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Estado de Minas CHECAMOS

A influenza e o SARS-CoV-2 são vírus diferentes, e a gripe pode, sim, circular no verão

Postagens em redes sociais afirmam que surto de H3N2 da influenza não poderia ocorrer no verão e sugerem que casos são da variante ômicron do vírus SARS-CoV-2


05/01/2022 20:31 - atualizado 06/01/2022 07:52

Publicações compartilhadas mais de 11 mil vezes nas redes sociais ao menos desde 24 de dezembro de 2021 afirmam que o surto da variante H3N2 da influenza que ocorre no Brasil não poderia acontecer no verão e sugerem que os casos de gripe reportados são, na verdade, da variante ômicron do vírus SARS-CoV-2.

Mas especialistas explicaram à AFP que os dois vírus são diferentes e que o surto de influenza no verão se deve a diversos fatores, como a flexibilização de medidas protetivas que, no inverno, estavam sendo adotadas com mais frequência devido à pandemia da covid-19.

“Uma coisa que está me chamando muito a atenção é essa tal influenza H3N2 no verão. Vocês nunca verão isso. No verão, gripe no verão é muito estranho, né? Será que é H3N2 mesmo, ou é ômicron mascarado? (...) Será que eles não querem admitir que seja ômicron e que não seja H3N2? Será que existe mesmo essa influenza H3N2?”, dizem publicações compartilhadas em formato de vídeo no Facebook, no Telegram e no Twitter.

Conteúdos de teor similar também foram compartilhados só em formato de texto (1, 2, 3), alegando que “a gripe H3N2 é uma farsa!” e que “trata-se da variante Omicron”.
Captura de tela feita em 4 de janeiro 2022 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 4 de janeiro 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

Tanto a gripe quanto a covid-19 são doenças respiratórias contagiosas, mas elas são causadas por vírus diferentes, apontam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. “A covid-19 é causada pela infecção do coronavírus, identificado pela primeira vez em 2019, e a gripe é causada por vírus da influenza”, explica a instituição.

É possível distingui-los, portanto, pelas famílias às quais pertencem: “Os vírus que as causam - influenza e SARS-CoV-2, respectivamente -, são vírus de famílias distintas (Orthomyxoviridae e Coronaviridae)”, ressaltou ao AFP Checamos Anderson F. Brito, virologista e pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde (ITpS).

Em uma coletiva de imprensa de 4 de janeiro de 2022, o responsável pela gestão da covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), Abdi Mahamud, também explicou que trata-se de fato de “dois vírus diferentes que usam dois receptores diferentes”. A entidade destaca em um texto atualizado em 30 de setembro de 2021 semelhanças e diferenças entre os vírus e as doenças causadas por eles.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), “a influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório” e é “causada pelos vírus A, B, C e D”. O tipo A da influenza é classificado em subtipos, como o A(H1N1) e o A(H3N2). O surto registrado em vários estados brasileiros no fim de dezembro de 2021 foi impulsionado por uma nova cepa do subtipo H3N2, batizada de Darwin.

A atualização epidemiológica mais recente sobre a influenza e outros vírus respiratórios da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), de 28 de dezembro de 2021, também mostra que “as detecções de influenza circulando no Brasil foram registradas como influenza A(H3N2)”.

O mesmo relatório apontou que, no Brasil e no Cone Sul, a circulação da gripe aumentou para níveis pré-pandêmicos.

Para Brito, a baixa nos casos de gripe no período pandêmico se explica pelo controle da gripe nos anos de 2020 e 2021, que se deu muito em função do uso constante de máscara e distanciamento, medidas adotadas no contexto da pandemia da covid-19. “Isso ajudou a conter não só o coronavírus SARS-CoV-2, como outros vírus respiratórios, incluindo o vírus influenza. No momento em que estados promoveram amplas flexibilizações, o vírus influenza, e o SARS-CoV-2, encontraram ali oportunidades para se disseminarem”.

“Gripe no verão”

No Brasil, houve uma mudança de sazonalidade, explicou a pesquisadora e chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fiocruz, Marilda Siqueira, e o avanço da influenza A, que costuma ocorrer nos meses de temperaturas mais baixas, aconteceu durante a primavera e o começo do verão. Essa circulação do vírus coincidiu com uma trajetória predominantemente de queda nos novos casos da covid-19 no país, o que levou muitas pessoas (1, 2, 3) a flexibilizar as medidas restritivas.

“Aqui no hemisfério sul, o vírus da gripe voltou a circular no mês de novembro porque provavelmente houve a entrada de pessoas vindas de outros países onde o vírus já estava circulando. E, como as medidas de restrição, como máscara e distanciamento social, já não estavam sendo usadas por uma parcela expressiva da nossa população, o vírus se disseminou”, acrescentou a pesquisadora.

Mas apesar da maior prevalência da influenza em períodos mais frios, o virologista Anderson Brito destacou que não é incomum haver casos de gripe no verão, fora dos períodos sazonais: “Dados da Opas mostram que em anos anteriores observamos casos fora dos períodos usuais, em diversos países das Américas”. E concluiu: “Não há mês com gripe e mês sem gripe; o vírus não para de circular, só diminui a incidência da doença fora dos meses mais frios”.

Baixa cobertura vacinal

O aumento dos casos de gripe no fim de 2021 não foi resultado somente do relaxamento das medidas de proteção. Segundo Siqueira, o fato de a influenza ter circulado fora de época pode ter convergido com a queda da resposta imune daqueles que tomaram a vacina contra a gripe em abril, mês de início da campanha de vacinação, e com a baixa cobertura vacinal.

“Nós tivemos uma mudança de sazonalidade, tivemos baixa cobertura vacinal e a vacina não induz uma imunidade de longo tempo, mas de oito ou nove meses. Portanto, quem se vacinou em abril, dependendo da faixa etária, agora já pode estar com uma queda de anticorpos”, afirmou a pesquisadora da Fiocruz.

Para José Tadeu Monteiro, pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Infecções Respiratórias e Micoses da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, “o avanço dos casos de influenza é resultado da falta de proteção adequada da vacina administrada neste ano de 2021 somada a um relaxamento das medidas de proteção”.

Ele argumenta que o atual aumento de casos de influenza deve servir como um alerta para os riscos de uma maior flexibilização das medidas de proteção no contexto da pandemia da covid-19: “As medidas de proteção continuam válidas, entendendo que nós temos a variante ômicron [do vírus SARS-CoV-2], que é bem infecciosa”.

Para duas epidemias acontecerem ao mesmo tempo, a exemplo das causadas pelo vírus da influenza e pelo SARS-CoV-2 original e com mutações, como no caso da variante ômicron, basta haver condições favoráveis para a disseminação dos vírus: “Ampla parcela da população não vacinada (ou vulnerável a infecções), negligência quanto ao uso de máscara, ausência de distanciamento físico ou isolamento de infectados”, concluiu Brito.

Para o responsável pela gestão da covid-19 da OMS, Abdi Mahamud, a maior preocupação diante da concomitância das duas é a possível saturação dos sistemas de saúde. “Mas, felizmente, todas as medidas tomadas contra a covid-19 (também) afastaram a gripe”, alertando que, ao diminuir a vigilância, a doença causada pela influenza tende a voltar com força.

Na coletiva de imprensa, Mahmud insistiu: “Temos uma vacina eficaz contra a gripe e uma vacina anticovid eficaz que irá proteger vocês”, pedindo a todos que se vacinem.

*Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais disponíveis na data desta publicação.

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