TAMANDUÁS

MG: Um tamanduá é resgatado a cada dois dias

A perda de habitat é uma das causas do declínio dessas espécies. Os tamanduás tradicionalmente habitam florestas e cerrados, mas seus ambientes tem se reduzido

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A área urbana do estado de Minas Gerais é um destino bastante cobiçado pela população de tamanduás locais, que ano após ano, decide se aventurar por casas, parques, quintais ou até mesmo pelos fios elétricos da região. De acordo com dados fornecidos pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, 236 tamanduás foram resgatados no ano de 2024. Número esse, que pode ser ainda maior, uma vez que nem todas as espécies de animais silvestres capturados são especificadas no sistema.

Em 2024, um tamanduá-mirim foi resgatado no jardim de uma casa na cidade de Frutal, no triângulo mineiro. No mesmo ano e cidade, outro tamanduá-mirim foi socorrido em cima dos fios elétricos de uma residência. Já mais recentemente, em fevereiro deste ano, um tamanduá-bandeira foi flagrado circulando pela área urbana no município de Araguari, no triângulo mineiro. Esses são apenas alguns dos muitos casos existentes.

O tenente Henrique Barcellos, porta-voz do CBMMG, explica que o número crescente de ocorrências em regiões urbanas é reflexo da diminuição dos habitats naturais e da expansão das atividades do homem. "Ao longo dos anos tem sido mais frequente a presença de animais silvestres em ambientes urbanos, justamente pelo avanço das construções humanas em áreas de vegetação. Diversos condomínios, por exemplo, têm o apelo de serem locais mais sossegados, mas na maioria das vezes invadem uma área de diversos bichos. Alguns, inclusive, ficam perdidos e com dificuldade para retornar ao seu local de origem", disserta.

"Outra situação que pode influenciar essa migração são os grandes incêndios em áreas urbanas. Muitas vezes, eles fogem daquele local de risco e podem se abrigar em meios urbanos, onde tendem a se sentir protegidos das chamas", completa.

Segundo o profissional, após a captura, se ele sofreu algum dano, é encaminhado para um hospital ou clínica veterinária, mas caso não haja nenhum ferimento, o animal é devolvido ao habitat natural - em um local distante da população.

Tamanduás-mirim novas moradores do Zoológico de BH
Tamanduás-mirim novas moradores do Zoológico de BH Suiziane Brugnara/PBH / Divulgação

De acordo com o Tenente, a corporação atua, principalmente, em duas situações envolvendo os animais silvestres:

  • Salvamento: O animal está vulnerável e deve ser resgatado. Ex. Ele caiu em algum local e precisa sair do espaço onde está confinado.
  • Captura: O animal está colocando em risco a vida das pessoas, seja por estar compartilhando o mesmo ambiente ou por se tratar de um animal peçonhento que pode esboçar algum tipo de ataque.

Estilo de vida

Tamanduá tem origem no tupi (tá-monduá) e dá nome a um caçador de formigas mamíferos e desdentado, que utiliza sua língua comprida para capturar suas presas. Daniel Casali, biólogo especialista em animais, explica que eles são divididos em três gêneros. O maior deles, o tamanduá-bandeira (que conta com uma espécie) é terrestre e cavador, utilizando suas garras longas e afiadas para se alimentar de cupins e formigas. Com um porte intermediário, o tamanduá-mirim (também com uma espécie), embora também terrestre, pode ser semi-arborícola, adaptando-se a diferentes tipos de vegetação. Já o tamanduáí (que possui uma variação de cinco espécies), menor e mais ágil, possui garras desenvolvidas, mas não as utilizadas para cavar, alimentando-se de insetos menores.

Tamanduá-bandeira
Uma fêmea de tamanduá-bandeira foi vista por um bombeiro militar de folga andando na área urbana CBMMG/Divulgação

"Eles têm uma dieta específica de cupins, formigas e, ocasionais, larvas de besouro, adaptadas para extrair pequenas quantidades de diversos formigueiros e cupinzeiros ao longo do tempo, uma estratégia para evitar picadas excessivas", esclarece.

O Brasil abriga espécies de tamanduás, sendo que em Minas Gerais são encontradas duas delas: o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim. Embora o tamanduá-bandeira não esteja em risco iminente de extinção, o tamanduá-mirim é classificado como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Cuidados e impactos

O animalzinho aparentemente não oferece grande ameaça a ninguém. Grande erro. Não é por acaso que a expressão "abraço de tamanduá" passou a significar "abraço traiçoeiro". Quando o tamanduá percebe um inimigo, ergue sobre as patas traseiras e estende as dianteiras, em um gesto acolhedor. Diante de uma recepção tão calorosa, o inimigo se aproxima. É nesse momento que ele fere a vítima cravando suas garras nas costas.

"Esses animais podem interagir de forma agressiva caso precisamente se defendam ou se sintam ameaçados pelos seres humanos, pois apesar de geralmente se comportarem de forma importadora, possuem garras bem afiadas", explica o biólogo, que completa: "As garras são uma adaptação adquirida pelas espécies maiores para cavar e procurar por alimento".

Este  tamanduá-bandeira chegou ao viveiro ainda filhote depois que a mãe morreu atropelada.
Este tamanduá-bandeira chegou ao viveiro ainda filhote depois que a mãe morreu atropelada. Reprodução TV Globo

A perda de habitat é uma das causas do declínio dessas espécies. Os tamanduás, que tradicionalmente habitam florestas (de mata atlântica) e cerrados, têm visto seus ambientes se reduzirem, sendo forçados a se deslocar para áreas urbanas, onde o contato com seres humanos se torna mais frequente e, por vezes, perigoso.

O especialista destaca a importância de tratar os tamanduás com cuidado. "Um profissional qualificado deve ser acionado para realizar o resgate e garantir sua reintrodução no habitat natural, evitando transtornos e riscos tanto para os seres humanos quanto para ele", completa.

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Nesse sentido, o sargento Larcher, do Batalhão de Polícia Militar de Meio Ambiente, alerta: "As pessoas não devem alimentar-se e nem tentar tocar nos animais. O correto é acionar os órgãos competentes para auxílio".

Os militares também defendem a importância de entender que a crescente expansão das cidades, força-os a se adaptarem ao espaço urbano. "A norma do IBAMA já elucida que alguns animais são sinantrópicos, ou seja, estão acostumados a viver em ambientes ocupados pelo homem, ainda que sejam de origem silvestre. A partir disso, precisamos compreender que a presença deles é uma coisa normal, que será cada vez mais frequente, o que devemos aceitar e respeitar".

Estagiária sob supervisão do editor Benny Cohen

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