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"Terra indomável" mostra o uso da fé como arma de guerra

Série do gênero faroeste tem trama que mistura desafio de sobrevivência e manipulação da fé por motivos escusos. Produção está entre as mais vistas na Netflix

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“Terra indomável”, minissérie disponível na Netflix, é, em síntese, uma reflexão sobre a corrupção da fé em momentos de insegurança. Não à toa, uma das falas mais incisivas da produção se dá quando Abish Pratt (Saura Lightfoot-Leon) questiona o chefe da tribo shoshone, Pena Vermelha (Derek Hinkey), sobre suas motivações.


“Seus deuses ordenam a morte de brancos? Os brancos acreditam que os deuses ordenam a morte de vocês. Talvez eles estejam fazendo um jogo entre todos nós para ver quem consegue matar mais”, afirma a personagem.

Dirigido por Peter Berg, o faroeste estreou em 9 de janeiro passado e rapidamente conquistou as primeiras posições no ranking das séries mais vistas no Brasil. Ambientada em Utah, nos Estados Unidos, em 1857, a trama acompanha Sara (Betty Gilpin) e seu filho Devin (Preston Mota) em uma jornada rumo a Crooks Springs, onde ela supostamente irá encontrar o marido.


Atrasada, a dupla chega ao Fort Bridger à procura de um guia que já os abandonou. O local pertence a Jim Bridger (Shea Whigham), um pioneiro ciente dos inúmeros perigos que circundam sua propriedade. Isso porque, no cenário de colonização americana do Velho Oeste, mórmons, indígenas e aproveitadores disputavam territórios com selvageria. O Fort, aliás, torna-se o ponto de partida para todos os conflitos apresentados na trama.


Caravana

Sem acompanhante, Sara encontra espaço para ela e o filho em uma caravana liderada pelo casal mórmon Abish e Jacob Pratt (Dane DeHaan), cuja religião é abertamente criticada pelos cidadãos ao redor. A razão para os olhares desconfiados torna-se evidente nos minutos finais do primeiro episódio, quando a série, misturando ficção e fatos históricos, aborda um dos capítulos mais brutais da história americana: o Massacre de Mountain Meadows.


Em 1830, Joseph Smith criou a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Seus seguidores, os mórmons, inicialmente pacíficos, começaram a ser perseguidos por defenderem a poligamia, o que acabou levando à morte do fundador. Sob o comando do sucessor Brigham Young, interpretado por Kim Coates em “Terra indomável”, os mórmons se tornaram uma milícia manipulada pela distorção da fé.


Na série, Young afirma receber ordens divinas que o obrigam a proteger seu povo a qualquer custo, acima das leis federais, e incita seus seguidores a matarem por terras. Nesse caso, o acampamento em que os personagens passam a noite é alvo do líder mórmon e, com a ajuda de guerreiros da tribo paiute, mais de 120 dos viajantes são assassinados a sangue frio.


Aliança perfeita

A aliança com os indígenas é inteligente e, a princípio, perfeita. Com as flechas, nenhum investigador suspeitaria dos mórmons. No entanto, o plano deixa pontas soltas: Jacob é atacado, mas sobrevive; Abish é vendida, junto com outras mulheres, para os paiutes; e Sara e Devin conseguem escapar, encontrando ajuda com Isaac Reed (Taylor Kitsch), um homem habilidoso e temperamental.


Cada personagem entra, então, em uma longa jornada de sobrevivência, em que diversas facetas da realidade americana vão sendo apresentadas ao espectador. Os trajetos têm violência brutal, desejos de vingança e o uso improvisado de carcaça de animais como coberta. Esses são elementos típicos dos textos de Mark L. Smith, também roteirista do longa “O regresso” (2015), vencedor de três Oscars, incluindo o de melhor ator para Leonardo DiCaprio.

Dos três núcleos da história, Jacob certamente tem o percurso mais enfadonho. Após sobreviver ao ataque de forma surpreendente, ele promete fazer de tudo para encontrar a esposa. No entanto, quando descobre que o crime foi cometido por seus semelhantes, o personagem mergulha em uma desassociação da realidade que afasta o interesse do espectador pela trama.


Sua mulher, Abish, por outro lado, ganha mais personalidade e relevância ao longo da narrativa. Ao ser vendida para os paiutes, cruza o caminho dos indígenas shoshones e do cacique Pena Vermelha. De todas as mulheres comercializadas, ela é a única escolhida para se juntar à tribo – retratada sob a orientação da consultora cultural Julie O’Keefe. Ao lado dos shoshones, além de contribuir para as investigações contra a milícia mórmon, Abish conquista o espectador com determinação e sensatez.


No caso de Sara, Devin, Isaac e a jovem Duas Luas (Shawnee Pourier) – que foge de sua aldeia e se junta ao grupo em busca de uma vida melhor – o enredo é um pouco diferente. A distinção é perceptível desde o cenário, que muda de uma região semiárida para as paisagens gélidas de uma cordilheira.


Isolado dos conflitos com os mórmons, o quarteto tem uma trajetória mais lenta, que permite maior interação entre os personagens. O laço familiar é, sobretudo, o elemento central que sustenta o interesse pela sobrevivência do grupo, frente aos constantes perigos de “Terra indomável”, até o último minuto.

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“TERRA INDOMÁVEL”
• Minissérie em seis episódios. Disponível na Netflix.


*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

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