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Estado de Minas PANDEMIA

O que o Brasil aprendeu em 2021 com a vacinação contra COVID-19

Segundo ano da pandemia termina com quase 70% da população totalmente imunizada contra o coronavírus, recuo na média de mortes e incerteza sobre próximas etapas


31/12/2021 06:00 - atualizado 31/12/2021 07:29

enfermeira em BH mostra ampola com vacina
Avanço da vacinação no Brasil dividiu o ano em um semestre de colapso total nos hospitais e outro de reabertura (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


A chegada de 2021 fez os brasileiros se agarrarem na esperança de começar o novo ano com uma vacina contra COVID-19 no braço, depois das milhares de vidas perdidas durante a pandemia em 2020. Na véspera da chegada de 2022, o recado deixado pelo ano que se encerra é de que o avanço da imunização no Brasil foi fundamental para conter o avanço do coronavírus, aliviar as redes pública e privada de saúde e permitir um retorno ao tão falado novo normal, apesar dos mais de 423 mil mortos somente este ano para a doença, que matou quase 620 mil moradores do país desde março de 2020, e a ameça da variante Ômicron.

O primeiro semestre de 2021 foi marcado por uma segunda onda preocupante de novos casos e mortes pelo novo coronavírus no Brasil. Os sistemas de saúde pública e privada de várias cidades entraram em colapso e não existiam vagas suficientes para suprir a demanda de novos pacientes. No auge da crise, o país chegou a registrar médias móveis de 77 mil novos casos e 3 mil mortes diárias pela doença, o que fez o Brasil se tornar um epicentro da pandemia em março.

Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a imunização iniciada em dezembro de 2020 avançava, o Brasil comemorou a aplicação de sua primeira dose somente em 17 de janeiro. “O Brasil poderia ter começado antes, não fosse a inércia e a frivolidade do governo federal, em não querer comprar a vacina em tempo hábil.

A Pfizer ofereceu, houve um boicote no início ao Instituto Butantan. Mas a despeito destas posturas inadequadas, a vacina muito por conta do sistema público de saúde e pelo programa de vacinação ela avançou e muito bem”, afirma o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do Comitê de Enfrentamento da Pandemia da PBH.



Em 18 de janeiro, a vacina chegou em Minas. A primeira vacinada em Minas contra COVID-19 foi a técnica de enfermagem Maria Bom Sucesso Pereira, a Cecé, de 57 anos. A passos lentos, seguindo o Plano Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde e com escassez de doses, a imunização avançou no estado e no país entre os grupos prioritários, como profissionais da saúde, idosos e pessoas com comorbidades.

Um ano e duas realidades

Na virada para o segundo semestre, a chegada de milhões de unidades de imunizantes permitiu incluir praticamente toda a população adulta brasileira na campanha e, no início de setembro, muitos prefeitos e governadores comemoravam o fato de que praticamente 100% dos cidadãos acima de 18 anos já haviam recebido ao menos a primeira dose contra o novo coronavírus.

Com isso, as curvas dos indicadores da pandemia começaram a cair, embora tenham se mantido em patamares muito elevados durante os meses de julho e agosto. Em Minas, por exemplo, julho encerrou com 155.670 novos casos e 4.002 mortes. Em agosto eram 93.052 novos infectados e 2.375 óbitos e, ao longo de setembro, as médias móveis estavam na casa dos 14 mil novos casos e 500 óbitos por COVID-19, números que chegam a ser seis vezes menores do que o registrado no pico da segunda onda.

"As pessoas que estão se infectando agora são as que não foram ao posto de saúde receber a segunda dose ou o reforço"

Maria Bom Sucesso Pereira, técnica de enfermagem



O alívio abriu caminho para que infectologistas começassem a discutir sobre uma terceira dose da vacina, para evitar a contaminação com as variantes Delta e Gama. Ainda em setembro, a medida foi concretizada. Primeira a ser vacinada em Minas, Cecé comemora a dose de reforço que já recebeu e se mostra esperançosa com os resultados da imunização.

“Tenho fé em Deus que isso vai passar. O que eu vejo nesses onze meses é uma melhora muito grande. As pessoas que estão se infectando agora são as que não foram ao posto de saúde receber a segunda dose ou o reforço”, comenta a técnica de enfermagem.

