(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas SAÚDE MENTAL

Conheça 1º ambulatório psiquiátrico para vítimas de violência doméstica

Problema que aumentou durante a pandemia de COVID-19 e atingiu quase 620 mil mulheres em 2021


26/10/2022 08:21 - atualizado 26/10/2022 10:06

Hospital Psiquiátrico da USP
(foto: FMUSP/Divulgação )

 

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq) acaba de criar o primeiro ambulatório de saúde mental voltado às vítimas de violência doméstica, um problema que aumentou durante a pandemia de COVID-19 e atingiu quase 620 mil mulheres em 2021, segundo dados do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

O programa está sendo desenvolvido em parceria com o Instituto Um Novo Olhar, que oferece vários tratamentos gratuitos a mulheres vítimas de violência, como cirurgias de reconstrução facial.

 

 

 

A iniciativa conta com verbas de R$ 500 mil no primeiro ano, que serão destinadas à contratação de médicos, psicólogos e assistentes sociais. Os recursos foram obtidos por meio de uma emenda parlamentar proposta pela deputada federal Maria Rosas (Republicanos-SP).

O projeto tem duração de cinco anos, previsão de mais R$ 3,1 milhões, e meta de atender pelo menos mil vítimas anualmente. A ideia, contudo, é buscar outras parcerias para tornar o ambulatório permanente.

Segundo a cirurgiã e dermatologista Carla Góes, fundadora do Instituto Um Novo Olhar, a instituição já vinha atuando na oferta de outros cuidados a mulheres mutiladas pelos parceiros, como consultorias jurídicas, apoios social e psicológico, tratamentos estéticos para reduzir as cicatrizes, além de cirurgias reparadoras.

Atualmente, 92 mulheres estão sendo acompanhadas, mas faltava a assistência psiquiátrica. "As agressões contra as mulheres geralmente acontecem na face. O companheiro quer desfigurar o rosto. Isso acaba com ela, desenvolve depressão, transtornos de inúmeras formas. Ela precisa de acompanhamento psiquiátrico."

Góes conta que uma das primeiras vítimas que o instituto atendeu, em 2018, foi uma mulher vítima de 17 facadas no rosto desferidas pelo ex-marido, contra o qual já tinha uma medida protetiva. "Ela só sobreviveu ao feminicídio porque fingiu que estava morta e ele fugiu."

A vítima também teve perdas funcionais. Não conseguia falar, não conseguia se alimentar. "Foi mais ou menos um ano para reconstruir a face. A coisa mais emocionante foi quando ela conseguiu esboçar um sorriso."

A reconstrução facial foi feita com prótese de titânio por meio de parceria entre o instituto e o grupo Prevent Senior. O hospital também já cuidou, gratuitamente, de mulheres que tiveram narizes, lábios e orelhas arrancadas.

Góes afirma que quando começou a encaminhar os primeiros casos para o IPq, enfrentou resistência de algumas vítimas que resistiam ao tratamento psiquiátrico.

"Nos dias de hoje, ainda se entende como psiquiatra o médico que vai tratar uma pessoa que está louca. Tem sido um trabalho grande com as nossas voluntárias para que as vítimas cheguem até o IPq. A gente vê a melhora, a evolução. Essas mulheres voltam a se cuidar, a cuidar dos filhos", conta.

Segundo ela, além da barreira do estigma, muitas mulheres não têm condições financeiras para sequer pagar o transporte público até o IPq. O Instituto Um Novo Olhar também tem oferecido ajuda para isso.

A atendente de telemarketing Victoria, 21, é um das que está sob tratamento psiquiátrico. Em 21 de abril de 2021, ela estava dormindo na casa dos pais em São Mateus, zona leste de São Paulo, quando acordou sendo golpeada pelo ex-namorado. Foram 15 facadas nas costas, no abdome, no braço e no rosto. Todas do lado esquerdo do corpo.

Horas antes ela havia terminado o namoro de seis meses após descobrir uma traição. Segundo a mulher, o ex-namorado invadiu a casa dos pais dela e tapou sua boca enquanto a esfaqueava. A jovem ficou cinco dias internada e, depois da alta, entrou em depressão.

Ela afirma que não saía mais de casa e não dormia mais à noite porque tinha medo que ele voltasse para matá-la.

Victoria diz que as coisas começaram a mudar a partir de setembro, quando procurou o instituto para o tratamento das cicatrizes deixadas pelas facadas. Ela afirma se sentir uma nova pessoa e ter resgatado a autoestima. O ex-namorado continua foragido.

Segundo o psiquiatra Wagner Gattaz, presidente do conselho diretor do IPq, além da assistência, o novo ambulatório pretende medir o impacto do tratamento psiquiátrico e psicológico. "Não basta acreditar que estamos fazendo uma coisa boa, os números têm que mostrar a eficácia."

