OPINIÃO

Recuo do governo Lula ganha sua versão municipal em BH

A regulamentação do serviço de mototáxi em BH foi o pano de fundo para uma versão municipal do embate entre o governo federal e a oposição

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A derrota do deputado estadual Bruno Engler (PL) na eleição municipal em Belo Horizonte foi comemorada pela centro-esquerda e esquerda como um freio ao bolsonarismo na capital mineira. O insucesso, no entanto, para na disputa pelo Executivo. Nomes conservadores e ligados ao ex-presidente brasileiro tiveram grande sucesso no pleito Legislativo, incluindo o vereador eleito com a maior votação da história da cidade: Pablo Almeida (PL).

Ex-assessor do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o parlamentar pode fazer de seu mandato um balão de ensaio para a capilarização das técnicas de comunicação que já se mostraram bem-sucedidas em Brasília. Nesta semana, o vereador ‘nikolista’ teve seu primeiro destaque, antes mesmo do início das atividades da Câmara Municipal.

A regulamentação do serviço de mototáxi em Belo Horizonte foi o pano de fundo para uma versão municipal do embate entre o governo federal e seus opositores mais à direita, representados pela ala bolsonarista do PL, por sua vez capitaneada por Nikolas Ferreira. Assim como seu guru faz na capital nacional, Almeida farejou mais um episódio de comunicação desastrada partindo do governo federal, incorporou a pauta a seu repertório de valores e críticas e devolveu ao Planalto um problema infinitamente maior do que o que partiu de Brasília apenas como uma falha estratégica.

Na figura de Carlos Calazans, superintendente da Delegacia Regional de Trabalho de Minas Gerais (DRT-MG), o governo federal desembarcou em BH com o pedido de suspensão de 90 dias no trabalho dos mototaxistas enquanto fosse discutida a regulamentação da profissão. A Lei Federal 13.640/2018 permite a atividade no país e determina que os municípios a regulamentem.

Semanas antes, quando o governo federal se movimentou para ampliar a fiscalização da receita sobre movimentações financeiras, Nikolas não tardou em gravar um vídeo que tratava a iniciativa como uma decisão de enorme potencial ofensivo ao povo brasileiro e, mais especificamente, ao trabalhador precarizado. O conteúdo do deputado federal sobre o PIX tornou-se um dos mais assistidos e compartilhados da história do Instagram, rompeu a bolha da extrema direita ideológica e obrigou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a recuar de algo que nunca esteve em sua lista de intenções.

Assim foi em Belo Horizonte. Absolutamente precarizada, a categoria dos motociclistas que operam por aplicativos não precisava de incentivos para se arrepiar ao ouvir a sugestão de ficar três meses impedida de trabalhar, como o Ministério do Trabalho sugeriu à PBH. Pablo Almeida deu voz aos manifestantes e o fez direcionando a responsabilidade ao Planalto e tratando a proposta como uma inflexível e perene proibição.

Resultado: Calazans, que antes tratava a suspensão temporária como imprescindível, recuou. Pablo Almeida já protocolou um projeto para regulamentar a categoria em Belo Horizonte, teve aval do prefeito em exercício Álvaro Damião e dificilmente perderá espaço em qualquer pauta que envolva quem trabalha por aplicativo na capital mineira. Nessa disputa, o Partido dos Trabalhadores fracassou, de novo.

 

Perguntado sobre o paralelo de sua atividade em BH com a de seu ex-chefe em Brasília, Pablo Almeida disse à coluna que o trabalho tem sim uma correlação e a atrelou à mesma fé professada por ambos. “A minha atuação foi natural de um cristão que está na esfera pública e tem como objetivo acima de tudo glorificar o nome de Deus e trabalhar em favor da população. Então, podemos sim comparar com a atuação do deputado. Porque ambos somos políticos e cristãos e temos essa mesma missão”.

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Quando questionado sobre seu projeto para regulamentar o mototáxi, porém, a resposta do vereador parece ir muito mais ao encontro do que se pode entender como uma ‘secularização’ do bolsonarismo antes quase exclusivamente pautado na discussão moral. “A maioria dos usuários são pessoas de baixa renda, já que mais de 70% das corridas ou começam ou terminam em comunidades. Queremos que essas pessoas continuem usando esse meio de transporte que é tão importante em uma cidade onde o transporte público não é eficiente”, disse à coluna também expressando preocupação com as mulheres que usam o mototáxi para evitar locais perigosos da cidade.

Com Jair em segundo – ou terceiro, quarto – plano, Nikolas se consolida como uma ameaça mais urgente ao governo Lula, que precisa frear a capacidade que o rival tem de ter seu discurso espraiado geograficamente e em diferentes classes sociais. Infringir ao PT sucessivas derrotas no campo trabalhista não deveria ser aceito pelo partido que, pela quinta vez em nove eleições desde a redemocratização, colocou seu representante no Planalto.


Câmara de cara(s) nova(s)

Em uma semana, a Câmara Municipal retomará suas atividades com muitas alterações. Além dos 18 novatos e do novo presidente, Juliano Lopes (Podemos), alterando a composição das salas do Palácio Francisco Bicalho, os corredores da Casa serão frequentados por centenas de caras novas. O mês de janeiro foi marcado por exonerações, nomeações e contratações. Só na semana passada, o novo líder do Legislativo na capital assinou mais de 40 mudanças de pessoal no Diário Oficial do Município.

Deportação

capital mineira recebeu dos Estados Unidos uma leva de deportados pelo ex-presidente Joe Biden, a primeira deportação ocorrida durante a nova gestão de Donald Trump, empossado na segunda-feira (20/1). Era esperada para a sexta, mas um defeito na aeronave que trazia 88 brasileiros (algemados) teve problemas técnicos e precisou parar em Manaus. Um fato não muda, serão tempos sombrios para os 230 mil brasileiros irregulares na América, mais uma vez, sob a extrema-direita.


BR-381

Realizar a cerimônia de assinatura do contrato de concessão da BR-381 em Brasília se mostrou uma decisão acertada, porque não fazê-la seria sandice. Mesmo com o governo federal marcando posição, a inédita privatização da estrada foi colocada em xeque pelo governador Romeu Zema (Novo) e pelo ex-governador e deputado federal Aécio Neves (PSDB), que bateu boca com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), nas redes sociais. Imagine como seria se o Planalto preferisse o silêncio.

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