MÚSICA

Cícero lança "Concerto 1", álbum derivado da turnê homônima 

Carioca que estreou com "Canções de apartamento" (2011) e se firmou no cenário independente lança disco com releituras de 10 canções dos cinco discos anteriores

Publicidade


Durante a entrevista, Cícero Lins pede licença, vai ao cômodo ao lado e retorna com o bolachão do “Clube da Esquina”, de 1972. É o disco seminal de Milton Nascimento e Lô Borges, recentemente eleito um dos melhores álbuns de todos os tempos pela revista norte-americana “Paste Magazine”.


“E, olha, tem o autógrafo do Lô desse lado e do Milton no outro lado”, diz o cantor e compositor carioca de 38 anos, mostrando as assinaturas na capa do disco. “É coisa de fã mesmo”, comenta.


Essa relação vem de muito tempo. Na infância, Cícero escutava a mãe assobiar as canções de Bituca – ela não se cansava de repetir a ele que Milton era o maior cantor de todos os tempos – e, constantemente, ouvia discos de Milton, Lô, Beto Guedes, Toninho Horta e companhia.


Isso influenciou Cícero e está perceptível no disco “Concerto 1”, que ele lança nesta quarta-feira (22/1). Derivado da turnê homônima com a qual rodou o país em 2023, o novo trabalho traz 10 releituras de canções dos cinco álbuns anteriores do músico – “Canções de apartamento” (2011), “Sábado” (2013), “A praia” (2015), “Cícero e Albatroz” (2017) e “Cosmo” (2020).


Todas as faixas foram rearranjadas e orquestradas por Felipe Pacheco, que já trabalhou com Gal Costa e é instrumentista da banda carioca Baleia. Teclados, guitarras e baixos foram substituídos por um quarteto de cordas e um quinteto de sopros, que “despoluíram” a harmonia das músicas, acentuando linhas originais de cada instrumento numa configuração que alude ao Clube da Esquina em parte das faixas.


Bossa, marchinha e rock

As comparações com os mineiros param por aí. “Concerto 1” também transita pela bossa nova – em “Por Botafogo”, “uma bossa estranha que fiz nos anos em que morei em Botafogo”, conforme define Cícero –, marchinha e rock alternativo. Tudo isso resultado de outro leque de influências que o artista coleciona, que vai de Pixies a Tom Jobim, passando por Luiz Gonzaga e Caetano Veloso.


“Durante a turnê de 2023, vi que o álbum tinha se revelado ali. Percebi que daria para fazer algo que mostrasse a existência de uma linha comum que passa por todos os meus discos”, explica.


A proposta soa paradoxal vinda de quem constantemente afirma que sua intenção com cada disco é se distanciar ao máximo do trabalho anterior e que, para isso, chegou até a se deslocar geograficamente.


“Mas, depois de cinco álbuns seguidos, eu vi um elemento comum, seja no discurso das letras, nos acordes ou na forma de pensar o arranjo”, pondera ele.


“Tenho observado que meu deslocamento geográfico se reflete nas minhas músicas. Se você pegar os álbuns em ordem cronológica, vai ver que parece haver um movimento. No primeiro, trata-se de alguém que está dentro do apartamento, depois sai, vai para a rua, para a praia, voa (com os albatrozes) e chega ao espaço sideral”, afirma.


Nada disso foi intencional, garante ele Nascido em Santa Cruz, bairro suburbano e praticamente esquecido do Rio de Janeiro, Cícero começou a viver uma vida cigana cedo. Primeiro, dentro dos limites do Rio de Janeiro: Santa Cruz, Campo Grande, Barra da Tijuca, Botafogo, Laranjeiras, Santa Teresa, Nilópolis e Nova Iguaçu.

Foi para São Paulo, Alabama – lá, trabalhou fritando hambúrguer em uma rede de fast food –, Portugal, São Paulo de novo e, finalmente, Rio de Janeiro, onde vive hoje. “É claro que isso acabou impactando nas minhas letras”, admite. “Mas agora estou lidando com a aceitação desse lugar que eu ocupo, porque é algo que vem antes, que me foi dado na loteria do CEP”, brinca.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia  


Amor platônico

Outra tônica nas letras de Cícero é o amor, quase sempre idealizado e num contexto onde o ser amado sequer sabe da existência do sentimento – “Quando você vem ou não(?)”, questiona em “Tempo de pipa”, faixa de abertura do disco.


Um crush no trem, um balão voando e até mesmo um conto de Shel Silverstein (“A árvore generosa”), morto em 1999, servem de inspiração para canções que abordam a angústia de um eu lírico platônico e solitário, que vaga pelas ruas das cidades um tanto ou quanto autômato.


Cícero pertence a uma cena independente carioca que ganhou projeção nacional sem auxílio de gravadoras, produtoras e nem assessoria de imprensa. Em 2011, quando lançou “Canções de apartamento”, disponibilizou gratuitamente o disco na internet e contou apenas com a ajuda de amigos, blogs e sites pequenos para a divulgação do trabalho.


Seus outros discos também foram lançados on-line e se popularizaram no cenário underground. Desde então, o músico vem fazendo shows com casas lotadas. Nas últimas vezes que se apresentou em Belo Horizonte, em agosto de 2022 e em julho de 2023, no Cine Theatro Brasil Vallourec, Cícero encontrou casa cheia.


Ainda que “Concerto 1” sugira o início de uma sequência de discos com a mesma essência, o cantor e compositor não pensa em dar continuidade ao projeto, pelo menos por ora. Também não está nos planos dele sair em turnê, uma vez que o álbum nasceu de uma turnê já realizada.


“Agora, eu quero ficar um tempo mais sossegado aqui no Rio por conta da família e também de outras demandas”, diz.


“CONCERTO 1”
• Álbum de Cícero
• Independente (10 faixas)
• Disponível nas plataformas digitais

Tópicos relacionados:

cultura- disco lancamento musica plataformas

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay