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Terceira dose da vacina anticovid oferece maior proteção contra forma grave da doença

Postagens em redes sociais sugerem que vacinas são ineficazes, mas especialistas dizem que função de imunizar é evitar manifestação de formas graves das doenças


31/12/2021 14:29 - atualizado 01/01/2022 09:21

Publicações compartilhadas milhares de vezes desde ao menos 26 de dezembro de 2021 usam como exemplo os casos dos cantores Caetano Veloso e Chico César, vacinados com a terceira dose e infectados com o SARS-CoV-2, para sugerir que os imunizantes contra o vírus causador da covid-19 são ineficazes.

Mas especialistas, agências reguladoras e estudos científicos ressaltam que o papel da vacinação é o de impedir que a doença se desenvolva de forma grave nos indivíduos, para que, consequentemente, haja uma diminuição no número de mortes da população.
“Caetano também pegou coronga, meu deus do céu, como esse povo é trouxa. Faz aí, continua fazendo vídeo, ‘viva o SUS’, toma a primeira, segunda, terceira (...). Acorda Brasil! E aí, Caetano, quantas doses você ainda vai tomar disso aí? Boa sorte, né, fazer o quê?”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1), em formato de vídeo.

Conteúdo de teor similar, em referência a Caetano Veloso e Chico César, circulou na mesma plataforma (1, 2, 3), no Instagram (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3).
Captura de tela feita em 29 de dezembro de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 29 de dezembro de 2021 de uma publicação no Facebook ( . / )

As publicações começaram a circular após o cantor e compositor Chico César ter testado positivo para a covid-19, como informou a imprensa em 24 de dezembro. Dois dias depois, Caetano Veloso divulgou em suas redes sociais que ele e a empresária Paula Lavigne também haviam contraído o vírus SARS-CoV-2. “Estamos bem e atribuímos isso ao fato de estarmos vacinados. O importante é que quem pode deve fazer o teste. E sobretudo que todos se vacinem com as três doses”, disse.

Um boletim sobre a efetividade das vacinas contra a covid-19 utilizadas no Brasil - Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen -, publicado em 9 de dezembro de 2021 pelo projeto Vigivac, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que, “considerando os desfechos graves (internação ou óbito) em indivíduos com idade entre 20 e 80 anos, a proteção variou entre 83% e 99% para todos os imunizantes”. Os dados específicos de cada um dos imunizantes podem ser conferidos na íntegra do informe.

A terceira dose funciona como um reforço para essa proteção, apontou Gustavo Cabral, imunologista e pesquisador de vacinas na Universidade de São Paulo (USP): “O fato de eles [Chico César e Caetano Veloso] terem tomado duas ou três doses, ou quantas fossem, não vai impedi-los de contrair o vírus. O que vai fazer, principalmente com o reforço, é que eles desenvolvam uma imunidade capaz de proteger contra a doença em estado grave”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) explica que, embora as vacinas sejam altamente eficazes contra a forma grave da covid-19, hospitalizações e mortes, nenhum imunizante é 100% eficaz. “Como resultado, algumas pessoas vacinadas vão se infectar e podem ficar doentes”, informa a entidade em texto atualizado em 29 de novembro de 2021.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos vão no mesmo caminho ao apontar, em texto atualizado em 17 de dezembro, que as vacinas contra a covid-19 são eficazes em “prevenir infecções, a forma grave da doença e mortes”. E acrescentam: “A maioria das pessoas que contrai a covid-19 não está vacinada”.

Apesar disso, a instituição também indica que, pelo fato de as vacinas não serem 100% eficazes na prevenção da infecção, algumas pessoas totalmente vacinadas ainda vão se contaminar.

Essas pessoas, segundo os CDC, têm “menor probabilidade de desenvolver a forma grave da doença do que os não vacinados” e, “mesmo que desenvolvam sintomas, eles tendem a ser menos severos”.

“Isso significa que [os vacinados] têm menos chance de serem hospitalizados ou de morrerem do que pessoas não vacinadas”, concluem.

