Congresso discute games e e-sports, destacando o papel de MG no setor
Programação do InterGame Summit destaca pesquisa, desenvolvimento e políticas públicas
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O Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte (MG), se transformou em um centro de debates sobre tecnologia e futuro dos jogos digitais com a chegada do InterGame Summit PlayMinas, congresso científico dedicado ao setor de games no Brasil.
O evento gratuito, realizado nos dias 2 e 3 de dezembro, reuniu pesquisadores, desenvolvedores, educadores, gestores públicos e profissionais da indústria para discutir caminhos que conectam ciência, inovação e cultura gamer.
A iniciativa, promovida pela Codemge, Governo de Minas, Sedese e Instituto Novare, nasceu com a ambição de colocar o estado na rota dos grandes eventos do país. Com mais de cinquenta palestrantes, vinte horas de programação e salas temáticas simultâneas, o congresso abordou desde formação profissional e desenvolvimento tecnológico até impactos sociais, educacionais e econômicos dos games.
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Segundo o idealizador do congresso, Elton Gomes, o evento deu um passo inédito para consolidar Minas no mapa nacional: “Não tinha nenhum evento que realmente projetasse o estado. A gente comprou essa briga para posicionar Minas em um cenário de protagonismo ", afirma. “Estamos plantando uma memória criativa muito grande, focados na experiência do visitante e na construção de uma identidade própria.”
A proposta de longo prazo inclui manter o InterGame em Belo Horizonte e internacionalizar conexões do projeto: “Esse evento não vai sair de Minas. Mas já temos planos ousados para ampliar essa atuação em outro país, conectando as duas audiências em tempo real. Não estamos inventando a roda, mas queremos que Minas seja referência” afirma.
Ele observa que o estado reúne condições logísticas e tecnológicas favoráveis. “Temos um dos maiores centros de convenções do país, o ExpoMinas, com a única estação de metrô dedicada da América Latina. O mercado está consolidado, a estrutura existe e o público está conectado ", diz.
A articulação com o setor privado também avança. Segundo Elton, empresas já demonstram interesse em apoiar o projeto. “A gente já abriu diálogo com grandes marcas. Agora dependemos mais de ajustes internos do que deles. Quem quiser colaborar pode nos procurar. Nossa casa está aberta” completa.
Políticas e e-sports
Entre as discussões sobre futuro e profissionalização, o InterGame também abriu espaço para o debate sobre políticas públicas para o setor. A vereadora de Pedro Leopoldo (MG), Silvana Storino, apresentou o projeto que tornou o município o primeiro do estado a reconhecer oficialmente os e-sports como modalidade esportiva. Ela explicou que a lei nasceu após estudos jurídicos e reuniões com especialistas e reforçou que o avanço do tema não se limita ao contexto municipal. “Os jogos movimentam o planeta e toda a sociedade. É família, é empreendedorismo, é cidadania” afirmou.
Silvana destacou ainda que já articula parcerias para trazer torneios ao município e desenvolver games focados em educação ambiental e temas sociais, apostando no potencial do setor para transformar práticas comunitárias.
Pesquisa e educação
Entre os convidados da programação acadêmica, um dos destaques foi o pesquisador Gabriel Almeida Savonitti, doutor em Educação Física pela Universidade de São Paulo e mestre em Tecnologia da Informação e Design Digital pela PUC-SP. A trajetória dele combina desenvolvimento de jogos, programação front-end e estudos sobre aprendizagem e e-sports. Na USP, desenvolveu uma ferramenta inédita para analisar a presença de valores humanos e olímpicos em seis dos principais e-sports da atualidade, incluindo League of Legends, Dota 2, Counter-Strike, Valorant, Apex Legends e Rocket League. A pesquisa também mapeou a história da criação e evolução desses títulos até se tornarem fenômenos globais.
Savonitti levou ao InterGame uma abordagem histórica e educativa do universo dos jogos. “Minha pesquisa passa pela história da evolução dos games, que foi o tema da minha palestra, e pelos laços que se fortalecem entre os esportes eletrônicos, as Olimpíadas e o crescimento desse cenário que está em grande expansão” explicou.
Convidado para apresentar a evolução tecnológica que moldou os games desde os primeiros experimentos de 1958 até a realidade virtual, ele destaca o impacto cultural dessa transformação. “É interessante ver como as mudanças acontecem ao longo dos anos. A gente começa lá em 1958, com equipamentos físicos usados para criar jogos, e chega hoje à realidade virtual, aos grandes shows e campeonatos que lotam estádios. É uma história de sociabilização e alegria das pessoas” disse.
A discussão sobre jogos como ferramentas de educação também esteve presente na fala do pesquisador. Para ele, o grande desafio é equilibrar aprendizagem e diversão. “Os jogos educacionais enfrentam essa barreira porque, quando você esquece a diversão, o jogador perde o interesse. Na minha pesquisa, percebi que você pode se divertir e aprender ao mesmo tempo, especialmente em jogos multiplayer. Quando você interage com outras pessoas, principalmente em outra língua, acaba absorvendo conhecimento quase sem perceber ", comentou.
Savonitti avalia que o Brasil tem potencial para avançar em jogos educativos, embora o mercado ainda seja limitado. “A indústria brasileira é pequena, mas existe talento de sobra e muitos projetos bons. Para educação, acredito que há espaço para crescer, especialmente com apoio público. Mas sempre existe essa balança que precisa ser mantida, porque o jogador quer se divertir. É preciso encontrar o caminho do meio ", analisou.
Cultura e narrativas
Entre os participantes que buscavam intercâmbio acadêmico e novas perspectivas, o Instituto Cultural AbraPalavra marcou presença apresentando sua transição para o universo dos jogos digitais. A instituição, com quinze anos dedicados à oralidade e às narrativas populares, lançou recentemente seu primeiro game em parceria com o curso de Jogos Digitais da PUC Minas.
Coordenador de projetos do Instituto, Fernando Chagas destaca que a aproximação com os jogos surgiu naturalmente. “Quando falamos de histórias e narrativas, estamos falando também de jogos. Eles criam mundos, contam histórias e constroem relações. O casamento foi natural ", afirma.
O jogo desenvolvido, O Mistério da Fruta Estrelada, já alcançou reconhecimento nacional. “É um jogo baseado nas histórias da tradição oral mineira, com três personagens da fauna que precisam trabalhar juntos para resolver um problema na floresta. Ele ficou entre os finalistas do SBGames em quatro categorias ", destaca.
Disponível gratuitamente na internet e no site do Instituto, o game também integra o portfólio que rendeu ao AbraPalavra o Prêmio Jabuti de Fomento à Leitura em 2024. “Mostra como literatura, oralidade e jogos digitais conversam. Hoje você faz letramento a partir de games. É um universo vasto e potente ", avalia Fernando.
O Instituto já planeja novos projetos com a PUC Minas. “Agora que finalizamos o primeiro jogo e tivemos resultados tão positivos, estamos elaborando um novo projeto. Sempre focados nas histórias e na tradição popular de Minas ", explica.
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Sobre o Playminas
O Playminas é um projeto que viaja por várias cidades de Minas Gerais levando atividades, oficinas e debates sobre o mundo dos jogos. Ele também realiza o Inter Game Summit e termina com o Minas Gamefest, um grande festival que deve acontecer em junho de 2026.