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Estado de Minas ENSINO NA PANDEMIA

Pais e alunos apontam dificuldades no calendário escolar conjugado em BH

Prefeitura de Belo Horizonte marca começo de ano letivo na rede municipal para segunda-feira. Alunos farão séries iniciadas em 2020 e a seguinte até dezembro


27/01/2021 06:00 - atualizado 27/01/2021 07:58

Fabiana Paiva tentou acompanhar o filho Juan, sem sucesso, e terminou pagando aulas a uma prima (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 10/8/20)
Fabiana Paiva tentou acompanhar o filho Juan, sem sucesso, e terminou pagando aulas a uma prima (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 10/8/20)

Mesmo com um 2020 passado praticamente em branco, oficialmente, a rede municipal de ensino não admite a perda do ano letivo, apostando num conjugado com 2021 e tendo em mente até 2022 o prazo para assimilação de conteúdos. Para os pais de cerca de 200 mil estudantes das escolas sob a tutela da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), não tem discussão: está perdido e, por ora, sem luz sobre o funcionamento a partir de agora, mesmo com portaria publicada ontem dando como início ao novo ano escolar a partir de segunda-feira e com o antigo sem oficialmente ter sido encerrado. Ensino remoto instaurado no fim do ano passado ainda não convenceu pais nem alunos.

A Portaria 12/2020, da Secretaria Municipal de Educação (Smed) sacramentou o ano conjugado e tornou público também o calendário da rede para 2021. O Estado de Minas reencontrou duas mães entrevistadas em agosto. Naquela época, a motorista de aplicativo Fabiana Conceição de Paiva, de 38 anos, e a motorista de escolar Lucimara Figueiredo Duarte, de 35, estavam preocupadas com o futuro dos filhos, mas ainda esperançosas de uma retomada das aulas, mesmo que isso significasse entrar 2021 estudando. Fabiana conta que, no fim do ano passado, recebeu uma boa notícia, seguida de um balde de água fria. Uma mensagem de WhatsApp da escola do filho Juan Felipe Figueiredo Siqueira, de 12 anos, aluno do 7º ano de uma instituição municipal no bairro Floresta, na Região Leste da capital, pedia aos pais para comparecer ao local e retirar uma apostila.

"Está perdido e não tem como recuperar. Não vejo condições para dois anos em um"

Fabiana Conceição de Paiva, motorista de escolar e mãe


 
“É um blocão de atividades, com conteúdos novos, mas sem qualquer acesso a explicação dos professores nem outro apoio pedagógico da escola. Tem um WhatsApp para tira-dúvidas, mas é difícil tirar dúvida se ninguém ensina”, lamenta. O jeito está sendo pagar uma prima para ensinar o menino e ajudá-lo com as atividades. Neste fim de mês, Juan entregou o bloco dois e pegou o três, com prazo de um mês para fazer. Quem optou pelo formato digital teve até o último dia 21 para enviar as respostas para o e-mail da escola e já recebeu a terceira lista de atividades. “O ano (de 2020) está perdido e não tem como recuperar. Para 2021, infelizmente, não vejo condições de para dois anos em um, visto que um ano já é difícil. Meu filho tem déficit de atenção e é hiperativo, o que torna tudo ainda mais complicado. Querem empurrar um supletivo para cima dos meninos.”

A secretaria nega a falta de apoio, dizendo que, desde junho, os professores estão em contato com os alunos. Nessa época, segundo a pasta, os professores começaram a produzir o mapa socioeducacional, para conhecer as peculiaridades das comunidades atendidas e contextos familiares, além de dar início a atividades que hoje estão sendo feitas pelos estudantes, em grande parte, com material físico. A pasta acrescenta que “neste momento estão justamente fazendo uma avaliação diagnóstica do nível de aprendizado de cada aluno para traçar as melhores estratégias para cada grupo. Portanto, não há reinício. Há continuidade”.

Sobre como será o ano conjugado, a Smed informou que “fora os alunos que estão saindo e os que chegarão, os demais estão em um ano ‘contínuo’ de 1.600 horas e duas séries escolares. O aluno que estava no 4º ano em março, agora já está no 4º/5º e terminará este ano duplo até dezembro de 2021”. Em muitas escolas da rede municipal, os alunos tiveram ainda menos tempo de aula. Isso porque os professores entraram em greve no fim de fevereiro, alguns dias depois do início do ano escolar, e assim permaneceram até a interrupção das aulas pelo COVID-19, em março.

