O chef Artur Ornellas encontrou na cozinha mais do que um espaço para criar pratos deliciosos, mas também uma oportunidade de transformar sua arte em uma ferramenta para contar histórias. É assim que ele tem ganhado espaço no mercado corporativo, já que seus menus são personalizados especialmente para traduzir os valores, mensagens e conceitos de empresas e marcas.
Já no ramo gastronômico há 16 anos, Artur conta que começou como um hobby, especificamente quando estava se preparando para se casar. "Para impressionar minha esposa resolvi cozinhar e acabei descobrindo que amava a gastronomia. Sempre gostei de pratos elaborados e de apreciar o processo e a técnica", relembra ele.
Em um dado momento, o chef recebeu um convite de uma amiga para participar de uma edição da Casacor, uma das maiores mostras de design de interiores, paisagismo e arquitetura das Américas. "A partir daí, comecei a cozinhar profissionalmente, e nunca mais parei. No início fazia de forma esporádica, mas nos últimos anos entrei de cabeça e comecei a explorar melhor o mercado", comenta.
O trabalho de Ornellas não é estritamente corporativo, mas acabou sendo um sucesso nesse caminho. "A brincadeira é pegar o menu e harmonizar com tudo, ambiente, vinhos, marcas e temas. Não são estritamente corporativos, são sempre menus degustação que estão sempre ligados a um tema que conta história", explica. E as temáticas vão desde o simples ao mais inusitado como história da arte contemporânea, neoclássica, música e até histórias da Bíblia.
O chef aponta a tendência do universo empresarial se associar a espaços gastronômicos, como restaurantes e cafés. "As grandes marcas têm tentado travar o cliente em todos os sentidos. Pensei então: por que não associar esses menus ao que a empresa quer entregar? Seja um lançamento de uma coleção ou fortalecer visões estratégicas. Existe um público importante e carente de experiências para manter o cliente e vender mais", alega ele.
Processo criativo
Tudo começa com uma entrevista com o contratante, para conhecer o que a empresa quer falar no momento. "Estudo o que a marca quer mostrar e fazer, e partir daí eu passo a associar a comida aos detalhes. É pesquisa e informação. Na conversa são feitas perguntas para traçar um diagnóstico do que o cliente quer, e a partir disso, começa a montagem do menu e da dinâmica do evento. A história é contada através de elementos como o ambiente, o visual, as bebidas e a gastronomia", descreve Artur.
A área de atuação da corporação também influencia diretamente na escolha dos ingredientes, ou seja, se o evento apresentar um conceito luxuoso, os pratos também serão, a fim de sustentar o peso da marca.
Criatividade e inovação
Um dos menus degustação, por exemplo, foi pensado para um jantar de relacionamento e fidelização da Porsche. A demanda precisava envolver os cinco sentidos humanos, ao mesmo tempo que transmitia características da fabricante de automóveis. "Para a visão, por exemplo, baseei no design icônico e característico da marca, e preparei um prato com três snacks, super coloridos. Ainda desenhei silhueta de um carro da Porsche no prato, com gel de tangerina", diz.
Já no paladar, a peça-chave foi a potência e sustentabilidade. "Os carros são famosos por serem potentes e, a maioria, são elétricos. Então entreguei um prato robusto e com sustância: um filé mignon envolto em uma crosta de carvão (feita com legumes tostados), acompanhado de vários purês de cores diferentes".
Outro sucesso foi o menu "Fazenda a mesa", pensado para o Empório Fazenda Olhos D’água, que possui o conceito de “Farm to table” - da fazenda direto para a mesa - com uma proposta de produtos frescos e sem agrotóxicos. "Um dos pratos criados foi o tartar de tilápia, da própria fazenda. Preparei o peixe curado com beterraba. Mas, o toque especial foi baseado nos espaços de água que a fazenda possui. Resolvi criar uma espécie de lago sob o tartar, e quando se pingava limão, o líquido azul se tornava rosa, em homenagem à administradora do lugar", conta.
A visão inovadora de Ornellas também contou uma narrativa para um grupo de empresários do Global Kingdom Partnership Network (GKPn) - Rede Global de Parcerias do Reino, em português. "Eles utilizam parte dos recursos de suas empresas para abençoar o reino de Deus, e na ocasião promoveram uma palestra com pessoas cristãs, para falar sobre performance com princípios e superação", relata o chef. Para o cardápio, nada mais justo do que contar histórias da Bíblia. "Foram feitas associações com trechos de superação, dificuldades e lutas, conforme eles contavam as próprias experiências".
Um dos pratos escolhidos para a noite foi o "Jardim da Semeadura", título de uma parábola do livro sagrado, em que Jesus Cristo diz que os fiéis devem semear um terreno fértil para dar frutos. "O prato parecia um jardim, de fato. Foi feito com creme de queijo trufado, cogumelos, flores e uma semente de gergelim, que os próprios empresários jogavam no prato para simular a semeadura", demostra.
Além desses casos, Artur já teve a oportunidade de trabalhar com lançamento de uma coleção para o Dia dos Namorados, nova fragrância de perfume, evento de louças de porcelana e empresas de tecnologia. "Todos os casos acabam sendo inusitados, porque associar coisas que, teoricamente tem dificuldade de associação é difícil, precisa de uma criatividade fora do comum", conclui.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice