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Paixão pela cura de doenças raras

Médico mineiro é referência nacional em cirurgia pulmonar de alta complexidade


postado em 07/07/2019 04:06

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

 


Se você nunca teve um problema grave de pulmão provavelmente nunca ouviu falar de Frederico Thadeu. O estudioso rapaz, que decidiu seguir a medicina quando cursava o ensino médio no Colégio Loyola, não imaginava que se tornaria o maior pneumologista de Minas Gerais. E não para por aí. O Dr. Frederico é referência nacional, de fama internacional, em endoarterectomia pulmonar, uma cirurgia de alta complexidade que trata de uma das doenças pulmonares mais raras que existem.

 

Como foi sua infância?

Sou natural de Belo Horizonte e tive uma infância normal, como qualquer menino.

 

Era estudioso?

Gostava de estudar e concluí os estudos no Colégio Loyola, que na época era bem puxado, então não tinha outra opção se não estudar bastante. Ali não tinha espaço para quem não estudava.

 

Sempre quis fazer medicina?

Não. Só escolhi o curso quando estava no final do ensino médio no Colégio Loyola. Sabia que queria área de humanas e que queria ser um profissional liberal, mas a opção pela medicina foi bem no final mesmo.

 

Algum de seus pais é médico?

Não, nenhum deles, meu pai é empresário. Tenho um tio, o José Upiano Campos que é médico, mas realmente a escolha não foi por influência de ninguém.

 

Seu pai não achou ruim você não seguir nos negócios dele?

Não, sempre nos deixou bem livres para fazermos nossas escolhas e nos apoiou em tudo.

 

O tio ficou feliz?

Ficou sim, principalmente depois que escolhi a pneumologia como especialidade, porque é a área dele.

 

Como foi essa escolha?

Concluí minha formação em clínica médica, sempre gostei de medicina geral. Acompanhei por muito tempo  Arquimedes Nascentes no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Felício Rocho e gostava muito. Minha opção seria a clinica médica, mas para  atuar em um centro tão grande como Belo Horizonte precisava ter uma especialização e pneumologia era, a meu ver, a opção com maior grupo de patologia na qual eu poderia atuar. A medicina respiratória abrange patologias ligadas a infecções como a tuberculoses oncologia torácica, câncer de pulmão – um dos mais comuns no mundo atualmente –, doenças funcionais asma e DPOC – doença pulmonar obstrutiva crônica, que são o enfisema e bronquite crônica secundária provocadas pelo uso do cigarro. Exatamente pela complexidade e abrangência dessa área eu a escolhi.

Para esclarecer. É possível alguém ter enfisema sem nunca ter fumado?

Rarissimamente. O que pode ocorrer é que, pela precariedade da região e dos recursos, o diagnóstico ser de enfisema, mas, na verdade, o problema ser alguma doença mais rara com sintomas similares. Enfisema é uma doença proveniente do tabagismo em 90% dos casos.

 

Quais as outras áreas de atuação de um pneumologista?

Tem uma área muito comum que quem trata é o pneumologista que é a apneia obstrutiva do sono. Profissionais de outras especialidades também atuam na área, porém 70% dos casos são tratados pelo pneumologista, principalmente pelo fato que a maioria precisa usar um aparelho para respiração chamado Cepap, e por se tratar de respiração, que atende essa área é a minha especialidade.

 

Dentro da pneumologia o senhor 

se especializou em doenças raras. Gosta de desafios?

Para falar a verdade, gosto sim de trabalhar com coisas complexas, difíceis, mas mais do que isso, gosto de tratar pessoas. E quando vejo algo que está matando pessoas e que não se fecham diagnósticos, não consigo me conformar e pesquiso a fundo até descobrir realmente o que é. Tal grau de dificuldade sempre leva a doenças raras. Esse é o motivo de eu trabalhar nesse ramo também.

 

Quais seriam essas doenças?

São áreas mais especificas de doenças raras, doenças intersticiais, como a fibrose pulmonar e as doenças da circulação pulmonar como a embolia pulmonar e a hipertensão pulmonar.

 

O senhor é um apaixonado 

pela profissão?

Sim, completamente apaixonado. Concluí o curso em 1983, na Faculdade de Ciências Médicas, 84 e 85, fiz clínica médica e em 86, pneumologia.

 

Onde atende hoje?

Hoje atendo em um hospital filantrópico, o Madre Teresa, e no Julia Kubitschek, e coordeno a área de pneumologia da Faculdade de Medicina da PUC-Minas

 

O que é doença da circulação pulmonar e hipertensão pulmonar, e  quando se interessou por elas?

