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Estado de Minas ENTREVISTA EXCLUSIVA

Mandetta sobre denúncia da Prevent Senior: 'Não me espanta'

Ex-ministro, que criticou o protocolo da operadora quando estava à frente da Saúde, defende 'penalidade severa' caso comprovada omissão de mortes de pacientes


16/09/2021 22:52 - atualizado 16/09/2021 23:27

Antes de ser demitido, Mandetta criticou duramente os protocolos de segurança da PreventSenior
Antes de ser demitido, Mandetta criticou duramente os protocolos de segurança da PreventSenior (foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
As denúncias de que o plano de saúde Prevent Senior teria ocultado mortes de pacientes em estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento de Covid-19 não surpreenderam o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Se tiveram a ideia de fazer mudança na bula da cloroquina na Anvisa, por decreto presidencial, nada me espanta”, afirma o ex-ministro, em entrevista ao Estado de Minas .
 
CEO da Prevent Senior após críticas de Mandetta: 'Nos deixem trabalhar' 
 
“A ciência não tem lado, não torce para A ou B. Constata. Agora se fizeram isso, manipularam números, deram atestados de óbitos para não entrar na pesquisa, o Conselho Regional de Medicina tem de aplicar penalidade muito severa, porque isso mina completamente a credibilidade da medicina. E onde está a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que quando vai fazer pesquisa, o pesquisador comunica o método?”, indaga ele, depois de ter conhecimento da denúncia por meio de reportagem da GloboNews que foi veiculada na última quinta-feira (16/09).
 
Antes de ser demitido pelo presidente Bolsonaro, Mandetta criticou duramente os protocolos de segurança da Prevent Senior. O presidente da operadora, Fernando Borillo, rebateu as críticas na revista Exame, em entrevista publicada em abril de 2020, e pediu: “Queremos que nos deixem trabalhar.” 

Há denúncias de que o plano de saúde Prevent Senior teria ocultado mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19. Quando esteve à frente do ministério, o sr. soube deste suposto estudo?
 
Não. O primeiro caso de paciente positivo no Brasil foi em 26 de fevereiro. E o primeiro óbito, por volta de 20 de março. Logo na semana seguinte, atingimos a marca dos 100 óbitos em São Paulo, dos quais, 80 eram num único endereço, num único hospital, o Sancta Maggiore, que é da rede do plano de saúde Prevent Senior. O que caracteriza esse plano de saúde é uma concentração de idosos na carteira. Então aquele lugar precisava mudar o nível de biossegurança, montar plano específico, já que a clientela é de altíssimo risco para a letalidade.
 
À época critiquei porque teriam de ter feito um plano muito rígido de vigilância, porque não havia espaços de isolamento. Na época chamei atenção do secretário de saúde do estado de São Paulo. Era preciso um protocolo muito mais rígido, pois estavam concentrados no mesmo lugar, pacientes de alto risco. São planos de saúde que só comercializavam para idosos. Teriam de ter naquele momento abordagem extremamente rígida no protocolo de segurança. 
 
Quando fez críticas públicas ao Prevent Senior, este o acusou de ter vínculos com outros planos de saúde...
 
Esse plano estava preocupado com o dano à marca dele. O que é legítimo. Mas ele deveria ter tomado as providências científicas para corrigir o problema. Só que tomou outro caminho. Disse: “Esse ministro está criticando, porque gosta da Unimed, é de outro plano”. Foi tentativa de retirar a credibilidade da crítica. Erro número um, porque sou cooperado da Unimed há 30 anos. Como também sou credenciado em outros planos de saúde.
 
A minha crítica era destinada a apontar que ele deveria tomar o caminho científico. Ele pega a crítica e fala: “Ah, eles querem ciência?”. Aí embarcaram nessa questão do protocolo, começaram a fazer isso, para tentar sair do foco do dano à marca. Existe uma concorrência grande na venda de planos de saúde e estavam na berlinda.
 
Eu me lembro é que, na sequência, tive reunião no Palácio do Planalto e estava lá a Nise Yamaguchi. E disse a ela que se não tivesse evidência científica, essas substâncias só seriam incorporadas se houvesse pesquisa com o protocolo científico. Acabou que fizemos uma pesquisa com o Albert Einstein, coordenada pelo dr. Rizzo (Luiz Vicente Rizzo), um pesquisador muito graduado.
 
