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Estado de Minas PENSAR

Leia trechos dos romances do norueguês Jon Fosse, novo Novel de Literatura

Vencedor do prêmio máximo das Letras mundiais, Fosse chega ao Brasil por meio de dois livros: 'É a Ales' e 'Brancura'


07/10/2023 04:00 - atualizado 07/10/2023 00:19
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Escritor Jon, Prêmio Nobel de Literatura
Escritor Jon Fosse foi anunciado como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (foto: EIRIK HAGESAETER)
 
Nascido na cidade norueguesa de Haugesund, o escritor Jon Fosse foi anunciado como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura menos de uma semana depois de completar 64 anos. Nascido em 29 de setembro de 1959, Fosse chega ao Brasil por meio de dois livros: “É a Ales”, lançado pela Companhia das Letras, e “Brancura”, nas livrarias a partir do dia 19/10 e já em pré-venda no site da editora Fósforo.Estão previstos mais lançamentos nos próximos anos: a Fósforo prepara antologia de poemas e outra de peças para 2024 e a Companhia das Letras planeja a edição de “Trilogia”, reunião de três novelas sobre a história de amor de um casal. Em 2025, “Septologia”, romance de mil páginas, sai pela Fósforo no Brasil. Leia, a seguir, trechos dos dois livros que acabam de chegar ao país.
 
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%u201CÉ A ALES%u201D - Jon Fosse (Autor) , Guilherme da Silva Braga (Tradução) (foto: Reprodução)
 

“É a Ales” 

(tradução de Guilherme da Silva Braga)

(...) 
Não me vá adoecer, meu bom menino, ela diz e ele vê, de onde está na Litlevegen, que Ales caminha em direção a ele, com Kristoffer apertado junto ao peito, ela chega com os cabelos pretos e bastos ao redor do rosto, e com aqueles olhos grandes, e Ales caminha o mais depressa que pode com as pernas curtas dela, com o choro assustado de Kristoffer, e também com aquela escuridão, e com aquele vento, e com a chuva, e ele precisa chegar logo em casa, ele pensa, porque não pode ficar parado na Litlevegen e não pode ir para a própria casa, onde viveu a vida inteira, para a Antiga Casa onde mora, ele pensa, e então vê que Ales passa e olha para as costas dela, para as costas de Ales, a trisavó dele, é ela, é a Ales, é ela quem vê ele caminhar apressada e dar a volta na casa, com os cabelos longos e pretos que descem pelas costas, e com o quadril estreito, com as pernas curtas e magras. É a Ales. É a trisavó dele, aos vinte anos de idade, ele pensa, e é o bisavô dele, Kristoffer, aos dois anos de idade, que ela aperta junto ao peito. E ele também dá a volta na casa, e vê que Ales, com Kristoffer apertado junto ao peito, entra pela porta da Antiga Casa onde ele mora, e ele vê que a porta se fecha e ela vê, do banco onde está deitada, que a porta do corredor se abre e então vê uma mulher pequena com longos cabelos pretos e olhos grandes entrar, e apertado junto ao peito ela traz um menino e a mulher atravessa o cômodo depressa e coloca o menino junto a ela na beira do banco e então a mulher tira as calças do menino, o blusão, ela despe o menino por completo e o coloca no banco junto a ela, e a mulher não para de passar as mãos nas costas delE

 Meu bom menino, meu bom menino, já chega de passar frio, diz a mulher 
(...) 

“É A ALES” 
De Jon Fosse
Tradução de Guilherme da Silva Braga
Companhia das Letras
110 páginas
R$ 64,90
 
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%u201CBRANCURA%u201D - Jon Fosse (autor) , Leonardo Pinto Silva (Tradução) (foto: Reprodução)
 

“Brancura”

(tradução de Leonardo Pinto Silva)

(…)
Alguma coisa está vindo na minha direção, e talvez seja uma pessoa. Ou sei lá o quê. Sim, deve ser uma pessoa. Mas não pode ser uma pessoa. Não é possível que seja uma pessoa, não aqui nem agora. Mas então o que seria. Identifico uma silhueta, e parece ser uma pessoa. Pois não poderia ser outra coisa, ou poderia. Permaneço imóvel. Fico ali, como se não ousasse me mover. Está tão escuro agora, mais escuro não pode ficar, e bem na minha frente avisto a silhueta de alguma coisa que parece uma pessoa. Uma silhueta luminosa que se torna cada vez mais nítida. Sim, um contorno bem perceptível no escuro, na minha frente. Que estaria distante ou perto de mim. Não sei dizer com certeza. É impossível dizer se está perto ou longe. Mas está lá. Uma silhueta branca. Brilhante. Acho que ela vem caminhando na minha direção. Caminhando é modo de dizer. Porque caminhar ela não caminha. Ela apenas se aproxima, cada vez mais. A silhueta é completamente branca. Agora percebo nitidamente. Que é branca. A brancura. E se destaca no meio da escuridão. Um branco brilhante. Uma brancura reluzente. Fico imóvel. Tento não me mexer. Apenas fico em pé, imóvel. Uma brancura reluzente. A silhueta de um ser humano. Uma pessoa cercada por essa brancura luminosa. Sim, talvez seja isso. Cada vez mais perto. Ou se afastando. Não, ela não some de vista, então não está se afastando. A brancura reluzente se aproxima cada vez mais. A silhueta do que deve ser uma pessoa está chegando cada vez mais perto. E agora percebo que a silhueta se transformou numa coisa branca. Sim, uma coisa. E essa coisa está se expandindo cada vez mais. Mas então não é uma pessoa que vem na minha direção. Não, não seria possível. Não aqui na floresta, não
agora, no escuro, no meio da noite. É impossível que seja uma pessoa. Mas então o que seria. Porque parece uma pessoa. Tem a forma de uma. Estou completamente imóvel. Tento ficar o mais imóvel possível. Meu corpo todo se enrijece. E a criatura se aproxima cada vez mais e se torna cada vez mais, sim, sim, luminescente em sua brancura, se posso dizer assim. Respiro profundamente. Fecho os olhos.
(…)

“BRANCURA”
De Jon Fosse
Tradução de Leonardo Pinto Silva
Fósforo Editora
64 páginas
R$ 59,90


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