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Estado de Minas SAÚDE

Isolamento social impõe novos desafios a pessoas com autismo

Especialista reforça a importância do acompanhamento de profissionais mesmo à distância e de família manter uma rotina de atividades diárias. Veja dicas


01/04/2021 12:58 - atualizado 01/04/2021 17:00

(foto: Pixabay)

Há mais de um ano, o isolamento social foi adotado no Brasil e no mundo como principal medida de prevenção contra a COVID-19. Uma mudança drástica na rotina de milhares de pessoas, haja vista a necessidade de ficar em casa e evitar aglomerações e contatos externos. Nesse cenário, pessoas com Transtorno de Espectro de Autismo (TEA) – ou como é mais conhecido, autismo –, tem sofrido bastante. E os prejuízos são muitos. 

“O isolamento social dificulta a interação do autista com o meio que convive normalmente, podendo causar a perda de laços afetivos e habilidades de convivência adquiridas. Se em circunstâncias normais o autista tinha uma rotina estabelecida onde convivia com o meio e realizava suas obrigações normalmente, estando habituado ao seu dia a dia, a necessidade do isolamento faz com que o autista tivesse mudanças em sua rotina.” 

É o que afirma Welder Rodrigo Vicente, psicólogo e líder do apoio psicopedagógico e inclusão da UNA Cidade Universitária. Segundo ele, como as interações com o ambiente externo são reduzidas, há o risco de que a pessoa regrida com relação aos ganhos que teve com o tratamento, como perda de desenvolvimento da fala, volta de estereotipias – ações repetitivas – e perda os laços criados com as pessoas. Essas regressões podem fazer com que o autista tenha dificuldades para retornar à normalidade após a pandemia. 

A estudante de pedagogia da UNA Júlia Erichsei Nassif Borges, de 22 anos, tem encontrado algumas dificuldades de adaptação ao isolamento social e uma das perdas está no contato externo. Isso porque, conforme relatos de seu pai, o professor universitário Henrique Elias Borges, de 68, apesar de a interatividade social ser um fator atípico para a filha e demais pessoas com autismo, ela sente falta de sair e aglomerar. 

“Ela está sentindo falta sim de aglomerar, de ter os encontros e ter uma interação, porque, embora tenha a dificuldade de comunicação, não quer dizer que ela não gosta, ela gosta. Ela só tem dificuldade de interagir, mas ela gosta de ter ao entorno dela muita gente. E isso dificulta. A rotina mudou, mudou muita coisa. Em contraponto, a Júlia se adaptou muito bem ao ensino remoto, justamente pela menor interação presencial e, com certeza, quando tudo retornar ao normal, ela vai sentir muito.” 

Os resultados na faculdade, inclusive, ilustram bem o relato de Henrique Elias Borges. Ela tem ficado menos estressada, mais focada e com bom desempenho acadêmico. Dois fatores que contribuíram neste aspecto foi a facilidade com tecnologia e a ajuda psicopedagógica oferecida pela universidade, pilares importantes da educação neste cenário. Por isso, já pensando em um futuro desafiador para a filha, o professor afirma que conversa e esclarece para a filha o momento atual da pandemia, bem como a volta para o ambiente físico, que pode ocorrer em breve ou não. 

“Um passo de cada vez. Sempre digo isso para ela, porque senão o autista imagina e passa a ‘ver’ três, quatro coisas a frente, e a ansiedade toma conta, uma ansiedade desagregadora e que provoca crises. Mas conversamos para darmos um passo de cada vez e mais para frente analisarmos o que vier. Sempre digo: muita calma nessa hora. Além disso, para tentar superar as dificuldades dela, fazemos muitas atividades juntos, conversamos, escrevemos, escutamos músicas, ela grava vídeos, brincamos, lemos e assistimos série. É o que distrai um pouco.” 

Nesse cenário de dificuldades, Welder Rodrigo Vicente afirma que o acompanhamento médico é crucial. Ou seja, nada de abandonar o tratamento e a terapia. “É extremamente importante a continuidade do tratamento para que o autista continue progredindo em busca de melhor qualidade de vida e para manter os avanços já adquiridos. Estamos passando por um período de quarentena, e o tratamento auxilia o autista tanto no momento de isolamento quanto na retomada às atividades normais, visto que são grandes mudanças.” 