Para ele, a função de um serviço ligado a uma universidade também é criar modelos de tratamentos que possam ser replicados em outros lugares do Brasil e do mundo.

Góes, do Instituto Um Novo Olhar, defende que o tema violência doméstica entre na grade curricular dos novos médicos. "Esses profissionais precisam aprender a lidar com a violência doméstica. Precisam saber que determinadas falas acabam revitimizando essas mulheres. Se não criam vínculos, ela abandona o tratamento."

De acordo com Gattaz, a proposta é também estender a assistência psiquiátrica a outros grupos vítimas de violência doméstica, como crianças e idosos.

Para o psiquiatra, todas as vítimas de violência doméstica são indefesas, mas as crianças e os idosos não têm sequer estratégias intelectuais e cognitivas para lidar com a situação. "A criança violentada acha que aquela é a vida dela, e o idoso, que é obrigado a aceitar essas situações."

 

O que é relacionamento abusivo?

Os relacionamentos abusivos contra as mulheres ocorrem quando há discrepância no poder de um em relação ao outro. Eles não surgem do nada e, mesmo que as violências não se apresentem de forma clara, os abusos estão ali, presentes desde o início. É preciso esclarecer que a relação abusiva não começa com violências explícitas, como ameaças e agressões físicas.

A violência doméstica é um problema social e de saúde pública e, que quando se fala de comportamento, a raiz do problema está na socialização. Entenda o que é relacionamento abusivo e como sair dele.

Leia também:
 Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos

Como denunciar violência contra mulheres?

  • Ligue 180 para ajudar vítimas de abusos.
  • Em casos de emergência, ligue 190.

Onde procurar ajuda

A mulher em situação de violência de qualquer cidade de Minas Gerais pode procurar uma delegacia da Polícia Civil para fazer a denúncia. É possível fazer o registro da ocorrência on-line, por meio da delegacia virtual. Use o aplicativo 'MG Mulher'.

Locais de atendimento e acolhimento às mulheres

  • Centros de Referência da Mulher
    Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência. Devem proporcionar o atendimento e o acolhimento necessários à superação da situação de violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania.

  • Casas-Abrigo
    Locais seguros que oferecem moradia protegida e atendimento integral a mulheres em risco de morte iminente em razão da violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas.

  • Companhia de Prevenção à Violência
    Dar acolhimento e segurança à mulher vítima de violência doméstica. Trata-se do corpo militar que atuava na Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica (PPVD), criada em 2010, treinada para dar a resposta adequada à vítima de violência doméstica e atua em conjunto com outros órgãos do Governo de Minas Gerais.

  • Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)
    Unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência. As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais devem ser pautadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios do Estado Democrático de Direito. Com a promulgação da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções que incluem, por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo máximo de 48 horas.

  • Núcleos de Atendimento à Mulher
    Espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em geral, contam com equipe própria) nas delegacias comuns.

  • Defensorias da Mulher
    Têm a finalidade de dar assistência jurídica, orientar e encaminhar as mulheres em situação de violência. É um órgão do Estado responsável pela defesa das cidadãs que não possuem condições econômicas de ter advogado contratado por seus próprios meios. Possibilitam a ampliação do acesso à Justiça, bem como, a garantia às mulheres de orientação jurídica adequada e de acompanhamento de seus processos.

  • Promotorias de Justiça Especializada na Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
    A Promotoria Especializada do Ministério Público promove a ação penal nos crimes de violência contra as mulheres. Atua também na fiscalização dos serviços da rede de atendimento.

  • Serviços de Saúde Especializados no Atendimento dos Casos de Violência Doméstica
    A área da saúde, por meio da Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, tem prestado assistência médica, de enfermagem, psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive quanto à interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro. A saúde também oferece serviços e programas especializados no atendimento dos casos de violência doméstica.

O que é violência física?

  • Espancar
  • Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
  • Estrangular ou sufocar
  • Provocar lesões

O que é violência psicológica?

  • Ameaçar
  • Constranger
  • Humilhar
  • Manipular
  • Proibir de estudar, viajar ou falar com amigos e parentes
  • Vigilância constante
  • Chantagear
  • Ridicularizar
  • Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sanidade (Gaslighting)

O que é violência sexual?

  • Estupro
  • Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto 
  • Impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar
  • Limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher

O que é violência patrimonial?

  • Controlar o dinheiro
  • Deixar de pagar pensão
  • Destruir documentos pessoais
  • Privar de bens, valores ou recursos econômicos
  • Causar danos propositais a objetos da mulher

O que é violência moral?

  • Acusar de traição
  • Emitir juízos morais sobre conduta
  • Fazer críticas mentirosas
  • Expor a vida íntima
  • Rebaixar por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole

Leia mais:

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)