UMA VIDA EM LIBERDADE

Silviano Santiago: 'Vou escrever até quando for possível'

Intelectual recebe o Estado de Minas em seu apartamento em Copacabana para entrevista exclusiva e conta como reagiu à leitura de 'Presente do acaso'

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Rio – Silviano Santiago tomou uma decisão que deve ter assustado João Barile no início do trabalho para “Presente do acaso”. “Como eu queria que não fosse simplesmente uma coleção de entrevistas ou minha versão da minha própria vida, discuti muito com ele, que pôs isso no livro: Eu só começaria a falar quando sentisse que ele se constituía como narrador”, lembra o intelectual mineiro, que recebeu o Estado de Minas em seu apartamento em Copacabana, “perto/distante da praia e da estátua de Drummond, paciente e eterno, que também amo com a sensação de pertencimento à família mineira das Letras”, como afirma em e-mail enviado a Barile e reproduzido na última página do ensaio biográfico com lançamento neste sábado (8/11) na Academia Mineira de Letras.

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Silviano, 89 anos, vive sozinho no Rio de Janeiro. Solidão? Que nada. Há releituras a fazer, hipóteses a testar, neurônios fervilhando de ideias até a concretude das palavras. Escreve todas as manhãs, “com ou sem engenho”, como recomendou Stendhal. À noite, pouco antes de dormir, faz poemas sem anotar um verso sequer. E, nos últimos meses, tem ocupado o tempo com o estabelecimento de conexões entre as obras de escritores de diferentes séculos e continentes. “A minha grande originalidade no Brasil é olhar para o passado”, analisa, antes de detalhar – com vivacidade contagiante – como enxergou diálogos entre escritos de Machado de Assis em romances, artigos e crônicas e o passado escravagista do país. “O espírito inquieto é físico, noturno, e é também mental, diurno”, define.

A menos de duzentos metros do mar, Silviano escreve com as montanhas na cabeça. “Minha escrita literária é mineira. Não porque eu me esforce para pintar, descrever, compreender a complexidade de Minas Gerais. Ainda irrefletidamente, julgo que o ser humano que sou, em particular em minha produção artística, já está nos meus anos mineiros, os da infância e os da formação”, afirma, referindo-se aos tempos na cidade natal, Formiga, e de juventude, em Belo Horizonte.

Silviano reconhece que revisitou diversas fases da vida com a leitura de “Presente do acaso”. Algumas delas, envolvendo a família e a vida no exterior, são particularmente doloridas: “Me senti meio dissecado”. Elogia o trabalho do jornalista. “Barile é um excelente pesquisador. Trouxe coisas totalmente inesperadas”, conta, referindo-se a descobertas relativas aos pais e avós do biografado e a achados como um livro inédito de poesias escrito quando o autor tinha 35 anos, a ser publicado em 2026.

Outras descobertas importantes vieram de seis caixas “cheias de um tudo”: cartas pessoais, documentos oficiais, contratos, bilhetes. Por causa da “vida de nômade” até a pandemia, Silviano não teve tempo de organizar os papéis avulsos que guardou ao longo das décadas. Barile foi o primeiro a ter acesso a esse material. Encontrou preciosidades, como a correspondência do autor não apenas com os amigos Ezequiel Neves (1935-2010) e Hélio Oiticica (1937-1980), mas com Haroldo de Campos (1929-2003), Abdias do Nascimento (1914-2011), Florestan Fernandes (1920-1995) e outros notáveis missivistas. “O concreto da carta corrói e explode o sentimental da lembrança. Traz a autocrítica”, reflete.

Após análise do material arquivado e realização de diversas sessões de entrevistas, Silviano conta que Barile conseguiu o que foi desafiado a fazer. “Ele se tornou narrador porque tem um estilo que não é nem de longe o meu. Desenvolve as coisas de uma maneira muito diferente: leve, agradável, discursiva. Eu tendo a ser mais complicado. No sentido de complicar como o do verbo “dobrar”: muitas dobras”, compara.

Leia a entrevista de Silviano Santiago ao Estado de Minas realizada no apartamento do escritor e complementada por e-mail: palavras faladas, palavras escritas. Palavras preciosas de um intelectual desafiado pelo emaranhado de suas origens, intérprete das contradições de seu país e das cicatrizes de seu continente. Um pensador que fez da autonomia das ideias e do pleno exercício da ficção a sua trincheira de liberdade. “Escrever me dá enorme prazer. E vou escrever até quando for possível”, avisa.

