Banda de Taquara da comunidade quilombola da Bem Posta, em Minas Novas

Banda de taquara da comunidade quilombola da Bem Posta, em Minas Novas

Kika Antunes/divulgação
 

Neste fim de semana, a comunidade quilombola de Bem Posta, a 35 quilômetros de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, recebe o 6º Encontro de Flautas do Jequitinhonha. Cerca de 1,5 mil pessoas são esperadas no evento dedicado à cultura popular mineira, com destaque para a taquara, instrumento musical similar ao pífano.


Helvécio Rodrigues Macedo, de 42 anos, faz parte da Banda de Taquara da Bem Posta, criada por seus bisavós, que hoje tem 20 integrantes. Os filhos dele, de 2 e 7, já cantam e tocam pandeiro. “Desde muito pequenos eles ficavam doidos para participar”, conta. Helvécio preferiu a flauta, gosto herdado do pai e do bisavô.


Ele participa do evento desde a primeira edição. Desta vez, 10 bandas de taquara foram convidadas para se apresentarem neste sábado (29/9) e no domingo (1/10). “Nosso sonho era trazer o encontro para cá, eu mesmo já corri atrás várias vezes para fazer em Bem Posta. O público pode esperar muita coisa boa. Esse tanto de banda vai se encontrar, o espetáculo vai ser bom”, garante Helvécio Macedo.

 

Dança do vilão, tradição do Jequitinhonha

Dança do vilão, tradição do Jequitinhonha, faz parte da festa deste final de semana na comunidade da Bem Posta

Kika Antunes/divulgação
 

Oficinas de instrumentos

Além de apresentação de bandas de taquara, folias, grupos de dança e de batuque, haverá oficinas de construção de flautas e de confecção de peneiras e caretas (máscaras usadas pelos músicos). Feira de artesanato e agricultura familiar oferecerá produtos de comunidades locais.


O Cine Bem Posta vai exibir vídeos antigos e recentes das bandas de taquara, grupos centenários típicos do Alto e Médio Jequitinhonha.

 

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Realizado desde 2016, o festival foi idealizado pelo músico Daniel de Lima Magalhães, depois de se dedicar por 15 anos a pesquisas na área de cultura popular. Coopera com ele a musicista, pesquisadora e produtora cultural Letícia Bertelli.


O encontro deu às bandas de taquara a chance de se reunirem para compartilhar experiências. “O processo é sempre orgânico e depende de uma grande ação coletiva, com muito trabalho voluntário e empenho da comunidade à frente de cada edição. O objetivo principal é o fortalecimento e o reconhecimento desta importante cultura centenária”, afirma Magalhães.

 

Banda de Taquara de Chapadinha

Banda de Taquara de Chapadinha reúne moradores de Capelinha e Angelândia

Kika Antunes/divulgação

O processo depende de uma grande ação coletiva, com muito trabalho voluntário e empenho da comunidade à frente de cada edição. O objetivo principal é o fortalecimento e o reconhecimento desta importante cultura centenária

Daniel de Lima Magalhães, músico e pesquisador

 


A articulação coletiva já deu resultados. “Houve a reativação de duas bandas de taquara no município de Setubinha, nas comunidades de Palmeiras do Vale e Quaresma, paralisadas há 30 anos, no caso da primeira, e há 15, no caso da outra. Os grupos estão em plena atuação, requisitados para eventos na região”, informa Magalhães.


“Na comunidade de Córrego dos Ramos, em Angelândia, foi retomada a tradicional atividade de cerâmica, adormecida ali durante mais de 20 anos, com a produção de 120 peças, entre panelas, botijas, potes e candeeiros”, comenta o pesquisador.


No terceiro encontro de flatuas, destacou-se o mutirão de produção de instrumentos, coordenado pelos mestres Antônio de Bastião, de Minas Novas, e Sebastião Chaves, de Angelândia. “Foram fabricadas 10 caixas e quatro zabumbas, que equiparam quatro bandas de taquara mirins”, comenta Daniel Magalhães.

 

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Bandas mirins nas escolas

Outra ação importante é a formação de grupos mirins. “Projeto pioneiro nesse sentido é realizado pela Escola Estadual Sebastião Peçanha, da comunidade de Chapadinha, em Capelinha, onde banda mirim foi criada sob a supervisão de dois mestres da comunidade. Ela vai se apresentar na Bem Posta. Esperamos que seja uma fonte de inspiração para outras escolas iniciarem projetos semelhantes”, reforça Daniel.


A sexta edição do encontro tem apoio das prefeituras de Minas Novas e Setubinha, da Fazenda Água Limpa e da Construtora Martins, com patrocínio do BDMG Cultural.

 

Banda de Taquara de Palmeiras do Vale

Banda de Taquara de Palmeiras do Vale é formada por moradores de Setubinha

Kika Antunes/divulgação

Na Escola Estadual Sebastião Peçanha, da comunidade de Chapadinha, em Capelinha, banda mirim foi criada sob a supervisão de dois mestres da comunidade (...) Esperamos que seja uma fonte de inspiração para outras escolas iniciarem projetos semelhantes

Daniel de Lima Magalhães, músico e pesquisador

 

 

Graças à mobilização das comunidades do Vale do Jequitinhonha, iniciou-se o processo para que as flautas tradicionais mineiras sejam consideradas patrimônio cultural do estado. Em agosto de 2019, o pedido foi encaminhado ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). O processo está na fase de inventário.


A tradição das bandas de taquara é mantida nas comunidades rurais de Bem Posta, Santiago e Quilombo, no município de Minas Novas; Santo Antônio do Fanado e Chapadinha, em Capelinha; Santo Antônio dos Moreiras, Sapé/Timirim e Córrego dos Ramos, em Angelândia; Quaresma e Palmeiras do Vale, no município de Setubinha. 

6º ENCONTRO DE FLAUTAS DO JEQUITINHONHA

Neste sábado (30/9) e domingo (1/10), na Comunidade Quilombola de Bem Posta, no município de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. Entrada franca.

GRUPOS PARTICIPANTES

Banda de Taquara da Bem Posta (Minas Novas)
Banda de Taquara de Quilombo/Santiago (Minas Novas)
Banda de Taquara do Sapé/Timirim (Angelândia)
Banda de Taquara do Córrego dos Ramos (Angelândia)
Banda de Taquara de Santo Antônio dos Moreiras (Angelândia)
Banda Antiga Geração do Alto dos Bois e Santo Antônio dos Moreiras (Angelândia)
Banda de Taquara do Quaresma (Setubinha)
Banda de Taquara de Palmeiras do Vale (Setubinha)
Banda de Taquara de Santo Antônio do Fanado (Capelinha)
Banda de Taquara de Chapadinha/São Benedito (Capelinha e Angelândia)
Folia Os Mensageiros de Deus, de Minas Novas
Folia e grupo de danças da comunidade Buracão (Minas Novas)
Grupo de Batuque da Comunidade Cansanção (Minas Novas)
Mangangá do Galego (Capelinha)