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Estado de Minas LITERATURA

Os livros mais marcantes da década, por Ney Anderson

Vinte críticos, jornalistas e gestores culturais indicam os livros nacionais - romances, contos, poemas - que marcaram suas leituras nos últimos dez anos


16/04/2021 04:00 - atualizado 16/04/2021 08:12



Ney Anderson 
Jornalista e crítico literário 

“Seria uma sombria noite secreta”, de Raimundo Carrero (Record, 2011) 
Raimundo Carrero eleva a potência das suas criaturas para contar uma história protagonizada pelo camelô Alvarenga e a prostituta Rachel, personagens recorrentes da obra do autor, aqui ainda mais completos e complexos. Vivendo uma relação de amor confusa, estranha, desconectada dos padrões, sobretudo porque Rachel vê na sua função a teoria do “corpo social”, ofertando o seu amor aos mais necessitados, enquanto Alvarenga vive do submundo do Recife, dos restos que a cidade lhe entrega. 

“O tribunal da quinta-feira”, de Michel Laub (Cia das Letras, 2016) 
Sempre tratando de temas contemporâneos, Michel Laub traz nesse “O tribunal da quinta-feira”um assunto dos mais perigosos da sociedade atual, o julgamento público a partir da cultura do cancelamento. Conversas íntimas entre dois amigos são expostas fora de contexto na rede, causando enormes prejuízos ao protagonista, que se vê perseguido por impiedosos “juízes”da internet. 

Leia: Os livros brasileiros de ficção mais marcantes da última década

“Jeito de matar lagartas”, de Antonio Carlos Viana (Cia das Letras, 2015) 
Os contos de Antônio Carlos Viana são feitos daquela aparente simplicidade que emociona. São enredos com o pé no banal, no corriqueiro, mas dos quais o autor conseguiu extrair beleza, nos apresentando histórias sobre temas como envelhecimento e solidão, e tantos outros assuntos que a vida proporciona diariamente. 

“Glitter”, de Bruno Ribeiro (Moinhos, 2019) 
Muito já se falou que o mundo da moda é cruel e desumano, principalmente para os (as) modelos que estão em começo de carreira. Por trás de roupas luxuosas (e extravagantes), assinadas por estilistas renomados que ditam tendência, está algo perverso, que visa simplesmente o lucro acima de qualquer coisa. A morte, no desfile dos horrores criado por Bruno Ribeiro, faz parte do inesquecível espetáculo funesto de Glitter. 

“Assim na terra como embaixo da terra”, de Ana Paula Maia (Record, 2017) 
Desde a sua estreia na literatura, Ana Paula Maia vem forjando um mundo cru, composto por homens rudes, que fazem trabalhos braçais e vão seguindo as suas rotinas sem se importar com a expectativa do futuro. Em “Assim na terra como embaixo da terra”, ela colocou algumas dessas figuras entregues à própria sorte dentro de uma penitenciária isolada do resto do mundo, onde o principal objetivo é tão somente sobreviver. 

“O peso do pássaro morto”, de Aline Bei (Editora Nós, 2017) 
O relato da vida de uma mulher dos 8 aos 52 anos. É um livro bonito e triste. Sobre dores e amores. Das perdas que a vida impõe, não apenas através da morte, mas a perda da inocência e, consequentemente, da esperança. “O peso do pássaro morto”é um dos livros mais sensíveis e originais que eu li. 

“Solo para vialejo”, de Cida Pedrosa (Cepe Editora, 2019)
Cida Pedrosa criou um épico. “Solo para vialejo”conseguiu a proeza de juntar o mar e o sertão, o blues e os ritmos nordestinos, a tristeza e a alegria, e muitas outras coisas que apenas um trabalho dessa magnitude é capaz de abarcar. Os versos de “Solo...” dançam formando imagens, sempre seguindo um roteiro sentimental. 

“Fé no inferno”, de Santiago Nazarian (Cia das Letras, 2020)
No seu trabalho mais ambicioso, o paulistano Santiago Nazarian trata do genocídio armênio, ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial, mas intercalando a trágica história armênia com os dias atuais. Precisamente no Brasil de 2017, quando o cuidador de idosos Cláudio (gay, negro, pobre, de origem indígena) é contratado para trabalhar com o senhor Domingos, um nonagenário, morador de um bairro classe média alta em São Paulo. Ele percebe que o homem pode ter sido um dos sobreviventes do massacre praticado pelos turcos, matando por volta de 1,5 milhões de pessoas. A partir disso, Cláudio começa a compreender que também é um sobrevivente em um país que persegue minorias. 

“Marrom e amarelo”, de Paulo Scott (Alfaguara, 2019)
O racismo estrutural, entranhado na sociedade brasileira, tratado com maestria por Paulo Scott. “Marrom e amarelo” traz outro olhar para o debate, principalmente do que é ser preto em um país racista, embora de maioria negra. Os irmãos Federico e Lourenço, um pardo, de cabelo escorrido, e o outro negro, retinto, vivem em constante embate sobre a própria questão racial. Livro extremamente necessário. 

“Mulheres empilhadas”, de Patrícia Melo (LeYa, 2019)
Uma advogada paulista vai até o Acre acompanhar um mutirão de julgamentos de feminicidas. Chegando lá, ela se depara com uma realidade cruel, em que as mulheres são mortas constantemente e os assassinos quase sempre recebem penas brandas, isso quando não são absolvidos. Mulheres empilhadas é uma punhalada a cada capítulo. Um romance forte, através de uma narrativa potente, que choca o leitor pela sua veracidade, que vai muito além da ficção. 

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