João Barile o define no livro como dotado de um “espírito inquieto”. De onde vem essa inquietude? Ao longo das décadas, a inquietude arrefeceu ou se acentuou?
O espírito inquieto é físico, noturno, e é também mental, diurno. Se se admite a convivência em aberto das duas formas de inquietação, acrescento que a inquietação noturna foi a primeira a se manifestar. Uma espécie de desorientação do corpo adormecido de órfão. Deitado em cama estreita, o corpo se excitava e levava um tombo no assoalho. Com o correr dos anos, o corpo inquieto se explicita também durante o dia. Perambulo pelas ruas de Formiga e subo a colina onde fica a estação da estrada de ferro. Gosto de ver as locomotivas que chegam e partem. No escuro do cinema, o espírito inquieto se alimenta por representações não-realistas da cidade, como as histórias de gibi e as tramas dos filmes sobre a Segunda Guerra. Algo semelhante ao que se dá no poema “Infância”, de Drummond. Ele lê em quadrinhos a história do marinheiro Robinson Crusoé. Naufragado, reconstrói o mundo numa ilha deserta. No limite, a inquietação física me leva, por exemplo, a sucessivas trapalhadas (e quantas foram!), que me resgatavam do poder exercido pela razão sobre o meu viver metódico. A inquietação é o prelúdio de atitude secretas de coragem no cotidiano. Também no limite, a inquietação mental me leva à curiosidade pela trivia, a beirar o kitsch de sociedade de consumo. Sei detalhes sobre as coisas mais inúteis do planeta.

Você menciona a importância dos Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) nos anos 1950. Em algum momento o cinema foi mais importante do que a literatura? Poderia citar alguns filmes que ampliaram a sua visão de mundo ou que marcaram a sua vida?
A literatura, ou o acesso ao saber pela palavra, me chega tardiamente. Por volta dos quinze anos. Desde a mais tenra idade as inquietações se abasteciam com o acesso ao saber pela imagem. As imagens de gibi e dos filmes de guerra e dos musicais. No início, tratava-se de um prazer subjetivo, sem aparente significado na vida cotidiana. Numa província mineira, acumulava informações planetárias sobre guerra, música popular e dança (a contradição entre as partes é mesmo louca e nos chega de Hollywood). Humphrey Bogart se mistura com Tommy Dorsey e o Bando da Lua e flerta com Betty Gable e Carmen Miranda. Jackson do Pandeiro dava o recado. Chicletes com bananas. O prazer pela imagem se torna gosto e uma forma de saber do momento em que entro para o CEC e me interesso por uma arte em que é importante o conhecimento da “teoria estética” (em especial a questão da montagem). Faço, então, um pedido ao amigo Jacques do Prado. Que me indique alguns “livros” indispensáveis ao conhecimento da literatura. O acesso ao saber pela palavra me levou a perceber os limites do saber pela imagem. Já tendo uma visão menos ingênua de cinema e de literatura, os filmes servem para me virar a cabeça literária. Entre os brasileiros, “Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber, e entre os estrangeiros, os filmes de Michelangelo Antonioni.

Você já afirmou que se interessa bastante pelo estudo de correspondência, como a de Mário de Andrade. E, na sua própria correspondência, lida e analisada por Barile, o que mais o surpreendeu?
Tive vida de nômade até a pandemia. Corria de um lado para o outro e sempre trabalhei bastante. Nunca tive tempo para organizar os meus papeis. Tenho seis caixas enormes cheias de um tudo. Cartas pessoais, documentos oficiais, contratos, bilhetes, etc. Sempre preparei as aulas, tenho também muitas anotações didáticas. Essa papelada está solta ou arquivada em pastas. O Barile foi o primeiro a ter acesso à esse material informe, sem organização. Ele começou a selecionar as cartas que tinham interesse para a biografia.

Fotografava-as e me enviava. Não as relia, lia-as como se fosse a primeira vez. Confesso: sempre me assusto na hora da leitura de velhas cartas. Uma das razões para o susto é simples. A carta – por ser algo escrito à distância do destinatário, no caso este “eu” – é mais forte que as lembranças que guardo do que lá está narrado. O susto vira riso ou tristeza. Nas cartas do Ezequiel Neves, por exemplo, descobri como eu vivo fora do planeta em que ele vive. Não parece carta de amigo. As lembranças subjetivas focam o remetente e não tocam com tanta força o ambiente (familiar, político, social, etc. que ele vive. Mais e mais e mais vou-me dando conta de que deixei de viver lá, onde ele vivia, e de que eu realmente vivia cá, distante dele. Aparecem então conexões entre o lá e o cá que, sendo inconscientes na lembrança, são muito fortes e significativas na letra escrita da carta. O concreto da carta corrói e explode o sentimental da lembrança. Traz a autocrítica.

