SOLIDARIEDADE

Sempre é tempo de ajudar o próximo

Conheça a história de três mulheres que encabeçam projetos sociais e ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade durante todo o ano, e não somente no Natal

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Quando dezembro chega, as ruas se iluminam com as cores vibrantes do Natal e o imaginário coletivo se volta para a figura do Papai Noel — símbolo de amor, generosidade e esperança. Mas, sem trenós e roupas vermelhas, Jacqueline Galdino, Marta Lima e Rosa Werneck, três mulheres à frente de projetos sociais na Grande BH, se dedicam diariamente para mostrar que o espírito natalino está no cuidado com o outro — um cuidado que não começa nem termina no dia 25, e sim envolve todos os dias do ano em prol de quem mais precisa.

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UM CAFÉ QUE VIROU MISSÃO

Foi a partir de um momento delicado na vida da família Galdino que nasceu um pedaço da história do Missão do Bem. Em 2019, a designer de interiores Jacqueline Galdino Evangelista, 55 anos, acompanhava o irmão em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na capital mineira. Ele lutava contra o alcoolismo.

Entre horas de espera, fome e cansaço, nasceu o "Café Fraterno", uma ideia para levar café para outras pessoas que, assim como eles, atravessavam longas horas em hospitais. “Tínhamos dinheiro, mas não havia onde comprar comida. Aquilo me marcou muito e ali nasceu o desejo de levar café e acolhimento para outras pessoas”, explica.

Com o tempo, o café se transformou em ações maiores, com doações, visitas a hospitais, apoio a clínicas de recuperação, intervenções em instituições sociais e, claro, a ação mais aguardada: o Natal do Bem acontece de forma itinerante, sendo realizado todos os anos em diferentes comunidades da Grande BH.


A ação foi crescendo e ganhando mais voluntários e hoje caminha para se tornar oficialmente uma ONG legalizada. "Tudo começou comigo e minha família, mas teve um tempo em que fiquei sozinha, por quase cinco anos. É emocionante ver algo pequeno se transformar em algo grande”, relata.

Ao longo do ano, o projeto atende famílias em situação de vulnerabilidade, com alimentos, fraldas, brinquedos, roupas, móveis, equipamentos de saúde, além de apoiar creches, lares de idosos e casas de recuperação. "O que precisarem, vou correr atrás para conseguir. Desde um brinquedo, uma fralda até uma geladeira, não importa."

O ponto alto do projeto é a ação de Natal, mas não pelo tamanho, e sim pelo significado. “Nessa época do ano, quero levar um pouco de alegria para essas famílias, com brincadeiras e até mesmo com alimento, porque eu me vejo nessas crianças no passado. Eu não tive isso, mas elas podem ter. Então, o Natal para mim é o ano inteiro, mas a gente tem essa data especial para levar um pouco de alegria, dignidade e esperança para essas famílias", diz.

Moradora do bairro Mangueiras, na Região do Barreiro, a dona de casa, casada e mãe de três filhos, Darlene Glória, 53 anos, conheceu o projeto no Natal do Bem em 2024, realizado na Fundação Dom Bosco, no bairro Floresta, na Região Centro-Sul, acompanhada da filha caçula de 11 anos. "Foi gratificante ver a alegria das crianças e de todos que participaram." Após a ação, Darlene se juntou ao projeto como voluntária.

Na ação de Natal deste ano no Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste, mais de 150 pessoas estiveram presentes. Tamara Regina Gomes levou a filha de 9 anos para se divertir. A dona de casa e mãe solo de três filhos conta que foi uma experiência muito marcante. “Dá para ver que tudo é feito com amor e dedicação”, reconhece.

Em seis anos, mais de 500 famílias foram impactadas pelas ações da Missão do Bem. O maior desafio da entidade é manter recursos financeiros e voluntários ao longo do ano.

