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TRAGÉDIA EM MINAS

Tragédia na BR-116: bloco atingiu o ônibus como um tanque de guerra, diz PC

Investigação da PCMG reafirma que a queda do bloco de granito foi a principal causa do acidente, agravada pelas condições da carreta e do motorista

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A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) detalhou em coletiva de imprensa, realizada na manhã desta quarta-feira (22/1), as investigações que acarretaram a prisão do motorista da carreta envolvida no acidente na BR-116, em Teófilo Otoni, em dezembro do ano passado.

De acordo com os investigadores, o bloco de granito que se soltou do caminhão, atingiu o ônibus como um tanque de guerra, matando 39 pessoas. O condutor foi preso em Barra de São Francisco, no Espírito Santo, nessa terça (21), um mês depois da tragédia.

"Imagine uma carreta que envolva dois blocos de granito. Atingiu o ônibus como um tanque de guerra. Essa que é a verdade. Ali naquele evento foi uma coisa que realmente impacta. Eu comparo [o acidente de trânsito] com uma acidente aéreo, tamanha violência que foi, ocasionando aquele número de mortes", disse o delegado regional de Teófilo Otoni, Amaury Tomaz de Albuquerque.

Conforme apurado, houve uma série de fatores que resultou na prisão do condutor da carreta, como sobrecarga de peso do veículo, falta de fiscalização, fuga do local do acidente e, ainda, a confirmação, através de exames toxicológicos, de que o motorista fez uso de substâncias indevidas, como ecstasy, cocaína, ansiolíticos e antidepressivos.

"Houve sobrepeso da carga, já que podemos afirmar que essa carga estava bem acima do peso permitido, o excesso de velocidade, a falta de fiscalização do condutor, que não conferiu a amarração da carga, a exaustiva jornada de trabalho, escolhendo trafegar no período noturno, o estado psíquico, falta de atendimento ao longo do interrogatório e o desrespeito a vida das vítimas", disse Albuquerque.

Contrariando a defesa do motorista preso, os exames toxicológicos realizados comprovam que o motorista usou substâncias lícitas e ilícitas no dia do acidente. Estudos realizados em colaboração com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de alta tecnologia, demonstram a alta dosagem dos elementos, o que comprova o uso anterior ao dia em que os exames foram feitos, dois dias depois do acidente. O delegado e superintendente de Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt, detalhou o funcionamento do exame.

"Foram realizados exames toxicológicos, oferecidos voluntariamente pelo motorista da carreta. A coleta foi feita pelo médico legista e trazida para Belo Horizonte. O sangue e a urina foram processados de maneira segura e confirmada a presença de substâncias. Em cooperação com a Unicamp, foi confirmada a identificação de substâncias lícitas e ilícitas que foram, inclusive, quantificadas. Na época dos fatos, o condutor possuía em seu corpo tais substâncias", disse Bittencourt.

A PCMG informou também que foram cumpridos mandados de busca e apreensão domiciliar do motorista e do dono da empresa. Há outros exames periciais a serem concluídos, que ainda serão divulgados. Segundo o delegado Júlio Wilke, da Superintendência de Investigação da Polícia Judiciária, a instituição não vai permitir que infratores cometam crimes em Minas Gerais e fiquem impunes.

“Foi crime. Foram vários homicídios cometidos por uma atitude criminosa. Ele está preso. Desde o primeiro momento do acidente que era de conhecimento a diligência foi força total absoluta nas operações. Não vai cometer homicídio no nosso estado, porque foram 39 mortes na véspera da festa de Natal, destruiu várias famílias, pela ação criminosa de um elemento, achando que aqui no nosso estado não tem fiscalização, não tem polícia. Ledo engano”, disse o delegado.

“A gente prendeu ele ontem e, com certeza, pelo que as investigações estão mostrando de uma forma muito rápida e robusta, ele vai continuar preso, que é o local que ele tem que ficar”, concluiu Wilke.