Por que afirma a Barile que o acaso contou muito em sua trajetória?
O Acaso desenha o futuro do ser nômade. O Acaso afasta o medo de viver, constituindo no lugar a incerteza que incita a coragem de viver. Por mais que você programe mentalmente o futuro, nunca saberá o que vai acontecer. De repente, em 1962, deixo os estudos em Paris para ensinar na roça americana, em Albuquerque, Novo México. Mal tinha me enturmado na cidade-luz, volto ao Novo Mundo dos indígenas e dos chicanos. Nem imaginava que existissem. De sobra, a misteriosa Los Alamos estava instalada na meseta ao lado de Albuquerque. Lá, tinha se desenrolado a invenção mais atroz da humanidade, a bomba atômica, que já conhecia dos gibis e filmes de guerra. Só uma canção da Maysa explica o que eu senti: meu mundo “aufklärung” caiu. E sigo a canção: “Se meu mundo caiu / Eu que aprenda a levantar”. A vida do nômade é engendrada por essa estranha mecânica arcaica do Acaso e, no entanto, sempre presente e futurística. Piso nas terras dos índios Tarahumaras, que Antonin Artaud pisou, e, trinta anos depois, me preparo para escrever o romance “Viagem ao México”. Nem poderia imaginar que, no século 21, estaria sendo surpreendido com os ensaios de Aby Warburg. Eles associam o ritual da serpente entre os índios Pueblo, de Taos, onde pisei em 62, com a escultura grega de Laocoonte e Seus filhos, descoberta na Renascença.

"Tenho algumas dificuldades de relacionamento porque o Brasil é um país muito sentimental. E as pessoas podem não entender muito bem essa combinação de inquietude, curiosidade e de desprendimento total"

Silviano Santiago

Podemos considerar “Heranças” e “Uma história de família” como os seus livros que mais refletem a sua vivência e observações de Minas e de BH? Por quê?
Irrefletidamente, julgo que tudo o que escrevi, isto é, que a minha escrita literária é mineira. Não porque eu me esforce para pintar, descrever, compreender, etc. a complexidade de Minas Gerais. Ainda irrefletidamente, julgo que o ser humano que sou – em particular em minha produção artística – já está nos meus anos mineiros, os da infância e os da formação. A imaginação criativa está sempre a fervilhar e a cozinhar aqueles dois “ovos”. Lembro-me de Sartre, a gente padece a infância e a juventude como pega o vírus da varíola. O corpo muda, mas a marca na pele da varíola permanece a mesma para todo o sempre. Pode-se então compreender o jovem Machado a dizer que o Hamlet, de Shakespeare, é tão britânico quanto o rei Ricardo III. O Corão não precisa ter camelo – anotaria Borges décadas depois de Machado – para ser um livro legitimamente muçulmano.

Poderia explicar o que significa a sensação de “pertencimento à família mineira das Letras”?
A infância e os anos de formação são dois ácidos corrosivos e dois aços construtivistas, ao mesmo tempo. A poesia de Drummond é um bom exemplo da simultaneidade. Ela navega em direção a um “começo” que nega Minas Gerais. A atitude de Robinson Crusoé diante da realidade é tipicamente iluminista (Rousseau) e termina por querer dinamitar a ilha de Manhattan. As coisas recomeçam do zero. Ela também navega em direção à “origem” absoluta e inexpugnável do ser humano mineiro, os valores sociais e religiosos eternos, da família patriarcal ocidental. Esse trabalho com a dupla e contraditória responsabilidade do ser mineiro, pelo começo e pela origem do mundo, já assinalado por Joaquim Nabuco no capítulo “Atração do mundo”, do livro “Minha formação”, é uma das grandes qualidades da “diferença” mineira na Literatura brasileira que visa ao universal. Essa diferença já está em Cláudio Manoel da Costa, um árcade, e em Aleijadinho, um autodidata.

Silviano em três tempos: em ensaio feito por Hélio Oiticica na década de 1970, em 1961, no lançamento do primeiro livro,
Silviano em três tempos: em ensaio feito por Hélio Oiticica na década de 1970, em 1961, no lançamento do primeiro livro, "Duas faces"; (no alto), e nos anos 1950, na revista Complemento Reprodução/Presente do Acaso

Que Minas são muitas, já sabemos. Mas, em “Presente do acaso”, você afirma ter percebido, em determinado momento da vida, que há uma Minas que não é muito falada nem documentada, e que você tentou registrar, a dos imigrantes.
É a da minha família.

Então pode-se dizer, fazendo uma blague, que o ‘menino sem passado’ (título do livro de memórias de Silviano) agora é um menino com passado, ou pelo menos, com passado documentado?
Que está documentado, sim. Com passado, não. Porque ainda é um passado que não é dele. A árvore genealógica é feita de enxertos.

