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CINEMA

"Anora" é drama sobre stripper que se casa com cliente milionário

Estreia nesta quinta (23/1) o filme cotado ao Oscar sobre trabalhadora do sexo que se envolve com russo nos EUA e passa a ser alvo da poderosa família dele

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Vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 2024, "Anora", de Sean Baker, que estreia nesta quinta-feira (23/1), traz um diálogo calcado em "Uma linda mulher" (1990). "Você gostaria de ficar exclusivamente comigo?", pergunta o jovem Ivan (Mark Eydelshteyn). "Quinze (mil dólares). Em dinheiro. Adiantado", responde a stripper Ani (Mikey Madison).

Depois que o negócio é selado, ela revela que ficaria por menos; ele, que pagaria mais pela semana que passariam juntos. Assim como Edward (Richard Gere) e Vivian (Julia Roberts), na clássica comédia romântica. Trinta e cinco anos atrás, ela fechou a temporada por US$ 3 mil. Mas teria ficado por US$ 2 mil; ele teria pago US$ 4 mil.


Terminam aí as semelhanças. Diferentemente de Vivian, Ani tem os pés no chão. Ela não acredita que será salva. Segue sua vida sem pedir desculpas a ninguém. Não há nenhuma possibilidade de reviver o conto de Cinderela nesta comédia agridoce que não só foi celebrada no maior festival de cinema do mundo, como também está bem cotada na atual temporada de premiações.

Cineasta e roteirista de prestígio no cenário independente, Sean Baker (“Projeto Flórida”) se estabeleceu por contar histórias com personagens que vivem à margem. Seus protagonistas habitam lugares que refletem a vida real – ou o mais próximo que um filme de ficção pode chegar.

É este o caso de Ani. Descendente de russos, ela gosta de ser chamada pelo apelido, não por seu nome, Anora. Jovem stripper do Brooklyn, passa seus dias e noites fazendo danças eróticas.

Pragmatismo

Vive com uma irmã numa casa modesta e cuida de sua profissão com pragmatismo. Não espera um príncipe encantado, mas ele acaba caindo no seu colo. Ani compreende bem a língua russa, ainda que sua pronúncia seja tatibitate. Quando seu chefe no clube a apresenta ao jovem Ivan, ela não espera mais dele do que de outros.


Só que, aos 21 anos e falando mal o inglês, ele se encanta com a jovem um pouco mais velha com quem pode falar – ainda que só banalidades – na língua nativa. Disperso e tagarela, parece ser gente boa. Não demora a explicar de onde vem aquela mansão em que vive sozinho. É filho de um oligarca russo em férias nos EUA. Ani é sua fantasia que virou realidade. "Deus abençoe a América!", geme Ivan, na cama com ela.

Rapidamente, os dois se tornam um casal. A vida não poderia estar melhor. Ani deixou, ainda que por somente uma semana, o clube em que trabalha. Vai a festas regadas a drogas e álcool com os jovens amigos russo-americanos de Ivan. Eles realmente parecem se gostar. E, antes que nos demos conta, ele faz o pedido.

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"Você quer se casar comigo?", pergunta Ivan. "Sério?", questiona Ani. "Sério", ele responde. Ela já impõe as condições enquanto exibe o dedo para a aliança: "Três quilates", diz Ani. A contraproposta vem a cavalo: "Que tal quatro?", completa Ivan.


Tudo isso se desenrola na primeira metade de "Anora", com noites desenfreadas e ruidosas, e gastos absurdos de dinheiro. Mas o filme, em si, só começa a se desenvolver depois, quando os pais de Ivan ficam sabendo do casamento realizado em Las Vegas.

Capangas

Três capangas entram em ação: Toros (Karren Karaguilan), o chefe, e a dupla Garnick (Vache Tovmasyan) e Igor (Yea Borisov). Só que Ani não irá embora facilmente. Ela tem punhos, um enorme vocabulário para palavrões e dentes. É isto que fica claro quando um embate corporal entre a diminuta jovem e os capangas tem início na sala da mansão.


Nenhum dos três homens é especialmente mau, todos ali acham Ivan um garoto mimado e idiota. Mas eles, assim como Ani, estão à mercê dos ricos. E serão obrigados a se unir numa longa noite no Brooklyn.

Aos 25 anos, Mikey Madison era pouco conhecida até chegar a "Anora". Sean Baker a convidou para sua primeira protagonista depois de vê-la como Sadie, uma das integrantes da Família Manson em "Era uma vez em...Hollywood" (2019), de Quentin Tarantino. A interpretação da atriz – sangue, suor e lágrimas, uma força da natureza – é o coração do filme.

Em sua segunda metade, também com uma câmera muito próxima dos atores, que seguem em perseguições no inverno rigoroso de Nova York, e em lugares nada óbvios da metrópole, "Anora" ganha outras nuances. Há alguns momentos divertidos, mas a tensão é permanente.


O desenlace não é uma surpresa, e ele se desenvolve muito lentamente. As quase 2h30 de duração do filme são excessivas, assim como todo o palavrório nas discussões. Mas é com surpreendente humanidade que Sean Baker filma a sequência final. É dura, triste e tocante, como que para nos lembrar como a vida deve ser.

Filmografia do diretor

A carreira de Sean Baker ganhou impulso a partir de "Tangerine" (2015, disponível na plataforma Cindie). Rodado com iPhone, acompanha duas prostitutas trans que se unem para vingar a traição do namorado e cafetão de uma delas.

Os filmes seguintes do diretor também podem ser vistos no streaming. A Max exibe "Projeto Flórida" (2017), que trata da crise imobiliária dos EUA a partir de uma menina de 6 anos e de sua mãe, que mora em um motel de beira de estrada próximo à Disney World, em Orlando.

Já "Red Rocket" (2021), na Netflix, acompanha um ex-ator pornô que deixa Los Angeles e volta para casa, uma cidade do interior do Texas.


"ANORA"
(EUA, 2024, 139min.). Direção: Sean Baker. Com Mikey Madison e Mark Eydelshteyn. O filme estreia nesta quinta-feira (23/1), nos cines Centro Cultural Unimed-BH Minas 2, às 18h40; Diamond 2, às 17h50 e 21h20; Diamond 4, às 19h50; Pátio 3, às 13h20, 16h30 e 20h; Ponteio 2, às 18h e 20h50; UNA Cine Belas Artes 2, às 14h e 18h.

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