Interessada por alimentação, comportamento e ciência, iniciou sua carreira no Estado de Minas como estagiária de Saúde e hoje é repórter da área. Vencedora do Prêmio de Jornalismo CDL/BH, também já cobriu política, cultura, esportes e temas gerais.
Os centros comerciais entenderam que precisam oferecer motivos para que as pessoas saiam de casa crédito: Freepik
A recente aposta em complexos gastronômicos sofisticados dentro dos shoppings brasileiros não é um caso isolado, mas um reflexo claro da transformação que redefine o varejo no país.
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O que antes era um espaço voltado quase exclusivamente às compras agora se reinventa para competir com a conveniência do e-commerce, e usa a comida como principal isca para atrair o público.
A lógica é simples: enquanto um produto pode ser adquirido com poucos cliques, a experiência de uma refeição em um ambiente agradável e bem projetado não pode ser replicada online.
Os centros comerciais entenderam que precisam oferecer motivos para que as pessoas saiam de casa, e a gastronomia se tornou a âncora dessa nova estratégia. Assim, a alimentação deixou de ser apenas um serviço de apoio e passou a ocupar o centro da experiência de lazer e convivência.
Ainda assim, o número mostra a resiliência do modelo, que atrai mais de 400 milhões de visitantes por ano. A meta dos empreendimentos, segundo a Abrasce, é clara: transformar os shoppings em destinos de lazer, onde a compra é uma consequência da visita, e não o motivo principal.
A transformação é visível tanto na arquitetura quanto na curadoria de marcas. As tradicionais praças de alimentação, marcadas por redes de fast-food e espaços funcionais, estão dando lugar a boulevards gastronômicos, com ambientes abertos, áreas verdes e restaurantes assinados por chefs renomados.
De acordo com o Censo Abrasce 2024-2025, o segmento de alimentação representava 19,1% do número de lojas no ano passado. Em 2023, essa fatia era de 17,5%. Já o setor de conveniência e serviços cresceu de 9,8% para 10,4%, enquanto lazer e entretenimento passaram de 2,2% para 2,4%.
Atualmente, 95% dos shoppings contam com praça de alimentação, 82% têm operações gastronômicas distribuídas pelos corredores e 31% já investem em boulevards dedicados à alta gastronomia.
O mix de opções também mudou. Agora é comum encontrar bares com drinks autorais, cafés especiais e empórios gourmet, além de restaurantes que atendem a diferentes momentos do dia - do almoço de negócios ao jantar em família.
O Shopping Aricanduva, na Zona Leste de São Paulo, é o maior centro de compras da América Latina. Divulgação
Com 579 lojas, três praças de alimentação e 13 salas de cinema, o espaço ainda surpreende por abrigar o Playcenter Family, um parque de diversões dentro do complexo. Divulgação
Com quase 440 mil metros quadrados de área construída, o Aricanduva é tão extenso que seus corredores receberam nomes de bairros e ruas da região para facilitar a circulação. Uma visita completa leva de duas a três horas, reunindo consumo, lazer e entretenimento num único destino. Divulgação Instagram
Os shoppings, hoje em dia, são ambientes que, além do grande número de lojas para compras, oferecem espaços de lazer cada vez mais procurados pelos condumidores. Afinal, geralmente têm conforto e segurança. Conheça grandes shoppings pelo mundo! Divulgação Caxias Shopping
West Edmonton Mall (Edmonton, Canadá) - O empreendimento abrange 800 lojas e variadas alternativas de entretenimento como um parque aquático interno, pista de patinação no gelo, montanha russa e minipista de golfe. Flickr Dylan Kereluk
É o maior shopping da América do Norte. Já ocupou a primeira colocação no ranking, mas perdeu o posto após a inauguração do South China Mall, em 2005. Seu estacionamento comporta até 20 mil veículos. Shopping - Flickr GoToVan
Cevahir Mall (Istambul, Turquia) - Maior shopping da Europa. A sua estruturação levou apenas dois anos e meio para ser concluída, em 2005. Mesmo após 18 anos da inauguração, permanece como o maior centro comercial do continente. Flickr Sinan Do?an
O Cevahir também é um dos shoppings mais modernos. Tem 343 lojas, 34 restaurantes fast-food, 14 restaurantes exclusivos, 12 salas de cinema, teatro, pistas de bolich, e parque de diversões, até com montanha-russa. Sua praça de alimentação pode receber cinco mil pessoas. Christine und Hagen Graf - Wikimédia Commons
Mid Valley Mega Mall (Kuala Lumpur, Malásia) - O terreno escolhido para sua construção era um pântano, o que exigiu longo e árduo trabalho da engenharia para torná-lo apropriado. angys - Wikimédia Commons
Finalizado em 1999, é um complexo composto por uma torre com 30 escritórios e um shopping de cinco andares, incluindo dois hotéis com mais de 640 quartos. Site Midvalley
Central Word (Bangkok, Tailândia) - O empreendimento começou a funcionar em 2006, mas quatro anos depois um incêndio interrompeu seu funcionamento até 2012, quando a sua reforma foi concluída. site Central World
