
Meditação coletiva e palestra na UFMG: a passagem de David Lynch por BH
Diretor morto na última quinta-feira (16/1) fez uma visita inusitada à capital mineira em 2008. Detalhe: não falou de cinema
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Siga noMorto aos 78 anos na última quinta-feira (16/1), o cineasta David Lynch veio a Belo Horizonte em 2008. A passagem do diretor americano pela capital mineira teve um propósito inusitado. Lynch não veio falar sobre cinema, mas sobre os benefícios de uma técnica indiana de relaxamento, a meditação transcendental.
Na ocasião, David Lynch estava em turnê de lançamento do livro “Em águas profundas – Criatividade e meditação” (Gryphus Editora). Além de Belo Horizonte, visitou São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
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O primeiro compromisso do diretor de “Cidade dos sonhos” em Minas foi no Lar dos Meninos São Vicente de Paulo, em Ribeirão das Neves, instituição filantrópica que atende jovens em situação de vulnerabilidade. Lá, o cineasta reuniu cerca de 5 mil crianças e jovens para uma meditação coletiva.
“Tenho feito filmes durante 35 anos e, durante todo esse tempo, tenho praticado a meditação transcendental. Medito duas vezes ao dia e, nesses anos todos, nunca deixei de praticar”, afirmou Lynch, então com 62 anos, no palco montado na quadra da instituição.
Lynch incentivou os jovens a adotarem a prática. “Todos vocês, mantenham-se regulares na sua meditação. Não deixem que ninguém a tire de vocês, pois irá revelar todo o seu potencial. Vocês se tornarão uma força criativa no mundo e ficarão muito, muito felizes”, disse. Após o discurso, Lynch deixou o palco sob aplausos da jovem plateia.
Conferência na UFMG
No dia seguinte, o cineasta fez conferência na UFMG, como parte da programação do ciclo Sentimentos do Mundo. O evento, realizado no auditório da Reitoria, reuniu cerca de 700 pessoas. Centenas não conseguiram entrar. O local tinha capacidade para 270 lugares. Diante da demanda, cerca de 400 cadeiras extras foram colocadas no mezanino.
A palestra teve transmissão online, atendendo a quem não conseguiu ingressos. Na época, a UFMG não oferecia o curso de cinema, que só foi incluído na grade curricular no ano seguinte, em 2009.
A conferência foi aberta pela professora e escritora Maria Esther Maciel, que apresentou um relato sobre a obra de Lynch, seguida pelo professor Heitor Capuzzo. Dezessete anos depois, Maria Esther, professora de teoria da literatura e literatura comparada da UFMG, define o momento como “experiência inesquecível”.
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“Eu estava diante de um cineasta que admirava profundamente, sobre o qual já tinha escrito. Então, foi uma grande emoção recebê-lo na UFMG. O auditório estava lotado de um jeito que nunca vi. Lynch falou principalmente sobre meditação. Percebi que ele queria falar mais sobre este tema do que propriamente sobre o cinema”, relata.
“A escrita do texto me demandou muita pesquisa e dedicação. Foi uma responsabilidade e tanto”, lembra Maria Esther, que na época estudava as relações entre literatura e cinema.
Embora houvesse espaço para perguntas do público, o distanciamento do diretor de temas ligados ao cinema frustrou parte dos espectadores. O objetivo principal de Lynch, que liderava a Fundação David Lynch, era estimular a adoção da meditação transcendental nas escolas.
Maria Ester conta que teve a oportunidade de conversar com o cineasta antes do evento e tirou uma foto com ele. Até hoje, guarda com carinho a fotografia e o DVD com a gravação da conferência. “Minhas impressões foram de estar diante de um homem simpático e muito atencioso”, diz.
A passagem do diretor pela cidade também foi marcada por outra palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), além de duas mostras de seus filmes, uma realizada na UFMG e a outra no Cine Humberto Mauro.