CCXP25: entre filas, estandes e fãs, o que realmente marcou a edição
Um relato sobre bastidores, ativações, diversidade de públicos e os contrastes que definiram a experiência no maior festival de cultura pop do país
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A CCXP25 chegou ao fim e, como acontece todos os anos, fica aquela mistura estranha de cansaço extremo com a sensação de ter vivido algo que só faz sentido para quem realmente entende o que é cultura pop na prática. Eu estive lá, andando pelos corredores, enfrentando filas, observando as reações do público, conversando com marcas, estúdios e fãs, e o que posso dizer é que a edição de 2025 foi uma das mais densas em conteúdo dos últimos anos em termos de ativações, experiências imersivas e variedade de públicos. Essa percepção não foi só minha. Entre os visitantes, a advogada Alessandra, de Londrina, resumiu a experiência: “Gosto muito da galera do cosplay, da comunidade e do ambiente com muita diversidade”.
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Experiência na CCXP25
Desde o primeiro dia, o volume de estandes e ativações já mostrava o tamanho do evento. Circular pela CCXP é mais do que visitar marcas, é entrar em micro universos. Eu vi estandes dedicados a cinema blockbuster e produções nacionais ganhando espaço ao lado de gigantes de Hollywood, plataformas de streaming disputando atenção com empresas de games, e um público que mudava de perfil a cada esquina. Em poucos metros, eu saía de um grupo de cosplayers de anime para um aglomerado de fãs discutindo estratégias de card games, e logo depois para famílias inteiras vivendo seus primeiros passos em eventos geeks com seus filhos.
Público e diversidade geek
A diversidade de perfis não era apenas estética, mas comportamental. Havia gamers focados exclusivamente em testes de lançamentos, fãs de anime que praticamente transformaram o pavilhão em uma convenção de cosplay e visitantes que estavam ali para entender o fenômeno pela primeira vez. Essa multiplicidade também apareceu na voz de Júnior, profissional de logística de Belo Horizonte, ao comentar que “o principal da CCXP é que ela reúne vários universos em um mesmo lugar”.
Esse mesmo público ajudava a criar um clima que, apesar do caos, se mantinha leve. Troca de dicas, ajuda mútua para fotos e explicações espontâneas de regras de jogos eram cenas constantes. A atmosfera foi resumida de forma direta por Ulisses, advogado público de Londrina, ao afirmar que “o pessoal é super acolhedor e é muito legal”.
Estandes
Entre os estandes, alguns viraram pontos de parada quase obrigatória. O da Crunchyroll foi, sem exagero, um dos mais comentados. Eu acompanhei de perto o Estúdio de Dublagem criado em parceria com a DuBrasil, onde o visitante escolhia cenas de animes como Solo Leveling e Attack On Titan, gravava a própria voz em cabine e saía com um vídeo pronto para compartilhar. O impacto dessa experiência ficou evidente nas reações do público e também foi percebido por Vanessa Ottoni, contadora de Belo Horizonte, ao relatar que “participei de todas as ativações”.
A disputa por espaço e atenção também se materializava nos grandes players do mercado. A Nintendo dominou a entrada do pavilhão com filas para testar o Nintendo Switch 2 e, principalmente, Metroid Prime 4, enquanto Super Mario Bros. virou ponto fixo de fotos com os visitantes. A força dos brindes e interações também apareceu no relato de Gabriel, técnico de sistemas do Rio de Janeiro, ao afirmar que “a atração do It achei bem maneiro a interação com o público, o acertamento do brinde, o pin lá foi bem maneiro”.
A Red Bull apostou em experiências de corpo inteiro, com tetris em telão, simuladores de Fórmula 1, batalhas de e-sports, espaço de breakdance e DJs ao vivo, criando uma área que funcionava quase como um festival dentro do evento. Sobre esse impacto, a apresentadora e comentarista de e-sports Mariana Ayrez definiu o clima do estande ao afirmar que “a Red Bull, como sempre, é muito preocupada em trazer experiências” e que ali o público tinha “a real experiência de jogar num simulador” e até de viver um pit stop como se estivesse na Fórmula 1.
Ainda sobre o papel do evento para o público, Mariana resumiu o espírito da feira ao dizer que “um evento como esse traz a sensação de pertencimento de uma comunidade como um todo” e que a CCXP é o momento em que as pessoas percebem que “você não é estranho, tem muita gente gostando das mesmas coisas”.
