(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PANDEMIA DESCONTROLADA

Covid na Índia: Com 'corpos e ambulâncias por todos os lados', a crise em estado mais populoso que o Brasil

Com mais habitantes do que o Brasil, Uttar Pradesh está entre as regiões mais afetadas no país, mas as autoridades insistem que a situação está sob controle.


23/04/2021 06:31 - atualizado 23/04/2021 08:13


Sushil Kumar Srivastava foi fotografado sentado em seu carro, amarrado a um cilindro de oxigênio na cidade de Lucknow(foto: Sumit Kumar)
Sushil Kumar Srivastava foi fotografado sentado em seu carro, amarrado a um cilindro de oxigênio na cidade de Lucknow (foto: Sumit Kumar)

O pai de Kanwal Jeet Singh morreu na semana passada em uma ambulância enquanto era transportado de um hospital para outro. Niranjan Pal Singh tinha 58 anos e foi recusado %u200B%u200Bpor quatro hospitais por falta de leitos.

"Foi um dia de partir o coração", ele me disse ao telefone de sua casa na cidade de Kanpur, no estado de Uttar Pradesh, um dos mais afetados no país pela pandemia.

"Se ele tivesse recebido tratamento na hora certa, teria sobrevivido. Mas ninguém nos ajudou, a polícia, as autoridades de saúde ou o governo."

Com um total de 851.620 infecções e 9.830 mortes desde o início da pandemia no ano passado, Uttar Pradesh não se saiu muito mal durante a primeira onda que devastou muitos outros estados. Mas a segunda o deixou à beira do abismo.

As autoridades afirmam que a situação está sob controle, apesar das imagens perturbadoras de centros de testes superlotados, hospitais recusando pacientes e piras funerárias ardendo 24 horas por dia na capital Lucknow e em outras cidades importantes, como Varanasi, Kanpur e Allahabad.

Com 240 milhões de habitantes, Uttar Pradesh é o estado mais populoso da Índia. Lar de um em cada seis indianos, se fosse um país separado, seria o quinto maior em população do mundo, atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia — e maior do que o Paquistão e o Brasil.

Também é politicamente o mais importante da Índia — com o maior número de deputados (80) no Parlamento, incluindo o primeiro-ministro Narendra Modi. Mas essa influência política trouxe pouco desenvolvimento.

Leia também: Treze pacientes de COVID-19 morrem em incêndio em hospital na Índia

Uttar Pradesh tem milhares de novas infecções relatadas diariamente, embora os números reais sejam considerados muito maiores, e isso colocou a precária infraestrutura de saúde no centro das atenções.

Entre os enfermos estão o ministro-chefe do Estado, Yogi Adityanath, vários de seus colegas de gabinete, dezenas de funcionários do governo e centenas de médicos, enfermeiras e outros profissionais de saúde.

Nos últimos dias, conversei com dezenas de pessoas em todo o estado e ouvi histórias terríveis.


Pessoas fazem longas filas para serem testadas para covid-19 em um laboratório em Noida(foto: BBC)
Pessoas fazem longas filas para serem testadas para covid-19 em um laboratório em Noida (foto: BBC)

Vídeos compartilhados por um jornalista local em Kanpur mostram um homem doente deitado no chão no estacionamento do hospital Lala Lajpat Rai, administrado pelo governo. A pouca distância dali, um senhor idoso está sentado em um banco. Ambos têm covid-19, mas o hospital não tem leitos para acomodá-los.

Do lado de fora do hospital Kanshiram, que também é do governo, uma jovem chorou ao dizer que dois hospitais se recusaram a admitir sua mãe doente.

"Eles estão dizendo que ficaram sem leitos. Se você não tem uma cama, coloque-a no chão, mas pelo menos dê a ela um tratamento. Há muitos como ela. Já vi várias pessoas sendo rejeitadas. O ministro-chefe disse que há camas adequadas, por favor, mostre-me onde elas estão. Por favor, trate minha mãe", disse ela, soluçando inconsolável.

'Ninguém veio'

A situação em Lucknow é terrível. Sushil Kumar Srivastava foi fotografado sentado em seu carro, usando um cilindro de oxigênio, enquanto sua família desesperada o levava de um hospital para outro. Quando encontraram uma cama para ele, era tarde demais.