ONG Missão do Bem atende pessoas em situação de vulnerabilidade social na grande BH
ONG Missão do Bem atende pessoas em situação de vulnerabilidade social na grande BH Ramon Lisboa/EM/D.A Press

 

TRANSFORMANDO DOR EM AÇÃO

A dor que poderia tê-la paralisado se transformou em ação. Em um dos momentos mais difíceis de sua vida, a técnica de meio ambiente Marta Amélia Moreira, 57 anos, encontrou no sofrimento um novo propósito de vida. Mãe de dois filhos, teve seu caçula preso em 2015. "Passei por um problema familiar e não tive apoio de ninguém, nem mesmo de alguma instituição ou órgão público."

Percebeu que outras mulheres estavam passando por aquilo também. Marta começou a prestar orientação jurídica a outras famílias, doar alimentos e conectar pessoas a redes de apoio.

Em 2016, criou o blog "Filhos presos, mães reféns”, um espaço de escuta, acolhimento e informação para mulheres que viviam situações semelhantes. O trabalho ganhou forma institucional em agosto de 2017, com a criação oficial do Instituto Social Acreditar e Lutar.

O instituto ampliou o trabalho de atendimento jurídico e psicológico, doação de cestas básicas, hortifrutis, roupas, brinquedos, kits de higiene e equipamentos de saúde, e também promove atividades voltadas ao bem-estar físico e emocional, como aulas de jiu-jitsu, pilates e rodas de conversa sobre saúde mental.

Para Marta, a solidariedade precisa ser plantada todo dia. “Não importa o dia do ano, se a pessoa chegou até nós, ela não pode sair de mãos vazias e muito menos de coração vazio”, resume. Apesar das ações diárias, no período natalino esse cuidado ganha contornos ainda mais simbólicos. "O Natal me fez ser mais humana com quem precisa de humanidade."

Neste ano, o instituto arrecadou mais de 200 brinquedos que serão distribuídos em várias comunidades de Belo Horizonte. Marta conta que para muitas crianças será o único presente recebido. Porém, o mais importante não é o brinquedo em si, mas o gesto. "Ver, conviver e participar das necessidades das pessoas me fez acreditar que podemos viver o Natal todos os dias."


Em quase dez anos de atuação, mais de 6 mil famílias já foram impactadas pelas ações do Instituto Social Acreditar e Lutar. Entre tantas histórias, Marta guarda com emoção a lembrança de Nathan, um menino que sonhava ser piloto de avião e encontrou alegria em um simples brinquedo.

"Eu não sabia que ele queria pilotar um avião. Em uma das ações ele ganhou um helicóptero. Fiquei muito emocionada que ele ganhou o brinquedo. Infelizmente ele não pôde realizar o sonho, alguns anos depois ele faleceu em decorrência de um câncer, mas aquele brinquedo deu a ele alegria. Essas pequenas ações mudam vidas", recorda Marta.

 

A previsão da ONG Solidariedade é atender 600 crianças somente neste Natal
A previsão da ONG Solidariedade é atender 600 crianças somente neste Natal Alexandre Guzanhe/EM/D.A Press


HERANÇA DE SOLIDARIEDADE

Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Natal solidário é uma tradição que atravessa gerações. A advogada e professora Rosa Maria de Jesus Werneck, de 63 anos, cresceu observando a mãe Ephigênia de Jesus Werneck transformar a própria casa em um espaço de acolhimento, especialmente no fim do ano.

“O Natal sempre foi um momento de partilha para ela, que dizia que precisávamos enxergar os invisíveis”, recorda Rosa. Ainda jovem, passou a ajudar na organização de festas natalinas voltadas a crianças em situação de vulnerabilidade. Com o tempo, as ações cresceram e passaram a atender centenas de famílias. "Chegamos a atender mais de 1.500 crianças e instituições com brinquedos, sapatos e até eletrodomésticos que faziam falta”, relembra Rosa.

Após a morte da mãe, em 2010, Rosa decidiu manter viva a missão. Durante alguns anos, continuou organizando o Natal Solidário com a ajuda de amigos. E foi em 2016 que o trabalho ganhou estrutura com a criação da ONG Solidariedade, fundada para dar suporte contínuo às famílias vulneráveis ao longo de todo o ano.

