Um ano em palavras: as frases que marcaram o Pensar em 2025
Na última edição do ano, o Pensar reúne trechos de entrevistas, depoimentos e resenhas publicadas ao longo de 2025
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A poesia na fala do mineiro
“A poesia se faz com palavras de ultraprecisão. Parece um relógio suíço. E o coador da poesia é o tempo.”
“Vivi cinco anos em Belo Horizonte e foi, nesse período, que me senti formado. A fala do mineiro já tem a poesia. É só saber escutar.”
“O desafio é ouvir o lirismo. O poeta tem de ter ouvido absoluto. Os que têm são mais felizes do que os outros, que gramam por não ter.”
Francisco Alvim, na edição especial “O poeta formidável”
Leia: Francisco Alvim: 'O coador da poesia é o tempo'
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Poesia & Agora
“O título da reunião ‘Poesia & Agora’, se lido de maneira afirmativa, nos faz pensar no esforço para organizar num ‘aqui/agora’ o que foi presenciado no caos-mundo ao longo do tempo. E não esteve sozinho, o poeta: outros viventes e não viventes, muitos lugares e acontecimentos tudo o que foi real ou imaginado se coloca à vista do leitor. O que se celebra, então, é a permanência de algo, apesar das perdas.”
Edimilson de Almeida Pereira, autor de “Poesia & Agora” (Mazza Edições)
Leia: Edimilson de Almeida Pereira: a palavra-mundo em Poesia & Agora
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Passado presente
“Não se entra no sertão com medo. Eu não entrei. Cresci nele e o conheço bem. No entanto, não se entra no sertão, de forma confiada demais porque ninguém o conhece totalmente. Eu quis construir o sertão pensando na dualidade da nossa formação familiar histórica. O sertão como um pai e uma mãe terríveis, mas ainda assim um pai e uma mãe. Creio que estou o tempo todo falando/escrevendo sobre o presente, mesmo quando conto uma história do Brasil colonial.”
Micheliny Verunschk, autora de “Depois do trovão” (Companhia das Letras)
Leia: Micheliny Verunschk volta ao passado para expor os conflitos do Brasil
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A literatura como vingança
“Num certo momento, a literatura, para mim, é uma espécie de vingança. Foi uma vingança. Quando eu escrevo, me livro do medo. Escrevo sem medo.”
Milton Hatoum, sobre “Dança de enganos” (Companhia das Letras)
Leia: Milton Hatoum: 'O lugar mais sombrio pode ser o coração'
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Outras peles
“Há uma zona onde o íntimo e o coletivo se confundem — o tom confessional existe, mas é a superfície. O que existe, de fato, são os atravessamentos pelos quais todos nós passamos na vida pessoal e na vida coletiva. Aquilo que fica impregnado como se fosse o barro na roupa. No subterrâneo, o que vibra é o corpo que escreve como lugar de escuta, onde as vozes da genealogia, da história, do cotidiano, da memória e da não-memória se encontram.”
Lucas Guimaraens, autor de “Outras peles” (Fósforo)
Leia: Em 'Outras peles', Lucas Guimaraens revela a poesia como prática cotidiana
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Desentranhar o absurdo
“Na busca de fios que unem os contos de um livro, por mais variada que seja a temática das histórias, o ponto de chegada mostrará as obsessões do autor. Na minha escrita a principal obsessão talvez seja a de querer desentranhar o absurdo, o muito estranho das situações comuns, cotidianas. Assim, o encontro entre pessoas e o contato com filmes, fotografias, canções e livros podem desencadear reações surpreendentes, mudando o rumo de vidas, às vezes com consequências trágicas. Não é muito diferente do que acontece na “vida real”. A vida é cheia disso que não cessa de nos espantar e de nos surpreender. Talvez por isso minhas histórias não acabem bem. Mas isso não importa. Importa é que sejam bem-acabadas, essa outra obsessão que traz consigo ressonâncias da própria literatura.”
Francisco de Morais Mendes, autor de “A bala dos desarmados” (Sinete)
Leia: Trecho de 'A bala dos desarmados', de Francisco de Morais Mendes
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Religião como forma de capitalismo
“Não tenho fé na nossa atual estratégia de sobrevivência, ou seja, não tenho esperança colocada no capitalismo vivido como religião. E, pelo contrário, tenho medo da religião vivida como uma forma de capitalismo, que é o que acontece diariamente em países como a Colômbia ou o Brasil, onde o fogo religioso do nosso povo é usado contra o próprio povo. Por outro lado, tenho fé numa espécie de espírito antropofágico, nos elevados mistérios da razão tropical. Meu romance fica sobre toda aquela lama, como uma humilde e luminosa palafita.”
Juan Cárdenas, escritor colombiano, autor de “O diabo das províncias” e “Ornamento” (DBA)
Leia: Juan Cárdenas faz romance sobre a involução das espécies
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O cortejo de Carrascoza
“Saber que a palavra é uma queda, um degrau abaixo do silêncio, mas é o que temos contra a manufatura da superficialidade. Amor e compaixão são batedores no meu cortejo.”
