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Estado de Minas CENTENÁRIOS

Superidosos: por que estamos vivendo mais?

O que pessoas co mais de 100 anos têm em comum? Estilo de vida, alimentação, atividade física, DNA? Ou simplesmente a vontade de viver?


31/07/2022 04:00 - atualizado 25/08/2022 00:47

Dona Bebeca, de 102 anos
Viúva desde os 52 anos, dona Bebeca teve 10 filhos, tem 25 netos, 45 bisnetos, 23 tataranetos e um pentaneto. Aos 102, adora passear e jogar conversa fora (foto: Daniela Cadena/arquivo pessoal)
Ela tem 102 anos e 104 consanguíneos (pessoas com o mesmo sangue dela). Ao todo, são 10 filhos, 25 netos, 45 bisnetos, 23 tataranetos e um pentaneto, ou seja, uma bisneta de Albertina Ferreira Cadena já é avó. Além de ser muito amada pelos familiares, vizinhos e amigos, ela adora passear e jogar conversa fora. 
 
Albertina nasceu em 1920 – ano em que os historiadores definem como o fim da gripe espanhola, que vitimou pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Embora tenha sido considerado o início dos “anos loucos”, em que a mulher começava a se libertar das amarras da sociedade, a vida de “dona Bebeca” não foi tão fácil assim. 
 
Filha de Josina Angélica, dona de casa, e Antônio Ferreira, comerciante, ela começou cedo a lida de ajudar os irmãos, aprendendo a fazer doces e biscoitos no armazém da família. Aos 7 anos, Bebeca perdeu o pai e um dos 12 irmãos, assassinados por oito homens em decorrência de briga política. Na mesma época, os bens da família foram todos “tomados”, restando apenas uma pensãozinha de onde a mãe conseguia tirar o sustento dos filhos.

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Receita de longevidade, a associação entre genética e estilo de vida
 
Nascida em Jataí, interior de Goiás, Bebeca se casou aos 14 anos com um garimpeiro e jogador de baralho de nome Deusdete, de 21. Ela conta que precisou de documentos “especiais” para que conseguisse se casar no civil. “Eu tive oito meninas e dois meninos, quase todos com parteira, um atrás do outro. A gente trabalhava muito, não sei como eu dava conta.”
 
Boa de papo e de memória, Bebeca se lembra muito bem da casa onde morava. “Eram 34 calcinhas secando no varal”, conta, sorrindo. “Mas nunca faltou nada, porque eles mesmos se ajudavam. O mais velho era da Aeronáutica, a mais velha criava as mais novas e ainda fazia doce para vender.”

Aos 52, ela ficou viúva e seguiu a vida assim: cuidando da família inteira. Na década de 1960, já em Brasília, Bebeca passou seguir a doutrina espiritualista cristã – como samaritana, uma espécie de missionária – e trabalhou durante mais de 50 anos no Vale do Amanhecer, sendo mais de duas décadas com a médium Tia Neiva, morta em 1985. 
 
 

"Se eu estou preparada para morrer? Não tenho medo nenhum. Até minha roupa já está pronta"

Albertina Ferreira Cadena, 102 anos



 
 Albertina Ferreira Cadena, 102 anos
A alimentação não é regrada. Ela diz que come de tudo: desde galinhada com arroz e pequi, mocotó, rabada, costelinha e um biscoito frito que ela mesma fazia, até bem pouco tempo (foto: Isabela Cadena/arquivo pessoal)
Sobre o fato de viver tanto, Bebeca diz que nem sabe explicar. Ela fumou por quase 50 anos e, perto de chegar aos 70, foi atropelada. “Fiquei 20 dias no CTI e fiz uma cirurgia no pescoço. Mas depois fiquei boa”, diz.
 
A genética, com certeza, tem forte influência na longevidade de Bebeca. Das últimas três irmãs que restaram, ela era a do meio e é a única ainda viva. As outras duas morreram aos 105 e 98 anos, mostrando que a história familiar é longeva.
 
A alimentação não é regrada. Ela diz que come de tudo: desde galinhada com arroz e pequi, mocotó, rabada, costelinha e um biscoito frito que ela mesma fazia, até bem pouco tempo. “E adoro doce.” 

Quando as filhas e os netos perguntam: “E aí, vó, você não vai namorar nunca mais?”. Ela responde: “Namorado nessa idade? Velha já chega eu”, brinca. 

VIDA E MORTE


Hoje, Bebeca se divide entre seu apartamento e a casa de uma das filhas, onde passeia pelo jardim, colhe frutas, toma sol, tira uma soneca e se diverte com netos, bisnetos e por aí vai. É uma idosa encantadora, divertida e de bem com a vida. As seis filhas dela preferem acreditar que “é coisa de Deus mesmo”. 
 
Mesmo já tendo perdido quatro filhos, ela vê a morte como prolongamento da vida. “Se eu estou preparada para morrer? Não tenho medo nenhum. Até minha roupa já está pronta”, diz, com um sorrisão no rosto e com a sabedoria digna de uma mulher de 102 anos. 
 
Mas então, assim como dona Bebeca, como justificar o crescimento do número de pessoas com mais de 100 anos no Brasil e no mundo? 
As explicações são várias e envolvem uma série de fatores. Segundo os especialistas em envelhecimento, aspectos como a relação entre genética e estilo de vida contam muitos pontos, assim como a evolução da medicina e a inovação na área de medicamentos, os tratamentos cada vez mais precoces e as campanhas que promovem a saúde. 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie


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