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Estado de Minas SAÚDE

Médico explica fatos e equívocos sobre a mucormicose ou 'fungo preto'

Infecção fúngica grave é registrada no Brasil e alerta médicos, já que é risco para pacientes com COVID-19 e outras comorbidades


04/06/2021 12:30 - atualizado 04/06/2021 14:59

Médico infectologista destaca que é errado chamar a doença de fungo preto ou fungo negro(foto: CDC/Unsplash)
Médico infectologista destaca que é errado chamar a doença de fungo preto ou fungo negro (foto: CDC/Unsplash)

Há um ano e três meses o mundo vive assombrado com o Sars-CoV-2, o vírus causador da COVID-19, a ameaça de ondas de infecção em sequência e o surgimento de novas cepas. Com milhões de mortes e o Brasil próximo dos 500 mil óbitos diante do descontrole no enfrentamento da pandemia pelo governo federal, a falta de vacina para todos e a iminente terceira onda no país, os profissionais da saúde e a população brasileira têm de se preocupar agora com a chegada da mucormicose, popularmente chamada de "fungo preto". Você sabe o que é? Será que tem relação com a COVID-19?

De Curitiba, Flávio de Queiroz Telles, médico infectologista, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor associado de infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que “mucormicose ou zigomicose é uma infecção fúngica grave, causada por fungos classificados como mucorales, descrita em 1885 por um médico alemão, Ptaulf”.

Flávio de Queiroz Telles ensina que “os agentes são ubíquos (estão no ar, água e compostos orgânicos) e acometem pacientes com fatores de risco como: diabetes descompensado, com neoplasias (câncer) hematológicas em quimioterapia (leucemias), receptores de transplantes de medula óssea e órgãos sólidos (rim, fígado) ou recebendo altas doses de corticoide”.

O médico infectologista destaca que a mucormicose é grave porque é uma doença angio invasiva (invade vasos sanguíneos) das regiões ou órgãos acometidos. “Quando essas regiões ficam sem suprimento sanguíneo, ficam necróticas (pretas), daí o nome fungo preto ou fungo negro.

Segundo o médico, o nome é inadequado, pois a coloração não é provocada pelo fungo, mas é decorrente da necrose tecidual que ele provoca. A necrose pela mucormicose pode ser na face, na região da órbita, nariz, cérebro, pulmões.

Flávio de Queiroz Telles alerta que os sintomas da mucormicose depende do local acometido. “Se for na face, causa dor, protusão do globo ocular, perda da visão, obstrução da respiração, febre e necrose. Se atingir o cérebro, causa vários sintomas neurológicos, convulsões, dor de cabeça incontrolável, alterações mentais e motoras.”

Os pacientes com COVID-19 têm mais risco de óbito por mucormicose. Mas a mucormicose tem taxa de mortalidade entre 50 e 70%, independentemente se o paciente tem COVID-19 ou outra doença de base (fator de risco). A mucormicose existe no mundo inteiro e aumentou em incidência na Índia porque o país tem uma das maiores incidências de diabetes no mundo, associada a uma das maiores taxas de pacientes com COVID-19 que estão internados em UTIs e recebendo altas doses de corticoides, para tratamento da COVID-19

Flávio de Queiroz Telles, médico infectologista, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor associado de infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Flávio de Queiroz Telles, médico infectologista, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor associado de infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR)(foto: Arquivo Pessoal )
Flávio de Queiroz Telles, médico infectologista, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor associado de infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR) (foto: Arquivo Pessoal )


Além das doenças crônicas mais susceptíveis já mencionadas, o infectologista chama a atenção que também estão em risco “pessoas envolvidas em traumas ocasionados por desastres naturais, como erupções vulcânicas, tsunamis, furacões, etc. Essas formas de mucormicose são denominadas de mucormicose de implantação porque o fungo entra pela pele e não pela via aérea (nariz, seios da face, pulmões)”.

Alerta para a COVID-19

O que tem alertado as autoridades da saúde e assustado a população que foi informada sobre a mucormicose é que há poucos dias o Hospital das Clínicas de São Paulo emitiu um alerta para o Ministério da Saúde informando que identificou um caso de mucormicose em um paciente com COVID-19.

O paciente de 40 anos, sem nenhuma comorbidade, apresentou um quadro moderado da COVID-19 antes de ter a mucormicose, doença que tem tido crescente exponencial na Índia. Além do caso notificado pelo estado paulista, há casos suspeitos em Santa Catarina e Amazonas. Um alerta, já que a doença causada pelo fungo aumenta a mortalidade de quem é infectado pelo Sars-CoV-2.

Flávio de Queiroz Telles enfatiza que “a mucormicose causa necrose e enegrecimento da região acometida. O fungo, como já alertei, não é preto nem negro. Isso confunde o leigo, pois em medicina há outro tipo de micose denominada de feohifomicose (micose por fungos negros), causada por fungos negros, porque tem melanina e são pretos."