João Anzanello Carrascoza, autor de “Flor de pedra” (Faria e Silva)
Leia: João Anzanello Carrascoza: 'Amor e compaixão são batedores no meu cortejo'
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Humberto Werneck, 80
“Não vejo alternativa que não seja combinar palavras, como um barman eternamente em busca de um drinque novo. Continuo achando que o modo de dizer uma coisa pode ser tão ou mais fascinante do que a própria coisa.”
Humberto Werneck, ao completar 80 anos
Leia: Humberto Werneck, domador de palavras, completa 80 anos
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Difícil visita ao pai
“É uma reflexão romanesca sobre o contraste de gerações e as diferenças (e semelhanças) entre o tempo do meu pai e o meu. Um livro muito atípico, o mais difícil da minha vida.”
Cristovão Tezza, autor de “Visita ao pai” (Companhia das Letras)
Leia: Tezza e as cartas do pai: “um romance da memória”
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As mulheres em “Cantagalo”
“Creio que me atraem histórias que falam de costumes e como os indivíduos se desenvolvem, se relacionam, transitam e manifestam suas características próprias dentro (e apesar) de códigos sociais definidos. Os ‘romanções’ que me marcaram quase sempre giram em torno de personagens que fazem movimentos inusitados dentro desses códigos. O protagonismo é de mulheres que viveram dentro das limitações impostas naquela época e começaram a vislumbrar alguma possibilidade de mudança, que viria apenas décadas depois. Assim, podemos dizer que ‘Cantagalo’ é um romance de família, inserido em um contexto social.”
Fernanda Teixeira Ribeiro, autora de “Cantagalo” (Todavia)
Leia: Fernanda Teixeira Ribeiro oferece café forte em "Cantagalo"
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Triscar frases
“Sendo eu do sertão pernambucano, também há no livro uma paisagem (geografia) que cai sobre os personagens, oprime, esconde, omite. Um livro sobre opressão também. ‘Escalavra’ vem do verbo escalavrar, deixar em carne viva, friccionar, ruir. A linguagem é toda assim: triscando uma frase na outra, roendo. Chamo o livro de ‘romance megalítico’. São pedras sobre pedras, o silêncio precário do trabalhador. É um livro idem sobre livros, uns sobre os outros, amontoando tanta coisa. Faltam palavras para dizer. Por isso que eu digo lá no livro: Escrever é dizer outra vez o que a gente nunca conseguiu dizer.”
Marcelino Freire, sobre “Escalavra” (Amarcord)
Leia: Trecho do novo livro de Marcelino Freire
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A linguagem de Leminski
“Leminski foi um abre-alas não só da poesia, não só da literatura, mas da linguagem. Ele nos fez entender que língua e linguagem são uma diversão, que as palavras têm caráter, que frases criam expectativas, que quebrar o que se espera de uma frase é fazer filosofia, que rima é construção de sentido, que ritmo faz ironia, que tem ato falho, trocadilho, limerique, haica. Descobrir que o que a gente tem primeiro na vida, a linguagem, é a fonte máxima da inteligência, da invenção e da diversão.”
Ana Lima Cecilio, editora e curadora da Flip 2025, sobre Paulo Leminski, homenageado em Paraty
Leia: Paulo Leminski, o abre-alas da poesia e da linguagem
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A despedida da Chão de Feira
“Quando olho para trás, vislumbro uma coerência editorial que, ainda que tenha sido em parte consciente, é também surpreendente. Fomos colhendo textos, buscando outros, outros nos surpreenderam – se formos desenhar um arco do catálogo, quase tudo o que ele abarca afirma o fascínio pela força das palavras, o compromisso com a linguagem e com os seus efeitos, bem como com a continuidade da sua partilha. Aquilo que publicamos são as nossas sementes, e o curioso é que não sabemos o que delas vai nascer. Por isso, com a Chão é assim: soltamos muitas palavras no ar, e elas são variadas e férteis, a partir delas muito pode ser escrito, em quase tudo o que publicamos o pensamento é inseparável da experimentação e da afirmação da variedade de formas de vida.”
Maria Carolina Fenati, uma das editoras da Chão de Feira, que encerrará as atividades em 2026
Leia: Chão da Feira anuncia fim das atividades depois de 15 anos
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Agressividade na esfera digital
“Minha ideia basicamente é que o que acontece é que as nossas democracias e a nossa conversa pública, o espaço público, estão cada vez mais se deslocando para a esfera digital. Nessa esfera, a agressividade é recompensada, ideias e posições extremas são recompensadas. Há uma ação hipnótica constante e emerge um tipo de figura política muito mais agressiva do que as de antes.”
