica aberto de terça-feira a sábado, das 10h às 17h. A entrada é franca (mediante documento com foto).
MONUMENTOS EM ÁREAS ISOLADAS...
Monumentos históricos localizados em áreas isoladas precisam de proteção constante. O caso mais recente ocorreu no distrito de Bandeirantes, em Mariana, onde um homem causou enorme estrago. Após arrombar a porta da Capela Santa Teresa de Ávila, do século 17, ele destruiu bancos, cadeiras, imagens, altar e até o forro. “Foi um ato agressivo, com prejuízo incalculável. Deu até vontade de chorar”, disse o padre Marcelo Moreira Santiago, titular da Paróquia Sagrado Corações de Jesus e responsável também pelos templos de diversas comunidades.
...PRECISAM DE MAIS PROTEÇÃO
Considerada uma das construções católicas pioneiras de Mariana – primeira vila, diocese e cidade de Minas –, a Capela Santa Teresa de Ávila não tem tombamento municipal, mas se encontra inventariada. Vinculada à Arquidiocese de Mariana, a edificação fica no alto de um morro. Conforme a Secretaria Municipal de Cultura, poderão ser aplicados recursos do Fundo Municipal de Cultura para obras na capela depredada. Tudo bem, mas é um dinheiro que, caso não houvesse tal destruição, poderia ter outra serventia em prol do patrimônio local.
PAREDE DA MEMÓRIA
Onde está hoje a rodoviária de Belo Horizonte, no Centro, existiu um dos prédios mais bonitos da história da capital – e também o mais alto de sua época, pois, da torre, era possível avistar toda a cidade. Há 90 anos, era inaugurada a Feira Permanente de Amostras, com projeto do arquiteto italiano Raffaello Berti (1900-1972), no antigo terreno do Mercado Municipal. Durou apenas três décadas, saiu de cena em 1965.
O objetivo da Feira Permanente de Amostras, cujo relógio era referência na cidade, era catalogar, organizar e divulgar todos os setores da economia mineira, abrangendo atividades extrativas, comerciais, industriais, agrícolas e pastoris. As famosas “amostras” ficavam expostas em estandes estabelecidos de acordo com cada região, e o visitante conseguia ter, em pouco tempo, uma visão geral do potencial econômico do estado. No local, havia produtos minerais, peixes, animais empalhados e madeiras, entre outras coleções.
Novidades no prédio em estilo art déco, conforme reportagem do Estado de Minas, atraíam e até metiam medo na população da capital e dos arredores: “Um tremendo farol girava, sem parar, varando a noite de Belo Horizonte. Sua luz chegava até Sabará”. Uns diziam que o farol era para derrubar aviões, em voo noturno, em caso de guerra ou revolução. Em 1965, com o trânsito já criando problemas na área central de BH, as autoridades decidiram demolir a imponente construção. Assim, em 9 de março de 1971, foi inaugurada a rodoviária.
ALEIJADINHO ILUSTRADO
Patrono das artes no Brasil e expoente do Barroco mineiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), tem sua história contada por Fabiano Ormaneze e ilustrada por Douglas Reverie. O livro “Aleijadinho – Antônio Francisco Lisboa”, voltado para o público infanto-juvenil, faz parte da coleção “Black Power”, da Editora Mostarda. “A intenção é narrar a biografia, explicitando às crianças e aos adolescentes como a história de Aleijadinho é, ao mesmo tempo, resistência e fruto de uma série de contingências históricas”, diz Ormaneze. Mais informações: @editoramostarda e www.editoramostarda.com.br
DOCUMENTOS HISTÓRICOS
O Arquivo Público Mineiro (APM) lança um catálogo online com documentos históricos do Vale do Jequitinhonha. Importante fonte para pesquisadores, educadores e estudantes, a publicação reúne registros de 14 cidades da região a partir de pesquisa minuciosa: Araçuaí, Capelinha, Coronel Murta, Itaobim, Itinga, Malacacheta, Medina, Minas Novas, Pedra Azul, Rubelita, Salinas, Teófilo Otoni, Turmalina e Virgem da Lapa. O o catálogo “Fontes para a história do Vale do Jequitinhonha – Volume 1”, segundo os organizadores, visa reforçar vínculos entre o legado histórico e o desenvolvimento da região, preservar e celebrar a memória local e fortalecer a identidade da população. A iniciativa integra o projeto Vale do Lítio, lançado pelo governo de Minas, em 2023, a fim de promover o desenvolvimento das cidades do Nordeste e Norte do estado em torno da cadeia produtiva do lítio. Mais informações: www.arquivopublico.mg.gov.br
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QUEIJO NO FOCO
Se já era “celebridade”, o queijo de Minas está ainda mais sob os flashes. Além de ser reconhecido pela Unesco no quesito “modos de fazer o queijo artesanal”, o produto merece agora um concurso cultural fotográfico. A promoção é da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Secult) e do Iepha-MG. “De olho no queijo” pretende incentivar registros visuais, documentar processos tradicionais e revelar o cotidiano das regiões produtoras mineiras. As inscrições vão até 13 de março. Os prêmios são de R$ 3 mil (primeiro lugar), R$ 2 mil (segundo) e R$ 1 mil (terceiro). Mais informações no site do Iepha ou pelo email concursodeolhonoqueijo@iepha.mg.gov.br