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Estado de Minas Comportamento

Entre a morte e o morrer

Medo de encará-la nos leva o melhor da vida


02/08/2020 08:50 - atualizado 02/08/2020 13:51

(foto: Reprodução/Internet/verea.com.br)
(foto: Reprodução/Internet/verea.com.br)

Temos acompanhado muitas mortes de pessoas desconhecidas, que nos assustam em forma de estatística, e de gente com quem até outro dia conversávamos entre as gondolas do supermercado, no elevador ou se sentava conosco à mesa para almoçar.
 
No momento em que escrevo esse artigo, recebo pela segunda vez consecutiva no dia mensagem de uma amiga lamentando mais cedo ter perdido uma grande amiga e agora a noite um tio. Outros entre seus parentes ainda estão à espera de uma solução para seus casos.
 
Torcemos para que saiam logo do hospital porque desejamos muito a vida e tememos muito a morte. Vivemos com medo dela e esse pavor de ter que encará-la muitas vezes nos leva o melhor da vida. Irônico, não? Mais que irônico é uma realidade que nos espreita tanto que não queremos sequer falar sobre ela.
 
Coisa ruim? Sim é assim que a vemos, porém líquida e certa, bem o sabemos, mas é melhor ignorá-la. Porque insistimos tanto nesse comportamento tão milenar quanto humano? Ninguém deseja a morte, digo isso até mesmo dos que a procuram, porque não sabemos muito bem o que seja ela. Até aqueles que dizem ter fé de que há algo do outro lado, na hora H têm muita dificuldade em dar seu testemunho de fé. Será que há mesmo? Vai que lá, seja onde for, é pior do que aqui, mesmo sendo o que é?
 
Preferimos, então, ficar ou segurar os que precisam partir, mesmo que de mal a pior, capengas e cheios de todos os tipos de dores. Pois isso nos remete ao conhecido, a aquilo que achamos que dominamos com nossas precárias e falhas formas de ver a vida. E a morte.
 
Pertenço à ala dos crentes de que o que passamos desse lado de cá é uma ínfima parte do que temos para viver do lado de lá. E para me acostumar com a ideia de que um dia deixarei para trás filhos, amigos, casa, comida e todas as facilidades e dificuldades com as quais estou acostumada, penso muito na morte sem deixar que ela me tire a energia da vida e me encha de culpa.
 
Digo culpa porque tenho visto esse sentimento dominar muitos dos que têm perdidos seus entes queridos. Culpa por não ter estado mais ao lado deles, por não ter dito a eles tudo o que se desejava e a pior delas, levar a vida a diante e tentar buscar ser feliz na ausência de quem se foi. Culpa por não ter sido onipresente, onisciente e onipotente o suficiente para evitarmos sua morte. E se de fato se fossemos capazes de ser tudo isso, saberíamos que há tempo de nascer e de morrer, que há muito mais que imaginamos entre a morte e o morrer.

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