Giuliano da Empoli, analista político suíço-italiano, autor de “A hora dos predadores” (Vestígio)
Leia: Da Empoli: "Predadores políticos e oligarcas da tecnologia são aliados"
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O primeiro leitor
“Ao tomar a decisão de editar um livro, usando a palavra mais correta, de publicar, você torna público um trabalho extremamente individual, subjetivo, solitário. E aí cabe a você, de certa maneira, ser um intermediário de múltiplos encontros. É importante que o editor também tenha o seu silêncio, ou seja, que ele também possa mergulhar na leitura e fazer com que aquele livro ‘fale’ com ele. Afinal de contas, estamos falando de nosso trabalho como primeiros leitores.”
Luiz Schwarcz, sobre o livro “O primeiro leitor” (Companhia das Letras)
Leia: Schwarcz: O editor é um "intermediário de múltiplos encontros"
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Nobel para Hungria
“Assim como Guimarães Rosa, László cria todo um universo num pequeno vilarejo. Rosa afirma que o sertão é o mundo. O vilarejo de László é o mundo (só que nele chove o tempo todo). Os dois enredos e seus personagens vivem questões humanas universais.”
Paulo Schiller, tradutor de “Sátántangó” (Companhia das Letras), do húngaro László Krasznahorkai, Prêmio Nobel de Literatura
Leia: Vilarejo de László é o mundo, aponta tradutor de 'Sátántangó'
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O editor e o maestro
“Assim como uma orquestra não se faz só com um maestro, um livro não se faz só com as duas mãos do editor.”
Leonardo Silva, editor da Zain
Leia: Editora de livros com a música como fio condutor, Zain publica dois Nobel
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O desafio de ilustrar Platônov
“Ilustrar Platônov foi um grande desafio, justamente por essa complexidade. É um texto sofisticado demais, que tece essas dualidades entre ingenuidade e maldade tanto através da linguagem quanto da narrativa, e deixa o leitor simultaneamente com a ternura e a tragédia. O que pude tentar fazer foi traduzir visualmente o espanto e a perplexidade, dos personagens e do leitor (no qual me incluo) diante deste inconciliável do texto e da vida.”
Anna Cunha, ilustradora de “O amor pela pátria e outras histórias” (Ars et Vita), segundo volume de contos de Andrei Platônov, traduzidos por Maria Vragova
Leia: A menina que tinha a verdade sobre as pessoas em seus olhos
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Os bichos de Machado
“Ao contrário das narrativas fabulares, os bichos (nos escritos de Machado) não estão ali para representar os humanos nem estão a serviço de uma moral edificante. As falas a eles atribuídas nos textos machadianos têm um propósito crítico em relação à humanidade, aos usos cruéis da razão e à impotência desta diante das subjetividades não humanas.”
Maria Esther Maciel, uma das organizadoras de “Na arca: Machado de Assis e os animais” (Fósforo)
Leia: O que Machado de Assis disse por meio dos animais
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Adeus, Llosa
“Se na vida política, Mario Vargas Llosa foi frustrado ao abandonar as ideias de esquerda com a guinada neoliberal à direta, na literatura foi um exímio contador de histórias e dos expoentes do ‘boom literário latino-americano’ na segunda metade do século 20. Nesse caso, fez sua própria revolução com temas variados que vão das implacáveis mazelas da América Latina até o erotismo cômico.”
Paulo Nogueira, no especial “A prosa de Llosa”
Leia: Conheça os livros mais importantes de Vargas Llosa
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Ensaio premiado
“A gente é ensinado que a mulher perde a cabeça, é histérica, nervosa, descontrolada. E quase nunca isso é atribuído aos homens. É uma coisa que me incomoda profundamente porque às vezes eu grito mesmo porque o homem fala mais alto. A minha voz é mais baixa, mais fraca, às vezes eu preciso gritar para me destacar.”
Ligia Gonçalves Diniz, autora de “O homem não existe: masculinidade, desejo, ficção” (Zahar), prêmio da Biblioteca Nacional de 2025 na categoria Ensaio Literário, em entrevista ao podcast do Pensar
Leia: Pensar reúne Fernanda Teixeira Ribeiro e Ligia Diniz
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Rubem Fonseca, 100 anos
“O que mais me chamou a atenção foi que existissem contos de juventude. Coisa que desconhecia. Os mais antigos, de 1943 até 1948, estão em sua maioria datados. Isso de monstra que, apesar de só ter publicado seu primeiro livro de contos em 1963, já vinha escrevendo pelo menos desde os 18 anos.”
Bia Corrêa do Lago, filha de Rubem Fonseca, sobre a publicação de caixa com inéditos no centenário do autor
Leia: Rubem Fonseca, 100 anos: mais de 2 mil páginas de sangue, suor e sexo
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As costuras da escrita
“É importante uma escrita na qual se notem as costuras. Que o leitor sinta que está lendo algo que foi escrito, não que entre em algo como se aquilo nunca tivesse sido escrito de fato, como num processo de telepatia. Mas me interessa muito que os leitores estejam cientes das muitas mediações pelas quais a escrita passa para poder se converter no livro que estão lendo. Há pesquisa, há reflexão, há discussão, há dissenso, há entrevistas, e me parece que é importante, se o que queremos é produzir efeitos de presença nos quais a participação do corpo é importante, que essas mediações nos alertem precisamente para o fato de que a escrita não nasce do nada, de que é uma prática concreta na qual também estão envolvidos corpos concretos com distintos níveis de fricção e de luta.”
