(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas VITALidade

O amor e a sexualidade na terceira idade

Grande parte dos idosos vive um amor conjugal, mais maduro, com amizade, admiração, doação, lealdade e disposição para apoiar o parceiro no cotidiano


30/08/2021 06:00 - atualizado 26/08/2021 11:51

(Por José Milton Junior e Dra. Juraciara vieira Cardoso)

(foto: Pixabay)


Pensar no amor e na sexualidade na modernidade não é algo simples. Em lugar do amor romântico de outrora, os modernos têm uma visão dominada pelo tecnicismo e pela lógica mercadológica no que se refere ao trato de nossas relações íntimas. Diante dessa nova realidade do amor, como seria possível pensá-lo, juntamente com a sexualidade, em relação àqueles que estão, como nós, envelhecendo?

O amor é uma ligação afetiva que une duas pessoas, favorecendo o bem-estar e a felicidade. E é um sentimento que pode ser vivenciado em todas as fases da vida, inclusive na velhice, seja através da manutenção de uma relação duradora e prazerosa, seja no desabrochar de novos amores. Duas pessoas se encontram, se identificam, evidenciam vários interesses em comum e desenvolvem vínculos fortalecidos pelo exercício da convivência, da amizade, da cumplicidade, da sexualidade, do apoio mútuo e, principalmente, pela beleza da experiência de compartilhar, com extrema intimidade, todas as facetas do existir. 

São três as formas de amor possíveis, Eros, Philia e Ágape. Cada uma delas com as características que lhe são inatas. Assim, no amor Eros, o que experimentamos é a paixão, o fogo e a intensidade de um sentimento que não sabemos muito bem como lidar com ele, pois capaz de cegar até os incautos dos homens.

No amor Philia, o que temos é um amor calmo, já lapidado pelo tempo e capaz de trazer regozijo com a presença e as conquistas do outro: é o amor no qual cessaram quase todas as batalhas afetivas, restando em seu lugar a doce presença do outro, visto enquanto companheiro existencial e afetivo.

Já o amor Ágape é aquele dirigido não apenas ao nosso círculo íntimo, mas que também se volta para todos os membros da sociedade e pode ser concebido pelo desejo que tem o sujeito de amar e cuidar de todos à sua volta, independente do grau de proximidade. De todos, esse último é, sem dúvida, o mais exigente. 

Experimentar cada uma dessas formas de amor independe de idade e do gênero. Podemos em qualquer época da vida nos apaixonarmos perdidamente (Eros), ou nos fortalecer com uma convivência duradoura e prazerosa ao lado de alguém (Philia), ou, ainda, nos tornarmos bençãos na vida de outras pessoas, por meio do nosso ajudar desprendido de quaisquer pretensões de reconhecimento ou de vantagem (Ágape).

A prática nos mostra que grande parte dos idosos vive um amor conjugal, mais maduro, com grande amizade, admiração, doação, lealdade e disposição para apoiar o parceiro nas situações cotidianas da vida. Sabemos que a paixão chega de forma abrupta e declina rapidamente, diferentemente do amor, que, quando correspondido e exercido por pessoas que amadureceram juntas, se fortalece no decorrer dos anos.

Não raro evidenciamos relações cinquentenárias, onde os atores encontram-se felizes e crendo que a decisão de compartilhar a vida com a outra pessoa foi uma decisão acertada. A boa qualidade da relação depende de admiração dos parceiros, assim como dividir confiança, expressão do gostar, o compromisso com o outro, capacidade de se doar, preocupações com os sentimentos e aspirações do outro, capacidade de comunicação de forma saudável e concordância com relação ao comportamento sexual. Pode-se ter uma relação amorosa e completa em qualquer fase da vida. 

Todavia, não é somente esse tipo de amor e sexualidade o único possível para os idosos. Ao contrário, eles têm consigo força e potência para se abrirem para o amor e ter uma profunda conexão afetiva e sexual com outros parceiros. Com o passar dos anos e crescimento vertiginoso no número de idosos, já que a expectativa de vida tem experimentado avanços significativos nos últimos tempos, também a sexualidade na velhice vem se modificando.

Várias são as mudanças que temos evidenciado nos consultórios e que merecem nossa atenção. O amor e a sexualidade na terceira idade não estão subordinados aos estreitos conceitos de outrora, tal como o de que todo idoso é heterossexual ou o de que eles não se interessam por ligações afetivas e sexuais com outras pessoas. Não!

Dentre várias modificações na forma de enxergarmos os idosos, deve ser levada em consideração sua saúde emotiva, sentimental e sexual. Devemos tentar abrir mão de nossos preconceitos e aceitar as orientações e desejos da pessoa idosa, em que o cerceamento de seus sentimentos evidencia uma violência contra o idoso, impedindo-o de exercer plenamente sua existência. Amar e sentir-se amado faz parte de um envelhecimento bem-sucedido. 

Sabemos que o amor pode ter várias combinações e desde que traga crescimento e satisfação pessoal para o casal; merece respeito e admiração, já que é o exercício máximo da nossa humanidade, independentemente de qual é a composição deste casal. Vivemos uma era onde muitas mudanças vêm ocorrendo no que se refere ao amor romântico, nas formas de casamento e no exercício da sexualidade pelos indivíduos idosos. 

Sabemos também que as pessoas são dinâmicas e vão se modificando no decorrer da vida, a depender das circunstâncias e exigências que vão surgindo. Importante compreender que as bases da relação também se modificarão, cabendo aos seus componentes a capacidade de adequação e exercendo a generosidade de reconhecer as mudanças vivenciadas pelo outro parceiro. 

Especificamente em relação à sexualidade dos idosos, sabemos que é vivenciada através de pensamentos, crenças, atitudes, comportamentos, forma de relacionamento, desejos. Assim concebido, o exercício da sexualidade pelo idoso vai muito além do ato sexual e pode ser exercido de muitas outras formas, sendo singular para cada casal. Evidencia-se como um erro pensar que os idosos são assexuados ou renunciaram aos impulsos sexuais. Vários são os trabalhos nos quais os idosos se declaram ativos e satisfeitos com a vida sexual e que tal satisfação reverbera em todos os aspectos da vida. 

De tudo o que foi dito até aqui, é necessário concluir que os idosos podem – e devem - ter relações amorosas, exercer sua sexualidade de modo pleno e ter uma vida íntima saudável. Cabe a todos nós enxergarmos os idosos como pessoas capazes de vivenciar a beleza de amar e ser amados e que, apesar de vivenciarem suas relações sentimentais de forma diferente dos mais jovens, elas também podem ser muito satisfatórias, proveitosas e tornar a vida mais doce e plena. 

Amemos! Amemos sempre! Amemos muito! Amemos mais!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)