ELEIÇÕES 2026

Segurança pública vira vitrine e entrave para Zema em 2026

Enquanto governador foca na pré-campanha presidencial, forças de segurança denunciam déficit de pessoal e falta de investimentos no estado

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O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), pré-candidato à Presidência da República, tem transformado a segurança pública em um dos principais pilares de sua estratégia política e construção da sua imagem nacional. O movimento, que se intensificou nos últimos meses, ocorre às vésperas de sua saída do Palácio Tiradentes, em abril, para se dedicar à pré-campanha.

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A aposta, no entanto, pode se tornar um risco político e ainda respingar no vice-governador, Mateus Simões (PSD), que assumirá interinamente o comando do Executivo mineiro e pretende sucedê-lo em 2026, já que a área enfrenta críticas e resistências dentro do próprio estado.

Enquanto faz do setor sua principal vitrine política, Zema enfrenta críticas de parlamentares e representantes de categorias diretamente ligadas à segurança pública. Sindicatos das forças de segurança apontam o descumprimento de promessas feitas à categoria na campanha eleitoral e denunciam a precarização das estruturas. Entre as principais queixas, estão o déficit de efetivo, problemas estruturais, falta de equipamentos e carência de investimentos básicos.

Endurecimento

Nos últimos meses, Zema endureceu o discurso na área, com críticas às políticas de segurança do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), movimento que ganhou força após a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, no fim de outubro.

As mensagens, publicadas nas redes sociais, combinam a defesa do enquadramento de integrantes de facções armadas como terroristas, ataques diretos ao Partido dos Trabalhadores (PT), sigla do presidente, e a divulgação de resultados de operações das forças de segurança de Minas contra o crime organizado.

Parte dessa estratégia foi impulsionada por uma viagem a El Salvador, país governado pelo líder de ultradireita Nayib Bukele, conhecido pelo modelo de combate ao crime e reverenciado pela direita bolsonarista.

A comitiva, organizada pela equipe de comunicação do governador, custou R$ 197 mil aos cofres do estado e rendeu uma série de vídeos e publicações. O material passou a ser amplamente repercutido em outubro, logo após a operação policial no Rio. Desde 23 de outubro, Zema publicou cerca de 50 conteúdos relacionados à segurança pública.

Embora não seja nova, a narrativa vem sendo consolidada de forma mais explícita com a aproximação do calendário eleitoral. Desde agosto, quando lançou sua pré-candidatura à Presidência, em São Paulo, sob o slogan “O Brasil primeiro”, Zema passou a tratar a segurança como eixo central do discurso. Em tom de confronto, afirmou que pretende livrar o país do “lulismo, dos parasitas e das facções criminosas”.

Forças de segurança rebatem

Outro movimento do governador Romeu Zema foi a sinalização de recomposição salarial dos servidores das forças de segurança – recebida com desconfiança pela categoria – e a nomeação recente de 233 policiais civis, avaliada como insuficiente para suprir o déficit existente em Minas Gerais.

Em conversa com o Estado de Minas, o presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Sargento Rodrigues (PL), afirmou que o anúncio não altera o quadro estrutural enfrentado pelas corporações. O deputado também criticou a condução do governo estadual em relação à recomposição salarial das forças de segurança.

À reportagem, o parlamentar relembrou o histórico de promessas não cumpridas e de compromissos assumidos durante campanhas eleitorais que não se concretizaram ao longo do mandato. Para ele, a ausência de recomposição das perdas inflacionárias acumuladas nos últimos anos aprofundou a desconfiança da categoria em relação ao Executivo.

Para ele, Minas atravessa a pior crise de efetivo das últimas três décadas, cenário que atinge todas as forças de segurança, com maior gravidade na Polícia Civil, seguida pelo Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Penal. “Falar em 233 policiais civis para um estado do tamanho de Minas não é recomposição de efetivo. Isso chega a soar como deboche diante do déficit que existe hoje", criticou.

Sargento Rodrigues
“O governo faltou com a palavra mais de uma vez. Hoje, não há confiança da categoria em relação às promessas feitas pelo governador”, afirma o deputado Sargento Rodrigues (PL) LUIZ SANTANA/ALMG

O deputado afirma acompanhar de perto a realidade das unidades por meio de visitas técnicas realizadas no interior e na Região Metropolitana, onde relata encontrar delegacias e quartéis com estruturas físicas amplas, mas sem servidores suficientes para funcionamento adequado.

Outro ponto destacado pelo deputado é a escassez de investimentos diretos do Tesouro estadual na área da segurança pública. Ele afirma que, desde 2020, os recursos próprios do governo destinados às corporações têm sido baixos e, em muitos casos, simbólicos, com grande parte dos investimentos dependendo de emendas parlamentares ou de repasses da União.

