Mulher com problemas de caspa

Mulher com problemas de caspa

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É muito comum que pessoas com caspa fiquem na dúvida se devem ou não higienizar os fios todos os dias, com o medo de deixar o couro cabeludo muito sensível. No entanto, na maior parte dos casos, não há problema nenhum em tomar banho diariamente e lavar os fios. "Quando o assunto é dermatite, o grande problema com relação ao banho é a temperatura da água. Isso porque a água quente pode remover excessivamente a oleosidade da pele, favorecendo o ressecamento, a descamação, a irritação e o efeito rebote, com consequente aumento da produção de oleosidade. Por isso, contanto que a água esteja em temperatura morna ou fria, não há problema algum em tomar banho todos os dias e lavar os cabelos", diz a dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Cintia Guedes.

No caso da caspa, lavagens mais frequentes do couro cabeludo são, na verdade, recomendadas para controlar o quadro. "Manter a frequência de lavagem do couro cabeludo é importante para que a oleosidade não aumente e favoreça a proliferação dos microrganismos envolvidos na dermatite seborreica", afirma a dermatologista.

Segundo a dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e coordenadora e palestrante em eventos sobre tratamentos capilares, Lilian Brasileiro, a caspa é uma infecção caracterizada pela coceira e descamação do couro cabeludo provocada pela hiperprodução de oleosidade e pela colonização de fungos que habitam a região.

"No couro cabeludo, existe um fungo chamado Malassezia, que vive em simbiose alimentando-se da gordura na região. Porém, em condições anormais, quando há uma hiperprodução de oleosidade, por exemplo, esse fungo, que fica na superfície, penetra no folículo e altera a produção de triglicerídeos, começando a secretar ácidos graxos. O fungo, então, se prolifera, interferindo no pH do couro cabeludo e favorecendo sua descamação, que é uma resposta inflamatória", explica a especialista.

Além da frequência dos banhos, outros cuidados também devem ser adotados para contribuir com o combate à doença, que, apesar de não ter cura, pode ser controlada. "Ao higienizar os cabelos, opte pelo uso de shampoos neutros à base de extratos vegetais, como aloe vera e melaleuca. Já os produtos hidratantes, como condicionadores e máscaras, podem ser usados, desde que sejam aplicados apenas no comprimento dos fios para não agravar a oleosidade do couro cabeludo. No final, enxágue bem as madeixas para evitar o acúmulo de resíduos", diz Cintia Guedes.

Ao sair do banho, seque bem os cabelos e evite dormir com os fios ainda molhados. "Mas cuidado com o uso de secadores, já que as altas temperaturas do equipamento podem piorar o quadro. O ideal é usar uma toalha, mas, se necessário, utilize o secador em temperaturas mais amenas e mantenha uma boa distância dos fios", aconselha a médica. Atentar-se à dieta, evitando o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, e controlar o estresse e a ansiedade também são cuidados importantes, já que esses hábitos estão relacionados à piora da inflamação.

Para quem sofre com dermatite seborreica, o mais importante é consultar um dermatologista, que, após uma avaliação, poderá dar recomendações específicas para cada caso. O médico poderá, por exemplo, prescrever shampoos, loções e tônicos formulados com ativos específicos para o tratamento da caspa. "Para a caspa, devemos utilizar ingredientes calmantes e anti-inflamatórios e corticoides, como betametasona ou clobetasol, em loções e shampoos, sempre associados a substâncias fungicidas, bacteriostáticas ou fungistáticas. Alguns exemplos incluem o cetoconozol, o piritionato de zinco, o ácido salicílico e o sulfato de selênio", diz Lilian Brasileiro.

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É importante, também, atuar no controle da inflamação de dentro para fora. "A dermatite seborreica, até pouco tempo, era encarada como um descompasso entre a população fúngica e bacteriana da pele, mas, atualmente, também entra na sua causa uma resposta inflamatória exagerada do organismo. Por isso, é interessante a suplementação de ativos orais como FC Oral, associação de fosfolipídeos de origem marinha, que atua na modulação do processo de inflamação, principalmente na cascata de agentes inflamatórios como prostaglandinas e leucotrienos. A fórmula oral ainda pode contar com zinco, que tem atividade anti-inflamatória, e a biotina, que ajuda a regular a função da glândula sebácea", diz Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos.

O uso da toxina botulínica tipo A também tem sido apontado como uma estratégia no controle da caspa por estudos recentes. "Embora o mecanismo de ação ainda não tenha sido completamente elucidado, há evidências de que a toxina botulínica promova uma diminuição da produção de sebo, o que acarreta na melhora da dermatite seborreica. Existem múltiplos mecanismos relatados e possivelmente envolvidos, sendo o principal deles o bloqueio na liberação de um neurotransmissor chamado acetilcolina entre os terminais nervosos e as glândulas sebáceas", explica Lilian Brasileiro. "A frequência de aplicação da toxina botulínica depende, dentre outros fatores, da resposta individual de cada paciente. Mas sabemos que a produção de sebo vai progressivamente recuperando os níveis normais ao longo de aproximadamente 16 semanas. Assim, o intervalo entre as aplicações é geralmente de 4 a 6 meses", aponta.