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Estado de Minas SAÚDE

Distúrbios do sono em crianças vira estudo da escola de medicina da Ufop

Pesquisa foi adaptada para verificar os impactos em tempos de COVID-19


22/11/2020 04:00 - atualizado 22/11/2020 07:52

Aluna de medicina da Ufop, Jéssica Camargo percebeu que pesquisas sobre os distúrbios do sono em crianças nunca foram feitas na cidade (foto: Fotos: arquivo pessoal)
Aluna de medicina da Ufop, Jéssica Camargo percebeu que pesquisas sobre os distúrbios do sono em crianças nunca foram feitas na cidade (foto: Fotos: arquivo pessoal)
A falta de uma boa noite de sono já faz parte da experiência de vida de Rufo de Assis, de 6 anos. Aos 4, a criança sofria de crises de bronquite que não a deixavam dormir direito. O fato marcou o pequeno, que até hoje se lembra bem das noites maldormidas. “Um abraço da minha mãe, dormir com ela e um remédio especial para as crises ajudavam a me sentir melhor e conseguir dormir, mas um dia eu dormi na carteira da escola”, conta.
 
A professora de língua francesa Raíssa Palma, mãe de Rufo, relata que as crises de bronquite eram mais frequentes aos 4 e 5 anos e que, nessa época, ela sofria junto com o filho as consequências de uma noite em claro. “A falta de sono é muito prejudicial em qualquer estágio da vida, mas nas crianças é mais. Ele vivia com olheira e um queixo mais retraído. Ficava sem energia, com sono ao realizar as atividades e isso prejudica o rendimento escolar.”

Raíssa conta que a outra filha, Flora de Assis, irmã gêmea de Rufo, tem problemas com a insônia. Muito diferente do irmão, Flora não tem problemas respiratórios e na maioria das noites dorme melhor e a vontade de ficar mais tempo na cama não interfere nas atividades do dia a dia. “Ainda assim, a Flora me surpreende com uns quadros frequentes de insônia. Sem nenhum motivo aparente, simplesmente acorda durante a noite e, sem reclamar, fica na cama tentando voltar ao sono; quando está esgotada de tanto tentar, ela me procura. Já aconteceu de amanhecer e ela ainda estar acordada”, diz.
 
Professora e coordenadora do projeto, Cibelle Louzada diz que o distúrbio do sono mais comum na faixa etária pediátrica é a insônia
Professora e coordenadora do projeto, Cibelle Louzada diz que o distúrbio do sono mais comum na faixa etária pediátrica é a insônia

Mesmo sendo irmãos gêmeos e apresentarem problemas diferentes, as realidades vividas por eles deságuam em um mesmo rio, o do sono, e que hoje virou pesquisa na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

Pensando nesse fato crescente, a acadêmica do 9º período de medicina da Ufop Jéssica Camargo sempre teve o desejo de pesquisar algo relacionado à pediatria e viu que pesquisas sobre os distúrbios do sono em crianças nunca foram feitas na cidade.

“Por gostar muito da pediatria, eu e as alunas Flávia Drumond e Marcela Assunção montamos um grupo para o desenvolvimento da pesquisa com o apoio das professoras e médicas pediatras Cibelle e Ana Luíza.”

Assim nasceu a pesquisa “Distúrbios de sono em crianças de Ouro Preto”, da Escola de medicina da Ufop que vai avaliar a prevalência dos distúrbios do sono e fatores associados em crianças de 6 meses a 9 anos na cidade.

De acordo com a professora e coordenadora do projeto Cibelle Louzada, o distúrbio do sono mais comum na faixa etária pediátrica é a insônia. Entretanto, a criança também pode ter seu sono prejudicado por distúrbios respiratórios, parassonias, distúrbios de movimentos relacionados ao sono, distúrbios do ritmo circadiano e hipersonias de origem central.

Conforme o artigo “Distúrbios do sono na infância”, publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o sono exerce um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento infantil e a insônia é o distúrbio do sono mais prevalente na faixa etária pediátrica, acometendo até 30% das crianças.

ISOLAMENTO SOCIAL 


A pandemia do novo coronavírus mexeu com a rotina das pessoas e se tornou um pesadelo na vida de adultos e crianças. Diferentemente dos fantasmas, de quem, ao acordar, as crianças já se sentem aliviadas, a COVID-19 é o novo bicho-papão dos pequenos pelo fato de agora estarem privados do convívio social.

Segundo a coordenadora do projeto, os familiares de crianças de 6 meses a 9 anos de Ouro Preto poderão manifestar interesse em participar do estudo entrando no perfil do projeto no Instagram. Depois, será enviado por e-mail o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e um questionário. Tal questionário, proposto pelas pesquisadoras, consiste em uma adaptação do “Questionário de hábitos de sono das crianças (CSHQ-PT)” e do “Questionário de hábitos de sono das crianças para bebês com menos de 12 meses (CSHQI-PT)”, validados para o idioma português e publicados no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Entre as 50 questões do questionário que serão respondidas pelo adulto responsável pela criança terão perguntas inéditas, a fim de avaliar os impactos da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social no sono das crianças de 6 meses a 9 anos de idade. Para garantir a segurança, tudo será feito por via eletrônica, as participações serão voluntárias e anônimas. As respostas analisadas pelas pesquisadoras e os resultados serão divulgados para a população.

LEGADO 

A pesquisa contribuirá para melhor identificação e manejo dos distúrbios do sono. Segundo a coordenadora, o sono é fundamental para o desenvolvimento, contribuindo para a saúde física, controle emocional, função cognitiva e melhora na atenção e no comportamento na faixa etária infantil. Os impactos negativos de um sono inadequado são inúmeros: problemas de atenção e memória, impulsividade, ansiedade, irritabilidade, sonolência diurna. “Distúrbios do sono são comuns e, na maioria das vezes, subdiagnosticados na faixa etária pediátrica, tendo impacto negativo não apenas na criança, mas também em toda a sua família.

Para a aluna do 9º período de medicina Verônica Vitoreti, a pesquisa possibilitará confrontar conhecimentos engessados, bem como conhecer melhor a população estudada, o que possibilita a construção de intervenções que irão beneficiar a comunidade. 

“Durante a formação acadêmica, a pesquisa nos permite romper com dados preestabelecidos e, assim, incentiva nossa crítica e autonomia, para que, ao nos tornar profissionais, já saibamos identificar, compreender e intervir da melhor forma em um problema”, diz.


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