O livro trouxe revelações familiares até para você?
Todas. Uma das coisas que eu descobri, e não fazia ideia, é que parece que eu era um menino muito obediente. Extremamente obediente ao papai. Era o relações-públicas da família. Posso dizer inclusive que, depois do livro, conheço melhor a própria família Santiago.

Por que você afirma que deseja repensar o período colonial brasileiro? O que falta?
Tudo. A nossa história oficial e a nossa história escolar começam no século XVI. Este também o momento em que se cria um sistema nacional. E esse nacionalismo é inventado como cópia da Europa. É o que eu chamo, pessoalmente, de eurocentrismo. Há uma decisão que aquele país será eurocêntrico. E o que significa ser eurocêntrico? Descartar duas etnias que, ao menos, foram constitutivas do período colonial, que são os povos originários e os povos diaspóricos.

E Minas?
Minas é uma combinação de povos originários e povos diaspóricos. Não teria existido uma sociedade tão rica quanto a mineira, que teve começo, auge e decadência, sem essas três forças. Agora, tudo sem o famoso contrato de Rousseau. Não há contrato social. Não existe.

Então a história de Minas já começa amputada?
Totalmente. Agora, diante disso, não é também para descartar a escola mineira. Daí eu usar “incorporar”. No sentido de incorporar forças. Quer dizer, repensar como isso se dá. Não é substituir. Não é ser contra a Europa, mas contra a hegemonia europeia na nossa colonização. O centramento. Fica mais nítido o centramento que inicia, da maneira que nós conhecemos o Brasil, com (Marquês de) Pombal. Não é à toa que a importância de Pombal é tão grande. Agora, quando você pensa em Pombal, o que foi Minas? Minas foi simplesmente... A economia mineira é que resolveu o grave problema de Portugal depois do terremoto. E quando isso termina, que é mais ou menos em 1812, com a decadência do ouro, surge o engenheiro para a exploração do mineral. E aí, de novo, a mesma história: o mineral nunca é trabalhado no Brasil. É sempre exportado enquanto tal.

É a exploração em diversos sentidos?
Isso. Estamos falando de exploração. Essa história não é contada por que a gente prefere sempre inventar uma versão oficial. Quer dizer, a própria ideia do quadriculado das cidades mineiras é muito menos colonial e totalmente engenheira. Belo Horizonte é isso: é de engenheiro. Brasília é isso: são arquitetos.

Você ocupa, desde 2021, a cadeira de número 13 da Academia Mineira de Letras. Por que não tenta a ABL?
Digo sempre que é uma questão de foro íntimo. E é verdade. Detectei que perderia uma certa graça que tenho da transgressão. Meu espírito acadêmico é muito inquieto. E, para mim, a Academia é um clube inglês… no fundo, uma academia é um clube inglês. Sou uma pessoa muito trabalhadora. Por vontade ou sem vontade própria, eu perderia muito tempo dentro de uma máquina rica, complexa e fascinante como a Academia Brasileira de Letras.

A inquietude mencionada por Barile como uma de suas mais marcantes características continua até hoje?
Continua. Mas eu acho que sou mais do que inquieto. Eu tenho uma curiosidade absoluta. E essa curiosidade, inclusive, fez um amigo, Felipe Fortuna, que nasceu e viveu no Rio, dizer que é coisa de gente do interior. Porque se você nasce no Rio, não precisa ter tanta curiosidade. Tem toda a informação ali.

Silviano Santiago em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro
Silviano Santiago em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro Carlos Marcelo/EM

Você morou em Formiga, Belo Horizonte, Paris, Toronto, diversas cidades norte-americanas por causa da atividade acadêmica antes de se fixar no Rio de Janeiro. Como essas constantes mudanças o impactaram?
Esse desapego à estabilidade é uma coisa que foi constituída organicamente em mim. Trabalhar dois anos numa cidade que você não conhece, fazer amigos, companheiros na universidade, colegas etc, e depois sair para outro lugar e fazer isso de novo e mais uma vez... Tenho uma inquietação que foi muito bem contemplada. Descobri que essa inquietação, possivelmente, é meu grande valor. E o que me torna também, muitas vezes, uma pessoa de sentimentos pobres.

Como assim?
Sou capaz de ligações muito fortes, me separar (da mesma maneira) e continuar.

Fica tudo para trás?
Não fica para trás. Passa a existir na minha memória. Tenho uma boa memória, devo dizer, até para a minha idade. Fica como memória, mas não como sofrimento. Uma vida aventureira. É muito estranho. Nesse sentido, confesso que tenho algumas dificuldades de relacionamento porque o Brasil é um país muito sentimental. E as pessoas podem não entender muito bem essa combinação de inquietude, curiosidade e de desprendimento total.