Infecção e transmissão

Os vacinados “podem ter tanto vírus no nariz e na garganta como as pessoas que não foram vacinadas, mas parecem tê-lo durante menos tempo, por isso têm menos tempo para transmitir [o vírus], disse à AFP a professora Nancy Baxter, diretora da Escola de População e Saúde Global de Melbourne, na Austrália, em 23 de dezembro de 2021.

Um editorial de 4 de novembro de 2021 da publicação The Journal of the American Medical Association (Jama) faz uma análise de artigos publicados sobre infecções de pessoas vacinadas contra a covid-19 com imunizantes de RNA mensageiro, como os da Pfizer e da Moderna.

No texto, a associação pondera que: “Novas evidências sugerem que, mesmo que pessoas totalmente vacinadas tenham risco de infecção pelo SARS-CoV-2, elas são substancialmente menos propensas a carregá-lo em comparação com pessoas não vacinadas”.

A publicação ainda indica que estudos sobre dinâmicas do vírus têm demonstrado que, enquanto a carga viral de pessoas vacinadas pode ser alta como a de indivíduos não vacinados, nos vacinados ela declina mais rapidamente.

“Pessoas com esquema vacinal completo têm menos chance de se infectarem e, se contaminadas, vão contagiar por períodos mais curtos que pessoas não vacinadas. Isso é corroborado por estudos sobre transmissão que confirmam que pessoas vacinadas são menos propensas a transmitir o SARS-CoV-2 a contatos próximos se comparadas a pessoas não vacinadas, incluindo a variante delta”, assegura.

Resposta imunológica completa

Sobre a relevância da terceira dose, ou dose de reforço, sobretudo diante de novas mutações do SARS-CoV-2 e em pessoas com o sistema imunológico mais frágil, Gustavo Cabral ressaltou a importância de ativar a resposta imunológica como um todo:

“A gente precisa de um reforço para estimular a resposta imunológica não exclusivamente de anticorpos. A gente estimula outros componentes do sistema imunológico, além dos anticorpos, como as células T, por exemplo”.

Ele destacou que parte importante da imunidade é a memória celular, que só acontece com as células B e T. “E essa memória acorda rapidamente quando a gente dá o booster [reforço]. Quando a gente dá esse booster ou a gente se infecta naturalmente, a gente pega essa resposta e faz explodir a resposta imune”, completou.

Essa potencialização da resposta imune, segundo Cabral, faz com que a terceira dose tenha efeito também mais duradouro.

No caso das variantes do SARS-CoV-2, especialmente a mais recente ômicron, isso é ainda mais importante. “Pelas mutações, ela poderia ter um escape maior dos anticorpos, mas com todos os outros componentes do sistema imunológico ativados, não. Ela só escapa de uma parte da resposta imunológica dos anticorpos, mas do resto não”, destacou. Quem toma a terceira dose, portanto, está muito mais protegido, afirmou o pesquisador. “Principalmente em relação à ômicron”.

“Acordar” o sistema imunológico

O imunologista detalha que, por uma questão de sobrevivência, o sistema imunológico “adormece”, para que o corpo não fique sob estresse contínuo. Por isso, passados alguns meses da primeira e da segunda dose, a produção de anticorpos cai. A terceira dose funcionará, então, de forma a “acordar” o sistema imunológico:

“Com o reforço, a gente vai estimular o sistema imunológico como um todo, vai acordar a memória do sistema imunológico adaptativo, ou seja, aquele que se adaptou à vacina, para que, quando a gente tenha contato com o vírus, a gente não desenvolva a doença, principalmente na sua forma grave, e que não precise de atendimento hospitalar que leve a internação”, disse Cabral.

Marilda Siqueira, pesquisadora e chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fiocruz, também explicou à AFP que o papel das vacinas, especialmente contra as variantes, é evitar casos graves da doença.

“Nós podemos ter no nosso país - apesar de uma situação confortável, de altas coberturas vacinais - pessoas que já tomaram a vacina, mas que apresentam uma imunidade baixa ou não suficiente para não se infectarem. O principal objetivo das vacinas (...) não é exatamente evitar a infecção, mas, sim, evitar a hospitalização. O que a gente quer é que não vá para o hospital, que não morra”, disse.

Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.

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