Endometriose: como preservar a fertilidade?
Especialista em medicina reprodutiva explica sobre a doença e cita uma forma de preservar a capacidade reprodutiva
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Siga noA endometriose é doença que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo causa frequente de dores intensas, infertilidade e impacto na qualidade de vida. Apesar de comum, o diagnóstico ainda é demorado e muitas pacientes sofrem por anos sem o tratamento adequado.
Segundo o especialista em medicina reprodutiva da Clínica Fertipraxis, Marcelo Marinho, a endometriose é uma doença caracterizada pela presença do tecido que recobre o interior do útero, o endométrio, localizado de modo anômalo fora da cavidade uterina, podendo estar em diversos pontos, como nos ovários ou outros pontos da região pélvica ou mesmo em órgãos distantes.
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O sintoma principal é a dor pélvica, que pode se manifestar de várias formas e intensidade com dores menstruais intensas, como também fora do período menstrual, durante as relações sexuais, assumindo por vezes um caráter incapacitante.
“Acredita-se que está presente em torno de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Com relação às mulheres adultas com queixas de dor pélvica, de 40 a 50% delas tem a doença. Do mesmo modo, quantidade expressiva de mulheres com infertilidade são portadoras da doença”, diz o médico.
Estilo de vida e tratamento
O médico explica que o tratamento envolve não apenas medicamentos anti-inflamatórios e hormonais, mas também uma abordagem que leva em conta aspectos de estilo de vida, com atividade física regular, exposição ao sol, controle do peso e dieta equilibrada.
“Dietas ricas em frutas e vegetais, como brócolis, uva, farelo de aveia, própolis, gengibre, além de alguns tipos de peixes, com auxílio no combate à inflamação são de enorme importância.
Reconhecidamente, dietas ricas em frutas, legumes, verduras e alimentos não ou pouco processados ajudam a prevenir ou reduzir a inflamação e, em decorrência, as dores e lesões futuras. Sabe-se que o consumo exagerado de carnes vermelhas e alimentos ultraprocessados podem, por outro lado, piorar os sintomas”, afirma Marcelo.
De acordo com o especialista, os guidelines mais recentes focam a condução do tratamento de uma forma multidisciplinar, reduzindo a alguns casos, uma possibilidade de abordagem cirúrgica, com equipe devidamente especializada, em especial aquelas pacientes com quadros mais graves, de endometriose profunda, com acometimento de outros órgãos, como bexiga e intestino.
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Endometriose causa infertilidade?
É importante lembrar que a endometriose é uma doença que pode ter seu diagnóstico atrasado, inclusive em países desenvolvidos. Estima-se que o tempo decorrido entre o início da doença até seu diagnóstico pode chegar a 10 anos, podendo representar risco enorme de lesões pélvicas, lesões tubárias e ovarianas, com sérias repercussões no campo da fertilidade.
Para Marcelo, uma forma de preservar a capacidade reprodutiva de mulheres com endometriose seria o congelamento de óvulos. Isso porque a endometriose pode impactar outros órgãos da região pélvica e, especificamente, os ovários, podendo reduzir a reserva ovariana, provocando até mesmo dano na qualidade desses óvulos.
“Mulheres com endometriose precisam, sim, se preocupar a partir de uma certa idade, geralmente 30 anos em avaliar a sua reserva ovariana e seguindo uma lógica de preservação da fertilidade essa mulher deve congelar óvulos”, afirma o especialista.
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Como é feito o congelamento
Para se realizar um congelamento de modo geral avalia-se previamente a reserva ovariana, ou seja, faz-se uma estimativa da quantidade de óvulos existente nos ovários num determinado momento da vida da mulher.
“Esta avaliação se faz por meio da dosagem do Hormônio Antimülleriano (AMH) no sangue e uma contagem, através da ultrassonografia transvaginal, dos pequenos folículos (entre 2 e 10mm) presentes nos ovários nos primeiros 5 dias a partir de um fluxo menstrual. Esta avaliação nos dá uma ideia do que podemos esperar, qual o melhor esquema de medicações a utilizar, doses, etc.”, explica Marcelo.
A partir daí, com exames sorológicos exigidos para a segurança da preservação, de hepatites, sífilis, HIV e outros, se procede a uma estimulação dos ovários, para melhor aproveitamento dos folículos que se apresentam a cada ciclo.
“São, de modo geral, de 8 a 10 dias de estímulo, seguido do procedimento de captação dos óvulos, realizado em centro cirúrgico, sob sedação e guiado por ultrassonografia transvaginal. Geralmente, o momento do início do estímulo se dá nos primeiros dias da menstruação, mas podemos adaptar para qualquer fase do ciclo menstrual, de acordo com a necessidade de cada caso, complementa.
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