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Estado de Minas SAÚDE

Meditação é um processo de autoacolhimento e autocuidado

Cada vez mais, há na literatura médica e de saúde evidências científicas de que a meditação melhora não só a qualidade de vida, mas trata de várias doenças


27/02/2022 04:00 - atualizado 27/02/2022 08:41

Mulher abre os braços imitando um voo na ponta do tronco de uma árvore
A prática de meditação é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um método para a prevenção de doenças, melhoria da qualidade de vida, saúde e bem-estar da população (foto: Foundry Co/Pixabay)
Meditar. Respirar. Acalmar a mente. Equilibrar o organismo. Sintonizar corpo e cérebro. Fácil? Não, para muitos não é. A única certeza é que, se conseguir, encontrar paz, harmonia, bem-estar não importa por quanto tempo, mas que estará presente no dia a dia e lhe dará energia para encarar o mundo interno e externo.

A médica Daniela Charnizon, acupunturiatra e médica da área de medicina integrativa do Grupo Oncoclínicas, assegura que a meditação faz muito bem à saúde e tem comprovação científica.
 
Daniela Charnizon, acupunturiatra e médica do Grupo Oncoclínicas
Daniela Charnizon, acupunturiatra e médica do Grupo Oncoclínicas (foto: Arquivo Pessoal)
“A prática de meditação é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um método para a prevenção de doenças, melhoria da qualidade de vida, saúde e bem-estar da população. Cada vez mais, temos na literatura médica e de saúde evidências científicas de que a meditação melhora a qualidade de vida e até mesmo sintomas de vários tipos de doenças. Ela é considerada uma terapia complementar, sendo importante ressaltar que, como toda terapia complementar, não deve substituir o tratamento convencional e, sim, ser usada como uma aliada ao tratamento que o paciente vem recebendo.”

Cada vez mais, temos na literatura médica e de saúde evidências científicas de que a meditação melhora a qualidade de vida e até mesmo sintomas de vários tipos de doenças. Ela é considerada uma terapia complementar, sendo importante ressaltar que ela não deve substituir o tratamento convencional e, sim, ser usada como uma aliada ao tratamento que o paciente vem recebendo

Daniela Charnizon, acupunturiatra e médica do Grupo Oncoclínicas



Daniela Charnizon destaca que a meditação é uma das práticas que compõe a oncologia integrativa. Ela cita um artigo recente de uma das sociedades mais bem-conceituadas na oncologia – a Sociedade Americana de Oncologia (ASCO) –, que avaliou os benefícios das práticas complementares em pacientes com câncer de mama.

A meditação teve um nível de evidência A (o melhor nível) para redução de ansiedade. Ou seja, hoje também, por indicação médica, as pessoas devem meditar. Esse entendimento das práticas mente e corpo como uma forma de saúde e bem-estar tem crescido bastante nos últimos anos.
 
A médica pontua ainda que um estudo realizado no M.D. Anderson Cancer Center com pacientes oncológicos, mostrou que a principal razão citada pelos pacientes para o uso de práticas complementares foi fazer tudo que está a seu alcance para ajudar a si mesmo (53%).

“Neste estudo, apenas 8% dos pacientes entrevistados citaram que utilizavam as práticas complementares com o intuito de curar o câncer. Desta maneira, observamos que a grande maioria dos pacientes procura as práticas complementares a fim de se sentir parte atuante no seu processo de tratamento e a utiliza como complemento ao tratamento médico convencional.”

A meditação também é grande aliada contra a dor. “Temos vários tipos de dor e acredito que podemos falar que em função da dor, de forma geral, independentemente do tipo, principalmente nos pacientes com dor crônica, muitas vezes o dia – e às vezes a vida – gira em torno dela. É um ciclo vicioso de dor/piora da qualidade de vida, estresse etc. Além disso, sabemos que nos casos de dor crônica/dor oncológica etc, além do componente físico, existe um componente social, emocional e espiritual.”
 
Ela explica que esse é o conceito de dor total, criado na Inglaterra, na década de 1970, por uma enfermeira, médica e assistente social, chamada Cicely Saunders, que foi precursora dos cuidados paliativos no mundo. A meditação vai agir no componente emocional, principalmente, e a partir daí outros benefícios associados à melhora da qualidade de vida de uma forma geral acontecem “quebrando” o ciclo vicioso.

