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Estado de Minas PANDEMIA

Morre de COVID matriarca quilombola dos Arturos, em Contagem

Em seis dias, comunidade perdeu o Capitão da Guarda, 'Seu' Mário, e Rainha de Nossa Senhora do Rosário, Maria Auxiliadora da Luz. Eles não haviam sido vacinados


12/05/2021 09:33 - atualizado 12/05/2021 15:53

Seu Mário e dona Auxiliadora, que morreram vítimas da COVID em um intervalo de seis dias(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Seu Mário e dona Auxiliadora, que morreram vítimas da COVID em um intervalo de seis dias (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
A comunidade quilombola dos Arturos, no Bairro Alvorada, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, sofreu um forte impacto ao receber a notícia do falecimento de  Maria Auxiliadora da Luz, 84 anos, na noite de terça-feira (11/5).

Ela era a rainha 13 de Maio, da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e esposa de Mário Brás da Luz, de 86, falecido  há seis dias, na madrugada do dia 7 de maio. Ambos estavam infectados pela COVID-19, internados e intubados no Hospital Santa Helena, de Contagem.
 
O falecimento da matriarca quilombola acontece um dia antes de uma das maiores festas celebradas pelos Arturos, o 13 de maio. A data, considerada marco da libertação dos escravos, é também o Dia de Nossa Senhora do Rosário.
 
A comunidade prepara para a tarde desta quarta-feira (12/5), antes do sepultamento, que acontece às 17h no Parque Renascer, a "descoroação", cerimônia fúnebre de Congado, quando a rainha perde a coroa que ficará a disposição para sucessora, que pode ser filha, neta ou outra pessoa do quilombo.

LEIA TAMBÉM: Número restrito de doses de vacina preocupa quilombolas em Minas
 
A filha mais velha do casal, Maria Antônia Vieira, de 64, também encontra-se no CTI do hospital sob intubação há sete dias, também vítima da COVID. A morte da rainha foi a quinta na comunidade, onde já foram registrados 45 casos do novo coronavírus até o momento. 
 
Neto do casal (que viveu junto por 65 anos), o fisiterapeuta Hiago Daniel Heredia Luz, de 25, coordenador do grupo de combate e prevenção à COVID-19 na comunidade, disse que o casal não chegou a ser vacinado.

"A situação deles era delicada, quando chegou a idade para a imunização, eles apresentavam sintomas gripais e a orientação é que fosse adiada por 30 dias. Quando finalizou o prazo eles ainda apresentavam sintomas, precisavam de um prazo devido a tratamento com antibiótico. Só poderiam tomar a partir de 1º de maio", lamenta.
 
A filha Maria Antônia chegou a tomar a primeira dose, mas foi internada na mesma semana que eles. Hiago conta que o avô sentiu falta de ar e procurou um médico. "Mas fizeram um teste não indicado e deu falso positivo".

'Seu' Mário voltou para casa e passou a monitorar a oxigenação, já que tinha problemas pulmonares e cardíacos. Três dias depois a avó apresentou sintomas, "não fizeram a testagem e mandaram de volta pra casa sem exame. Ela com sintomas e a filha internada", reclama o neto.
 
Na sexta-feira, 30 de abril, Mário piorou, uma equipe do SAMU foi chamada e ele foi encaminhado à  UPA Petrolândia e depois transferido no mesmo dia para o Hospital Municipal de Contagem. Maria Auxiliadora também apresentou piora do quadro e foi encaminhada para o mesmo hospital. Eles foram transferidos ao mesmo tempo para o Hospital Santa Helena.

"Um não soube do outro. Foi um momento de muita tristeza da família, vendo as duas ambulâncias se deslocando. Nos poucos momentos de lucidez, minha avó perguntava pelo meu avô. Ela nem soube de sua intubação e falecimento", conta o neto. 
 
A vacinação na comunidade dos Arturos teve início no dia 1º de maio. Antes desta data, 41 pessoas apresentaram sitomas e testaram positivo para COVID-19. Outras quatro após o início da imunização. Cinco morreram. Oito pessoas precisaram de internação, sete em UTI e um em observação, de um dia para outro.
 

Batalha pela vacinação na comunidade quilombola

Profissional de saúde, o neto Hiago faz residência em Datas, cidade próxima a Diamantina e trabalha com equipes de prevenção e combate à COVID-19. Por isso foi indicado pela comunidade dos Arturos para coordenar equipes locais.
 
"Na verdade a disponibilização de vacinas caminhou a passos lentos. Precisamos de uma articulação nacional pressionando a Advocacia Geral da União (AGU) e o Superior Tribunal Federal (STF) para que comunidades fossem inseridas, na prática, no plano de vacinação até então em teoria", diz Hiago.
 
Hiago conta que mesmo sem garantia das vacinas, a comunidade promoveu um mutirão para indentificar pessoas com sintoma. Cada um dos oito ramos da família quilombola indicou um líder e criaram uma comissão interna, com ações para enfrentar a COVID.
 
Com apoio da Secretaria de Saúde de Contagem, a comissão encaminhou todos os sintomáticos às Unidades de Pronto Socorro - UPS mais próximas. "A prefeitura disponibilizou testes, o que nos permitiu rastrear os que apresentaram sintomas, tiveram contatos ou testaram positivo, e passamos a monitorar caso a caso."
 
A primeira morte aconteceu em setembro de 2020 e diante do grande número de casos positivos, a comissão acionou as autoridades de saúde que desinfectaram a comunidade com quaternário de amônia, material específico e distribuíram álcool e máscara a todos os moradores. Foram instaladas placas nas entradas, proibindo a entrada de visitantes, e faixas nas ruas orientando sobre medidas preventivas. 
 
A vacina chegou no dia 1º da abril, quando foram vacinadas 294 pessoas,  106 apresentaram alguma forma de reação. As demais foram vacinadas 16 dias depois. Um total até agora, segundo Hiago, de 450 imunizados. Todas as doses eram da Astrazeneca.

A comissão de saúde solicitou a prefeitura que disponibilizasse doses da Coronavac para mulheres grávidas e em amamentação. "Havia preocupação sobre notícias de efeitos graves nessas pessoas", explicou o fisioterapeuta. 
 
A comunidade vacinou 20 gestantes e puérperas e 13 já tomaram a segunda dose da CoronaVac. Para os demais quilombolas do município foram disponibilizada 800 doses da Astrazeneca. 
 
Números do vacinômetro da Secretaria de Saúde de Minas Gerais sobre quilombolas:
  • Receberam a primeira dose 50.606 quilombolas 38,69% 
  • Receberam a segunda dose 1.556 pessoas 1,19%.

O que é um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.


Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.

 

 

Entenda as regras de proteção contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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