E ela está correta. De acordo com a plataforma Info Tracker, da Universidade de São Paulo (USP), entre 1° de março e 15 de novembro de 2021, 79,7% das pessoas que morreram por COVID-19 no Brasil não haviam recebido nenhuma das doses da vacina. Ainda segundo a pesquisa, 81,7% dos indivíduos internados com a doença neste período não estavam vacinados. Desde março, quando a segunda dose do imunizante passou a ser aplicada entre os brasileiros, as mortes pela doença despencaram 94%.

técnica em enfermagem Maria Bom Sucesso, primeira pessoa a ser vacinada contra covid-19 em Minas, posa para foto em frente ao hospital Eduardo de Menezes, em 30/12/21
Primeira vacinada em Minas, a técnica em enfermagem Maria Bom Sucesso faz alerta para que população não perca 2ª dose e o reforço (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

"Estão esquecendo a segunda dose"

A técnica de enfermagem que recebeu a primeira dose de vacina contra COVID-19 em Minas diz que uma preocupação atual é fazer as pessoas entenderem a importância de seguir o cronograma de imunização. “É uma pena que todo mundo não esteja tendo a confiança que eu tenho na vacina, porque tem muita gente que ainda não se vacinou. Estão esquecendo a segunda dose, tomam a primeira e não voltam para a segunda. Se tomam a segunda, não querem tomar a terceira. É assim que estamos vivenciando esse ano”, lamenta.

Flávio da Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro de Tecnologia em Vacinas da instituição (CT Vacinas), destacou essa preocupação em entrevista recente. “(A vacina) vai além da proteção individual. Só funciona em grupo, alcança seus benefícios quando é um instrumento de saúde coletiva. É um pacto social para a saúde”, disse.

A preocupação atual das autoridades de saúde é com a variante Ômicron, identificada originalmente na África do Sul, e que tem se mostrado ser mais transmissível. “Estamos ainda em um momento de cautela, não podemos desprezar esta variante. A Delta não causou o que imaginamos, em número de casos de contágio e morte. Mas a Ômicron nós precisamos de mais um tempo para ver qual vai ser seu impacto. Mas neste primeiro momento é avançar na vacinação e também na terceira dose”, reforça o infectologista Unaí Tupinambás.

Incertezas sobre a Ômicron

Segundo ele, dependendo dos impactos desta variante mais recentes, o país pode começar a avançar. “Os dados ainda são recentes, para a gente avaliar como vai ser esse comportamento. A partir daí a gente pode começar a prever uma fase de transição da pandemia para uma endemia. O que é endemia? Quando são poucos casos”, explica.

“Nas epidemias de H1N1 ocorreram cerca de 40 mortes por dia. Nas epidemias de H1N1, o Brasil não para, o mundo não para, as coisas ficam ‘normais’. Nós estamos em 200 (óbitos no Brasil) ainda, temos que baixar esta média de morte por dia para um nível ‘aceitável’ para nos permitir um retorno sem grandes sobressaltos”, afirma.

Enquanto isso, as precauções de Cecé devem ser seguidas. “Sempre estou alertando que não é o momento de abandonar as máscaras e busco conscientizar o pessoal. Ainda mantenho o uso de álcool em gel e evito ir a lugares com aglomeração”, comenta. “Se a conscientização da população se mantiver, essa nova cepa não chegará a nós. E se chegar, virá bem branda”.

Linha do tempo da vacinação no Brasil em 2021

JANEIRO
Nesta foto de arquivo tirada em 17 de janeiro de 2021 a enfermeira Monica Calazans é inoculada com a vacina CoronaVac Sinovac Biotech contra o coronavírus COVID-19 no hospital de Clínicas de São Paulo, Brasil
A enfermeira Mônica Calazans foi a primeira moradora do Brasil a ser vacinada contra COVID-19, em 17 de janeiro, em São Paulo (foto: Nelson Sá/AFP - 17/1/21)
Na primeira quinzena, o Brasil superava a marca de 200 mil mortes acumuladas por COVID-19 , enquanto Europa e EUA entravam no segundo mês de imunização. Em meio aos primeiros casos de novas cepas, Anvisa autoriza uso emergencial das vacinas CoronaVac e Astrazeneca e a enfermeira Mônica Calazans se torna, no dia 17, a primeira pessoa a ser vacinada no país.
FEVEREIRO
Vacina da Pfizer se torna a primeira a receber registro definitivo da Anvisa. Mesmo sem aprovação técnica, o Ministério da Saúde negocia a compra de imunizantes da Rússia (Sputinik V) e da Índia (Covaxin). Esta última um dos estopins para a CPI da COVID. No fim do mês, Brasil já somava mais de 250 mil mortes um ano após registrar o primeiro caso de infecção, em fevereiro de 2020. 