Um bilhete escrito à mão pelo juiz aposentado Ramesh Chandra pedindo ajuda depois que as autoridades não conseguiram remover o corpo de sua esposa de sua casa viralizou nas redes sociais.

"Minha mulher e eu estamos positivo para corona. Desde ontem de manhã, liguei para os números da linha de ajuda do governo pelo menos 50 vezes, mas ninguém veio entregar medicamentos ou nos levar ao hospital. Por causa da negligência do governo, minha esposa morreu esta manhã."

Pessoalmente, não é nenhuma surpresa para mim que Uttar Pradesh esteja tendo dificuldades para lidar com a pandemia, dadas as precárias instalações médicas do estado, onde fica minha aldeia-natal.

Conheço as dificuldades para encontrar um médico ou uma ambulância, mesmo em tempos normais. Com uma pandemia tão violenta, isso se tornou ainda mais difícil.


Espera por local de cremação aumentou muito na capital Lucknow(foto: Sumit Kumar)
Espera por local de cremação aumentou muito na capital Lucknow (foto: Sumit Kumar)

Na cidade sagrada de Varanasi, Vimal Kapoor perdeu a mãe de 70 anos, Nirmala, por causa da covid-19. Ele diz que a situação é "bhayavah" — assustadora.

"Vi muitas pessoas morrendo em ambulâncias. Os hospitais estão recusando pacientes, porque não há leitos, as farmácias ficaram sem remédios essenciais para a covid-19, e o oxigênio é escasso."

Kapoor disse que quando levou sua mãe para o local de cremação, ele encontrou uma pilha de corpos.

O custo da madeira para a pira subiu três vezes e a espera por um local para cremação, que era de 15 a 20 minutos em média, hoje leva 5 ou 6 horas.

"Nunca vi nada parecido antes. Para onde quer que se olhe, você vê ambulâncias e corpos", disse ele.


Os crematórios em Lucknow têm ficado acesos 24 horas por dia(foto: Sumit Kumar)
Os crematórios em Lucknow têm ficado acesos 24 horas por dia (foto: Sumit Kumar)

Histórias de mortes e de famílias devastadas pela covid-19 são abundantes enquanto as infecções continuam a crescer a galope.

Ativistas e políticos da oposição dizem que os dados oficiais não refletem a realidade. Eles acusam o estado de tentar reduzir a contagem de casos e mortes ao não testar o suficiente nem incluir os dados de laboratórios privados.

Parece haver mérito nessa acusação. Muitas pessoas com quem conversei disseram que não conseguiram fazer o teste ou que seus resultados positivos não foram registrados no site do governo estadual.

Ajay Singh, de 62 anos, enviou-me o relatório do teste positivo de sua mulher, que não é mencionado nos registros públicos.

E nem Niranjan Pal Singh, que morreu em Kanpur, nem Nirmala Kapoor, que morreu em Varanasi, foram incluídos na contagem do Estado de vítimas fatais da pandemia. Seus atestados de óbito não mencionavam a covid-19 como a causa da morte.

A mídia indiana também questionou os dados do governo, diante dos relatos de incompatibilidade entre o número oficial de mortes e os corpos nos crematórios em Lucknow e Varanasi.

Anshuman Rai, diretor do Heritage Hospitals, grupo privado de hospitais no estado, descreve a situação como "extraordinária".

"A razão pela qual os serviços estão colapsando é porque muitos profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiras, enfermeiras e técnicos de laboratório estão adoecendo. Devíamos estar trabalhando a 200%, mas não conseguimos nem 100%."

Os críticos, no entanto, culpam o estado e o governo federal por não terem previsto a segunda onda.

Eles dizem que houve uma calmaria entre setembro e fevereiro, quando os serviços de saúde e a infraestrutura poderiam ter sido ampliados, e Uttar Pradesh poderia ter criado bancos de oxigênio e estocado medicamentos.

E, com o vírus se espalhando rapidamente, as coisas não devem melhorar tão cedo.


Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


O que é um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.


Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.

 

 

Entenda as regras de proteção contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)