A criação da organização também foi influenciada por duas experiências vividas por Rosa fora do estado e do país. Uma viagem ao Amazonas despertou nela o desejo de criar uma escola popular para adultos ignorados, marginalizados ou desvalorizados socialmente, enquanto uma passagem pelo Marrocos, no Norte do continente africano, a inspirou ao conhecer projetos voltados ao fortalecimento de mulheres em situação de vulnerabilidade.

Hoje, a ONG desenvolve projetos de alfabetização de adultos, reforço escolar, cursos, terapias, atividades para idosos e apoio a mulheres em situação de risco. Rosa lembra de duas enchentes que atingiram o município. O apoio da comunidade foi fundamental para a entidade conseguir doar e entregar de barco marmitex, alimentos, materiais de limpeza e construção para famílias desabrigadas.


Mesmo com uma atuação no ano todo, o Natal segue sendo o momento mais esperado do calendário da ONG Solidariedade. É quando voluntários e doadores se mobilizam para levar às famílias não apenas alimentos, mas uma experiência completa de cuidado.

As cestas natalinas são reforçadas com itens típicos da ceia, brinquedos escolhidos por faixa etária e produtos essenciais. “O Natal desperta algo diferente nas pessoas. É quando elas se permitem sentir esperança”, afirma Rosa.

Em quase uma década de história, mais de 3 mil pessoas foram impactadas. Rosa conta que histórias marcantes não faltam: crianças que nunca haviam provado chocolate, famílias que não tinham o que comer e mães que recuperaram a autoestima ao serem acolhidas sem julgamentos.

“Uma vez, uma criança pediu autorização para guardar um picolé para dividir com a família, sem perceber que o doce iria derreter antes de chegar em casa. Em outra ocasião, uma menina de nove anos, moradora de um aglomerado em Belo Horizonte, pediu para trocar uma boneca que ela tinha ganhado por uma mochila escolar. O desejo de estudar falou mais alto. E isso me emocionou muito”, conta.

Neste ano, com mais de cinco ações natalinas, a expectativa é atender mais de 300 famílias e 600 crianças em bairros e comunidades de Santa Luzia, Belo Horizonte e em Baldim, na Região Central do estado. Para Rosa, o Natal é o momento em que essas histórias se multiplicam e reforçam o sentido do trabalho.

“O Natal simboliza tudo o que fazemos durante o ano: acolher, respeitar e devolver dignidade. É um tempo de renascimento. Todo ano eu saio transformada. Aprendo a ser menos intolerante, a escutar mais e a entender que dignidade começa no respeito”, afirma Rosa Werneck.

 

Em seis anos, mais de 500 famílias foram impactadas pelas ações da Missão do Bem, cujo maior desafio é manter recursos financeiros ao longo do ano
Em seis anos, mais de 500 famílias foram impactadas pelas ações da Missão do Bem, cujo maior desafio é manter recursos financeiros ao longo do ano Ramon Lisboa/EM/D.A Press


COMO AJUDAR

Em comum, essas três mulheres compartilham a crença de que ninguém faz nada sozinho e que a solidariedade é uma construção coletiva, feita de pequenos gestos repetidos diariamente.

"É uma corrente. Cada doação, cada abraço, cada voluntário faz parte dessa construção de um mundo melhor”, afirma Rosa.

É através do apoio de voluntários e doadores que a magia pode ser feita, transformando pequenas ações em grandes mudanças na vida das pessoas. Seja em uma grande festa de Natal, em uma cesta básica entregue discretamente, em uma aula para quem nunca aprendeu a ler, em um café servido em silêncio ou em um abraço aconchegante, o espírito natalino segue vivo.

Quem deseja apoiar os projetos pode contribuir de diversas formas: doações financeiras, de alimentos, brinquedos, roupas, itens de higiene ou mesmo prestando trabalho voluntário.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Rocha

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A advogada e professora Rosa Maria de Jesus Werneck, de 63 anos, aprendeu com a mãe Ephigênia os valores de empatia e solidariedade
A advogada e professora Rosa Maria de Jesus Werneck, de 63 anos, aprendeu com a mãe Ephigênia os valores de empatia e solidariedade Alexandre Guzanhe/EM/D.A Press

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