BOM PARA A MEMÓRIA?


Também é creditado à meditação sua contribuição com a memória. Neste caso, Daniela Charnizon avisa que é um assunto mais delicado. Ela explica que temos várias práticas de meditação e definições, porém os pontos em comum são: foco no presente, observação, relaxamento e, por fim, união com a consciência universal.

Existe um site – Biblioteca Virtual em Saúde – que analisa as práticas de medicina tradicional, complementar e integrativa na América Latina, e por meio da análise da literatura é criado um “mapa de evidências” para cada tipo de tratamento complementar, entre eles, a meditação.
 
Esse mapa mostra uma visão geral das experiências sobre os efeitos da meditação em diversas condições clínicas e de saúde da população em geral a partir de uma ampla busca bibliográfica por estudos publicados e em andamento.

Nesse mapa constam 191 estudos, entre eles, 78 revisões sistemáticas, 110 meta-análises. Os estudos incluem várias técnicas de mindfulness e técnicas relacionadas, como meditação geral, meditação transcendental, entre outras).
 
Em várias áreas foi constatado moderado nível de evidência em relação à eficácia, que incluem alguns estudos em relação ao desempenho cognitivo (a memória é um dos processos que compõem a cognição) e um estudo que mostrou um alto nível de eficácia neste campo. “Já que estamos falando deste mapa, é interessante ressaltar que os níveis maiores de evidência se relacionam com a saúde emocional e bem-estar (melhora das emoções negativas, desenvolvimento de empatia, compaixão entre outros).”
 
Diante de tantos benefícios, muitas pessoas querem meditar, mas acreditam que não conseguem, falam em barreiras como agitação, falta de paciência e ser impossível esvaziar a mente.

Mas Daniela Charnizon diz que é possível, sim: “Para isso é necessário começar e persistir. Se fizermos uma analogia, é como exercitar um músculo, mas ao contrário do esforço feito durante um exercício, a meditação trata de aceitar as coisas como elas são: é como um fluxo de em rio, vai fluindo. Você não chega na academia e levanta uma barra de 20 quilos. Começa aos poucos, seu músculo vai ganhando força e, se tiver disciplina e persistência, pode chegar a levantar barras pesadas. De forma semelhante é o exercício da mente. As pessoas querem começar a meditar 'levantando uma barra de 20 quilos', sem ter a dimensão de que se trata de um processo”.
 
A médica ainda complementa: “Ao começar, a maioria das pessoas pensa que não vai conseguir, porque se acha muito agitada, diz que fica pensando mil coisas naqueles poucos minutos. Nessa correria que vivemos, e com a mente superatribulada, o esperado é que haja muitas dificuldades no início e que, aos poucos, isso vá melhorando. Podemos pensar na meditação como um processo contínuo de autocuidado e autoacolhimento, em que a pessoa fortalece seus valores pessoais, desacelera a criação de pensamentos, respira com atenção, relaxa o corpo, a mente e as emoções, sentindo e vivendo a vida com maior foco, concentração e saúde”.


E A RESPIRAÇÃO?


Quanto à respiração, Daniela Charnizon lembra que é uma função natural e involuntária do organismo. Ao nascer, todos respiram a partir da movimentação do diafragma. Aprender a respirar corretamente é, na verdade, uma questão de reeducar o corpo. O processo de respiração pulmonar é dependente de dois importantes movimentos respiratórios: inspiração e expiração.

Quando inspiramos, o músculo do diafragma – músculo que está entre o tórax e abdômen – desce e os músculos intercostais se contraem, ocasionando aumento do tórax e redução da pressão dentro do tórax. Na expiração, o diafragma faz papel inverso, ele se eleva, os músculos intercostais ficam relaxados, há redução da caixa torácica, aumentando a pressão dentro do tórax, facilitando a saída de ar.
 
Na correria do dia a dia, muitas vezes respiramos com a parte superior do tórax e não usamos bem o diafragma. A chamada respiração diafragmática nada mais é do que a respiração abdominal ou, em outras palavras, “respirar com a barriga”.

