SAÚDE EM ALERTA

O que levou Minas a declarar emergência na saúde

Decreto do governo do estado tem validade de 180 dias e agiliza ações urgentes, como contratar profissionais e abrir novos leitos

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Em meio à escalada acelerada dos casos de doenças respiratórias, Minas Gerais decretou, ontem (2/5), situação de emergência em saúde pública. A medida, assinada pelo governador Romeu Zema (Novo), tem validade de 180 dias e autoriza a adoção de ações emergenciais para conter o avanço das doenças, que já pressionam a rede de atendimento em todo o estado, especialmente no cuidado com crianças e idosos. Quatro cidades da Grande BH também já acionaram decretos próprios de emergência.


O decreto estadual se soma a uma série de ações já em curso desde março e permite, na prática, que o governo mineiro agilize processos como a contratação de profissionais, aquisição de insumos e abertura de novos leitos hospitalares. A decisão, que já havia sido adiantada pelo secretário de Saúde de Minas, Fábio Baccheretti, em coletiva de imprensa na última quarta-feira (30/4), também habilita o estado a acessar recursos federais extraordinários, fundamentais neste momento de alta demanda. "Estamos preparados para enfrentar esse momento, mas sabemos que ele exige esforço contínuo. Precisamos de abertura de novos leitos em algumas regiões e os municípios têm apoio garantido do Estado", afirmou o secretário, em comunicado divulgado ontem.


A pressão sobre o sistema de saúde comprometeu a capacidade da rede pública em algumas regiões, como Montes Claros, Governador Valadares, Januária, Diamantina e Coronel Fabriciano, segundo informou o governo estadual. Até 30 de abril, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG), o estado já havia registrado 26.786 internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e 334 mortes. A maioria das hospitalizações ocorre justamente entre menores de 1 ano (2.587) e maiores de 60 (15.130).

BH decreta situação de emergência por aumento de doenças respiratórias 


Agora, com o decreto em vigor, Minas poderá, além de abrir leitos com mais agilidade, reorganizar toda a rede de atenção à saúde. A criação do Centro de Operações de Emergências em Saúde por Síndrome Respiratória Aguda Grave (COE-Minas-SRAG) é uma das ações previstas para coordenar as medidas em todo o território estadual. Para aliviar o sistema, a SES-MG também iniciou repasses a hospitais que se dispuserem a abrir ou adaptar leitos clínicos destinados ao atendimento pediátrico de SRAG.


Em uma tentativa de se antecipar ao pico das doenças respiratórias, o governo de Minas abriu, ainda em março, 12 leitos semi-intensivos no Hospital Infantil João Paulo II, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A medida teve como foco principal os casos de bronquiolite em crianças pequenas, uma das principais causas de internação infantil nesse período. A estrutura da unidade também está pronta para acionar, caso necessário, outros 10 leitos de terapia intensiva pediátrica, reforça a SES-MG.

Hospital Infantil de BH se prepara para pico de doenças respiratórias


Desde abril, o estado também opera a Sala de Monitoramento de Vírus Respiratórios, uma estrutura técnica que, segundo o executivo estadual, permite tomada de decisões rápidas nas áreas de vigilância, assistência e vacinação. O esforço se estende ao Comitê Estadual de Vírus Respiratórios, que reúne quinzenalmente especialistas e gestores da saúde pública para acompanhar a evolução dos casos e avaliar a efetividade das medidas adotadas. Paralelamente, desde outubro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde mantém um trabalho conjunto com os municípios para capacitar equipes, distribuir materiais técnicos e preparar a rede de atendimento para o aumento esperado durante o outono e o inverno.

BH reforça convocação para vacinação de crianças contra gripe


Depois de Belo Horizonte, Betim e Contagem, agora foi a vez de Santa Luzia, também na Grande BH, decretar situação de emergência em saúde pública. A decisão foi oficializada no Diário Oficial do Município ontem. O cenário por lá é crítico: as unidades de internação pediátrica estão lotadas, e cresce o número de crianças que precisam de intubação e ventilação mecânica. Segundo a prefeitura, os casos mais graves se concentram entre crianças e adolescentes de 2 a 14 anos.


Além das internações, o município também observa um aumento expressivo na procura por atendimento nas Unidades Básicas de Saúde, na UPA São Benedito e no Hospital Municipal Madalena Parrillo Calixto. Nessas unidades, o número de pacientes com infecções virais agudas (IVAS) e síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) tem ultrapassado a média esperada. Todos os leitos pediátricos disponíveis estão ocupados.