Cristina Rivera Garza, escritora mexicana, autora de “Autobiografia do algodão” (Autêntica Contemporânea)
Leia: Cristina Rivera Garza: "Escrita é uma prática crítica"
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Ferrante e Starnone
“Diria que ambos têm uma prosa que é tensionada por duas culturas: a napolitana, local, familiar, afetiva, do bairro e da memória; e a italiana, geral, pública, controlada e, de certo modo, exilada das experiências de infância. Além dessa tensão, que é estruturante nos dois escritores, há as clivagens que dizem res peito ao mundo feminino e masculino, às classes sociais, à cultura letrada e iletrada etc. Ferrante tem uma escrita mais fluvial e disruptiva, violenta, abissal. Já Starnone é mais propenso à contenção e à economia narrativa, uma prosa que, apesar dos abismos, busca o equilíbrio da forma. Nesse sentido, acho possível dizer em linhas gerais que Ferrante é mais dionisíaca, e Starnone, apolíneo.”
Maurício Santana Dias, tradutor de Elena Fernante e Domenico Starnone
Leia: ‘Ferrante é mais dionisíaca e Starnone, apolíneo’, diz tradutor
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“Deslinhas” sem fronteiras
“O trabalho linguístico que me dá prazer tecer está assentado nas fronteiras que a língua brasileira traça com as artes verbais dos povos originários e afrodiaspóricos, com a linguagem da rua, as línguas gerais. Um português dentro de plurilínguas, que desafia as tendências de centralização das forças colonizadoras.”
Angela Quinto, autora de “Deslinhas” (Impressões de Minas)
Leia: Leia poemas do livro de Angela Quinto
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Adélia Prado, 90 anos
“Acredito que o autor escreve sempre o mesmo livro. Trata-se de uma única vida, uma única pessoa, uma única memória. No tempo cósmico escrevemos um único poema. Atravessei desertos criativos implorando pela misericórdia divina, que não me faltou, mas importante dizer também que tive a ajuda de algumas pílulas e sessões de análise (risos). O livro (“O jardim das oliveiras”) chegou através de gavetas fechadas há muito tempo. Os manuscritos me apanharam no mesmo lugar, apenas continuei a escrever.”
Adélia Prado, autora de “O jardim das oliveiras” (Record), que completou 90 anos no início do mês
Leia: Adélia Prado: 'Aquilo que é humano, que é real, é matéria de poesia'
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No planeta de Piana
“Meus dois romances (“Sismógrafo” e “Tarde no planeta”) se ocupam, cada um a seu modo, da ideia de encontrar alguma medida para as catástrofes, sejam elas íntimas ou ambientais. Colocar lado a lado acontecimentos de impacto coletivo, aqueles que viram notícia, com a vida cotidiana, aparentemente banal, é algo fascinante para mim. No ‘Sismógrafo’, o encontro dessas duas dimensões, a individual e a coletiva, aparece como pano de fundo. Em ‘Tarde no planeta’, isso funda a estrutura do romance.”
Leonardo Piana, autor de “Tarde no planeta” (Autêntica Contemporânea)
Leia: Leonardo Piana une angústias no romance 'Tarde no planeta'
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A construção da identidade
“Acho que todos os temas que nos colocam diante dos conflitos, medos, hostilidade ao mesmo tempo em que nos levam a observar a beleza interior, os processos de aprendizado e os sonhos, pela lente das personagens, podem ser e são matéria da literatura. Talvez, até agora, não tenhamos tido a oportunidade de lermos obras que trouxessem a experiência de formação de jovens negros em nossa literatura, é o que “A construção”, “De onde eles vêm” e também “O embranquecimento”, do Evandro Cruz Silva, fazem. A experiência dos estudantes cotistas juntou todos esses sentimentos num só balaio e trouxe uma nova disputa à baila, a epistêmica e, por isso, é tão instigante.”
Andressa Marques, autora de “A construção” (Nós)
Leia: Cicatrizes nas construções de uma cidade e de uma identidade
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“Lavoura arcaica”, 50 anos
“Há cinco décadas temos o privilégio de ler esse romance magistral, em páginas que transbordam, comovem e revoltam. Ao lembrar sua estreia, fica o desejo de que surjam novas leituras atentas à linguagem engenhosa do escritor e às suas temáticas, atualizando o olhar sobre a obra - não faltam elementos que o conectem ao nosso conturbado presente, a começar pelas alarmantes taxas de feminicídio e a crescente adesão a discursos autoritários. ‘Em literatura, quando você lê um texto que não toca o coração, é que alguma coisa está indo pras cucuias’, afirmou Nassar em célebre entrevista aos Cadernos de Literatura Brasileira do IMS, em 1996. Passado meio século, a seta dirigida ao coração dos leitores segue afiada. Resta a nós acusar o golpe e aceitar o convite para o mergulho nesse universo impregnado de seiva vital.”