Isso ocorre inclusive com as pessoas de seu círculo de afetos?
E elas não entendem isso. Talvez elas deem mais afeto do que eu devolvo. Eu me distancio. Não é que elas ficam para trás, mas ficam mais distantes. Só que não as esqueço, pelo contrário. O Barile mesmo percebeu isso a quantidade de cartas que eu tenho (de pedidos) e que eu atendo. Atendo tudo, mas isso não quer dizer que o relacionamento foi reanimado. Existe, como resquício, traço da minha personalidade. É um pouco isso mesmo: uma inquietação que mistura com desprendimento.

É como se você, na verdade, estivesse sempre olhando para a frente?
É gozado que eu estou sempre olhando pra frente, mas a minha grande originalidade no Brasil é olhar para o passado. Por incrível que pareça, é uma contradição porque eu fui o primeiro a falar do período colonial de uma maneira substantiva. Claro que não sou o primeiro a trabalhar o período colonial. Mas, de uma maneira substantiva e moderna, sou o primeiro. Você pega o “Entre-lugar” (“O entre-lugar do discurso latino-americano”, um dos ensaios mais célebres do autor): quando penso que o “Entre-lugar” é de 1971 e começa exatamente com a descoberta, quer dizer, com o Brasil sendo colonizado, você vê que não era normal. E isso em sala de aula, em 1962, eu já dei a carta de Pero Vaz de Caminha como parte (da aula). Porque, para mim, a literatura é menos um sistema. Em países periféricos, a literatura é menos um sistema e mais uma linguagem. Essa linguagem que, obviamente, é imposta através de dois códigos: o código linguístico e o religioso. O português e o catolicismo. O império e a fé.

E o que inquieta hoje?
Uma das coisas que me inquietam no momento, e preciso dizer que não é por querer, é o meu conhecimento um tanto pobre da produção atual brasileira. Isso não só inquieta, também me deixa chateado. Já não tenho mais o tempo que eu tinha. Aí decidi por um projeto totalmente louco, que seria o último projeto da minha vida, escrito na forma de folhetos, porque eu não tinha um livro organizado na cabeça. É um livro que tem de ter 400, 500 páginas. Ou menos porque posso morrer antes (risos). Eu não posso esperar juntar, não faria sentido, aí eu não deixaria nada ou uma obra incompleta. Vou escrever até quando for possível. E é isso que estou fazendo. Saiu o primeiro caderno (“O grande relógio: A que hora o mundo recomeça – Caderno em andamento 1”, publicado pela editora Nós em 2024 e premiado pela Biblioteca Nacional no início da semana).

Este caderno é um resultado concreto da sua inquietude? Um acerto de contas com o passado?
Sim, mas não com o meu passado. Com o que quero narrar, que é contar exatamente como o nosso século 21 já está escrito em Machado de Assis. E já estava escrito em Proust. Primeiro preciso prepará-lo porque tem uma leitura sociológica. Eu estou tentando fazer uma leitura dos últimos cinco romances que são escritos na primeira pessoa, todos por velhos que saem em busca do tempo perdido. Claro que não da maneira proustiana; não é disso que se trata. Me interessa que eles estão narrando questões que a sociologia e a história passam por cima. Em particular, o Brasil imperial e, em segundo lugar, a questão escravagista.

Por que o interessa o que Machado de Assis escreveu no fim da vida e não o jovem?
Porque é uma preocupação minha essa inquietação sobre a velhice, quando você perde as forças, etc. Assim vieram “Cheiro forte” (1995) e “De cócoras” (1999). Esses livros vêm de uma inquietação sobre a velhice. Em “Cheiro forte”, é evidente porque tanto pode ser perfume como fedor. A morte, por assim dizer, tem uma essência (risos).


São as narrativas que se dramatizam pelo corpo?
Sim. É o que eu chamo de fisiologia da composição. No caso de Graciliano (“Em liberdade”), é a relação corpo-prisão; no caso de Artaud, corpo-drogas (“Viagem ao México”). Machado de Assis (“Machado”), corpo-doença física. É sempre o corpo que vai envelhecendo.

E como está a relação com o seu corpo?
Sempre fui um pouco desregrado, mas nunca tive uma vida tão saudável como agora. Tenho horários fixos para pilates e outros exercícios físicos. Obviamente, tenho limitações (imposta pela idade avançada) que procuro derrubar, só que não tenho mais força para derrubá-las. Ao mesmo tempo, acho que tem uma coisa muito importante que estou conseguindo resguardar: o prazer. Mas o meu prazer está muito transferido para a escrita. Escrevo todas as manhãs. Trabalho muito e minha produção aumentou porque antes eu fazia muita coisa ao mesmo tempo. Agora, não. Escrever me dá enorme prazer: é a única coisa. Talvez até mais do que escrever, hoje meu prazer é quando descubro que uma hipótese minha não é só intuição, é real.

