SEGURANÇA PÚBLICA

Estudo rastreia 34 pontos de refino de cocaína em Minas

Estado ocupa o 4º lugar em laboratórios, que chegam a 550 no país e podem ter agregado R$ 30 bi ao faturamento com a droga em 2024.

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O Brasil tem cerca de 550 laboratórios em funcionamento para o processamento de cocaína, aponta estudo divulgado ontem (30/10). De acordo com o levantamento, feito entre janeiro de 2019 e julho deste ano, Minas Gerais ocupa o quarto lugar entre os estados com mais estruturas de refino, atrás apenas de Goiás, Amazonas e São Paulo. São 34 laboratórios no estado, sendo que, desses, oito foram considerados “grandes” ou “muito grandes”.

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A pesquisa “Floresta em Pó”, organizada pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e a Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, com o apoio de outras organizações, mostra que, do refino à chamada engorda – quando outros produtos são misturados à cocaína –, esses locais fazem parte de uma atividade altamente lucrativa para lavar dinheiro do crime organizado e financiar outros delitos, como garimpo e extração de madeira ilegal.

De acordo com o levantamento, a atividade do refino pode ter agregado mais de R$ 30 bilhões, parte de uma estimativa de US$ 65,7 bilhões faturados no país com cocaína no ano passado. A pesquisa analisa também as rotas de transporte da droga e reúne um histórico sobre os impactos dessa cadeia de produção em áreas como violência, saúde, ambiente e economia.

Considerando as etapas de produção e distribuição, a maior parcela do dinheiro da cocaína está no atacado (60%), seguida pelo varejo (22%), pelo beneficiamento com produção de pasta base (8,99%) e base da droga (9%). O cultivo da coca movimenta apenas 0,01%.


De acordo com o estudo, cuja seção sobre laboratórios foi produzida pelo Instituto Fogo Cruzado, os espaços se dividem entre os de refino – transformação da pasta-base nos produtos finais, como o pó, por exemplo – e de adulteração e engorda da cocaína, com a adição de outros produtos para aumentar o volume da droga distribuída principalmente no varejo.

A identificação dos laboratórios foi feita por meio de dados oficiais, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e um cruzamento com notícias publicadas na imprensa ou conteúdo oficial de órgãos públicos, segundo Daniel Edler, pesquisador do Instituto Fogo Cruzado e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

ROTA CAIPIRA

O pesquisador Daniel Edler explica que o mapeamento mostra que há duas grandes rotas para a entrada de drogas no Brasil. “A primeira é a do Solimões, na Região Norte do país, e a outra é chamada Rota Caipira, em que a droga, geralmente, entra da Bolívia pelo Mato Grosso ou do Paraguai pelo Mato Grosso do Sul. Essa é a rota que seria mais relevante para Minas.”

Segundo ele, a partir daí, a cocaína vai para Goiás e, em seguida, chega a Minas. Do território mineiro, ela parte para a Bahia e outros estados do Nordeste ou é refinada aqui e levada para o Rio de Janeiro. “Tirando São Paulo, os outros estados do Sudeste têm poucos laboratórios identificados, apesar de os portos serem relevantes. Isso indica que a cocaína que é exportada pelo Rio de Janeiro ou Espírito Santo pode estar sendo refinada em Minas Gerais. O que os nossos dados mostram é que Minas é um estado relevante na logística do refino e distribuição de cocaína no Brasil”, afirma.

ALIANÇAS DAS FACÇÕES

As maiores facções criminosas do país, Comando Vermelho e PCC, estariam envolvidas no processo, com alianças estaduais para fazer com que a droga circule. “Elas têm capacidade de fazer conexão com os grupos que produzem a cocaína nos países andinos.”

O pesquisador ressalta que as forças de segurança já têm um mapeamento e monitoramento razoavelmente consistente dessas rotas, mas a principal contribuição do estudo é o levantamento dos laboratórios de refino da droga, pois não havia dados ou estes não estavam estruturados.

“Grande parte do faturamento das organizações está na venda de drogas, nas bocas de fumo das grandes cidades e na exportação. Mas vemos um crescimento relevante do refino, que também gera um faturamento importante. São essas pessoas que vão lavar dinheiro em postos de combustível, comércio, restaurantes ou participar de atividades como grilagem de terra, garimpo de ouro, extração ilegal de madeira”, analisa.

Para Edler, ações contra esses laboratórios poderiam ser mais estratégicas que apenas o combate ao varejo, como a operação que aconteceu nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, com emprego de violência e que coloca a segurança da população e dos policiais em risco. “É uma atividade muito relevante para a cadeia produtiva e as operações muito menos violentas.”

Drogas recolhidas durante ações de combate ao narcotráfico e ensacadas antes de serem incineradas em Belo Horizonte, em janeiro
Drogas recolhidas durante ações de combate ao narcotráfico e ensacadas antes de serem incineradas em Belo Horizonte, em janeiro PCMG/Divulgação – 21/1/25


INTELIGÊNCIA E TECNOLOGIA

O coronel Ailton Cirilo, presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (AOPMBM/MG) e especialista em segurança pública, destaca que o mercado de cocaína no Brasil vem crescendo, com recordes de produção e apreensão, segundo relatório do escritório das Nações Unidas sobre drogas e crimes (UNODC). “Em paralelo, em Minas Gerais há aumento nas apreensões e operações que indicam maior circulação e trânsito de cocaína pelo estado.”

De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG), de janeiro a setembro deste ano, foram 20.078 registros de apreensão da droga no estado. Já ao longo de todo o ano passado foram 21.068 e, em 2023, 25.540. Em outubro, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) registrou uma das maiores apreensões de drogas da história do estado, em Campina Verde, no Triângulo Mineiro. Foram encontrados 521 quilos de cocaína refinada (pura) escondidos em um caminhão. O valor da carga, se vendida no varejo, poderia ultrapassar os R$ 100 milhões, segundo estimativas da polícia.

O especialista reforça também que o estado tem a maior malha viária do país. “Minas é frequentemente apontada como rota de tráfico interestadual e possui estruturas usadas para fracionamento e distribuição. A posição geográfica, o acesso a rodovias e a proximidade a grandes centros e portos favorecem esse papel. Mas há ainda laboratórios clandestinos e pontos de mistura e fracionamento identificados no interior do estado.”

Cirilo lembra que as forças de segurança do estado fazem operações policiais constantes no combate ao tráfico. “Destaco a coordenação entre órgãos: operações da Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal têm atuado de forma conjunta em investigações e apreensões. Essas operações miram: apreensão de carga, desmantelamento de laboratórios clandestinos, prisão de líderes e apreensão de insumos e dinheiro. Destarte, a inteligência e tecnologia são aliados de primeira mão contra esses contraventores, bem como os compartilhamentos entre as agências de segurança pública.”

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O especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori acredita que a apreensão de drogas é algo contumaz e não parece ser o mais relevante. “As polícias do Brasil fazem com frequência. Apreender mais ou menos drogas não faz muita diferença no tráfico. Isso já é parte do risco, do custo da atividade econômica. O mais importante é a atividade policial identificar os pontos de refino. Isso é fundamental do ponto de vista da inteligência em segurança pública. Fazer uma repressão qualificada sobre esses pontos de refino define alvos importantes de um trabalho de investigação policial.”

Para ele, desmontar esses laboratórios diminui o poderio econômico das facções criminosas e do crime organizado. “Se perceberem que, em Minas Gerais, a eficiência policial é maior, possivelmente migrarão para outros estados.” (Com Folhapress)

 

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