Alta demanda nos hospitais


Na tarde de ontem, a reportagem percorreu unidades de saúde públicas e privadas de Belo Horizonte e encontrou um cenário de movimento intenso e constante, especialmente de famílias com crianças. Apesar do fluxo elevado, não foram registradas superlotações ou filas extensas nos locais visitados.


A maquiadora Luciana Megale, de 38 anos, sentiu o alerta acender quando percebeu que o filho Benício, de oito anos, começou a respirar com dificuldade. Sem histórico de bronquite ou outros problemas respiratórios, o garoto estava com uma tosse carregada desde o último sábado. “Já tem uma semana que ele está assim, e só está piorando”, contou a mãe, preocupada.


Ela o levou ao Hospital Felício Rocho, na Região Centro-Sul da capital, onde aguardava atendimento há mais de uma hora em meio a outras crianças com sintomas semelhantes. Na escola de Benício, pelo menos outras três crianças apresentaram o mesmo quadro. “Me preocupo muito. A gente acha que é só uma virose e, de repente, a criança começa a respirar com esforço”, relatou Luciana.


O caso do filho dela ilustra uma tendência observada em toda a rede de saúde: só em abril, Belo Horizonte registrou mais de 63 mil atendimentos por sintomas respiratórios, um aumento de quase 50% em relação a março, que teve pouco mais de 42 mil casos. Na última semana do mesmo mês, a capital mineira recebeu 196 pedidos de internação para crianças com menos de 1 ano, quase o triplo da demanda da última semana de março.

Luciana Megale percebeu que o filho Benício começou a respirar com dificuldade.  Sem histórico de bronquite, ele estava com tosse carregada há uma semana

Luciana Megale percebeu que o filho Benício começou a respirar com dificuldade. Sem histórico de bronquite, ele estava com tosse carregada há uma semana

Jair Amaral/EM/D.A. Press


Mesmo quem não buscava atendimento por doenças respiratórias sentiu a mudança no ambiente hospitalar. A bancária Maria do Carmo de Araújo, de 58 anos, e o professor Hélio Mendes, de 62, procuraram o Felício Rocho para uma consulta ortopédica, mas decidiram usar máscara ao chegar. “Viemos de carro sem máscara, mas ao entrar vimos muita gente, o ambiente é fechado, então colocamos por precaução”, explicou Hélio.


A movimentação intensa nas áreas internas da unidade chamou a atenção do casal. “Está dentro do esperado, mas a gente percebe o quanto está cheio. Independentemente de estarmos com sintomas ou não, em um ambiente como esse, é melhor ter cuidado. Ainda mais depois da pandemia. Aprendemos o quanto isso é importante”, disse Maria do Carmo. A atitude vai ao encontro da recomendação de especialistas, que reforçam a importância do uso de máscaras em locais fechados e com aglomeração para conter a transmissão de vírus respiratórios.


Vacinação como barreira


A imunização é tratada como peça-chave para evitar o avanço de casos graves de doenças respiratórias. Como resposta à piora nos indicadores, a vacinação contra a gripe foi ampliada para toda a população acima de seis meses. Em BH, a campanha, que começou em 31 de março, foi reforçada com mais postos e distribuição do imunizante em todos os 153 centros de saúde da capital, além de sete unidades extras. Até o momento, já foram aplicadas mais de 202 mil doses na capital.


A vacinação contra a influenza agora faz parte do calendário anual e segue disponível durante todo o ano. O estado já recebeu 5,7 milhões de doses, distribuídas aos municípios, e conta com o apoio de 222 “vacimóveis” – vans adaptadas como salas de vacinação – para ampliar o alcance da campanha. A baixa procura, no entanto, acende um alerta entre os profissionais de saúde, que contam com a vacina como barreira contra a superlotação. Na capital, a cobertura vacinal segue baixa: apenas 24,1% do público-alvo – crianças pequenas, idosos e gestantes – está vacinado.


“Temos vacinas eficazes para a maioria das doenças respiratórias, como influenza e covid-19. A única exceção é o vírus sincicial, que ainda não tem vacina disponível, mas é justamente um dos mais perigosos para bebês pequenos. Por isso, é essencial que pais e responsáveis levem seus filhos para vacinar", alertou Baccheretti. Por fim, ele também reforçou a importância de evitar o contato entre crianças com sintomas e outras da mesma faixa etária. 

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