MARÇO
Policia Federal faz busca em garagem da empresa Saritur no Bairro Caicara, em 26/3/21
PF faz operação contra denúncia de suposta compra ilegal e aplicação de vacinas contra COVID-19 em garagem de ônibus em BH (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 26/3/21)
Ministério da Saúde pede à Precisa Medicamentos a compra de mais 50 milhões de doses da Covaxin, ainda sem autorização da Anvisa. Bolsonaro escolhe Marcelo Queiroga para substituir Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. Enquanto isso, investigação da Polícia Federal apura denúncia de suposta compra e aplicação ilegais de vacina feita por empresários em BH.

ABRIL
Uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) é instalada no Senado para apurar eventuais irregularidades e omissões do Ministério da Saúde e de governadores durante a pandemia de COVID-19. Em Belo Horizonte, a prefeitura suspende a vacinação por falta de estoque, um impasse que provoca rusgas entre a o prefeito, Alexandre Kalil, e o governador, Romeu Zema. 

MAIO
Anvisa emite nota técnica recomendando a suspensão da vacina da Oxford/Astrazeneca para grávidas, alertando que a bula não recomendava o uso por gestantes sem orientação médica. O uso do imunizante em grávidas e puérperas sem comorbidades só voltou a ser autorizado pela agência quase dois meses depois, depois que vários estados retomaram as aplicações. 

JUNHO
Fila de pessoas com 59 anos para tomar vacina contra COVID-19 no posto de saúde do Bairro Sagrada Família
Primeiro dia de vacinação da população em geral contra COVID-19 em BH (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press %u2013 7/6/21)
No dia 7, BH inicia a vacinação do público em geral, a população não incluída nos grupos prioritários. A primeira faixa etária foi a de moradores com 59 anos sem comorbidade. Nas filas de vacinação, a sensação era de alívio e questionamentos sobre a demora no envio dos imunizantes para as pessoas que não foram contempladas pelas etapas anteriores da campanha.

JULHO
Mês começa com depoimento à CPI da COVID do PM mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply e relata suposto pedido de propina em negociação do Ministério da Saúde por doses de vacina. Procuradoria-Geral da União pede abertura de inquérito para investigar se houve prevaricação de Bolsonaro no caso Covaxin.

AGOSTO
Aluno de escola estadual em BH passa por aferição de temperatura em 3/8/21
Volta às escolas em BH durante a pandemia avançou a partir de agosto de 2021 (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press %u2013 3/8/21)
Belo Horizonte começa a vacinar moradores sem comorbidade que estão na faixa etária dos 30 anos e se aproxima da imunização da parcela mais jovem da população. Enquanto isso, aulas presenciais nas escolas municipais retornam, assim como nas unidades de ensino da rede estadual da cidade para estudantes do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do médio.

SETEMBRO
Brasil supera a meta mínima de população adulta totalmente vacinada contra COVID-19, estipulada pela OMS. Mais de 50 países naquele momento não tinham atingido a marca de 10%, a maioria deles localizados na África. No Brasil, mais de 42% de toda a população estava completamente imunizada, atrás da União Europeia (62%) e dos Estados Unidos (55%).

OUTUBRO
omissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia (CPIPANDEMIA) realiza audiência pública destinada a ouvir o depoimento de vítimas diretas e indiretas atingidas pela Covid-19, em 18/10/21
Final dos depoimentos na CPI da COVID foi marcado por relatos de parentes de vítimas do coronavírus (foto: Pedro França/Agência Senado - 18/10/21)
A CPI da COVID apresenta o relatório final que sugere o indiciamento de 78 pessoas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro, e duas empresas. O texto afirma que o governo federal agiu com o objetivo de expor os brasileiros ao contágio em massa, buscando a chamada imunidade de rebanho. O relatório incluiu um pedido de ação no STF para afastar Bolsonaro das redes sociais.
NOVEMBRO
Ministério da Saúde anuncia dose de reforço a todos com mais de 18 anos, inclusive de quem recebeu o imunizante Janssen. Enquanto isso, o Brasil ultrapassa os EUA na proporção de pessoas completamente vacinadas e a descoberta de uma nova variante, a Ômicron, põe o mundo em alerta e eleva barreiras sanitárias em todo o mundo, especialmente na Europa.

DEZEMBRO
Fachada do prédio da Anvisa em Brasília em 17/12/21
Técnicos da Anvisa passaram a sofrer pressão e ameaças de morte após liberação para imunizar crianças de 5 a 11 anos (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 17/12/21)
Anvisa aprova dose de versão pediátrica da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos no Brasil e abre crise contra o Palácio do Planalto e o Ministério da Saúde, contrários à medida. Caso chega ao Supremo, que dá prazo para o governo federal explicar o impasse. Técnicos da agência são alvo de ameaças de morte e o Brasil fecha o ano com 90% do público-alvo com ao menos uma dose.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves

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