E a pesquisa concluiu que a cloroquina não funcionava para o tratamento da Covid e pelo contrário, tinha efeitos colaterais. Por isso o Einstein mudou completamente o seu protocolo. Eu suponho que talvez por isso, o Prevent Senior tenha feito essa pesquisa, ao que parece uma pesquisa viciada, que já se inicia assim: “Olha, tem que dar isso”. É o que parece pelo que está sendo noticiado. Mas eu já não estava mais no ministério.

Enquanto o senhor esteve no ministério, houve conversações para que o Prevent Senior fizesse essa pesquisa?
 
Aí já entra o gabinete paralelo, que não sei dizer quando tiveram essa ideia. Se tiveram a ideia de fazer mudança na bula da cloroquina na Anvisa, por decreto presidencial, nada me espanta.
 
O que me lembro é que o secretário de saúde municipal, a Vigilância Sanitária foram para dentro do hospital, apontaram uma série de coisas, de saída de roupa, de lavanderia, de lavagem de mãos, de mão de obra, que tinha de ser testada. Enfim, fizeram uma série de intervenções e depois anunciaram que iriam fazer um protocolo, montado por essa Nise Yamaguchi, por esse pessoal.
 
Mas quando viram que não tinha evidência científica, o Einstein já tinha feito, artigos saíram no mundo inteiro, sobre o estudo com 800 pessoas, que mostraram não alterou a evolução da Covid e quem tomou, evoluiu pior. Por isso, o Einstein retirou da recomendação e todo mundo que é sério no Brasil parou. Eles então desqualificaram o estudo do Einstein e caíram na tentação de fazer um trabalho lá, e pelas denúncias, para dar um resultado mostrando que o protocolo funcionaria.
 
Talvez tenham pensado que seria bom para o hospital, para os médicos e para o presidente da República. 

O dossiê de denúncias de médicos e ex-médicos da Prevent informa ter sido a disseminação da cloroquina e outras medicações o resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e oPrevent Senior. Segundo o dossiê, o estudo foi manipulado para demonstrar a eficácia da cloroquina.  Como surgiu, no governo, essa obsessão pela cloroquina?
 
Nasce de uma série de fatores. Tem muito de mercado nessa história. Isso se prestou para governantes, como é o caso do nosso, para ele falar que tinha gente que defendia. Prestou para médicos ganharem muito dinheiro. A pessoa pegava Covid e ia atrás do médico que falava na internet.
 
Os honorários que aplicavam eram extorsivos. Houve muitos médicos que ganharam visibilidade na internet, fazendo consultas por vídeo, cobrando R$ 5 mil a R$ 6 mil por dia na epidemia.E, com 50 videochamadas, fizeram R$ 200 mil por dia.
 
Como 90% das pessoas que pegam a doença têm formas leves ou moderadas; outros 5% vão para o CTI e entre estes, 2% a 3% vão a óbito, eles justificam: “tenho 90% de acerto”. Só que, se você colocar uma fita do Senhor do Bonfim no punho, você também terá 90% de acerto. E há laboratórios que ganharam bastante com o consumo abusivo. E havia os empresários que queriam que as pessoas continuassem a trabalhar.
 
Então houve muitas pessoas desesperadas por uma solução, sem nenhum compromisso com o ser humano. Agora, quando um médico que tem compromisso com vida participa de uma fraude, precisa dessa fraude para ganhar ares, verniz. E esse artigo daria aquele verniz para que pudessem continuar com aquele momento de muito enriquecimento. 
 
E que avaliação o senhor faz das denúncias?
 
Acho que temos de investigar isso. Mas torturar os números para que confessem algo é o caminho mais rápido de ser pego na mentira. A ciência não tem lado, não torce para A ou B. Constata. É lógico que o artigo que faz mentindo cai em descrédito. Agora se fizeram isso, manipularam números, deram atestados de óbitos para não entrar na pesquisa, o Conselho Regional de Medicina tem de aplicar penalidade muito severa, porque isso mina completamente a credibilidade da medicina.
 
E onde está a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que,quando vai fazer pesquisa, o pesquisador comunica o método? Falsificar atestado é crime, falsificar pesquisa também é crime e do ponto de vista moral é o fim da linha. O conselho que disciplina a parte ética não vai abrir a boca, vai ficar quieto? É de uma degradação moral, ética, humanitária, nunca vista na história da medicina.
 
E olha que a medicina lutou muito para ter um Conselho Federal de Medicina. Quem o criou foi Juscelino Kubistchek, o primeiro presidente médico da história do país. 
 

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