
Filme "Conclave", que estreia hoje em BH, revela a hipocrisia do Vaticano
Faltam ética e fé, mas sobram vilanias no jogo político da Igreja Católica para eleger o papa. Nesta quinta (23/1), longa chega a 16 salas da Grande BH
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Siga noÉ difícil pensar em outra produção desta temporada que tenha elenco tão grande de estrelas que não ofuscam umas às outras. Com a chegada hoje (23/1) aos cinemas, “Conclave” é este filme. Ainda que alimente grandes pretensões, é entretenimento puro, não pode ser levado a sério. Tenha isso em mente.
O papa está morto! Vida longa ao papa! É basicamente esta a ideia por trás da trama urdida nos bastidores do Vaticano diante da morte do atual pontífice. A adaptação do romance homônimo de Robert Harris (2016, no Brasil editado pela Alfaguara) é dirigida com maestria pelo alemão Edward Berger, em seu primeiro longa desde os quatro Oscars por “Nada de novo no front” (2022).
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“Nossa fé é uma coisa viva precisamente porque anda de mãos dadas com a dúvida. Se houvesse apenas certeza e nenhuma dúvida, não haveria mistério”, afirma em discurso o cardeal Lawrence (Ralph Fiennes, em um dos grandes papéis de sua carreira), o britânico que preside o Colégio dos Cardeais, ou seja, o pleito que vai eleger o novo papa.
Ele próprio não queria estar ali, pois enfrenta uma crise de fé. Mas a morte do antigo pontífice o pegou de surpresa. Lawrence está à frente de um colégio eleitoral como nenhum outro. Cardeais de todo o mundo, pouco mais de uma centena, se reúnem no Vaticano para o pleito.
O grupo de religiosos é apenas cordial entre si. Por entre as cortinas, ambicionam o cargo máximo da Igreja Católica, com manipulações vis e sem qualquer crise ética. É política, como acontece em qualquer lugar. A diferença é que usam batina e solidéu.
Entre os cotados para ocupar o posto estão os cardeais Bellini (Stanley Tucci), o liberal, que tem o apoio de Lawrence; Tedesco (Sergio Castellitto), o reacionário e racista, que quer voltar com as missas em latim e acabar com todos os avanços da Igreja no período mais recente; Tremblay (John Lithgow), escorregadio e enganoso a despeito de suas maneiras plácidas; e Adeyemi (Lucian Msamati), que poderia se tornar o primeiro papa africano, mas é tanto ou mais conservador do que Tedesco.
Pouco antes do início da votação, todos são surpreendidos com a chegada do mexicano Benitez (Carlos Diehz), que o Vaticano inteiro desconhecia. Pouco antes de morrer, o papa o designou cardeal de Cabul. “Existem católicos no Afeganistão?”, um deles pergunta com ironia.
As regras do conclave (do latim cum clavis, fechado à chave em português) são muito rígidas, e praticamente imutáveis desde o final do século 13. A eleição ocorre na Capela Sistina. Durante o período, os cardeais são proibidos de fazer qualquer comunicação externa. Ou seja, telefones e computadores estão fora de questão. O mesmo se aplica aos funcionários em serviço no Vaticano.
As cédulas são preenchidas e contadas manualmente. Então, elas são queimadas. A única comunicação durante o processo é por fumaça, cinza para o processo que não resultou em votos suficientes para que um candidato seja eleito; branca quando a escolha é feita.
No filme, as votações se sucedem sem vencedor. Logo fica claro para Lawrence e Bellini que se não houver união entre os progressistas, os conservadores voltarão ao poder (não é difícil a analogia com qualquer eleição presidencial recente). O espectador se envolve no jogo de máscaras, que fica ainda mais interessante diante das imagens que dominam a tela: as fileiras de cardeais em suas vestes vermelhas, os uniformes listrados da Guarda Suíça, a riqueza arquitetônica do Vaticano e os detalhes dos afrescos de Michelangelo.
Berger filma as sequências como quem rege uma orquestra. Há momentos muito tensos; outros de grande explosão dramática. E mesmo que a vida exterior esteja proibida para estes homens de Deus, chegam notícias lá de fora. Elas serão determinantes para os jogos de poder da eleição.
Isabella Rossellini
Nessa história sobre homens, será a mulher, Irmã Agnes, que vai dar o tom da mudança do jogo.
“Embora nós, irmãs, devamos ser invisíveis, Deus nos deu olhos e ouvidos”, defende, com astúcia, Isabella Rossellini numa das melhores sequências do filme.
Em seu terço final, “Conclave” não nega sua origem: um bestseller “virador de páginas”. A eleição se torna uma corrida de cavalos e o tom farsesco contradiz tudo o que a trama havia apresentado até ali.
“CONCLAVE”
(Reino Unido/EUA, 2024, 120min., de Edward Berger, com Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini e Sergio Castellitto) – O filme estreia nesta quinta-feira (23/1) nos cines BH 5, às 12h15, 15h, 18h10, 21h15 (dub); Boulevard 5, às 13h30 (dub), 16h (leg), 18h35 (dub), 21h (leg); Centro Cultural Unimed-BH Minas 1, às 18h40 (leg); Cidade 3, às 18h20, 20h50 (dub); Cidade 5, às 20h45 (leg); Contagem 8, às 16h05, 20h55 (dub); Del Rey 3, às 18h25, 20h55 (dub); Del Rey 7, às 20h50 (leg); Diamond 1, às 19h, 21h50 (leg); Diamond 3, às 18h (dub), 20h40 (leg); Monte Carmo 5, às 16h, 21h (dub); Pátio 2, às 16h50, 19h50 (leg); Pátio 6, às 17h40, 20h30 (leg); Ponteio 1, às 13h30, 18h40 (leg); Ponteio 3, às 16h (leg); UNA Belas Artes 3, às 18h30, 20h40 (leg).