Quase uma descoberta científica?
Totalmente. Tudo o que eu faço é experimento. Colocar Machado em estado de laboratório (risos). Quando vejo tudo se encaixando, fazendo sentido... É quase uma luxúria do corpo e espírito quando percebo ser verdadeira uma intuição. Vou dar um exemplo dos mais fortes: Machado de Assis não tem nada a ver com o esquema de “Madame Bovary”. O triângulo sexual e amoroso de Machado não é o de Flaubert. É da sinceridade. Porque na melhor narrativa dele, a primeira que me interessa, o narrador não é o marido nem a mulher: é o amante. E, no entanto, Machado dá um upgrade maravilhoso (nos amantes na literatura) porque não existe narrador mais inteligente na literatura brasileira do que Brás Cubas. Virgília é uma mulher de coragem extraordinária, não só é sincera com o marido mas com o amante e leva isso numa boa. Quando vi que isso tudo fechava e que eu consegui conectar... Me traz um grande prazer escrever isso. Dentro desses emaranhados, estou percebendo relações estreitas entre coisas que Machado escreve em diferentes fases da vida. Agora, na minha cabeça é fácil, mas tenho que passar para o leitor esse raciocínio sem que pareça falso. E tenho de me valer de citações. Eu não tenho ninguém, trabalho sozinho. Não é fácil na minha idade.


Machado é o maior na nossa literatura?
Aí, não. Temos Guimarães Rosa, Drummond e o próprio Mário de Andrade, à maneira dele, não convencional, porque é um intelectual mais do que escritor. Mas, na prosa, são dois: Machado e Guimarães Rosa.

Você tem sido mais um escritor-crítico ou um crítico-escritor?
Nessa fase da vida, estou sendo mais um crítico-escritor. É muito difícil escrever ficção depois dos oitenta.

Por quê?
Porque a imaginação é uma das coisas que a gente perde. Perde força nas pernas e imaginação na cabeça (risos).

Então podemos dizer que “Machado” (Prêmio Jabuti de melhor romance de 2017) talvez tenha sido a sua última ficção...
Provavelmente. Tenho ficções que eu quero trabalhar, mas fico no primeiro capítulo (risos). Como o próprio livro que estou escrevendo: está na minha cabeça, mas não está escrito. Então o crítico-escritor tem mais fôlego, isso se eu continuar com a memória que eu tenho. Ainda estou com a memória e a capacidade de raciocínio bastante razoáveis para a minha idade.

O seu plano é seguir fazendo esses cadernos?
O meu plano atual é esse. Agora tem uma coisa que eu faço todo dia e que eu nunca disse: eu escrevo poemas antes de dormir. Mentalmente. Porque acho que tenho de guardar a verve poética. Então fico fazendo poemas, corrijo, faço outra versão...

Não anota?
Faço questão de não anotar.

Você termina o poema?
Não sei se eu termino. Vou pensando poemas. Sobre uma coisa do cotidiano que me interessou, ou negócio de ciúme, por exemplo, tento descrever essa situação. Forma totalmente livre. Escrevo e corrijo mentalmente.

Você reescreve livros já publicados?
Não! Sobretudo ensaio, que é reflexo da época. Se não perde a graça. Eu vou voltar no “Viagem ao México” (1995), porque escrevi na década de 90 fazendo muitas coisas: correspondência de Mário de Andrade, dando aulas, orientando teses, viajando... Achei aquele livro um pouco sujo.

Como foi a sua reação à leitura de “Presente do acaso”?
Tentei adiá-la (a leitura) o máximo possível. Só fui ler o livro quando já estava inclusive diagramado. Pontuei algumas coisas de datas, mas muito poucas. Fiz uma leitura objetiva.

E do ponto de vista subjetivo?
Eu me senti cobaia num experimento de vida. Essa foi a minha sensação. E, como cobaia, que é a palavra que estava em dúvida se usaria ou não, a leitura foi dolorida. Foi a primeira vez que senti isso com uma leitura. Um pouco machucado, mas não por causa do livro, entende? É por me ver cobaia. Como um ratinho de Pavlov que sofre o choque elétrico. É instantâneo, mas não é mortal. Sabe aqueles outros ratinhos de “A causa secreta”, o conto de Machado? Me senti meio dissecado. E percebi que a grande dor é a do ‘não’ que a gente recebe (durante a vida). O problema é transformar essa dor em felicidade, porque a dor é como uma bola que bate na parede: ela volta (risos). Mas é preciso superar o ressentimento. Os momentos mais doloridos eu detecto (no livro) porque vivi na pele. Trouxeram à tona a dor que eu sentia, mas que fui conseguindo transformar. Por isso, falei que a minha inquietação e a minha curiosidade foram bem contempladas. De repente, percebi que o Barile foi muito feliz ao escolher os versos de Drummond de onde ele tirou o título do livro:

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

Porque a superação da dor dependeu muito de uma noção muito forte que tenho da necessidade de viver. E de sobreviver.