Prisão

O motorista da carreta foi preso no Espírito Santo nessa terça-feira (21/1). A prisão preventiva, divulgada pelo governador Romeu Zema (Novo) em rede social, foi recebida com surpresa pela defesa, que afirma que o investigado colaborou com as investigações e não há elementos que justifiquem a medida extrema de segregação: "Acreditamos que medidas cautelares diversas da prisão seriam suficientes para resguardar o andamento do processo".

A defesa declarou que vai recorrer da decisão e alega, ainda, que o motorista manteve sua rotina habitual onde reside, no Espírito Santo, o que reforça que não houve intenção de obstruir a atuação da polícia. Atualmente, ele está em Barra de São Francisco (ES), onde a prisão preventiva foi executada.

Por meio de nota, o advogado responsável pelo caso criticou a politização do caso. "Infelizmente, a postagem do governador de Minas Gerais parece se aproveitar de uma tragédia para reforçar uma narrativa política, o que não contribui para a busca da verdade nem para o direito de defesa do acusado. As questões judiciais devem ser tratadas com seriedade, imparcialidade e respeito às garantias fundamentais", disse.

Relembre o acidente

A tragédia ocorreu na madrugada do dia 21 de dezembro, quando o ônibus da empresa Emtram colidiu com a carreta, que transportava um bloco de granito e vinha no sentido contrário. O coletivo havia saído de São Paulo com destino à Bahia e transportava 45 passageiros. Um carro de passeio que vinha atrás bateu na traseira do caminhão.

A Polícia Civil informou, na época, que a principal hipótese para o acidente é o tombamento do semirreboque da carreta que transportava um bloco de granito, levando o ônibus a bater de frente com a rocha, ocasionando um incêndio. Em seguida, o automóvel de passeio bateu na carreta e deixou os três ocupantes feridos.

Outra hipótese foi apresentada à Polícia Rodoviária Federal por Aldimar Ferreira Ribeiro, de 61 anos, condutor de outro caminhão que aparece em imagens de uma câmera de segurança segundos antes da colisão. Segundo ele, a carreta estava em alta velocidade e o ultrapassou pouco antes do acidente.

Fuga do local do acidente

O motorista da carreta, que fugiu do local, alega que o pneu do coletivo estourou e a perda de controle do veículo causou o acidente. Ele se entregou à polícia dois dias depois da ocorrência, em 23 de dezembro, na sede do 15º Departamento de Polícia Civil, em Teófilo Otoni, acompanhado de advogados, e foi liberado em seguida. Segundo a defesa, o condutor deixou o local sem prestar socorro por ter entrado em estado de pânico.

Durante o depoimento, a perícia da Polícia Civil coletou amostras de urina para realização de exames clínicos. Os resultados apontaram o uso de álcool e drogas. Entre elas, cocaína e ecstasy. Além disso, a investigação apontou que, em ocasiões anteriores, ele foi abordado por policiais e demonstrava sintomas de embriaguez.

Ao Estado de Minas, a defesa afirma que não teve acesso aos exames toxicológicos e que os mesmos "não comprovam que ele tenha feito uso de qualquer substância entorpecente durante a viagem". Segundo a nota, as substâncias indicadas no exame podem se confundir com princípios ativos de remédios controlados que o investigado faz há anos.

"Esse será um dos pontos a serem discutidos e esclarecidos durante o processo judicial, considerando também possíveis falhas nos protocolos de coleta e análise", afirma a defesa. "Outros exames toxicológicos feitos pelo motorista e apresentados à empresa que trabalha deram negativo para qualquer substância ilícita, o que gera suspeitas em relação ao exame realizado pela Polícia Civil", completa.

Conforme o juiz Danilo de Mello Ferraz, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Teófilo Otoni, a prisão foi determinada por outros fatores como ausência do motorista no local do acidente, o sobrepeso da carga da carreta, a ausência de conferência das condições de transporte da carga pelo motorista, o excesso de velocidade do veículo, a jornada exaustiva de viagem, a falta de descanso adequado.

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Ainda segundo o magistrado, o motorista não demonstrou disposição de colaborar com as investigações, negando-se a disponibilizar seu aparelho celular para análise. Outro ponto apontado na decisão é que a teoria, colocada em depoimento pelo preso, de que o pneu do ônibus teria se estourado foi refutada pela investigação.

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