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Estado de Minas ALERTA

'Lockdown: é tempo de parar', alerta o infectologista Carlos Starling

A pandemia de COVID-19 avança de forma inexorável. Há várias semanas batemos recordes de número de casos e óbitos no Brasil


(foto: Pixabay/Reprodução )
(foto: Pixabay/Reprodução )

Ao longo do ano de 2020 sempre mantivemos níveis endêmicos extremamente elevados, que não foram reduzidos, só aumentaram. Não tivemos uma segunda onda epidêmica, mas uma primeira que aumentou progressivamente.

A epidemia no Brasil disseminou-se pelo país de tal forma, que se transformou numa bola de neve descendo uma montanha quase que interminável. O pior, esta intensa circulação viral nos transformará no celeiro mundial de variantes virais de preocupação (VOC), o que nos isolará do planeta.

Essas variantes exigirão vacinas com uma flexibilidade tão grande, a ponto de não conseguirmos produzi-las na velocidade que surgirão.

Os demais países se afastarão de nós e nos imporão restrições sérias, até que consigamos controlar a circulação viral em nosso território. A hecatombe econômica e social é iminente, caso não percebamos que vivemos uns para os outros. 

Todos terão que dar a sua cota de sacrifício em nome do bem comum. Esse é o momento de agirmos como nação e como seres humanos. 

Ser forte não é ter músculos, mas ter cérebro e respeito, uns pelos outros. Nossas opções são extremamente limitadas. Vacinar toda população no mais curto espaço de tempo possível e frear a epidemia, ou restringir a mobilidade social de forma aguda por períodos curtos de tempo (15 a 21 dias) de maneira intermitente, a exemplo do que fizeram vários países, tais como, Portugal, Espanha e Itália, entre outros.

Fizemos isso em Belo Horizonte. Apesar de não ser uma ilha, BH tem a menor mortalidade do país dentre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes e a segunda dentre as com mais de 100 mil habitantes.

A primeira opção não é factível a curto prazo (2 a 3 meses). Perdemos esta chance, se é que a tivemos, o ano passado. 

Por sermos um país continental, a epidemia sempre estará mais aguda em algum local, porém, progredirá em ondas intermináveis até que atinjamos a ilusória imunidade de comunitária (ou de rebanho). O oásis imunológico coletivo enterrará milhares de brasileiros, inclusive nossa economia, antes de ser uma realidade. 

As variantes dissolveram a miragem.

O Dr. Robert Challen publicou em 10/03/2021 , artigo de extrema relevância na conceituada revista Inglesa BMJ, , cujo titulo é Risk of mortality in patients infected with SARS-CoV-2 variant of concern 202012/1.

A conclusão do estudo é a seguinte: a probabilidade de que o risco de mortalidade seja aumentado pela infecção com VOC-202012/01, variante isolada no Reino Unido, é alta. Se esse achado for generalizável para outras populações, a infecção com VOC-202012/1 tem o potencial de causar mortalidade adicional substancial em comparação com variantes circulantes anteriormente

O planejamento da capacidade de saúde e as políticas de controle nacionais e internacionais são todos impactados por essa descoberta, com o aumento da mortalidade dando peso ao argumento de que medidas mais coordenadas e rigorosas são justificadas para reduzir as mortes por SARS-CoV-2.
 
Ou seja, essas variantes de preocupação, podem não apenas ser mais transmissíveis, como também, mais letais, fato que temos observado em nossa prática diária em diferentes faixas etárias, não apenas em idosos, como vimos na primeira fase da pandemia.  

Esta descoberta acende para nós o alerta de que ainda não vimos o pior desta pandemia. No sentido oposto ao nosso, foi a Nova Zelândia, com 1 caso decretou lockdown nacional. Seriam eles exagerados, ou nós relaxados (irresponsáveis) demais?

Aos olhos da Organização Mundial de Saúde (OMS), eles estão certos e nós errados. Nosso malabarismo em corda bamba, de olhos fechados sobre um abismo viral, nos custará vidas e liberdade.