Stefania Chiarelli, sobre os 50 anos de “Lavoura arcaica” (Companhia das Letras), de Raduan Nassar
Leia: Meio século de 'Lavoura arcaica' e o poder intacto de Raduan Nassar
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Luta na Ucrânia
“Foi ideia minha tornar o enredo do romance mais universal, expressar minha opinião de que essa luta entre a ditadura, entre um regime autoritário e a sociedade civil não é apenas uma situação ucraniana. Isso pode acontecer, por exemplo, em qualquer lugar aqui na Europa Oriental.”
Yuri Andrukhóvytch, escritor ucraniano, autor de “Rádio Noite” (Zain)
Leia: Uma revolução conduzida pelas ondas do rádio no Leste Europeu
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Transformação infinita
“Acredito que tudo vira realidade a partir do momento em que transformamos em palavra - acho que isso é o que fazemos ao falar sobre o que nos passa, sobre nossos sentimentos, ao escrever nossas próprias histórias. Transformar um corpo que é, também, uma ideia de corpo demanda viver em um, ver quem vive em um, estar atenta ao mundo - aquele distante e aquele cotidiano.”
Camila Maccari, autora de “Infinita” (Autêntica Contemporânea)
Leia: Impacto e desconforto no novo livro de Camila Maccari
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Amar o livro
“Para ser editor, é preciso, antes de tudo, ser leitor, amar e respeitar o livro e a cultura. O resto é business ou oportunismo.”
Simone Paulino, editora da Nós
Leia: Editora da Nós: 'Editar é muito mais do que produzir livros'
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A perda e o luto
“A perda é muito mais presente no nosso cotidiano – e, em algum sentido, muito mais estável – do que o luto: crianças perdem dentes e brinquedos, pessoas perdem a hora, perdem o ônibus, o peso, o cabelo, o Brasil perdeu as últimas Copas do Mundo. O que estou tentando dizer é que perder está mais diluído na vida. A perda, no caso do fracasso, é inclusive mais difícil de admitir que o luto. ‘Eu estou de luto’ é, em algum lugar, mais fácil de dizer do que ‘Eu fracassei’.”
Lilian Sais, autora de “A cabeça boa” (DBA Editora)
Leia: Lilian Sais tensiona o fazer literário em "A cabeça boa"
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O voo de Veronesi
“Já sonhava em ser escritor quando criança, mesmo quando decidi cursar arquitetura na universidade. Abandonei a arquitetura logo após a formatura para me dar uma chance; e tive sorte. Agora posso dizer que a literatura é o cerne da minha vida há 40 anos. Mas deixe-me dizer que ela (referindo-se à literatura do autor) não foi capaz de mudar nada no mundo – e que eu, pessoalmente, persisti com minhas ideias, muitas vezes em oposição ao próprio mundo. Portanto, posso dizer que meu engajamento tem um sentido, sim, mas nenhuma utilidade.”
Sandro Veronesi, escritor italiano, autor de “O colibri” e “Setembro negro”, lançados no Brasil pela Autêntica Contemporânea
Leia: Sandro Veronesi fala sobre Flip, suas carreiras e admiração por Jorge Amado
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Impacto brutal
“É chocante ver como esses momentos políticos se traduzem em consequências concretas e reais em muito pouco tempo. Quem estava fazendo jornalismo na linha de frente naqueles anos viu o impacto imediato, não foi uma coisa teórica, foram palavras e ações em Brasília que tiveram um impacto imediato brutal e violento. De uma certa forma, eu enxergo os assassinatos do Dom e do Bruno como uma consequência desse momento político.”
Tom Phillips, jornalista britânico, um dos colaboradores do livro “Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas” (Companhia das Letras)
Leia: Livro de Dom Phillips finalizado por amigos mostra caminhos para Amazônia
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A nova fase de Aleixo
“O livro ‘Ainda quanto a você’ marca o início de uma fase em que passarei a priorizar a escrita para a juventude e a infância.”
Ricardo Aleixo, autor de “Ainda quanto a você” (Literíssima Editora)
Leia: Leia poemas do novo livro de Ricardo Aleixo
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Robô não erra nem sonha
“O erro, a imperfeição, a incerteza, o risco, o salto no escuro, o ato falho, o acaso feliz, a intuição, tudo isso são elementos indispensáveis da escrita artística que um robô, com seu simulacro de linguagem, não tem como alcançar. Não teria como alcançar nem em sonho, e ele nem sequer sonha. Vale acrescentar aí também o verbo errar no sentido de andar sem rumo certo, ou seja, escrever sem saber exatamente aonde se quer chegar, com a racionalidade em volume baixo, deixando que o espírito coletivo da linguagem fale por nós.”