Card games
A Copag manteve seu papel como ponto de encontro dos fãs de TCG, e foi ali que eu conversei com Lucas Missi, gerente de marketing da marca. Segundo ele, “a gente queria trazer essa experiência das pessoas poderem jogar, poderem conhecer, poderem se encontrar com pessoas de quem elas são fãs” e criar “um espaço em que você pode se sentir à vontade, ter uma experiência agradável”. Ele também destacou que a empresa veio à feira para “conectar as pessoas e ter um ambiente onde elas pudessem se divertir”.
Sobre os lançamentos, Lucas explicou que o foco foi ampliar o alcance dos card games no Brasil com o Disney Lorcana, que ele definiu como “um TCG desenvolvido pela Ravensburger em parceria com a Disney” e resumiu a proposta dizendo que “é um jogo de cartas em que você consegue construir o seu próprio baralho e desafiar outras pessoas com personagens clássicos da Disney”. Para o próximo ano, ele adiantou que “a Copag vai trazer o circuito oficial de torneios Lorcana para o Brasil”.
Magic Market
O Magic Market foi um dos espaços mais imersivos de toda a feira. Duelos simulados, música ao vivo, mesas de RPG e lojas vendendo desde espadas artesanais até chifres de hidromel construíam uma sensação real de outro mundo. Ali, a presença da loja World Colecionáveis trouxe um recorte específico do universo retrô. Adauto Oliveira Viana destacou que “a galera toma um choque” ao encontrar esse tipo de conteúdo e que muitos se emocionavam ao ver “o PlayStation 2, que marcou uma geração”. Segundo ele, o público também procurava Super Nintendo e Mega Drive, além de controles exclusivos e chaveiros e pins como lembrança. Ele resumiu que “dá pra levar uma lembrancinha a partir de R$ 10, não precisa gastar muito”.
Kings League
A Kings League protagonizou um dos momentos mais performáticos da CCXP25 ao revelar, em clima teatral, a convocação da Seleção Brasileira para a Kings World Cup Nations 2026. Mas o espetáculo não ficou restrito ao palco. Nos bastidores, a coletiva de imprensa trouxe um tom mais direto e estratégico, especialmente quando a delegação brasileira foi questionada sobre o chamado “grupo da morte”, que tem a Espanha como principal força.
Durante a entrevista, eu questionei a comissão técnica sobre como encarar o berço da Kings League e buscar a liderança da chave. O técnico Dudu respondeu sem fugir do peso do cenário. Ele reconheceu que “é realmente um grupo muito difícil” e destacou que a equipe já tem leitura do estilo espanhol por conta do anúncio do treinador e do histórico de Piru, que “já jogou há 15 anos passados”, o que daria uma ideia do que esperar em campo.
Pontos negativos
Apesar da grandiosidade, os pontos de desgaste também são relevantes. As filas foram exaustivas. E não foi uma impressão isolada. Andressa deixou claro esse impacto prático ao aconselhar que “recomendo vir com um tênis confortável”.
As filas atravessavam áreas inteiras, especialmente em estandes como Warner e HBO, o que comprometia até a circulação básica. Os banheiros femininos se tornaram um gargalo visível. A alimentação pesou diretamente na experiência. O Cup Noodles a R$ 12,00 virou parâmetro de economia. Lanches entre R$ 15,00 e R$ 20,00 para porções pequenas. Refeições mais completas facilmente acima dos R$ 30,00.
Para quem circulou o evento em ritmo intenso, a necessidade de planejamento virou quase uma condição de sobrevivência. O criador de conteúdo Matheus reforçou essa lógica ao afirmar que “já vim pensando em quais são as atrações que você quer ver mais”.
Ausências
A ausência da Netflix também marcou negativamente o espaço físico da feira. O vazio de uma marca historicamente gigante foi perceptível. A Disney, ao priorizar palcos, também reduziu o impacto visual dos estandes.
Balanço da CCXP25
No saldo final, a CCXP25 foi intensa, superestimulante e contraditória. Caótica, barulhenta, consumista, mas também acolhedora e criativa. As sensações que levei comigo ao sair do pavilhão também foram compartilhadas por quem estava ali. Alessandra resumiu bem a lógica de sobrevivência do evento ao alertar que “recomendo que se hidrate bastante com antecedência, coma bem, porque aqui tem tanta atração que no final das contas você até esquece de beber água, de comer e até mesmo ir ao banheiro”.
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E, ao mesmo tempo, Júnior traduziu a essência da experiência em uma frase que sintetiza tudo o que foi vivido ali dentro, ao afirmar que “pra quem curte, é uma maravilha, é um paraíso”.