Quando questionada sobre esse início de aula a distância e como o conteúdo está sendo transmitido aos estudantes, a secretaria disse ter sido feito levantamento de todas as famílias com e sem acesso à internet. “Os conteúdos são passados por meio virtual, plataformas digitais e WhatsApp. Quem não tem acesso à internet, o material é impresso e recolhido e entregue a cada 15 dias”, afirma a assessoria da pasta. “Esse ensino se difere das aulas ao vivo, onde um professor ministra a aula e cada aluno assiste em sua casa, como aconteceu em diversas escolas”, informa nota da secretaria. Em setembro, o prefeito Alexandre Kalil descartou a possibilidade de aulas remotas aos estudantes da rede, dizendo se tratar de “uma agressão à pobreza”.

Por meio de nota, a PBH diz que “certamente, os alunos que mais preocupam no Brasil e no mundo são os que estão encerrando o ensino médio e que fazem a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)” e que, no caso do município, responsável pelo fundamental 1 e 2, as transições são mais suaves. “O princípio que nos rege é o do direito das crianças e jovens a uma trajetória contínua em que a manutenção da idade certa deve ser o objetivo comum”, afirma o texto, acrescentando que o esforço é para avaliações criteriosas e metodologias quase individuais “para que os alunos estejam até 2022 totalmente em dia com os conteúdos 2020/2021”.
 
 

Tropeços no aprendizado remoto


Lucimara Duarte com as filhas Tainá e Taís:
Lucimara Duarte com as filhas Tainá e Taís: "Minhas meninas não sabem nada. Eu não consigo ajudá-las" (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 10/8/20)
Em meio às incertezas, pelo menos um grupo tem o percurso escolar bem definido neste momento: os alunos do 9º ano, que deveriam concluir em dezembro o ensino fundamental. A Portaria 138/2020, publicada em setembro, não só estabeleceu o regime especial de atividades escolares como marcou a certificação de fim de ciclo para 28 de fevereiro, permitindo a quem cursará o ensino médio na rede estadual começar o semestre letivo em março.

De acordo com a PBH, as “atividades escolares são asseguradas aos estudantes por meios físicos impressos ou por meios eletrônicos, conforme as necessidades e possibilidades específicas, considerando os dados do Mapa Socioeducativo, elaborado para avaliar as formas mais eficazes de comunicação com os estudantes e suas famílias”. Ainda segundo o município, isso significa que os 16,5 mil alunos dessa categoria têm acesso ao conteúdo escolar pelo WhatsApp, por meio de plataforma digital ou pela entrega do material impresso. As atividades vão compor o portfólio escolar anual que validará a conclusão da etapa.
 
A motorista de escolar Lucimara Figueiredo Duarte não deixa mentir. A filha Taís Figueiredo Duarte, de 14, no 9º ano do fundamental de escola do Bairro Floresta, na Região Leste de BH, está mesmo recebendo as apostilas. Em agosto, o EM mostrou a angústia de Lucimara em relação ao ensino médio da filha que, desde então, não diminuiu. “Ela está na segunda apostila, que começou a ser entregue há quase dois meses. Mas, é só apostila. Não tem vídeo, nada explicando. Tem que pesquisar e consultar o livro didático que foi entregue aos alunos. Repito, sem explicação”, relata. “E não dá para reclamar, não tem com quem falar, pois o grupo de WhatsApp é para a escola se comunicar com os pais, somos bloqueados para contactá-los. Não sei como será a escola para ela ano que vem, com toda essa defasagem.”

Uma preocupação dupla, por causa da segunda filha, Tainá, de 12, aluna do 7º ano. “Minhas meninas não sabem nada. Eu não consigo ajudá-las, elas fazem o que conseguem. Respondem de qualquer maneira. Não está funcionando. Essa é nossa indignação. A escola poderia montar um grupo de professores para tirar dúvida dos alunos pelo menos, mas tem nada.”

Infantil


Professora da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) do Bairro Mangueiras, na Região do Barreiro, a professora Ana Christina Abreu Goulart, de 52 anos, seguiu à risca a recomendação dada logo no início da pandemia pela Secretaria Municipal de Educação para que as escolas, mesmo fechadas, mantivessem o vínculo afetivo com os alunos. A ponto de na semana da criança ir de casa em casa entregar lembrancinhas para os 20 alunos para os quais dá aula há três anos.

"Conseguimos fazer um trabalho muito produtivo"

Ana Christina Abreu Goulart, professora da Emei do Bairro Mangueiras

E foi além: reunião virtual com os pais, ligações por telefone ou vídeo com as crianças, nas quais aproveitava para contar histórias e relembrar cantigas que os pequenos aprenderam na Emei. Nessas aulas, encerradas em meados de dezembro, as crianças de 4 anos, do 1º período, contaram com atividades lúdicas e brincadeiras pedagógicas e educativas, além de um projeto de literatura. “A Emei Mangueiras toda trabalhou assim. Às sextas-feiras, enviava atividades para as crianças e todos os dias tinha reunião com coordenação e entre professores. Conseguimos fazer um trabalho muito bom e produtivo”, relata Ana Christina, que ainda se ocupa de 25 estudantes de uma escola estadual de Betim, na Grande BH.

Mas nem todos os pais tiveram a mesma sorte. Caso da empresária Camila Beatriz Silveira, de 31 anos, que viveu duas situações diferentes com a filha de 9 anos, aluna do 3º ano do ensino fundamental de escola estadual, e Henrique, de 6 anos, de uma Emei na Região Oeste da capital. A menina tem acesso ao plano de estudos tutorados (PET), mais acompanhamento da professora, encontros virtuais para explicações e tira-dúvidas, além de atividades complementares. Para o menino, ela reclama não ter tido qualquer atividade pedagógica específica. 

Roteiro para compensar perdas

 

Adequação de programas e currículos mais enxutos estão entre os desafios para o novo período letivo: plataforma da Undime ajuda a traçar caminhos(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 5/9/20)
Adequação de programas e currículos mais enxutos estão entre os desafios para o novo período letivo: plataforma da Undime ajuda a traçar caminhos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 5/9/20)
Num próximo ano letivo que se anuncia não menos atípico que o de 2020, o desafio é mudar programas, enxugar currículos e identificar aprendizagens mínimas necessárias para compensar defasagens e permitir aos estudantes avançar em seu percurso escolar. Professores e gestores da rede pública de ensino mineira receberam este mês, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), formação para se servir de uma plataforma que pode abrir caminhos para vencer mais esse obstáculo, em modo presencial ou híbrido.

A plataforma é uma iniciativa da Undime e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), por meio da Frente de Avaliação, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), Fundação Lemann, Instituto Ayrton Senna, Instituto Reúna e Itaú Social. O objetivo é apoiar as redes de ensino e suas escolas que decidirem pelo processo de retomada das aulas presenciais ou híbridas, identificando como os alunos estão em relação aos conhecimentos e habilidades esperados para cada etapa escolar.
 
A partir dessa avaliação diagnóstica, a plataforma pode ajudar na construção de planos de aula efetivos, ancorados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Entre as ferramentas oferecidas, há materiais de apoio ao retorno das aulas presenciais com conteúdo voltado para o desenvolvimento socioemocional; mapas de foco e marcos de desenvolvimento da BNCC; cadernos com atividades avaliativas; guia de uso e aplicação de diferentes avaliações; orientações pedagógicas para uso dos resultados e ensino de habilidades prioritárias para matemática e português do ensino fundamental e médio.

“Certamente, em 2021, os problemas que já existiam estarão presentes de forma ainda mais aguda na rede pública como um todo: alta evasão e altos níveis de distorção idade/série”, afirma o diretor de políticas educacionais da Fundação Lemann, Daniel de Bones. Para ele, as classes terão um comportamento quase de turma seriada: “Haverá quem, de alguma forma, acompanhou a evolução do conteúdo em 2020, porque estava em escola com ensino remoto ou o pai ajudou, e gente para quem o ano passou em branco, sendo necessária, inclusive, a retomada de conteúdos eventualmente de 2019”.

Segundo o diretor, a plataforma dá instrumentos para a rede que se interessar ou para o professor, individualmente, a partir da BNCC, avaliar o quê o aluno deve dominar e montar um plano de aula ou avaliativo, de forma a ter um panorama mais claro dos níveis dos estudantes. “A partir daí, entra um trabalho do currículo 2020/2021, que não vai se esgotar em 2021, porque essa defasagem não será superada em um ano”, afirma. Com a avaliação, serão elencadas as prioridades. “Se o aluno não domina multiplicação, como vai dominar equação de primeiro grau? A BNCC permite fazer escolhas sobre competências e habilidades fundamentais no momento, como dominar quatro operações, escrita e leitura com eficiência razoável. O que ficar para trás será recuperado ao longo do tempo.”

Continuidade


Para Daniel de Bones, mesmo em redes que não optaram pelo ensino remoto este ano a palavra continuidade deve ser a chave. “Seria equivocado simplesmente reproduzir, em 2021, o que não foi dado este ano. O importante é não deixar o fluxo não se quebrar, mesmo avançando 2022. A ideia de uma reprovação, de todo mundo começando do mesmo ponto em que estava cria desincentivo. O aluno pensa que levará mais um ano para concluir. Nessa perspectiva, é muito mais grave o aluno abandonar e, por isso, o contínuo é tão importante, priorizando habilidades fundamentais e recuperando depois o que for ficando para trás.”

O conteúdo da plataforma é gratuito (https://apoioaaprendizagem.caeddigital.net/).  Os criadores ressaltam que a iniciativa não estimula a volta às aulas presenciais, mas visa auxiliar as redes quando elas decidirem pelo retorno, observando as precauções, curva pandêmica local e adotando os protocolos de higiene e saúde.
 
 

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 



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