Sérgio Rodrigues, autor de “Escrever é humano” (Companhia das Letras)
Leia: Sérgio Rodrigues: 'É preciso mostrar ao robô quem manda'
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IA e a tradução
“A tradução literária exige muito mais do que equivalência lexical. É preciso entender nuances, o estilo do autor, suas referências culturais — algo que até agora, acredito, nenhuma IA consegue fazer com a sensibilidade de um ser humano (...). Acredito, no entanto, que a inteligência artificial — cada vez mais avançada — é um caminho sem volta. Seria ingênuo pensar que ela não alcançaria o mercado editorial. O desafio agora é encontrar formas de trabalhar com essa ferramenta sem abrir mão de uma tradução autoral.”
Silvia Massimini Felix, tradutora
Leia: Silvia Massimini Felix: “Um caminho sem volta, desafiador e preocupante”
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A guerra de Beatriz Bracher
“A minha questão não era tanto a importância da guerra (do Paraguai), porque ela definiu a relação entre os países do Cone Sul, a questão da navegabilidade do Prata, ou porque depois ela vai apressar a abolição dos escravos e o final da monarquia. A minha questão é saber que houve uma guerra em que muita gente brasileira morreu e muita gente matou. Tentei criar personagens e não consegui (...). Fiz uma colagem feita com a cabeça de ficcionista, por isso eu insisto tanto que se trata de um romance.”
Beatriz Bracher, sobre “Guerra – I: Ofensiva paraguaia e reação aliada novembro de 1864 a março de 1866” (Editora 34), prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional
Leia: A Guerra do Paraguai como você nunca leu
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A língua de Galindo
“Poucas coisas são mais especialmente humanas, pessoais, intransferíveis e ao mesmo tempo coletivas do que a nossa língua. E acho que é justamente nesses tempos de automatização e artificialização da ‘inteligência’ que esses elementos brilham mais forte.”
Caetano Galindo, autor de “Latim em pó” e “Na ponta da língua”
Leia: Uma viagem à língua portuguesa na Flip
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Crônica na rua
“Eu não engulo essa história de que a internet substituiu a rua. Eu gosto do mundo real. Só acredito que conheci, digamos, uma praça depois de ir até lá e passar um tempo em cima dela. Foto e vídeo são ótimos, mas não bastam.”
Fabrício Corsaletti, autor de “Um milhão de ruas” (Editora 34)
Leia: Fabrício Corsaletti lança 'Um milhão de ruas' em Belo Horizonte
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Racismo e desigualdade
“Ao relermos King, podemos inferir o que ele diria hoje. Que fizemos progresso, mas ainda não abordamos questões fundamentais que nos dividem como povo. Não abordamos as raízes do racismo ou a desigualdade econômica que está no cerne de tanta injustiça. Ele diria que não é suficiente acabar com a discriminação e a segregação, que devemos agir com mais determinação para expiar os pecados do passado e ajudar aqueles que continuam sofrendo com a injustiça, a pobreza e a fome.”
Jonathan Eig, biógrafo de Martin Luther King, autor de “King - uma vida” (Companhia das Letras)
Leia: Biografia vencedora do Pulitzer traz virtudes e contradições de Luther King
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A magia do romance
“Os romances, quando chegam a outros idiomas, não apenas se abrem para um novo território, mas também para a possibilidade de outras perspectivas. Conectar-se com esse outro coração, por trás de um olhar alternativo, mas empático, parece-me o ato mais profundo de magia.”
Ave Barrera, escritora mexicana, autora de “Restauração” (Incompleta)
Leia: Escritora mexicana ergue casa com muitos segredos
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Silviano por Barile
“Se tivesse escrito uma biografia convencional trairia completamente o espírito do biografado. Nada mais anti-Silviano do que um livro com um narrador onisciente, todo certinho e dando a impressão de que as coisas se passaram exatamente da quela maneira: a vida é mais confusa.”
João Pombo Barile, autor de “Presente do acaso” (Autêntica)
Leia: João Barile: 'Minas nunca saiu da alma de Silviano Santiago'
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Silviano por Silviano
“A leitura foi dolorida. Me senti um pouco dissecado. Uma cobaia num experimento de vida. Essa foi a minha sensação. E, como cobaia, que é a palavra que estava em dúvida se usaria ou não, a leitura foi dolorida. Foi a primeira vez que senti isso com uma leitura. Um pouco machucado, mas não por causa do livro, entende? É por me ver cobaia. Mas a minha inquietação e a minha curiosidade foram bem contempladas. De repente, percebi que o Barile foi muito feliz ao escolher os versos de Drummond de onde ele tirou o título do livro (“Presente do acaso”).”
“Acho que sou mais do que inquieto. Eu tenho uma curiosidade absoluta. Descobri que essa inquietação, possivelmente, é meu grande valor. E o que me torna também, muitas vezes, uma pessoa de sentimentos pobres. Nesse sentido, confesso que tenho algumas dificuldades de relacionamento porque o Brasil é um país muito sentimental. E as pessoas podem não entender muito bem essa combinação de inquietude, curiosidade e de desprendimento total.”
