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Estado de Minas PANDEMIA

Exames inconclusivos escondem casos graves de COVID-19 e SES-MG culpa municípios

Testes em aberto projetam total de doentes com síndrome causada pelo coronavírus 40% maior que o oficial. Saúde responsabiliza municípios


19/08/2020 06:00 - atualizado 19/08/2020 07:42

Profissional de saúde realiza testes em laboratório público: proporção de exames inclusivos ou ainda não fechados é a segunda pior do Brasil (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 12/2/20)
Profissional de saúde realiza testes em laboratório público: proporção de exames inclusivos ou ainda não fechados é a segunda pior do Brasil (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 12/2/20)


Minas Gerais pode ter um volume de doentes graves com COVID-19 até 40% superior ao confirmado até o momento. Devido à baixa quantidade de testes e à proporção de diagnósticos conclusivos inferior à média nacional, mesmo nos casos mais críticos de sintomas respiratórios, o real impacto da epidemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) entre os mineiros pode ser muito superior ao registrado por ora, quadro que vem sendo apontado pelo Estado de Minas desde maio. O estado é o segundo em todo o Brasil com menor proporção de diagnósticos fechados sobre pacientes internados com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) registrados no InfoGripe do Ministério da Saúde do dia 13.

E é aí que a enfermidade provocada pelo novo coronavírus pode estar “escondida”. Projetando-se as proporções de resultados positivos para COVID-19 entre os pacientes que apresentaram SRAG (80%) sobre os casos com testes inconclusivos ou ainda não finalizados, o total de infectados pelo novo coronavírus com quadros mais graves – aqueles que tiveram que ser internados – subiria dos 13.378 que constam no InfoGripe da semana passada para 18.728. A síndrome ocorre entre pacientes com a doença provocada pelo novo coronavírus ou afetados por outros micro-organismos, como os vírus influenza.

Pela primeira vez, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) admitiu essa situação e confirma que ela acarreta subnotificação. Entretanto, afirma que o problema é decorrente de falhas de coleta e logística de exames de alguns municípios, indicando que tomou medidas para ampliar a eficácia e impedir o desperdício de testes. Especialistas concordam que a falha é provocada por inaptidão nesse processo, mas não culpam apenas os municípios.

Dos 23.515 exames realizados em pacientes com SRAG em Minas registrados no InfoGripe, 6.718 (28,6%) estão pendentes de resultados. O estado só perde para o Mato Grosso, que realizou 5.489 testes, dos quais 1.909 (34,8%) permanecem indefinidos. Em termos comparativos, o volume de exames sem conclusão em Minas supera em 22,4% o total de testes do Mato Grosso em doentes com quadros de SRAG.

Mortes

Minas Gerais também tem um dos piores resultados no que diz respeito aos diagnósticos de pacientes que não resistiram ao quadro de SRAG e morreram. O estado é o oitavo no ranking de defasagem desses resultados no comparativo nacional, ficando atrás de Alagoas, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Piauí e Maranhão.

Dos 4.186 testes em pacientes que tiveram quadros de SRAG e morreram desde o início do ano, 268 (6,4%) seguem sem resultados conhecidos, ainda de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Oficialmente, 3.698 pessoas que tiveram a síndrome respiratória e morreram apresentaram testes positivos para COVID-19 até o dia 13. A proporção é de quase 94%, que, se projetada sobre os testes não definidos, elevaria para 3.950 o número de mortos em decorrência da doença, uma ampliação de 252 (6,8%) óbitos.

Persistência 

A defasagem não é nova. Em maio, reportagem do EM alertou que o volume de diagnósticos para COVID-19 pendentes em pacientes com SRAG e os que morreram com o quadro em Minas Gerais era proporcionalmente um dos piores do Brasil, mas de lá para cá a situação melhorou apenas nas demais unidades da Federação. Em 10 de maio, Minas era o nono estado em defasagem de diagnósticos de quadros de SRAG e o oitavo pior em termos de resultados sobre mortes. Ou seja, permaneceu estacionado no que se refere a óbitos com testes sem respostas e piorou sete posições no que diz respeito aos pacientes com o quadro crítico, mas que não sabem se têm ou tiveram a COVID-19.

A orientação do Ministério da Saúde é clara e a coleta de amostras e realização de testes são indicadas para todos os pacientes com SRAG hospitalizados e todos os óbitos suspeitos. Desconsideradas as defesagens, na semana passada, quando foram compilados os dados para o levantamento da reportagem do EM, Minas Gerais tinha a menor incidência de COVID-19 do Brasil, com taxa de 795,6 casos positivos por grupo de 100 mil habitantes seguido por Rio Grande do Sul (836,2), Paraná (890,7), Rio de Janeiro (1.099), Pernambuco (1.155,3) e Mato Grosso do Sul (1.275,1).

