O que ameaça pontos icônicos de BH, a capital dos bares
Entre os fatores estão a pressão imobiliária e a mudança de hábitos da população
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O fim do funcionamento do Bar Bolão na Praça Santa Tereza nesse domingo (26/10), um dos pontos mais queridos de Belo Horizonte, acende um alerta sobre um fenômeno que preocupa moradores e frequentadores: a luta de estabelecimentos tradicionais que ajudaram a construir a identidade da cidade para se manterem abertos.
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Mais do que simples pontos comerciais, esses bares e restaurantes são parte da memória afetiva e cultural da capital. A ameaça de encerramento das atividades levanta questões sobre os rumos do desenvolvimento urbano e as novas dinâmicas de consumo que impactam diretamente esses negócios familiares.
Despedida do Bolão
Depois de mais de meio século, o Bar Bolão encerrou suas atividades na esquina em frente à Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte. O local foi ponto de encontro de diferentes gerações que curtiram a madrugada e lar do famoso prato “rochedão'“.
Segundo a proprietária do bar, Karla Rocha, o motivo do fechamento foi um pedido do dono do imóvel, por parte do locador, para a realização de reformas. Entretanto, não é o fim da história do ponto tradicional da boemia mineira: a comerciante garante que o Bolão voltará a funcionar em um novo local, ainda não definido. “O Bolão não fecha. O Bolão renasce”, afirmou Karla ao Estado de Minas.
O que ameaça os bares mineiros?
A combinação de fatores econômicos e sociais explica grande parte desse cenário. A valorização imobiliária em áreas centrais e bairros nobres pressiona os proprietários com aluguéis cada vez mais altos, tornando a operação insustentável para quem trabalha com margens de lucro apertadas e preços justos.
Outro ponto crucial é a mudança no perfil do consumidor. Novas gerações buscam experiências diferentes, muitas vezes ligadas a ambientes "instagramáveis", cardápios elaborados ou propostas temáticas. Bares clássicos, que apostam na simplicidade e na tradição, enfrentam o desafio de atrair esse novo público sem perder sua essência.
Por fim, também existe a dificuldade de sucessão familiar. Muitos estabelecimentos foram fundados há décadas e, com a aposentadoria dos donos originais, nem sempre os herdeiros têm interesse ou preparo para continuar o negócio. A falta de mão de obra qualificada e o aumento dos custos com insumos e pessoal completam a lista de desafios.
Sem perder a essência
O Café Nice, fundado por Heitor Resende em 1939 na Praça Sete, no Centro de BH, precisou se reinventar para se manter vivo. O negócio, herdado pelos irmãos Renato e Tadeu Moura Caldeira há 55 anos, foi parada obrigatória para muitos belo-horizontinos ao longo das décadas além de receber autoridades como Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, cujas fotos estão espalhadas pelas paredes.
O “esvaziamento” do Centro, os impactos da pandemia de Covid-19 e a mudança do perfil do público comprometeram o funcionamento do estabelecimento a ponto dos irmãos considerarem seu fechamento. A campanha “Abrace o Nice” de financiamento coletivo e a entrada de empresas colaboradoras salvou o café. Depois de uma reforma e uma reformulação do negócio, a reinauguração do estabelecimento aconteceu no último dia 23 de setembro com o lema “Desde 1939 fazendo amizades”.
Outro que viu oportunidade nas mudanças foi o Café Palhares, fundado em 1938, também no centro da capital. De acordo com João Lúcio Ferreira, sócio-proprietário do estabelecimento junto ao irmão Luiz Fernando Ferreira, o segredo para seguir conquistando o público é mesclar o tradicional com novidades.
Entre as novidades, João Lúcio cita a criação do parklet – também chamado de varanda urbana – e novos tira-gostos, mas sem perder a personalidade. “O que é muito importante de um comércio hoje é manter sua natureza. Estou lá há 55 anos e mantenho a mesma essência que meu pai deixou”, conta João Lúcio.
Como ajudar a preservar os bares que você ama
Para quem lamenta a perda desses espaços e deseja apoiar os que ainda resistem, algumas atitudes práticas podem fazer a diferença no dia a dia. Adotar uma postura ativa como cliente é a maneira mais eficaz de contribuir para a longevidade desses locais.
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Frequente com regularidade: a presença constante é o que garante o faturamento. Em vez de ir apenas em datas especiais, inclua o bar na sua rotina semanal ou quinzenal.
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Leve amigos e familiares: apresente o lugar para outras pessoas. A divulgação boca a boca ainda é uma das ferramentas mais poderosas para atrair novos clientes.
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Compartilhe nas redes sociais: mesmo que o bar não tenha um perfil ativo, uma foto do seu prato preferido ou um elogio público ajuda a dar visibilidade e despertar o interesse de outros.
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Participe de eventos: se o estabelecimento promover alguma noite temática, música ao vivo ou festival, prestigie. Essas iniciativas são importantes para diversificar a receita.
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Seja um cliente fiel e paciente: estabelecimentos tradicionais podem não ter a mesma agilidade de grandes redes. Entender e valorizar o atendimento personalizado e o ritmo próprio do lugar faz parte da experiência.
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Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.