“Minha escrita literária é mineira. Não porque eu me esforce para pintar, des crever, compreender a complexidade de Minas Gerais. Ainda irrefletidamente, julgo que o ser humano que sou, em particular em minha produção artística, já está nos meus anos mineiros, os da infância e os da formação.”
“Vou escrever até quando for possível. E tem uma coisa que eu faço todo dia e que nunca disse: escrevo, mentalmente, poemas antes de dormir.””
Silviano Santiago, na edição especial “Uma vida em liberdade”
Leia: Silviano Santiago: 'Vou escrever até quando for possível'
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O câncer como trapaça
“A morte pode ser (e é bom que seja, senão fica invivível) um conceito abstrato. Morrer é um verbo, determina uma ação, é um acontecimento do corpo. Não é um dia será. É um pode ser agora. O câncer foi uma espécie de trapaça que o corpo fez a si mesmo. E foi um primeiro vislumbre da minha caveira.”
Anabela Mota Ribeiro, escritora portuguesa, autora de “O quarto do bebê” (Bazar do Tempo)
Leia: As memórias íntimas de Anabela Mota Ribeiro
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Gaza em toda parte
“Nunca vivemos tal horror em tempo real, a destruição de um povo e de um lugar nas nossas telas, a cada minuto, há mais de 20 meses. Gaza é o maior campo de extermínio do nosso tempo.”
Alexandra Lucas Coelho, autora de “Gaza está em toda parte” (Bazar do Tempo)
Leia: Alexandra Lucas Coelho sobre Gaza: 'Campo de extermínio'
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Ódio em toda parte
“A gente tem a impressão de que quando o ódio ou um discurso agressivo é feito contra uma minoria, que ele vai se limitar àquela minoria. Que apenas aquele grupo vai ser o alvo daquela situação. Mas o que a gente descobre, e o que eu descobri nesse ano lá, é que quando você promove o ódio como uma política de Estado, a expressão desse ódio, ou dessa xenofobia, ou desse racismo, ou dessa misoginia, vai surgir em locais absolutamente inesperados, contra todos.”
Jamil Chade, autor de “Tomara que você seja deportado” (Nós)
Leia: Jamil Chade denuncia o avanço autoritário nos EUA em novo livro
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A ficção em nossas vidas
“O papel da ficção é alargar nossa ideia de verdade. A ficção não é a negação da realidade, ao contrário, ela expande os limites da realidade. Não que nos forneça novos dogmas, ou certezas. Ao contrário, ao multiplicar os limites da verdade, ela nos defronta com novas dúvidas e novas incoerências. Se pensarmos honestamente, veremos o quanto de ficção existe em nossas vidas. Não falo das “fake news” – que são apenas uma mani pulação monstruosa e criminosa da verdade. Para além disso, a verdade também está na fantasia, nos devaneios e nos sonhos.”
José Castello, autor de “Devastação” (Dublinense)
Leia: José Castello encara a velhice em "Devastação"
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Modernismo negro
“Lima Barreto é também muito contemporâneo, porque antecipou a necessidade de diálogo entre a literatura brasileira e as formas de saberes das populações negras e indígenas no Brasil.”
Jorge Augusto, autor de “Modernismo negro” (Segundo Selo), vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico na categoria Letras, Linguística e Estudos Literários
Leia: Vencedor do Jabuti Acadêmico traz novo olhar para Lima Barreto
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Modernistas e injustiças
“Os modernistas brasileiros cometeram algumas injustiças absurdas. Porque, para praticamente obrigar as pessoas a acreditarem que eles estavam fundando a literatura brasileira, eles defendem um lugar muito claro em que colocam que antes deles não existia literatura no Brasil, e ela passa a existir depois deles. E com isso, evidentemente, eles matam, ou pelo menos tentam matar, as obras do Lima Barreto e Júlia Lopes de Almeida.”
Luiz Ruffato, autor de “A mão no fogo: Notas à margem da história da literatura brasileira” (Autêntica)
Leia: Luiz Ruffato põe 'A mão no fogo' por autores brasileiros
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Dalton Trevisan, 100 anos
“Dalton Trevisan decidiu usar a máscara como escudo. Minha interpretação é que fez isso porque escrevia de forma muito visceral e muito confessional. Acho que as pessoas não se dão conta disso. Dalton não era simplesmente um espião pelas ruas, pelos ermos de Curitiba: ele falava muito de si próprio, das relações familiares – e eu não me refiro aqui à “guerra conjugal”, simplesmente, seria uma ilação muito fácil; mas a família, o conflito familiar, essa história bíblica tão antiga (e Dalton era um leitor particularmente arguto da Bíblia, embora fosse ateu), essa exploração tão profunda da matéria-prima mais íntima da sua literatura podia acontecer e passar um pouco ao largo, enquanto as pessoas prestavam atenção na lenda do vampiro. Dessa forma, ele conseguia se livrar de ser pressionado a entregar alguns segredos da obra. O problema é que, ao alimentar o mito, acabou perseguido por ele.”