A situação é tão grave, que não é hora para apontarmos o dedo para culpados. Sabemos quem são eles. Com tempo e a cabeça fora d’água, poderemos colocar os pingos nos “Is”. 

Neste momento, precisamos frear o vírus. Isso significa, pararmos de circular ao máximo, usarmos máscaras, fazermos distanciamento social, observarmos rigorosamente as medidas higiênicas e combatermos com rigor as aglomerações.

Paralelamente e imediatamente, incorporarmos o maior número e tipos de vacinas possíveis e vacinarmos a população. Isto exigirá flexibilidade dos órgãos regulatórios?! Sim, mas sem perder de vista princípios básicos de segurança na incorporação destas vacinas.

Agilidade máxima com responsabilidade e regras compatíveis com a urgência que o momento exige.
Testar o máximo de pessoas e isolar as infectadas por pelo menos 7 a 10 dias em hospitais de campanha de baixa complexidade (ou hotéis de campanha), os quais não deveriam ter sido desmontados de forma precoce. 

Mas, deixemos os “Is “ para depois. Fundamental, não cantemos vitória antes da hora. Este vírus não veio de passagem. Veio para ficar! Temos que controlá-lo com competência e responsabilidade, o que pode ser traduzido em responsabilidade, civilidade e ciência. Não temos tempo, nem mais vidas a perder. Urgência é a palavra do momento.

Neste sentido, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançaram esta semana um documento histórico, o qual reproduzo a seguir na íntegra.

INFORMATIVO CONJUNTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA E ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA SOBRE LOCKDOWN

"Estamos vivendo no Brasil o momento mais difícil e preocupante desde a confirmação do primeiro caso de COVID-19. Há um elevado número diário de novos casos e de vidas perdidas. Além disso, a ocupação das unidades de terapia intensiva (UTI) ultrapassa 80%-90% na maioria dos estados, chegando a 100% em alguns municípios, simultaneamente, gerando filas de pacientes críticos que necessitam de tratamento rápido neste setor e a necessidade de transferências intermunicipais e interestaduais.

Sendo assim, medidas restritivas são indicadas para conter a velocidade de propagação do vírus SARS-CoV-2. Uma destas ações é o lockdown, ou seja, o confinamento obrigatório, que permite o funcionamento somente de serviços essenciais e que precisam ser mantidos, como assistência à saúde, assistência social, atividades de segurança (pública e privada), transporte e entrega de cargas em geral, produção, distribuição e comercialização de produtos de saúde, higiene, alimentos e bebidas em todo o país, produção, distribuição e comercialização de combustíveis e derivados, imprensa, entre outros.

Trata-se de uma medida extrema, mas de efetividade científica comprovada quando não há outras formas capazes de controlar a transmissão comunitária e a redução rápida do número de novos casos e de óbitos, além da capacidade dos serviços de saúde absorverem os casos de COVID-19 e outras urgências e emergências médicas por outras causas.

O lockdown deve ser efetuado somente em algumas situações e em alguns locais, quando se fizer necessário, por um período determinado, com fiscalarrlingização rígida e punição a todos que desrespeitarem. É uma medida individualizada, na tentativa de evitar o colapso do sistema de saúde local.
Sabemos que não é uma medida popular e que pode trazer sérias consequências socioeconômicas. Somos solidários nessa angústia da população.

Nosso papel é agir em defesa de toda e qualquer medida fundamental para a proteção de vidas. Reforçamos a necessidade urgente de ações governamentais com vacinação da maior parte da população o mais rápido possível, com a manutenção continuada das demais medidas preventivas reconhecidas na redução da transmissão da COVID-19: distanciamento físico, evitando-se aglomerações, uso correto de máscaras protegendo o nariz e a boca, higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool gel a 70%."

São Paulo, 05 de março de 2021.

Diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia
Diretoria da Associação Médica Brasileira

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