Diante do espelho

A pedido do Pensar, Silviano Santiago comenta alguns dos livros mais marcantes de sua obra


“Em liberdade” (1981)
“É o livro que o poeta Antonio Nogueira idealiza quando lê pela primeira vez o argentino Borges e começa a trabalhar, como parte da tese de doutorado que irá defender, o manuscrito de Os moedeiros falsos, de André Gide. Por ser brasileiro, me faltava a coragem para escrever-Graciliano. Ganhei-a assistindo a peça de Tom Stoppard em que Joyce, Tzara e Lenin se encontram em Trieste no ano de 1917.”


“Stella Manhattan” (1985)
“Depois de ler o romance ‘A fúria do corpo’, de escritor mais novo, João Gilberto Noll, e de escrever a resenha elogiosa do romance, eu me disse que Stella, que sobreviveu “acéfala” (como diz Bataille) em Manhattan, tinha de mostrar a cara em 1969. Antes, tive de roubar a epígrafe de Kafka: “Deus não quer que eu escreva, mas sei que devo escrever”. E essa outra de Gaston Bachelard: “O homem é uma criação do desejo e não da necessidade”.


“Mil rosas roubadas” (2014)
“Desenvolvimento de duas frases que sublinhei no romance ‘As brasas’, de Sandor Marai: “Sobreviver a uma pessoa que amamos tanto, a ponto de nos dispormos a matar por ela, [...] é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida. O código penal não o menciona”. Se o código penal não prevê pena para o crime misterioso e inqualificável da vida, cabe à literatura e às artes torná-lo artigo de lei. De nada adianta o leitor se precaver dessa terrível sentença da vida. Ela acontece, ou não.”


“Machado” (2016)
“Machado morreu e eu nasci no dia 29 de setembro. Ao ser levado a associar o túmulo de um ao parto do outro era o Acaso que jogava os dados de Mallarmé. Entrei no jogo e escrevi o “retrato do artista quando velho”.


“Menino sem passado:
1936-1948” (2021)
“Que falta faz, ou não faz, uma árvore genealógica numa sociedade patriarcal como a nossa. Escuto Drummond ao pé da amendoeira: “Outoniza-te com dignidade, meu velho”.

“Tantos rostos e uma ternura calma dentro de si”

Na revista “Complemento”, que circulou em BH nos anos 1950, Ezequiel Neves (1935-2010) traçou o perfil biográfico do amigo Silviano Santiago. “O texto, garante Silviano, é até hoje o melhor retrato escrito sobre ele”, afirma João Barile, em “Presente do acaso”.

Ezequiel Neves

“Diante de pessoas como Silviano Santiago nunca poderíamos abandonar-nos a uma detalhada apresentação. Ou melhor, tantos e tão vários são seus rostos que ao nos demorarmos sobre um, os outros escapariam de nosso alcance. Que poderíamos, então, dizer deste rapaz? Que é exteriormente insensível, mas que tem dentro de si aquela ternura calma que envolve a tristeza simples de todas as coisas? Se disséssemos isto não estaríamos mentindo; apenas traçando este estreito retrato é que nada ou quase nada estaríamos esclarecendo àqueles que o desconhecem. Assim nos restringiremos a uma reta biografia como todas. Nascido na cidade de Formiga, em 1936, transferiu-se com sua família para esta Capital, já com a idade de dez anos. O ginásio foi concluído no Colégio Estadual, e aí mesmo frequentou, durante dois anos seguidos, o primeiro científico com fracasso, deslocando-se em seguida para o curso clássico do Colégio Marconi. Neste meio tempo entrou para o CEC (foi nesta época que o conhecemos já usando uns óculos que se incorporaram a ele), onde se revelou dono de um perfeito juízo nos assuntos de cinema. Assinou excelentes críticas e ensaios sobre a sétima arte, não esquecendo, contudo, a literatura. Publicou mesmo um pequeno conto e escrevia poemas que escondia egoisticamente. Em 1955, à guisa de exercício, alguns contos foram escritos por ele e logo publicados. Também neste ano o seu livro de poemas foi terminado. Podemos adiantar: são poemas que somente um ‘poeta maior’ poderia ter dado. Não desejamos estender mais estas palavras, e o melhor seria virarmos as costas ao orgulho para reconhecer que Silviano está muito acima de nós todos. (Dados fornecidos.) Admira Fernando Pessoa e Rimbaud. Lê constantemente João Cabral de Melo Neto. Há pouco travou amizade com ‘A luta corporal’ de Ferreira Gullar. Dos mineiros, resta leitor contínuo do ‘Vocabulário noturno’, de Jacques do Prado Brandão. Amigos íntimos: Ezequiel e João Mauricio.”