Com a obra, houve ampliação do shopping, que passou a abranger 600 lojas, um centro de convenções, um estacionamento subterrâneo para sete mil carros, hotel 5 estrelas e opções de lazer como pista de patinação no gelo. Wpcpey - Wikimédia Commons
Utama Shopping Center (Selangor, Malásia) - Funciona desde 1995, numa região que antes era uma mina de estanho. Oito anos depois passou por ampliação e atualmente tem 650 lojas, numa área de 465 mil m². Utama Shopping Center - Wikimédia Commons
O shopping tem um hotel 5 estrelas, um prédio no formato de torre com escritórios, espaço para eventos, quadras de futsal, uma pequena floresta com lago e ponte e um jardim na cobertura com 500 espécies. Flickr La
SM City North Edsa (Quezon City, Filipinas) - Pioneiro na concepção de ‘compras com lazer’, foi aberto em 1985 e ampliado em 2006. Dois anos depois recebeu um anexo. Flickr Lean Ansing
Tem 1.100 lojas, teatro para 1.200 pessoas e pistas de boliche. Em 2009, o shopping adicionou um sistema de ventilação que usar a brisa do mar na ventilação do prédio e, assim, reduzindo a dependência do ar condicionado. Flickr Joel Formales
Dubai Mall (Dubai, Emirados Árabes Unidos) - Maior shopping do mundo, tem 1,1 milhão de m². Comporta 1.200 lojas, parque com decoração em homenagem à Sega Eletronics, desenvolvedora e produtora de jogos eletrônicos. Flickr neekoh fi
Tem espaço para lazer de crianças, pista de patinação no gelo e o maior aquário (foto) suspenso do mundo com cerca de 33 mil animais em exposição. Por sinal, em 2011, com 54 milhões de visitantes, foi o local mais frequentado do planeta na categoria 'compra e lazer'. Flickr Peter_069
A título de curiosidade, incluímos dois shopping centers que não deram muito certo. São espaços gigantescos que, apesar da expectativa, não deram retorno aos investidores. Imagem de diddi4 por Pixabay
Golden Resources Mall (Pequim, China) - Em 2004, ao ser inaugurado, era o maior shopping do mundo. Mas perdeu o posto em menos de um ano. Tem mil lojas em seis pisos. Terramorphous - Wikimédia Commons
South China Mall (Hong Kong, território autônomo na China) - Tem uma área de um milhão de m². No entanto, é considerado fantasma, pois não há quase lojas. 95% dos seus 2.350 boxes estão vazios desde a inauguração em 2005, devido à localização e a problemas financeiros. Reprodução
Apesar disso, o shopping tem uma zona que reflete a cultura de outras partes do mundo como a gastronomia e moda da Califórnia e São Francisco, nos EUA; Amsterdã, na Holanda e Paris, na França. E tem umm canal para passeio dos visitantes. David290 - Wikimédia Commons
Belo Horizonte adota o novo modelo
Na capital mineira, o movimento ganha força com empreendimentos que apostam na experiência gastronômica como diferencial competitivo.
O recém inaugurado Botânico Shopping, foi projetado com o propósito de unir gastronomia, lazer e contato com a natureza. Localizado no bairro Belvedere, região Centro-Sul, o empreendimento reúne restaurantes de alto padrão, espaços abertos e ambientação inspirada em parques urbanos.
A proposta é oferecer uma experiência de consumo pautada pelo bem-estar e pela convivência, uma tendência que aproxima o shopping de um parque gastronômico.
Botânico Shopping abrange restaurantes para todos os gostos e necessidades Jair Amaral/EM/D.A Press
O BH Shopping, também no Belvedere, reforça essa nova visão. Com mais de 40 anos de história, o centro comercial passou por um processo de modernização e hoje abriga um dos rooftops mais sofisticados da cidade, com restaurantes como Ninneto, Pobre Juan e Cozinha de Fogo Wäls.
O projeto prioriza experiências completas, com vista panorâmica e ambientes voltados para o convívio social.
Já o Shopping Del Rey, na região da Pampulha, inaugurou recentemente seu primeiro espaço ao ar livre, que conecta gastronomia, lazer e natureza em um mesmo ambiente. O local conta com jardins, playground, fonte interativa, mobiliário de descanso e espaços “instagramáveis”.
A área recebe grandes marcas como Coco Bambu, Madero, Jerônimo, Cozinha de Fogo Wäls e Outback Steakhouse, reforçando a ideia de que comer fora se tornou uma das principais formas de entretenimento urbano.
Estratégia de permanência e convivência
Mais do que atrair público, a estratégia busca aumentar o tempo de permanência dentro dos shoppings. Um visitante que vai para um almoço ou jantar pode acabar passeando pelos corredores, olhando vitrines e realizando compras por impulso - movimento que beneficia todo o ecossistema de lojistas.
Além disso, a mudança nos hábitos de consumo também ajuda a explicar essa virada. O avanço do home office e o comportamento da geração Z, que valoriza experiências coletivas e ambientes instagramáveis, estão entre os fatores que estimulam a busca por espaços multifuncionais, que misturam gastronomia, lazer e bem-estar.