Quando me formei, em 1984, me interessei pela doença da circulação pulmonar, hipertensão pulmonar e por outro tipo de hipertensão pulmonar, e que poucos médicos trabalham com ela, a embolia pulmonar aguda. Em cada 100 pacientes que têm a doença, três ficam com resíduo de trombo, e geralmente isso não causa nenhum problema, porém, em 3% desses paciente o trombo causa hipertensão pulmonar associada a embolia pulmonar crônica. Esse tipo de problema, se não tratado, leva 80% dos pacientes à morte em dois anos.

Tem tratamento?

Em alguns casos. O tratamento dessa doença é principalmente uma cirurgia chamada endarterectomia pulmonar, altamente complexa e tecnicamente difícil de ser realizada. O Hospital Madre Tereza é um dos poucos hospitais no Brasil que fazem essa cirurgia. Ela envolve a equipe de pneumologia, que atua em parceria com a equipe de cirurgia cardiovascular de Rodrigo de Castro Bernardes, e uma equipe de anestesistas. Em 2017, através de parceria feita com o maior centro de tratamento dessa doença no mundo, que fica no câmpus da Universidade de Medicina de San Diego, na California, uma equipe multidisciplinar – já fazemos essa cirurgia no Madre Teresa há mais de 25 anos, regularmente, atendendo desde pacientes privados quanto pacientes do SUS. E todos com resultados excelentes. Com a cirurgia eles ficam praticamente curados da doença, que é extremamente grave.

 

Por que disse que só alguns casos têm tratamento?

Nem todo paciente é passível de cirurgia, porque algumas vezes o trombo está em uma área muito profunda do pulmão. A solução nesses casos é tratamento com medicamentos que são de altíssimo custo ou uma técnica que tem sido aperfeiçoada por grupos japoneses, que chama angioplastia pulmonar por balão.

 

Por isso tem trabalhado tanto

no Japão?

Sim. Fizemos uma parceria com a Universidade de Osaka, e no início de outubro deste ano, um grupo multidisciplinar de médicos do Hospital Madre Teresa, composto por pneumologista, cirurgiões torácícos e hemodinâmicos, e  Marcos Marino, vão para o Japão aprender essa tecnologia. Este será o terceiro grupo brasileiro a ir para o treinamento lá.

Como fazem com a dificuldade 

da língua?

Realmente, o inglês falado pelos japoneses é sofrível, porém os mais jovens já dominam bastante a língua e por isso o inglês é bem compreensível. Um dos maiores especialistas japoneses é  Takeshi Ogo, que cresceu tanto que o governo construiu um hospital só para ele e sua equipe. Ele fala um inglês muito bom. A nova geração fala um inglês muito bom. A equipe que vai não terá nenhum problema.

 

Como é a cirurgia? Quanto tempo 

demora?

Paciente fica em média uma semana no CTI e o processo todo de internação leve três semanas. A maior demora é para preparar o paciente, que leva de duas a três horas. É preciso resfriar o paciente profundamente. A cirurgia em si leva de 20 a 30 minutos e depois é preciso reaquecer o paciente, e tem que ser devagar para não causar danos cerebrais. Todo esse processo vai das 7h às 14h, e é bem complexo.

 

O que falta ainda?

Uma política pública pelo SUS para que a cirurgia e o tratamento possam ser feitos de forma mais abrangente. O sonho de todo o grupo, de todos os hospitais que atendem pelo SUS, é que o governo criasse um protocolo clínico para o tratamento dessa doença rara e tão complexa em todo o país. Minas Gerais tem profissionais altamente qualificados e conseguiria fazer esses tratamentos com custo acessível. Esta demanda está em andamento, mas precisa ser efetivada.

 

Só o Madre Teresa trata essa doença, em Minas?

Aqui em Belo Horizonte, tanto o Madre Teresa quanto o Julia Kubitschek e o Hospital das Clínicas tratam a hipertensão arterial pulmonar. O especialista Ricardo Amorim, do Hospital das Clínicas, tem um trabalho excelente e se tornou um centro de referência altamente qualificado. Além de tratar pacientes particulares e do SUS, participam de trails clínicos para desenvolvimento de novos medicamentos, com centros de referências de todo o mundo, trazendo esses recursos de ponta para a população de Minas Gerais, fazendo com que o estado seja referência em tratamento de doenças raras.

 

Já tentaram levá-lo daqui?

Já tentaram me levar para outros hospitais, mas optei por continuar no Madre Teresa por causa de suas origens. O hospital foi criado para tratar especificamente de tuberculose. Depois que foi erradicada  a doença tornou-se hospital geral, mas continuaram a ter um carinho e um investimento diferenciado na área pulmonar e estou com eles desde o início da minha carreira. 

 

 


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