Trechos do livro

Intruso

“Não sabia que minha prisão motivou o Silviano a escrever ‘Em liberdade’. Fiquei sabendo só naquele dia. Da última vez que o senhor esteve aqui.”


A frase, logo no início da conversa, me deixou desconcertado. Me senti um intruso. Depois de quase dois anos fuçando a história da família Santiago, lá estava eu: na frente de Haroldo, irmão mais novo de Silviano. Bisbilhotando sua intimidade. Procurando detalhes do acontecimento que mudou radicalmente sua vida. Um assunto que, há mais de 50 anos, ele evita lembrar. “Sabe: nunca conversei sobre isso com ninguém aqui em casa. Na verdade, todo dia faço uma força enorme para tentar esquecer essa história”, diz Haroldo em voz baixa, num tom aparentemente calmo, mas com um olhar desconfiado.


Estamos sentados à mesa da sala de jantar de sua casa, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte. A mesma casa da qual, em 1976, ele foi levado preso pela ditadura militar. Sentada ao nosso lado está Marina, esposa de Haroldo há mais de 60 anos. É ela quem guarda as lembranças mais precisas daquele dia. E assim, a pedido de Haroldo, a simpática senhora passa então a narrar aquela distante, e sinistra, manhã.”

A relíquia

“Resumo aqui a história de como achei o ‘XXXV’, desaparecido por quase meio século. Capítulo curto, mas alegre.
Revirei o apartamento da Rua Antônio Parreiras de ponta-cabeça por quatro vezes. Dois dias depois daquele almoço no chinês, encontrei o livro.


A pasta de Hélio (Oiticica) estava perdida na área de serviço do apartamento. Dentro de uma enorme caixa de papelão. Debaixo de um monte de rascunhos, formulários de universidade, comprovantes bancários, contas de luz e gás. E fôlderes, muitos fôlderes.


A princípio, achei que fosse só mais uma pasta com fotos antigas. Já tinha achado muitas antes. Mas aquela era diferente: maior, a capa tinha um papel mais duro e, achei estranho, estava toda organizada. Quando a abri, a primeira coisa que vi foi um ensaio de fotos em branco e preto de Silviano. Jovem, cabeludo e com um bigodão: estilo latin lover, como ele gosta de brincar quando fala dos tempos que morou nos Estados Unidos. Em todas as imagens, Silviano usava um par de óculos com uma armação preta e grossa, o que acabava o deixando com cara de poeta concretista. Apenas numa delas esboçava um sorriso discreto, sem graça, meio forçado. Quando abri ainda mais a pasta, me dei conta de que, além das fotos, havia também alguns textos. Cartas? Não: era uma espécie de relatório. Em uma das fotos, preso com um clipe todo comido pela maresia, um pequeno cartão e no final assinado: Hélio.


Era o projeto para o ‘XXXV’. Naquela mesma noite, fui à casa de Silviano e lhe entreguei a relíquia.”

Revista Complemento

“Tinha ficado na minha lembrança sua fala sobre a revista Complemento naquela noite: “uma revista literária bem fininha, bem vagabundinha”. Será que ele não estaria exagerando? Ele então deu mais um sorriso de Mona Lisa. E disparou. “Às vezes baixa Exu e sai de baixo. Faz parte do meu show, talvez até inconsciente. Mas você não deve ler aquela fala tão a sério. Foi só uma brincadeira de mau gosto. A revista era muito fraca, mas teve, claro, uma função: nos definiu como boêmios. Bebíamos muito, fazíamos as maiores loucuras – uma novidade para aqueles anos 1950. Além disso, foi o momento que politicamente nos definiu. O grupo em torno da Complemento nos despertou para o fato, a cada um individualmente, de que o importante politicamente é a mudança de comportamento. Naquele momento deixamos de lado as questões ideológicas e passamos a dar enorme importância às questões comportamentais. Quer um exemplo? A presença da mulher no grupo. As mulheres iam conosco para os botequins, e isso, que hoje é ridículo falar, escandalizava as famílias. Além disso, as opções sexuais começam a ser definidas com mais segurança, como a questão da homossexualidade. As pessoas que decidem namorar, transar e casar sem passar pelas famosas fases do namoro, noivado e casa mento. Nós escutávamos rock, víamos o que havia de melhor nos filmes, a nouvelle vague. Questões que hoje não têm a menor importância, já foram incorporadas à sociedade, não causam mais nenhum escândalo.”

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