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Estado de Minas PADECENDO NO PARAÍSO

Bebel Soares: Amor em tempos de coronavírus

Em tempos de pandemia, quem tem consciência é rei


postado em 23/03/2020 07:48 / atualizado em 23/03/2020 08:52

(foto: STR/AFP)
(foto: STR/AFP)

Desde o dia 14 de março estou em isolamento voluntário em casa com meu filho de 10 anos. Um caso de aluno com COVID-19 já foi confirmado no colégio dele. As aulas estão suspensas por tempo indeterminado.

 

Nas duas primeiras semanas do mês estive várias vezes no hospital onde faço controle do câncer que tive no ano passado. Fiz exames, e tive várias consultas. Na última consulta soube que havia um paciente com a doença internado lá. Minha oncologista disse para passar álcool nas mãos até depois de apertar o botão do elevador.

 

Por causa do risco de contágio do coronavírus, todos os eventos dos quais eu participaria foram adiados, incluindo o encontro de imprensa sobre o VSR (Vírus sincicial respiratório), vírus responsável pela maioria dos casos de infecções como pneumonia e bronquiolite em bebês, que ocorreria em 20 de março.

 

Na segunda-feira, 16 de março, conversei com a infectologista Mirian Dal Bem Corradi, médica assistente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sírio Libanês e conselheira internacional da Society of Healthcare Epidemiology of America sobre a doença. A grande preocupação não é com a letalidade, mas com nosso sistema de saúde, que não comporta um número enorme de casos ao mesmo tempo. Por isso são tão importantes o distanciamento e o isolamento solidário para achatar a curva de transmissão e evitar que o sistema de saúde entre em colapso. Lembrando que pacientes com influenza B, dengue e muitas outras doenças continuam precisando de tratamento hospitalar.

 

Evitando a sobrecarga no sistema de saúde ajudamos a reduzir o número de mortes.

 

Tenho visto pessoas dizendo que a COVID- 19 é doença de rico, porque chegou ao Brasil por pessoas que estavam viajando para o exterior a trabalho ou a passeio. A verdade é que o coronavírus não é democrático. Pessoas pobres vão sofrer mais.

 

Enquanto estou isolada em casa, milhares de pessoas não têm essa escolha. São pessoas que precisam trabalhar na rua, precisam pegar transporte público lotado, precisam do dinheiro do seu trabalho para se sustentar. Além das pessoas assalariadas, ainda temos os trabalhadores informais, os micro e pequenos empreendedores. Num país desigual como o nosso, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

 

Além do isolamento, o que mais podemos fazer pelo bem comum?

 

Pense naquelas mulheres negras que são arrimo familiar, que dependem do salário para sustentar os filhos. Se as crianças ficam sem escola, com quem ela vai deixá-las para trabalhar? Pense na sua funcionária doméstica. Ela é do grupo de risco? Explique que ela precisa se isolar para se proteger. Dispense-a do trabalho, mas pague, porque ela precisa muito desse dinheiro. Sua diarista pega transporte público lotado para chegar até a sua casa? Pague o dia, mas a deixe ficar em casa. Explique que ela realmente precisa ficar em casa.

 

Pensando que o adensamento é maior nas áreas mais pobres das cidades, nossas favelas são uma bomba-relógio nesTe momento. Pense na velocidade com que o vírus se espalha e imagine a situação em que muita gente sai para trabalhar, pega transporte público. Se você precisa sair para trabalhar, vá do trabalho para casa, lembrando de higienizar as mãos com mais frequência. Procure manter o distanciamento social. Cancele reuniões, eventos, encontros de amigos. A hora é essa.

 

Isolamento é um privilégio de poucos. E é o que podemos fazer para diminuir o ritmo da transmissão e evitar o colapso do sistema de saúde. É por isso que escolas e espaços públicos estão sendo fechados.

 

Não é histeria, é solidariedade. Não é pela letalidade da doença, é porque nosso sistema de saúde não comporta um número enorme de casos ao mesmo tempo. É porque as pessoas idosas e pessoas com pouca imunidade correm mais riscos. É porque existem pessoas fazendo quimioterapia e estão sem imunidade. É porque tem pessoas com doenças crônicas que correm mais risco se tiverem COVID-19.

 

Mais de 40% dos trabalhadores do nosso país não têm carteira assinada. São eles que vão sofrer mais com a crise. Precisamos de mecanismos para ajudar essas pessoas a passar por este período. Isso inclui aquelas mães empreendedoras, muitas delas são arrimo de família e precisam do dinheiro para sobreviver. As grandes empresas têm fôlego, mas vão demitir. Muita incerteza e medo neste momento. Mas o pânico paralisa e precisamos de ações eficazes.

 

Não cancele contratos, adie. Um período difícil pode levar pequenas empresas à falência. Compre do pequeno. Se você tem empresa, tente viabilizar que pelo menos parte da equipe trabalhe em casa. Home office pode ser mais produtivo do que você imagina. Procure alternativas que não sejam a demissão de funcionários.

 

Seja solidário com aquelas pessoas que não podem ficar em casa, profissionais da saúde, atendentes de supermercado, policiais, bombeiros, garis


Lave as mãos. Água e sabão mata o vírus. Lembre-se que muitas pessoas no país não têm nem água limpa e sabão é artigo de luxo. Entre comprar comida e artigo de higiene, a comida é mais importante.

 

Use álcool gel. Mas lembre-se que água e sabão já resolvem o problema. Não compre todo o álcool do estoque. Não compre todo o papel higiênico do supermercado, se seu papel acabar você pode usar a ducha higiênica.

 

Explique às crianças que elas não podem brincar juntas nesse momento, mas é temporário. Cuide da saúde mental. Dê afeto. Aproveite para estreitar as relações com quem está sempre perto de você.

 

Seja solidário, cuide das pessoas, ajude quem você não conhece. Neste momento podemos perceber como estamos todos conectados e como dependemos uns dos outros. 

 

O egoísmo mata mais vidas do que qualquer vírus. É hora de espalhar amor a distância. A imunidade cresce quando há amor. Quem se une vai mais longe.

 

#oamoréoquenosune 

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