Rodrigues afirma que, apesar da disposição de sindicatos, associações e parlamentares para o diálogo, o governo tem adotado uma postura unilateral, com anúncios feitos sem negociação prévia. “O governo faltou com a palavra mais de uma vez. Hoje, não há confiança da categoria em relação às promessas feitas pelo governador”, afirmou. Segundo o deputado, mobilizações já são cogitadas para fevereiro, e Mateus Simões pode herdar o desgaste ao assumir o governo em abril, caso não haja avanço nas negociações.

Descaso

Também em conversa com o Estado de Minas, o presidente do Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindep-MG), Marcelo Horta, afirmou que não houve qualquer mudança na percepção da categoria em relação ao governo estadual e avaliou que a condução da segurança pública segue marcada por descaso com os servidores, em especial com a Polícia Civil.

Segundo ele, a leitura predominante entre os policiais é de que o governador Romeu Zema não prioriza a segurança pública e se apoia em uma estrutura herdada de gestões anteriores, sem realizar os investimentos necessários para sua manutenção e modernização.

“Ele adora usar a polícia e ela tem sido usada de forma absurda para fazer campanha eleitoral. O governador adora quando a polícia, diante do sacrifício dos policiais, consegue fazer entregas importantes. Mas isso não é fruto de investimento do governo. É fruto do sacrifício e da vontade de trabalhar dos policiais", ressaltou.

Para ele, a falta de valorização salarial tem impacto direto na motivação dos servidores e agrava um cenário já crítico de déficit de pessoal e sobrecarga de trabalho. “Isso provoca uma reação em cadeia, porque você tem um policial que já está com um salário defasado, em quase 44% e ainda tem que trabalhar dobrado porque o efetivo está reduzido em quase 50%. Isso vai desmotivando o trabalho, sobrecarrega", pontua.

Sobre o anúncio da nomeação de 233 policiais civis, Horta avalia que o número não repõe sequer as saídas registradas recentemente na corporação. De acordo com o sindicato, a Polícia Civil deveria contar com um efetivo próximo de 17 mil servidores, conforme previsão legal, mas opera hoje com pouco mais de 10 mil, o que representa uma defasagem próxima de 50%.

Para ele, a disposição anunciada para discutir recomposição salarial às vésperas do calendário eleitoral não apaga anos de ausência de negociação e de promessas não cumpridas.

“Estão apostando naquela máxima da memória curta. Ele acha que vai chamar em fevereiro e que todo mundo vai esquecer os últimos oito anos de abandono, para então aparecer como o grande salvador da segurança pública. Espero que ele não imagine que os policiais e as forças de segurança pública sejam inocentes ou tenham uma memória tão curta a ponto de esquecer tudo o que aconteceu", diz. “Zema e Mateus Simões não têm nem palavra nem compromisso, porque durante esses últimos anos eles não cumpriram nada", completa.

Críticas da oposição 

Depois das ofensivas de Zema em outubro, a oposição do governador na ALMG acusou o governador de usar a tragédia no Rio como cortina de fumaça para ocultar a situação da segurança no estado. No final daquele mês, o Bloco Democracia e Luta divulgou carta aberta afirmando que Zema "pega carona na barbárie" e se esconde "da realidade", usando "o holofote do estado vizinho" para "bradar uma falsa imagem de gestor". 

Dados do Anuário 2025 de Segurança Pública apresentados pelo grupo apontam que Minas registrou aumento de 5% nas mortes violentas intencionais entre 2023 e 2024, enquanto o país teve queda de 5%. Ainda segundo o levantamento, o estado ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de crescimento de homicídios dolosos, com alta de 7,38%.

O documento critica ainda o aumento das facções criminosas em Minas e aponta o "colapso" das polícias estaduais, com déficit de efetivo e rodízio de viaturas devido ao racionamento de combustível. Segundo a oposição, o "populismo de Zema" busca "pegar carona em cima do sangue derramado e jogar para debaixo do tapete a falência e a falta de planejamento".

Outro lado

Em nota encaminhada à reportagem, o governo de Minas afirma ter ampliado de forma significativa os investimentos em segurança pública desde 2019, com reforço da frota, aquisição de equipamentos, melhorias estruturais, inauguração de unidades policiais, capacitação de servidores e ampliação do efetivo. Segundo o Executivo, os recursos destinados à área cresceram 60% no período.

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A gestão também destaca o fortalecimento do combate ao crime organizado, com ações integradas de inteligência, operações conjuntas entre as forças de segurança e políticas de isolamento de lideranças criminosas no sistema prisional. Entre os avanços citados estão a recaptura de foragidos, a criação de grupos especializados, investimentos nas polícias Militar, Civil e Penal, abertura de concursos públicos, renovação de frota e ampliação de unidades policiais e prisionais em diferentes regiões do estado.

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