
Bem, no caso de Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, a sujeira é tanta, que fica difícil reparar quando ela aumenta. Por outro lado, quando ele solta um punzinho menor, a gente logo repara, afinal, a “obra” fica menos mal cheirosa. E foi isso que ocorreu nesta terça-feira (20/9) na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York.
No discurso de abertura do encontro anual, tradicionalmente realizado pelo Brasil, o amigão do Queiroz até que não foi de todo mal. Foi bem? Sem chance! Isso seria exigir demais de quem não tem para dar. Mas, comparando com a catástrofe do ano passado, ficou parecendo que foi, digamos, bom. Será? Vejamos…
O patriarca do clã das rachadinhas transformou seu discurso em comício eleitoral, é verdade, mas ateve-se mais aos feitos - que, sim, existem - que à verborragia tresloucada do ano passado em relação à Covid-19, vacinas etc. Além do mais, não atacou as urnas eletrônicas nem o sistema eleitoral brasileiro.
Sim, o devoto da cloroquina mentiu bastante, como de costume, mas, sendo justo, mentiu menos do que o normal. Por exemplo: Bolsonaro retratou o Brasil como uma ilha de prosperidade em meio ao oceano de desgraça que se tornou o mundo (pandemia, guerra, recessão, inflação). Se assim fosse, não teríamos 33 milhões de famintos.
Falou sobre deflação, mas não se lembrou dos juros reais recordes e dos cortes no orçamento para as áreas sociais. Falou de concessões, mas não se lembrou das privatizações (que não fez). Falou de crescimento sustentável e inclusivo, mas se esqueceu de que ele próprio é o maior disseminador de exclusão social do País.
Acabou? Não. Falou do recorde de arrecadação fiscal como se o resultado não se desse pela inflação acima de 10%, durante 13 meses, e não pelo crescimento da economia. E pasmem! Falou que seu governo cuida das mulheres. Sério? A jornalista Vera Magalhães que o diga. E citou a esposa - a dos Micheques - como exemplo de trabalho social.
No encerramento do comício, na maior cara de pau, disse para o mundo que “milhões de pessoas saíram às ruas no 7 de setembro”. Sim, milhões! Para o desespero e indignação dos líderes políticos presentes à cerimônia, Bolsonaro desprezou todos os protocolos e “alugou o ouvido” das autoridades com o que elas não tinham o menor interesse de ouvir.
O saldo, conforme iniciei esse texto, se não foi positivo, ao menos não foi o desastre anterior. Menos mal para o “mito”, já que a possibilidade de ser ouvido novamente, naquele lugar (ONU) e naquela condição (presidente da República), é menor do que a de eu me tornar mais polido, ou seja, a última impressão, ainda que ruim, é melhor do que péssima.