De forma simplificada, ela ressalta que, durante o processo de respiração é importante ficar atento ao peito e aos ombros. Se o tórax se elevar ou os ombros forem em direção à cabeça, mesmo que haja movimentação da barriga, outros músculos estão sendo utilizados na respiração. A ideia é que a respiração seja feita unicamente a partir dos movimentos do diafragma.
 
Quais seriam os benefícios da respiração diafragmática? A médica explica: “É simples: mais ar nos pulmões, mais oxigênio no corpo, o que facilita o funcionamento do metabolismo — o conjunto de reações e funções efetuadas pelos sistemas do corpo. Um dos principais, e mais populares, benefícios desse tipo de respiração é a promoção de um relaxamento profundo. O famoso conselho, 'respire fundo!'. Então, além do respira, eu diria: respire fundo! Inspire e expire.!
 

Samara Lobê, médica reumatologista
Samara Lobê, médica reumatologista, diz que na sua prática prescreve a meditação associada ao encaminhamento para psicoterapia na fibromialgia ou quando há sofrimento psíquico e emoções difíceis de lidar como ansiedade (foto: Arquivo Pessoal)
QUATRO PERGUNTAS PARA...

 
Samara Lobê, médica reumatologista e integrante da comissão de mídias sociais da Sociedade Mineira de Reumatologia 
 
1 - Você indica a meditação para seus pacientes, como a 
prática atua e pode ajudar dentro da sua área? 
A meditação é um conjunto de práticas milenares que permite cultivar e desenvolver qualidades humanas. Nas últimas décadas, a ciência se interessou em estudar efeitos dessa prática no cérebro, na saúde física e mental. Na minha prática como reumatologista, prescrevo a meditação associada ao encaminhamento para psicoterapia na fibromialgia ou quando há sofrimento psíquico e emoções difíceis de lidar como ansiedade, por exemplo. Minha percepção sobre o resultado dessas práticas na vida do paciente é um aumento de consciência corporal, diminuição de estresse e menor chance das emoções se tornarem gatilho para descompensarão das doenças reumáticas.

2 - Meditação significa também aprender a respirar? Por que para algumas pessoas 
é tão difícil se concentrar seja para meditar  ou encontrar um ritmo ideal de respiração?
Há várias técnicas de meditação, sendo a mais conhecida a que usa como foco a respiração. Voltar a atenção para respiração é um meio de relaxarmos a mente e não um fim em si de controle da respiração. Meditação é difícil para todos, pois vivemos em um mundo de correria atarefada e desatenção. Por isso, a respiração é uma âncora e um convite para desacelerar e estar presente.

3 - Muitos só relacionam meditação com ioga, terapias alternativas, um estilo de vida e que faria  bem para a saúde mental. E ao falar da meditação como ferramenta para auxiliar no tratamento de doenças físicas e clínicas, a desconfiança se instala. O que pode dizer a respeito? 
Existe um programa de redução de estresse baseado na atenção plena que utiliza meditação, ioga e escaneamento corporal com duração de oito semanas. Vários estudos avaliaram o impacto desse programa em pacientes com fibromialgia e encontraram benefícios em sintomas de dor, depressão, ansiedade, qualidade de vida e sono. São necessários mais estudos para fortalecer essa indicação, mas como há um risco baixo acredito que podemos sempre considerar como tratamento complementar.

4 - Qual dica daria para quem se propõe começar a meditar?
Meditação é um caminho para permanecer na nossa experiência seja ela qual for. Aconselho a começar em um grupo ou orientado por algum profissional para aprender a técnica e os fundamentos principalmente se for para fins terapêuticos. É importante compreendermos o método, a evolução, os obstáculos e nossa intenção para não nos frustrarmos. Sentar-se e focar na respiração é simples, mas não é fácil. Gostaria de indicar um livro pequeno com linguagem simples que me ajuda nesse percurso (a médica medita há sete anos), pois acredito que com conhecimento e intenção conseguimos começar: “Sentar tipo Buda: um guia prático de meditação”, de Lodro Rinzler. 
 
 


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