Júlia Erichsei Nassif Borges mantém o tratamento em formato on-line, é o que conta o pai da jovem. “Muita coisa mudou, mas o tratamento se manteve.” 

Dicas

Com toda a rotina modificada pelo isolamento social, o psicólogo Welder Rodrigo Vicente afirma que manter uma rotina saudável é muito importante para o desenvolvimento da pessoa com autismo, como seguir um cronograma de atividades diárias com horários. Ele dá algumas dicas para que pais e responsáveis adotem métodos eficientes no dia a dia. Confira: 

*A ação mais importante é manter o bem-estar da pessoa com TEA – Transtorno do Espectro do Autismo –, seja ela criança, adolescente ou adultos, devendo os pais ou responsáveis sempre conversar e explicar o porquê da necessidade de ficar em casa;   

*Mesmo isolado, o treino social não deve ser deixado de lado. É importante que a pessoa autista continue a participar das terapias, mesmo que on-line;  

*Apesar dos diferentes graus de dificuldade das pessoas com autismo, cabe aos pais terem persistência constante na implementação de uma rotina diária de atividades interativas. A pessoa com autismo fica mais tranquila quando sabe o que vai acontecer no seu dia;  

*Crianças e adolescentes devem ser estimulados com jogos de tabuleiro, como quebra-cabeça e caça ao tesouro, e também com leituras interativas;  

*Exercitar o corpo é muito recomendado para pessoas com autismo. Por isso, o incentivo dos pais com brincadeiras, como subir e descer escadas, dançar, pular, jogar bola e desenhar propõem interação familiar, além de gastar energia e evitar o ganho de peso. 

O que é o autismo?

O autismo é um transtorno neurológico que tem como característica o comprometimento da interação social, da comunicação verbal e não verbal, e o comportamento restrito e repetitivo. Os sinais costumam aparecer durante a infância. E, por isso, o diagnóstico precoce, por meio da observação da criança e da conversa com pais e familiares, é importante para que as melhores intervenções sejam realizadas. 

Alguns dos sinais dados são: pouco interesse em compartilhar objetos, dificuldade em desviar o foco em atividades que interessa a criança, medos excessivos e hipersensibilidade. Atraso no desenvolvimento também é um indicador importante. Porém, vale ressaltar que cada autista tem um tipo de autismo. É como uma impressão digital, se difere de pessoa para pessoa. 

“O tratamento para o autismo é feito de forma interdisciplinar, se adaptando a cada pessoa. O tratamento visa melhorar a qualidade de vida e as interações da pessoa com o meio em que vive. Como um dos objetivos do tratamento é estimular o desenvolvimento social e a comunicação do autista, a falta de interação social afeta nos resultados que esse tratamento apresentaria em circunstâncias normais”, explica o psicólogo Welder Rodrigo Vicente. 

Conscientização

A informação é uma “arma” poderosa no combate ao desconhecimento e preconceito acerca de discussões relevantes na sociedade. É o caso do autismo. Por isso, o Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (Napi), da UNA, promoverá mais uma edição do evento on-line “Olhares múltiplos”. No dia 7 de abril, próxima quarta-feira, às 19h, em link do Zoom disponibilizado pela organização. 

O mês de abril é o escolhido em razão de ser ele o escolhido para comemorar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de abril). A definição foi feita em 2007 pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), a fim de que a data chamasse a atenção para a importância de se falar sobre o Transtorno do Espectro do Autismo. 

Welder Rodrigo Vicente, líder Napi na Cidade Universitária e Pouso Alegre, é o responsável pelo evento. Com o tema “O protagonismo do aluno down, autista e surdo no ensino superior”, a discussão com os estudantes pretende romper preconceitos e jogar luz sobre a inclusão de alunos nas universidades e no mercado de trabalho, afirma a UNA. 

“Não se pode pensar na pessoa autista como se ela estivesse o tempo todo dentro de uma bolha. Em alguns momentos, é fundamental aproximar dessa bolha e estimulá-la ao treino social”, afirma Welder. 
 
Para participar, basta se inscrever no Sympla

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ellen Cristie. 
 

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