GASES

Incontinência fecal, um tabu que não deve ser negligenciado

Sociedade Brasileira de Coloproctologia alerta que a condição, que afeta 1 em cada 12 adultos, devem deixar a vergonha de lado e buscar tratamento

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A incontinência fecal, também chamada de incontinência anal, é uma condição que pode impactar negativamente na qualidade de vida. Ela tem como característica principal a incapacidade de controlar a eliminação de gases ou fezes pelo ânus, não importando o volume das perdas. Isso pode gerar insegurança e constrangimento, afastando a pessoa do convívio social e de suas atividades laborais. É uma condição que pode acometer qualquer idade, mas é mais comum em idosos e em mulheres com múltiplas gestações.

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) alerta que a incontinência anal é uma condição frequentemente subestimada – muitas pessoas sofrem caladas e, por vergonha, não procuram ajuda do especialista. “Embora as estatísticas sobre a sua prevalência variem entre 2 a 18%, podemos dizer que a incontinência anal afeta 1 em cada 12 indivíduos adultos”, alerta Lucia de Oliveira, doutora em cirurgia pela Universidade de São Paulo e membro titular da SBCP.

Causas

A incontinência anal é um sintoma que pode ser provocado por diferentes causas. Entre as principais estão: trauma e lacerações na musculatura perineal e anorretal causados pelo parto vaginal traumático, disfunções do assoalho pélvico, cirurgias anorretais, alterações neurológicas, lesões no nervo pudendo, diabetes, diarreia crônica e obesidade. “É um sintoma com múltiplas causas e que prejudica bastante a qualidade de vida. Indivíduos que apresentam a perda involuntária de fezes estão mais sujeitos a infecções urinárias de repetição e assaduras na região perianal”, pontua Lucia.

Sintomas e diagnóstico

Pessoas com incontinência fecal costumam apresentar:

  • Escape de gases ou fezes (pequena ou grande quantidade)
  • Urgência para evacuar
  • Eliminação de fezes ou gases sem perceber
  • Sensação de evacuação incompleta
  • Irritação na região anal

O diagnóstico é realizado com base na descrição dos sintomas. Também podem ser solicitados exames como anuscopia (que permite observar o ânus), manometria (mede a pressão do ânus e reto), ultrassom, eletromiografia (mede a atividade elétrica dos músculos da região retal). “Durante a avaliação clínica, aplicamos escalas de graduação da gravidade de cada caso e também para avaliar a qualidade de vida. Em geral podemos ter casos mais leves, nos quais o sintoma é esporádico ou pacientes em que as perdas são diárias, prejudicando o convívio social e profissional”, explica a especialista.

Tratamento

O tratamento de pacientes com incontinência anal pode incluir mudança na alimentação (como maior ingestão de fibras, para ajudar a formação do bolo fecal), medicamentos, fisioterapia pélvica associada a biofeedback (exercício para fortalecer a musculatura da região) e cirurgia.

Inicialmente, algumas medidas não cirúrgicas costumam ser recomendadas pelos especialistas. “Alguns fatores dietéticos, como o consumo excessivo de café, podem estimular o trânsito intestinal e predispor a diarreia, assaduras e prurido anal. Da mesma forma, a ingestão de bebidas alcoólicas deve ser evitada, para não amolecer as fezes e causar diarreia", comenta Sthela Murad Regadas, membro titular da SBCP.

Instruções sobre hábitos intestinais e cuidados com a pele são úteis na prevenção da dermatite associada à incontinência. "A limpeza da pele perianal, sem fricção excessiva com papel higiênico, também ajuda a diminuir as lesões secundárias. O uso da loperamida também demonstrou ser auxiliar no tratamento da incontinência associada a fezes amolecidas, assim como a adição de medicamentos antidiarreicos como a colestiramina. Podem ser recomendados ainda enemas ou supositórios para esvaziamento do reto, evitando escapes de conteúdo intestinal, e a irrigação do cólon com até 1,5 litro de água algumas vezes por semana. A fisioterapia do assoalho pélvico é uma opção que pode ser adicionada às medidas dietéticas e comportamentais”, elenca Sthela.

Para os casos graves e quando o paciente não responde ao tratamento prévio, indica-se a neuromodulação sacral, procedimento minimamente invasivo considerado hoje um tratamento cirúrgico de primeira linha. “Introduzimos o eletrodo, com quatro polos de estímulos, na raiz sacral. Esse eletrodo se conecta a um gerador de pulsos que fornece estímulo elétrico constante de baixa voltagem aos nervos, resultando na modulação dos reflexos medulares e dos centros cerebrais, produzindo ação na função esfincteriana; efeitos na motilidade colônica e retal; modulando a sensibilidade retal; produzindo alteração no fluxo sanguíneo com liberação de endorfinas, afetando neurotransmissores e bloqueando a despolarização axonal (efeitos no sistema nervoso central); além da neuroplasticidade (capacidade de regeneração do sistema nervoso)”, explica Sthela, que também é professora do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará e coordenadora da Residência Médica do Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC).

“Os resultados nos últimos anos têm mostrado superioridade aos outros tratamentos e por isso a neuromodulação sacral é considerada hoje de primeira linha para casos graves e refratários aos tratamentos prévios. As séries da literatura mostram que 80% dos pacientes apresentam redução de mais de 50% dos episódios de incontinência, independentemente da causa da incontinência. As novidades para um futuro recente incluem a utilização de células-tronco em casos selecionados”, acrescenta Lucia.

Outra opção cirúrgica para o tratamento da incontinência anal é a esfincteroplastia. “É recomendada para pacientes sintomáticos com defeitos musculares do esfíncter anal, como uma cloaca que consiste na comunicação do canal anal com a vagina, com lesão completa do corpo perineal. O reparo direto pode ser por aposição ou sobreposição, a fim de restaurar a integridade do músculo esfincteriano. A técnica está associada a resultados de bons a excelentes em curto prazo, mas os efeitos tendem a se deteriorar com o tempo. Assim, mulheres que desenvolvem sintomas de incontinência muitos anos após trauma obstétrico (especialmente com defeitos esfincterianos incompletos) podem se beneficiar de modalidades alternativas de tratamento. Adicionalmente podemos recomendar a neuromodulação sacral após a correção da anatomia do assoalho pélvico”, esclarece Sthela.

Dessa forma, o tratamento vai variar conforme a condição de cada paciente, mas um ponto é considerado essencial: a incontinência fecal não deve ter negligenciada. Ao se notar qualquer sintoma, um especialista deve ser consultado para avaliação. “Aproximadamente 30% da população que apresenta sintomas de incontinência anal não se sentem confortáveis para falar com o seu médico. Portanto, tenha conhecimento que essa disfunção tem tratamento e pode mudar a sua qualidade de vida”, diz Sthela.

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