Jornal Estado de Minas

LITERATURA

Os livros mais marcantes da década, por Etiene Martins



Etiene Martins 
Coordenadora da Bantu, livraria especializada em literatura negra 

“Torto arado”, de Itamar Vieira Junior (Todavia, 2019) 
Uma narrativa sobre a vida dos trabalhadores rurais de Água Negra, uma fazenda na região da Chapada Diamantina, interior da Bahia. Os trabalhadores de Água Negra não recebiam salário para arar a terra, apenas morada, ou melhor, o direito de construir casebres de paredes de barro e telhado de junco (construções de alvenaria eram proibidas) e cultivar roças no quintal quando não estivessem plantando e colhendo cana-de-açúcar e arroz nas terras do patrão. 



Leia: Os livros brasileiros de ficção mais marcantes da última década

“Pesado demais para ventania”, Ricardo Aleixo (Todavia, 2018) 
Essa obra traz temas como o amor, os relacionamentos, a literatura, a cidade, o racismo, os antepassados e a própria poesia. Divididos em seis grandes seções, os poemas aqui compilados são a melhor porta de entrada para a obra de uma das grandes vozes líricas do Brasil. 

“O crime do cais do Valongo”, de Eliana Alves Cruz (Malê, 2019) 
Narrado a partir das vozes de dois personagens, o livreiro mestiço Nuno Alcântara Moutinho e a moçambicana escravizada Muana Lomué, o romance apresenta um relato poderoso, cheio de sutilezas. É o cotidiano de um Rio marcado pelo horror da escravidão e, ao mesmo tempo, pela potência da cultura das ruas e da incessante reconstrução de sociabilidades produzidas pelas descendentes de africanas e africanos sequestrados do lado de lá do Atlântico. 

“Um Exu em Nova York”, de Cidinha da Silva (Pallas, 2018) 
Ganhador do Prêmio Literário Biblioteca Nacional de 2019, categoria conto, “Um Exu em Nova York”exalta a espiritualidade de matriz africana, colocando em cena Exu – orixá que reflete a conexão do divino com o terreno, por entender as aflições e desejos humanos, além de simbolizar a comunicação, a transformação, os caminhos e as escolhas e desafios de cada um frente às encruzilhadas da vida. 





“Vozes guardadas”, de Elisa Lucinda (Record, 2016) 
“Vozes guardadas” reúne poesias capazes de deslocar pensamentos, saudades, melancolia, brincadeiras, safadezas e nostalgia. São poemas que conquistam pela afetividade, experimentando jeito de fazer carinho, jeito de passar a língua, jeito de fazer gozar. Lá vai a Elisa dançando em corações com a poesia da alteridade. 

“Enquanto os dentes”, de Carlos Eduardo Pereira (Todavia, 2017) 
Essa narrativa pujante me impressionou muito. Um romance de estreia do autor que consegue mostrar de forma vigorosa a que veio. O protagonista é Antônio, um homem cadeirante que vive na cidade do Rio de Janeiro. 

“O avesso da pele”, de Jeferson Tenório (Cia das Letras, 2020) 
Um dos mais impactantes romances brasileiros de 2020, o livro traz uma reflexão profunda sobre o atribulado processo de formação da identidade brasileira. A reflexão sobre o racismo e a denúncia da violência policial são o ponto de partida e a inspiração desse romance, que mapeia o cenário trágico com que, endemicamente, se defrontam as comunidades negras e pobres do país. 





“Olhos d’água”, de Conceição Evaristo (Pallas, 2014) 
Nesse livro de contos estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira. 

“Um corpo negro”, de Lubi Prates (Nosotros, 2019) 
São poemas que se constroem pelos “escombros e desamparo”, mas no transcorrer dos versos vê-se que, ainda que alicerçado nesses aspectos, o corpo negro surge dono de si e de uma força capaz de transformar sua trajetória. Lubi Prates traz o racismo real, aquele que é vivenciado diariamente, e, amarradas a ele, as questões que transitam entre a ancestralidade, o silenciamento da voz e a conservação da memória. 

“Almoço de domingo”, de Filipe Lutalo (Edição do autor, 2019) 
 Uma obra de contos em que todas as histórias se passam no domingo, um dia especial para muitos de nós brasileiros, principalmente para a classe trabalhadora, que geralmente só tem esse dia para o lazer.





CLIQUE E CONFIRA A LISTA DE CADA UM DOS CONVIDADOS

Andréa Soares Santos (MG), professora do departamento de Linguagem e Tecnologia do Cefet-MG

Darwin Oliveira (CE), crítico e criador do canal “Seleção Literária”

Etiene Martins (MG), coordenadora da Bantu, livraria especializada em literatura negra
 
Guiomar de Grammont (MG), coordenadora-geral do Fórum das Letras

José Castello (RJ), jornalista, escritor e crítico literário

José Eduardo Gonçalves (MG), jornalista, editor e escritor

Josélia Aguiar (SP), jornalista e diretora da Biblioteca Mário de Andrade

Juliana Gomes (SP), coordenadora do Leia Mulheres, clube de leitura dedicado à autoras

Larissa Mundim (GO), coordenadora da Nega Lilu Editora

Luciana Araujo Marques (SP), crítica e doutoranda em teoria e história literária

Luís Augusto Fischer (RS), professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mateus Baldi (RJ), crítico e criador do canal “Resenha de Bolso”

Ney Anderson (PE), jornalista, escritor e crítico literário do blog “Angústia criadora”

Regina Dalcastagnè (DF), professora do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB

Rogério Coelho (MG), articulador do Coletivoz sarau de periferia e do slam Clube da Luta

Rogério Pereira (PR), jornalista, escritor e editor do jornal de literatura “Rascunho”

Schneider Carpeggiani (PE), editor do "Suplemento Pernambuco"

Sérgio de Sá (DF), crítico literário e professor na Universidade de Brasília (UnB)

Simone Pessoa (MG), livreira da Livraria Ouvidor

Stefania Chiarelli (RJ), professora de literatura na Universidade Federal Fluminense (UFF)

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