Christian Schwartz, biógrafo de Dalton Trevisan, na edição especial “O beijo na faca”, em homenagem ao centenário do escritor curitibano
Leia: Diários de Trevisan revelam autor metódico e leitor obsessivo
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Raízes e frutos do barroco
“O barroco deixou raízes fortes, que até hoje dão frutos em Minas. Precisamos identificar não só os artistas do período colonial, mas aqueles que agora levam à frente esse gesto tão mineiro. O Aleijadinho é a figura central do barroco luso-brasileiro, como disse Germain Bazin, mas é preciso ampliar a mirada e reconhecer mestres que fixaram marcas impressionantes.”
Angelo Oswaldo, autor de “Geraes: Arte Barroca em Minas” (Relicário)
Leia: Livro reúne reflexões de Angelo Oswaldo sobre a arte barroca
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Realismo mágico e grotesco
“O realismo mágico está presente no tutano dos ossos de minha escrita e também deste romance, só que não se apresenta convencionalmente; é um realismo mágico deteriorado, grotesco por momentos, obscuro como a alma das personagens que habitam a história.”
Elaine Madruga, escritora cubana, autora de “O céu da selva” (Instante)
Leia: Elaine Vilar Madruga mescla realismo mágico e horror em 'O céu da selva'
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O caos como arma
“Nós estamos entrando num momento da história em que parece que as democracias estão ficando em minoria, e já não respondem às ambições das pessoas, de emprego, de uma boa vida. Tudo o que foi prometido não foi dado. E agora, as pessoas vão tentar seguir aqueles que têm uma posição de ruptura com o sistema. Vocês (brasileiros) também viveram isso, não é? E no fundo é o caos. E essa é a nova arma dos que querem o poder.”
Joaquim Arena, escritor cabo-verdiano, autor de “Debaixo da nossa pele” (Gryphus)
Leia: Joaquim Arena: 'Os portugueses têm sangue negro'
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Sobre “Orbital”
“Ciente da beleza trágica do olhar de quem só observa, ‘Orbital’ é também uma excelente descrição do que foi o mundo durante a pandemia de covid, para os que tiveram, claro, o luxo de ficar em casa. Todo aquele tempo vivido apenas olhando pelas janelas ou pelas "janelas" das telas, enquanto o planeta parecia seguir sua trajetória implacável, suas estações do ano, indiferente à nossa presença.”
Schneider Carpeggiani, na resenha de “Orbital” (DBA), de Samantha Harvey
Leia: Vencedor do Booker Prize, romance 'Orbital' é lançado no Brasil
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Mulheres e homens
“Durante muito tempo, as mulheres foram escritas pelos homens. Personagens femininas só falavam o que os homens queriam que elas dissessem, para bem e para o mal. Isso me incomodava como leitora. A literatura escrita por homem sempre foi considerada universal, que retrata problemas universais. E a escrita por mulheres foi considerada do universo do particular.”
Dia Bárbara Nobre, autora de “Boca do mundo” (Companhia das Letras)
Leia: As mulheres e a fé na escrita de Dia Bárbara Nobre
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Adão em três vertentes
“Em seis livros (acrescidos de uma reedição ampliada e uma antologia póstuma, com alguns poemas inéditos), Adão Ventura construiu uma obra múltipla e aberta, a partir de três vertentes: a primeira, mais experimental, dialogando com as vanguardas do século passado; a segunda, uma face engajada com as questões sociais e raciais; e uma terceira, em que expressa uma visão lírica das manifestações do sagrado em Minas.”
Fabrício Marques, sobre “A cor da pele: poesia reunida de Adão Ventura” (Círculo de Poemas)
Leia: Negritude, poética e experimentos de Adão Ventura
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Capitalismo gore
“Com linguagem objetiva e embasamento crítico, a autora examina a faceta mais brutal do capitalismo, na qual o corpo se torna uma mercadoria absoluta e rentável e a violência, um meio de saciar as demandas tanto do hiperconsumismo quanto do entretenimento global. Define as práticas de morte associadas à produção de capital como “gore”, um termo cinematográfico que se refere ao conteúdo visual saturado de violência explícita e extrema, com sangue, mutilações e outras cenas chocantes.”
Maria Fernanda Vomero, sobre “Capitalismo gore” (Sobinfluência edições)
Leia: Filósofa mexicana: imagens de violência se tornaram objetos de consumo
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A ‘redução’ do Nordeste
“Estamos falando de um ‘enlatamento’ do Nordeste. Eu acho que essa redução é proposital. Na hora que você reduz o Nordeste a uma coisa só, você reduz a região, você reduz a população e você reduz a complexidade dos problemas também, né? Isso diminui a força política. Ao reduzir, você diminui a força cultural, política, social e econômica.”
Otávio Santiago, autor de “Só sei que foi assim: a trama do preconceito contra o povo do Nordeste” (Autêntica)
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