‘Lô Borges está no mesmo nível de Chico e Gil’, diz produtor musical
Em entrevista ao Estado de Minas, Robertinho Brant afirma que Lô Borges foi o catalisador de um movimento que mudou a MPB
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O produtor e compositor Robertinho Brant lamentou a morte de Lô Borges. Ao Estado de Minas, ele destacou o papel fundamental do músico na história da canção brasileira e afirmou que a obra de Lô é “tão nova e a cada dia mais fresca”, dotada de um verdadeiro “sentido de vida eterna”.
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“O Lô Borges está no mesmo nível que Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, só que mais novo”, diz Robertinho. “A genialidade dele era reconhecida até por Tom Jobim, considerado um dos três maiores compositores da segunda metade do século 20. Tom admirava suas harmonias e melodias, chamando Lô de genial e chegando a regravar o "Trem azul", lembra.
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Lô Borges morreu às 20h50 deste domingo (2/11), no Hospital da Unimed, em Belo Horizonte, aos 73 anos. A causa foi falência múltipla de órgãos. Lô estava internado havia 18 dias, desde que deu entrada na unidade de saúde com um quadro de intoxicação medicamentosa.
Para Robertinho, Lô Borges não era apenas um dos quatro pilares do Clube da Esquina – ao lado de Milton Nascimento, Toninho Horta e Beto Guedes –, mas o verdadeiro catalisador de um movimento que redefiniu a música brasileira. Fazendo uma analogia com os Beatles, de quem os integrantes do grupo mineiro sempre foram fãs, ele compara Lô a Paul McCartney.
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Sua importância, afirma, também se revela no impacto que exerceu sobre Milton Nascimento. “Lô mexeu no destino do maior artista da música brasileira depois do Tom Jobim”, diz Robertinho, referindo-se às harmonias criadas por Lô e incorporadas por Milton em suas composições.
Essas harmonias nasceram de influências de grupos como Crosby, Stills, Nash & Young e Emerson, Lake & Palmer. Lô, no entanto, costumava ter dificuldades para criar melodias sobre essas estruturas harmônicas – tarefa que muitas vezes ficou a cargo de Milton.
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Há cerca de dez anos, Robertinho dedica-se à preservação e difusão do legado do Clube da Esquina. Trabalha ativamente na candidatura do movimento a Patrimônio Imaterial de Belo Horizonte e do IPHAN, e desenvolve um projeto audiovisual e fonográfico a partir do concerto “As cores do Clube da Esquina”, realizado no ano passado, com nove artistas interpretando músicas dos mineiros.
O primeiro álbum duplo, reunindo as canções mais emblemáticas, será lançado no primeiro semestre de 2026, acompanhado de um Blu-ray com a gravação do espetáculo apresentado em junho de 2024, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.
“Belo Horizonte precisa reconhecer o legado do movimento”, conclui Robertinho. “As pessoas devem enxergar a capital mineira como a ‘Liverpool do Clube da Esquina’ e a esquina de Santa Tereza como a nossa Penny Lane”.