As estatísticas do Ministério da Saúde, munidas pelos dados repassados pelas secretarias de estado da área, apontam Minas como a unidade da Federação onde menos pessoas morreram proporcionalmente pelo novo coronavírus. 

A taxa de óbitos é de 18,6 por 100 mil habitantes, à frente de Mato Grosso do Sul (21,3), Paraná (22,8), Rio Grande do Sul (23,1) e Santa Catarina (24,3). A amplitude de exames não fechados, entretanto, lança dúvidas sobre essa posição.


(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Infectologista receita treinamento

A alta taxa de exames não encerrados ou inconclusivos em pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que só em Minas Gerais chega a quase um terço dos casos notificados, impõe dificuldades ao manejo de isolamento social necessário para prevenção e controle da COVID-19. E revela a necessidade de aprimoramento dos processos para evitar desperdício e infetividade, defende o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano Silva.

“Não observamos o problema de falta de exame, mas um teste que não chegou a uma conclusão. Não traz nenhuma informação. É preciso, a essa altura, entender melhor os processos de diagnóstico para se ter melhor desempenho. (As equipes de saúde) Precisam aprender como coletar amostras da forma correta, o tempo correto para cada tipo de teste, o transporte para os la- boratórios. Tudo isso, se feito de forma inadequada, leva a uma perda do diagnóstico”, explica.

A falta de resultados, invariavelmente, causa subnotificação. Mas o médico infectologista não credita as estatísticas a problemas estruturais nos laboratórios. “Isso mostra que sempre existe o risco de uma subnotificação da COVID-19 em todas as fases do processo. Se tivesse treinamento das equipes, esse aproveitamento poderia ser melhor. A essa altura da epidemia, já podemos fazer essa autocrítica para melhorar”, defende.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) admite a situação e informou que todo óbito com quadro de SRAG é testado, e desde dezembro, mais de 90% dos casos foram analisados laboratorialmente. “O percentual de casos que não tiveram amostragem processada se refere, realmente, a situações em que os municípios não conseguiram realizar coleta de forma adequada ou em tempo hábil. Vários fatores influenciam o resultado do exame, como coleta inadequada, armazenamento e transporte da amostra até o laboratório central, tempo decorrido entre a coleta e o início dos sintomas, tipo de material biológico coletado e a oscilação da carga viral, ou seja, o paciente tinha pouca quantidade de vírus em seu organismo, por assim dizer. Todos esses fatores podem contribuir para a não especificação da SRAG”, informou o órgão, por meionota.

Rede ampliada

O órgão informa que, para reduzir essa defesagem, estruturou uma rede de laboratórios, fazendo com que essas amostras sejam analisadas em instituições mais próximas dos locais onde foi feita a coleta, descentralizando o processo e “melhorando, assim, a qualidade das amostras coletadas”. Ainda segundo o texto enviado pela secretaria, “isso tem contribuído muito para a melhoria da capacidade de logística dentro desse eixo laboratorial de enfrentamento à pandemia em Minas”. O órgão informa ainda que “o estado está também em constante contato com os municípios e os prestadores de serviços de saúde para alinhar os procedimentos de coleta, o que permite a melhoria da qualidade das amostras”.

Governo identifica início de queda

Minas Gerais se mantém no platô na curva de COVID-19, com estabilização nos registros, mas em um patamar elevado. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, foram confirmados 2.072 novos casos da doença, totalizando 117.787, e registradas 83 mortes entre ontem e segunda-feira, levando a 4.306 o total de óbitos. Permanecem em acompanhamento 29.349 pacientes, enquanto outros 144.132 se recuperaram. O novo coronavírus chegou a 827 dos 853 municípios mineiros. A Secretaria de Estado de Saúde aponta início de tendência de queda na curva casos e mortes.

Com 47.784 novos registros da doença de segunda para terça, o número total de confirmações de COVID-19 no Brasil, por sua vez, chegou a 3.407.354. Desses, 2.554.179 (75,8%) correspondem aos que se recuperaram e 772.540 (21,8%) estão ainda em acompanhamento, segundo o Ministério da Saúde. São 109.888 mortos pela doença.  

O secretário de Estado de Saúde de Minas, Carlos Eduardo Amaral, enfatiza que há diferença na curva quando se compara a data das mortes e a confirmação delas. Segundo ele, em Minas, “estamos vendo uma tendência de início de  queda”. Carlos Eduardo ressaltou, entretanto, que “ainda é um pouco precoce definirmos isso”.

O estado monitora as mortes  pela data de ocorrência e  pela de registro. Segundo o secretário, há tendência de queda na curva de dados traçada com base na data de ocorrência dos óbitos e é verificada elevação na de registros, que dependem da conclusão de testes. (Colaborou Márcia Maria Cruz)

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 


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