"Não tem nenhuma relação com mucormicose ou com o fungo preto da Índia. Os pacientes com COVID-19 têm mais risco de óbito por mucormicose. Mas a mucormicose tem taxa de mortalidade entre 50 e 70%, independentemente se o paciente tem COVID-19 ou outra doença de base (fator de risco)."

"A mucormicose existe no mundo inteiro e aumentou em incidência na Índia porque o país tem uma das maiores incidências de diabetes no mundo, associada a uma das maiores taxas de pacientes com COVID-19 que estão internados em UTI’s e recebendo altas doses de corticoides, para tratamento da COVID-19”, explica.

Alerta para o Brasil

Portanto, esclarece o médico infectologista, como o cenário da Índia é bem particular, não há motivo para pânico no Brasil: “Isso não ocorre no Brasil, mas serve de alerta para os médicos estarem atentos em reconhecerem a mucormicose em eventuais pacientes internados com COVID-19, especialmente em diabéticos.”

Flávio de Queiroz Telles informa que a mucormicose é conhecida há muito tempo: “No Hospital de Clínicas da UFPR, onde trabalho, vemos de dois a três casos todos os anos. E no Brasil, também”.

Flávio de Queiroz Telles destaca que o tratamento da mucormicose “inclui remoção ou exérese cirúrgica dos tecidos necróticos, administração de antifúngicos intravenosos, de uso intra-hospitalar e controle da doença de base, como o diabetes. A remoção dos tecidos necróticos, muitas vezes implica em cirurgias mutilantes, como retirada de partes da face, globo ocular, etc”.


Risco de disseminação?

O infectologista explica que o caso registrado em São Paulo e os suspeitos em outros estados “não têm chance de disseminarem pelo Brasil. No entanto, se mais pacientes com COVID-19, diabéticos forem para UTI, talvez”.

O aviso do médico é que “pacientes com COVID-19, no Brasil, têm risco de adquirirem várias infecções por bactérias e fungos. Entre os fungos, são mais importantes, a Candida e o Aspergillus. Os agentes de mucormicose, podem também ocorrer, mas com menos frequência”.

Mas diante de casos de mucormicose, como agir? Como controlar?

Flávio de Queiroz Telles enfatiza que “os médicos, atendendo pacientes com COVID-19 devem estar cientes da mucormicose. Medidas de higiene nas enfermarias e UTI’s devem ser rígidas e adequadas. O fungo pode estar no ar e nos equipamentos usados para atender ou tratar os pacientes. Há filtros de ar, HEPA, que podem ser instalados em ambientes onde pacientes são internados.”
Flávio de Queiroz Telles tranquiliza quem tem o sistema imune saudável.

De acordo com o médico, a mucormicose acomete somente quem tem fator de risco: “Esses fungos (Mucorales) como vários outros, (Aspergillus, Candida), estão em todo o ambiente e geralmente não são perigosos”.

Por dentro do mundo dos fungos

  1. O cogumelo é um fungo.
  2. São fungos o bolor cinza ou verde presente em frutas, verduras e pães em decomposição.
  3. A espécie de fundo Saccharomyces cerevisiae é a levedura que faz o pão crescer e a cerveja fermentar.
  4. Muitos fungos vivem dentro do corpo sem causar qualquer problema, como no sistema respiratório e digestivo.
  5. Determinados desequilíbrios do organismo, disfunções do sistema imune, tratamentos medicamentosos, condições sanitárias ruins podem causar descontrole dos fungos e levar a infecções.
  6. Os agentes causadores da mucormicose estão no ar. Em pacientes, podem ser aspirados pelo próprio paciente ou entrar através de tubos e cateteres. O que exige das equipes de saúde muito cuidado com a higiene e a lavagem das mãos. 
  7. Há situações que podem desencadear o desenvolvimento da mucormicose: diabetes, neoplasias (câncer) hematológicas em quimioterapia (leucemias), receptores de transplantes de medula óssea e órgãos sólidos (rim, fígado) ou pacientes recebendo altas doses de corticoide.
  8. Enfermidades provocadas por fungos são comuns e custam vidas, mas o Brasil não tem registros oficiais sobre o número de casos dessas doenças.
  9. A preocupação mundial é com o aumento da resistência fúngica. Muitos se tornando resistentes aos antifúngicos. A saída é o uso consciente dos fármacos e investir em pesquisa.
  10. A taxa de mortalidade entre os infectados é de 50%.
  11. A mucormicose não é contagiosa entre pessoas ou animais. O fungo só se desenvolve em pacientes com condições específicas. No entanto, como ele se espalha por esporos de fungos presentes no ar ou no ambiente, é quase impossível evitá-lo.

Casos de mucormicose pelo mundo

  1. Em 2021, o Brasil registrou até agora 29 casos de mucormicose. Em 2020, foram 36 casos conforme Ministério da Saúde.
  2. No último dia 27 de maio, o Uruguai confirmou oficialmente o primeiro caso de mucormicose em seu território.
  3. Na Índia, já são 9 mil casos de mucormicose em pacientes com COVID-19 registrados na última semana.

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