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Maraíza Labanca: uma clínica para as palavras

Apesar do pequeno porte, Cas'a Edições comemora as grandes transformações que suas publicações provocaram na vida dos autores, a maioria iniciante


07/07/2023 04:00 - atualizado 07/08/2023 18:07
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Maraíza Labanca
Maraíza Labanca (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

 

Corpo, experiência, acontecimento, clínica, memória-esquecimento, pensamento poético, hospitalidade, devir, letra, escuta. São palavras-chave e conceitos-guia da Cas’a Edições, localizada numa vila de jeitão antigo no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de BH.

 

Invertendo a famosa formulação do poeta Mallarmé, o lema da empresa é "Tudo no livro existe para chegar ao mundo". A proposta é acolher originais, a partir de uma hospitalidade chamada de “clínica do texto”: ou seja, mais do que ler, deve-se escutar um texto, como se escuta uma pessoa. 

 


No comando dessa “clínica de textos” está a editora Maraíza Labanca, 38 anos, que divide a coordenação da casa com a amiga e sócia Camila Morais. Ela começou no mundo editorial como revisora e preparadora de originais para a Cas'a'screver, que foi o embrião da atual Cas’a Edições. 

 

 

A editora de pequeno porte é totalmente gerida pelas duas sócias, desde a seleção de livros que serão publicados até questões administrativas e financeiras. Apesar das inúmeras funções, Maraíza se identifica mesmo como editora, função que para ela consiste em “fazer o livro chegar a si e fazer aquele que escreve sair de si”. 

 

Leia: Clara Arreguy: conhecimento a favor dos livros

 

“Costumo dizer que o texto não coincide com a pessoa, com o sujeito civil que o elaborou. Um texto tem vida própria, e nós, como editoras, propiciamos isso, que o texto tenha, efetivamente, vida própria. Vejo, então, nesse gesto de espalhar poesia no mundo, que tudo isso vai gerando uma comunidade em torno dos livros, em torno da experiência poética, cujos afetos são tão imprevisíveis quanto intensos”, detalha. 

 

 

Leitora assídua, Maraíza adquiriu o hábito da leitura ainda criança, e cresceu mergulhada em livros, principalmente de seus preferidos: Roland Barthes, Clarice Lispector, Machado de Assis e Herberto Helder. Sem abandonar a escrita, ela formou-se em Letras, e seguiu o caminho do mestrado e do doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha de pesquisa de literatura e psicanálise. 

 

Maraíza também é uma escritora prolífica. Com escrita de ensaios, artigos e contos, ela já contabiliza cinco livros publicados, quatro de poemas e um de prosa poética: “Refratário” (2012), “Rés - livro das contaminações” (2014 - com Erick Costa), “Partitura” (2018), “Exceto na região da noite” (2019) e “A terra e o corpo” (2021).

 

 

Com uma longa experiência no mundo da literatura, a escritora já vivenciou de perto grandes transformações feitas a partir dos livros, e se emociona ao recordar. “Já vi quem transformasse a vida porque começou a escrever; já vi quem se aproximasse porque leu um livro da Cas’a. Já vi se alterarem as relações de hospitalidade, porque os efeitos estéticos nos sujeitos são capazes de gerar efeitos éticos também, e de resultar numa comunidade de amigos em torno dos livros. L’amitié, diria Blanchot. Uma comunidade poética”.

 

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*Estagiária sob supervisão do editor João Renato Faria

 

Entrevista/Maraíza Labanca 

 

Quais são os maiores desafios de ser uma editora no Brasil?

Acho que as maiores dificuldades tocam o âmbito dos financiamentos e da distribuição. Há ainda nichos editoriais e literários no Brasil que dificultam o acesso a novos autores, por exemplo. Por outro lado, existe um movimento espontâneo de livrarias independentes, de influenciadores digitais, de clubes de leitura que expandem, pouco a pouco, o fechamento do mercado nesse setor.

 

Quais os próximos capítulos de sua editora?

Lançaremos em breve uma nova edição de um livro importantíssimo da Lucia Castello Branco, da antiga Coleção Primeiros Passos, lembra? A primeira edição foi feita pela Brasiliense em 1991. O título é "O que é escrita feminina?”. Trata-se de uma obra que foi fundamental para a discussão rigorosa do tema no Brasil nas últimas décadas, no âmbito acadêmico e para além dele. Esse projeto tem sido coordenado de perto pelo Jonas Samudio, parceiro nosso, e está ficando lindíssimo, porque contará com um texto de apresentação da autora, atual e feito especialmente para essa edição, com posfácio da Flávia Trocoli e do próprio Jonas.  Além de muitos outros livros que estão para sair, destaco também dois de poemas: o novo livro de Erick Costa, “Metamorfoses do fogo”, e o de Mariana Ianelli, “Horas de Etty”, baseado nos diários de Etty Hillesum.

 

Que livro ou autor, brasileiro ou estrangeiro, gostaria de ter sido a primeira a editar?

Juliano Pessanha, que não publicamos ainda... E também muitas escritoras e escritores que chegamos a publicar, em primeira mão, e temos muito orgulho disso, como a Patricia Franca, o Erick Costa, a Paula Vaz, a Teresa Melo, a Inês Campos, a Dalva Ottoni e tantos outros. 

 

 



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